Quinta, 22 Agosto 2019 15:05

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Na era da espetacularização de tudo, é possível que o Brasil bata todos os recordes nesse quesito.

Anteontem (20/08), a mídia ganhou mais um dia para a produção de seus espetáculos: às cinco horas da manhã, um ônibus foi sequestrado. Sua trajetória foi interrompida em cima da ponte Rio-Niterói.

Imediatamente, apareceram a Polícia Rodoviária Federal, o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, ambulâncias e a imprensa; aliás, as televisões talvez tenham sido as primeiras, pois todos os dias elas, com seus olhos de águia, fazem sobrevoar seus helicópteros sempre capturando, de preferência em primeira mão, algum infortúnio social, como os engarrafamentos, as explosões de caixa eletrônico, os incêndios em barracos de uma comunidade, as inundações etc.

Ah, sim! E os curiosos, que parecem brotar do asfalto! Faltavam eles!

Os curiosos, rapidamente, apareceram o mais perto possível do epicentro do sequestro, afinal, conseguir uma imagem inédita, filmada pelos seus modernos celulares, equivale a vencer uma competição posta no ar vinte e quatro horas, todos os dias. É assim que, em questão de segundos, alguém pode virar celebridade, ainda que por tempo efêmero. Mas o que isso importa?

Diante disso, tudo já estava perfeito – cenário e quantidade de personagens direta e indiretamente envolvidas – para garantir audiência durante o resto do dia. Entre lembranças de episódios semelhantes, ocorridos no passado, imagens reais e conjecturas apresentadas por todo tipo de gente, inclusive os tais especialistas em “segurança”, as programações iam se alimentando de mais uma tragédia, que parecia, de fato, poder se concretizar a qualquer momento.

Engano. A tragédia foi bem menor do que o esperado. O ônibus não foi incendiado. Alguma frustração escondida aqui e ali?

Seja como for, dos 40 envolvidos (conto também o sequestrador), apenas e exatamente ele pagou com a vida. Uma rajada de tiros de uma arma potente, disparada por um atirador de elite, pôs fim ao sequestro, executado com uma arma de brinquedo. É claro que a totalidade da ação não parecia ser apenas uma brincadeira, embora, ao que tudo indicava, a intenção de Willian Augusto da Silva não era de matar ninguém; ao que parece, ele queria apenas “entrar para a história”; e entrou, embora tenha saído da vida.

No momento exato de sua saída da vida, surgiram as cenas mais complexas: pessoas comemoram o “sucesso” da operação policial, que não conseguira dissuadir o jovem, aparentemente transtornado, a desistir daquele teatro real.

Até aí, compreendo o alívio de todos, principalmente dos reféns e de seus familiares e amigos. Todavia, comemorar aquele desfecho, como se o time do bem tivesse marcado um gol de pênalti, no último segundo de uma partida de futebol, contra o time do mal, foi constrangedor. Mais: foi desumano.

E as imagens de desumanidade aumentaram a partir do momento em que o governador do Rio desceu do helicóptero. Aos pulos, aquela autoridade, que não se cansa de responsabilizar os defensores dos direitos humanos por todas as tragédias que ocorrem no país, vibrava com aquele desfecho. Mesmo sendo um juiz de formação, o governador não conseguiu ter a circunspecção que o cargo pedia.

Diante daquela tragédia, tivesse o desfecho que tivesse, o silêncio, seguido de muitas reflexões, talvez fosse a melhor maneira de, humanamente, agir. Mas ser realmente humano em nossa sociedade, paradoxalmente tão religiosa, é sempre difícil, ainda mais em momentos que fogem da linha da “normalidade” esperada.

Sexta, 16 Agosto 2019 13:05

 

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Por Domingos Tabajara de Oliveira Martins*
 

Boa parte das Universidades Federais e IFs capitaneados por seus Conselhos, Sindicatos, DCEs,  ANDIFES, UNE e grupos ideológicos anacrônicos e perdulários que estão fora do processo de produção acadêmica são claramente contra o Future-se, por este prever o estabelecimento de parcerias público-privadas, inovação, empreeendedorismo, assessorias, consultorias e tantas outras coisas a serem implementadas e que viriam a beneficiar as pessoas, grupos de pesquisa, setores e instituições envolvidos com o desenvolvimento de produtos, marcas, processos, sejam quais forem (ex. fármacos, perfumes, corantes, vacinas, embriões, cultivares, kit diagnóstico, software etc). Obviamente, como não é projeto de esquerda vão sempre arranjar algum defeito em tudo que não for apresentado por eles e assim para estes o Future-se é um grande mal, e movimentos expelem a todo vapor frases como "Privatização das IFES, Destruição das IFES e ocupam espaços e fecham Campi. Esse discurso e tática ninguém de sã consciência aceita mais. Chegam de jargões que não fazem sentido, tipo Universidade Pública e de Qualidade, quando sabe-se que a luta por qualidade passa longe dos grandes debates e das fatídicas, custosas e desmobilizantes greves. E boa parte da comunidade acadêmica está pouco se importando para a qualidade do que hoje é feito nas IFES. Sequer avaliam o que fazem. A consulta pública encontra-se aberta até amanhã dia 15.08.19 para que possamos  enviar sugestões de alterações naquilo que não está bom, e há alguns pontos a serem aperfeiçoados como por exemplo, quando permite a revalidação de diplomas de médicos em qualquer Instituição privada do país. Todos questionam atualmente a carga excessiva que pagam para manter os serviços públicos (então as IFES não são gratuitas, embora públicas) e o retorno recebido (Entrega) são ensino básico, saúde e segurança públicas de péssima qualidade. Então esse discurso de público e privado, direita e esquerda está ultrapassado, o que importa é a ENTREGA de resultados, a eficiência e efetividade. Uma avaliação pertinente para a negação ao Future-se, deixando de lado a questão maior que é ideológica, está no fato de que parte da comunidade contrária ao Future-se não viria a usufruir desses recursos porque são incapazes de elaborar e executar um projeto, já  que na atualidade gozam de privilégios porque acabam sendo poder ou associam-se a ele, ou simplesmente sabem que nada acontecerá mesmo diante de suas inércias acadêmicas. Além do mais, seriam pressionados a produzir, mostrar resultados e assistir às mudanças nos valores acadêmicos que não existem mais hoje. Afinal para que uma carreira docente com os nomes de Auxiliar, Assistente, Associado e Titular, se não há diferenças de funções e hierarquia?  No caso do posicionamento contrários dos Reitores, excluindo a questão ideológica, estes são contra porque querem administrar o vultuoso recurso financeiro que passará a entrar pela primeira vez nos setores produtivos das IFES e IFs. Como não poderão gerir (mal) estes recursos serão iremediavelmente contrários, faz parte do corporativismo. Os pesquisadores que irão tentar o Future-se não querem em hipótese alguma que isto passe pela infernal burocracia da Instituição e nem de suas Fundações. Quem trabalha de verdade fazendo pesquisa, pós-graduação e ensino de graduação de qualidade sabe o quanto é importante diversificar as fontes de financiamento às instituições e agilizar os processos de recebimento dos recursos e compras. É assim no mundo desenvolvido. Afinal, são a pesquisa e a pós-graduação sticto sensuque retroalimentam a graduação  e extensão, mantêm o corpo docente qualificado em atuação e asseguram o status das IFES.
 

 QUE VENHAM O FUTURE-SE E OUTROS. A UFSCar parte na frente.



*Dr. Domingos Tabajara de Oliveira Martins é professor titular em farmacologia e pesquisador PQ 1D do CNPq.

Quinta, 15 Agosto 2019 17:36

 

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Algumas substâncias e termos eram até pouco tempo atrás elementos estranhos à liturgia da política, à majestade do poder. Mas, Bolsonaro colocou no vocabulário nacional, na imprensa, no congresso, nas ruas a bosta, essa substância profunda, intestinal, local de onde parece evadir as ideias presidenciais.


Sua proposta para melhorar o meio ambiente é que deixemos de evacuar, em síntese uma bosta de sugestão, nojenta, como a mente presidencial, que só vê maldade, sexualidade e porcaria para todo lado, e tem um humor negro, ofensivo e asqueroso.


Por esse comportamento ofensivo, por realizar essas baixarias linguísticas, por ser pequeno, rústico, bronco e mal-educado, por ser impróprio ao cargo que ocupa, nos obriga a ficarmos passando vergonha diante do mundo, que tem agora o Brasil como uma republiqueta de última categoria, com um presidente capacho do Trump. E nos obriga também a termos que baixar o nível para nos comunicar com termos rasos, que são os únicos que podem descrever as coisas absurdas que Bolsonaro faz e diz.


Até agora o que fez nosso presidente? Só merda. Está cagando no meio ambiente, a educação está indo para bosta, e o país anda de lado economicamente, patinando no coco de legislações ruins. Como se faltassem leis nesse país, como se precisássemos de leis, quando na verdade faltam pessoas com atitudes maduras.


O fato é que Bolsonaro é um cagão, teme o debate político, científico, artístico e popular, realizando um monólogo na imprensa, desautorizando perguntas de repórteres e fazendo só proselitismo político. Está cagando para os pobres, para nordestinos, para o povo que está além do seu celular, para professores, cientistas, e a população de forma geral. Está fazendo desse país uma merda de país: violento, destrutivo, ofensivo.


Fôssemos pessoas boas e razoáveis, estaríamos agindo para colocar limite nesse adolescente petulante que temos como presidente, que atira merda para todo lado, que ofende a todos. Ofende a nossa inteligência tendo que ouvir um discurso tolo, ignorante e repleto de termos chulos, impróprios a um presidente. Alguém que quer mais decretar do que governar, quer mais ordenar do que estabelecer o bem comum, que quer mais impor seus valores morais ou ideológico, sem respeitar os demais, não serve como presidente de uma república. É um tirano que se não estiver limitado pela sociedade civil vigilante, usurpará o poder para governar de forma totalitária.


E que fique claro, de todas as merdas enunciadas por Bolsonaro a pior é ser favorável a ditadura e a tortura, algo que por si mesmo o desabona para ser nosso presidente. Se uma parte grande da população não se importa com isso, o que revela os cagãos que somos, o resto do mundo não se engana com as bravatas bolsonaristas. O Brasil cada vez mais irrelevante terá apenas coco por todo lado para apresentar, pois além dos cocos de índios que Bolsonaro decididamente não gosta, terá a bosta urbana infinitamente superior imundiciando nossos rios, visto que nada faz para a coleta do esgoto e tratamento das águas.


Enquanto o presidente fica preocupado com os poucos cocos de índios, não vê a grande quantidade de bosta que a civilização produz, e para a qual não tem nenhuma solução, aliás, nunca pensou a respeito.


 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT

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Quarta, 14 Agosto 2019 11:42

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Em 28/04/16, a BBC Mundo escrevia que, “Em um artigo para marcar o início do período de 100 dias que antecedia os Jogos Olímpicos, o britânico The Guardian afirmara que o Brasil ‘entrara na reta final olímpica parecendo mais uma república de bananas do que uma economia emergente moderna...".

 Como se sabe, “República de Bananas” é expressão pejorativa que se refere a um país, em geral, da América Latina, politicamente instável, submisso a um país rico e, frequentemente, com um governante corrompido e opressor.  

Na perspectiva social, tais repúblicas são bem divididas em termos de classes: de um lado, os empobrecidos trabalhadores; de outro, as elites econômica, política e militar.

A expressão em pauta foi criação de O. Henry; originalmente, em seu livro “Cabbages and Kings”, de 1904, referia-se a Honduras. Naquele momento, “república” era a forma irônica de denunciar a ditadura hondurenha.

Com o passar do tempo, aquele país tornou-se um tipo de sinédoque, significando, pois, todos os demais com características semelhantes às suas.

Mas não quero falar de “bananas” de nossa República; quero falar de “excremento”, que, como quase toda palavra de nossa língua, apresenta duas perspectivas: a dicionarizada e a figurada.

Consoante o Dicionário Online de Português, referencialmente, “excremento” é toda “matéria evacuada pelo corpo humano ou animal através de vias naturais; fezes ou outras substâncias. No plano figurado, diz respeito à “pessoa ignóbil e desprezível”. Ex: “Ele sempre foi considerado um excremento da sociedade”.

O exemplo acima foi extraído do mesmo dicionário; e ele – lembrando agora das ironias de Machado contra a ignorância da elite de seu tempo – caiu feito luva à mão.

Sendo assim, como não preciso nominar a criatura que possa estar embutida nesse “Ele”, vou me ater à leitura objetiva do termo em questão; “excremento”, em outra palavra, refere-se ao “cocô” nosso de cada dia.

Dito isso, o leitor atento ao cotidiano de nosso país já sabe que estou me referindo ao escárnio (ou seria repertório real?) exposto pelo presidente da República, ao sugerir que “fazer cocô, dia sim, dia não” pode melhorar o meio ambiente; para ele, isso reduziria a poluição do Planeta.

Perplexo, recorro ao poema “Pneumotórax” de Bandeira. Ao final daquele texto, num diálogo entre médico e paciente (no caso, o eu-poético do poema), este fica sabendo – por meio daquele – estar com “uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado”. Pior: que, como não seria possível tentar o “pneumotórax”, “a única coisa a fazer...” era “...tocar um tango argentino”.

É claro, que, no plano social, diferentemente da particular condição de saúde do eu-poético de Bandeira, ainda há muito o que fazer contra o conjunto de estupidez deste momento que estamos a viver em nossa República de Excrementos. Ex.: usar – mas todos os dias – a arte como forma de conscientização social ou, simplesmente, como escape.

De minha parte, ao invés de “tocar um tango argentino”, nesse próximo final de semana, estarei ao lado da cantora japonesa Akane Iizuka e de mais quatro instrumentistas para – tapando o nariz dos cocôs atirados pra todos os lados – cantar pérolas de nossa MPB, com destaque às consequências da seca vivida pelos nordestinos nos anos 30 do século passado.

Esse encontro artístico, que se propõe a contar/cantar parte de nossa história, ocorrerá no Espaço Mosaico (R. Floriano Peixoto, 512), às 20h, no sábado e no domingo.

Sinta-se convidado, caro leitor. 

Sexta, 09 Agosto 2019 17:52

 

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Por Roberto de Barros Freire*

 

Toda vez que escrevo algum artigo com críticas ao governo, uma boa parte de leitores me acusam ou cobram para falar do Lula ou do PT. Falar mal, é claro. Acreditam que ao fazer críticas a um, estou beneficiando o outro, que a desqualificação de um deles representa a qualificação automática do outro. Nada mais equivocado, pois ainda que, na suposição de que um seja bom, o outro seja o mal, pode ocorrer, como ocorre, de ambos serem mal, apenas com maldades distintas, pois há infinitas formas de errar e só uma para acertar.


Já fiz críticas ao Lula, a Dilma, aliás fiz críticas a todos governantes, desde Geisel, já que iniciei em 1974 a esboçar minha opinião na mídia. Se quiserem é só pegar meus artigos passados e verão que fiz críticas a todos os governantes, mais acentuadamente depois da redemocratização em 1985. Quando criticava Lula e Dilma, me chamavam de neoliberal, agente do FMI, vassalo dos Estados Unidos e outros adjetivos bem mais ofensivos, ou me criticavam por não falar mal de Fernando Henrique Cardoso, como fazem agora, apenas com outras ofensas e com outro governante.


O que constato é a dificuldade que os partidários (seja de que partido for) tem de aceitarem uma crítica. Percebo também como as pessoas ficam cegas sobre os problemas próprios enumerando os problemas alheios. Ou que os defeitos alheios justificam qualquer defeito próprio, criando uma reserva moral, considerando nossos defeitos menos defeituosos do que os outros. Ledo engano! O que distingue o bom do mal, é que o bom faz o bem mesmo aos maus.


Creio que Cid Gomes, irmão do candidato Ciro, disse tudo sobre Lula: “Lula tá preso! Babaca!”. Não só ele está preso, ele está fora da arena política mesmo que seja liberto da cadeia. Teve seus direitos políticos cassados por 8 anos. Enfim, é carta fora do baralho. Qual o sentido de fazer críticas a uma pessoa que está afastada da corrida eleitoral? E ainda que o passado tenha sido ruim, não vai alterá-lo se continuar repetindo os equívocos realizados pela gestão petista. O que importa é a forma como se está realizando o presente, pois que disso depende nosso futuro.


O passado deve servir para tirarmos lições do que evitar, não para ser simplesmente renegado, xingado, ou alimentarmos ressentimentos contra antigos governantes. O problema não é apenas de mal governantes, mas da péssima participação política da sociedade civil, que se caracteriza, fundamentalmente, pela omissão. Nossos governantes, sem exceção, sempre abusaram do poder, sempre privilegiam seus parentes, sempre separam o melhor dos tributos para seus próximos. Isso não mudou, nem mudará, pois que sem que a sociedade civil tenha civismo, que se engaje de forma republicana pelo bem comum, governantes tendem a realizar suas idiossincrasias mais do que a vontade geral.


O grande problema nacional é haver poucas pessoas boas e honestas, sendo a grande maioria condescendente com os defeitos próprios e intransigente com os defeitos alheios. Muitos se consideram pessoas de bem, mas portam armas; muitos se consideram honestas, mas sonegam impostos ou compram mercadorias contrabandeadas; muitos se consideram superiores, o que os torna inferiores, pois que somos todos iguais. Não se consegue consertar o mundo, enquanto não se percebe como parte do problema, e não apenas como vítima das ocorrências. 
 
*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quinta, 08 Agosto 2019 16:06

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Se é pela palavra – materialização de complexas elaborações de nossos cérebros – que nos diferenciamos dos outros animais, é também por ela que estamos a naufragar em nossas interações cotidianas. De uns tempos para cá, no Brasil, é como se tivéssemos construído um tipo de Faixa de Gaza para nossa convivência.

Nas redes sociais, tudo pode ficar ainda pior, até porque muitos se sentem protegidos por uma simples tela; assim, a todo instante, destilam ódio de todo tipo. 

Com o triunfo do pensamento de direita nas últimas eleições, marcado não apenas pelo conservadorismo, o que seria normal, mas pelo reacionarismo, o que é inconcebível, a perversidade de muitos vem ganhando dimensão antes impensável. Nesse cenário, nunca tanta gente desprovida de informações consolidadas falou tanto; e com ares de donos da verdade!

De minha parte, venho acumulando agressões que chegam da opinião de leitores conservadores/reacionários sobre meus artigos, mesmo muitos sequer compreendendo a completude do que escrevo.

Das agressões, dois itens se destacam. Um está ligado a quem, profissionalmente, realmente sou: docente com doutorado; o outro, à crítica política que tenho feito ao atual governo. Aliás, esta minha postura faz muitos leitores concluírem que sou pertence àquele tipo de esquerda incapaz de se autocriticar; todavia, fui crítico constante dos (des)governos petistas.

Ignorando o histórico de minhas opiniões, para me atingir na condição de professor, esse tipo de leitor se utiliza, via de regra, da ironia, marcada, em geral, pelo uso de aspas já na invocação. Ex.:

“Nobre professor’, é lamentável essa didática/narrativa da esquerda ao se referir a GUERRILHEIROS, como sendo pessoas de resistência ao regime militar! Temos que, realmente, passar a limpo esse período e dar nomes, motivações e consequências desses grupos terroristas.

O próximo exemplo ataca minha titulação. Na transcrição, preservo sua sofrível redação, sem nada destacar com o “sic”:

é bom ja-ir se acostumando com a verdade com o que é certo, o mal não pode prevalecer para senpre o bem sempre vence o mal, queprofessor e que doutor  em jornalismo (grifo meu). esta esquerda comunista, populista e socialista pira com o novo governo que quer o bem do nosso povo”.

Os dois exemplos podem ser conferidos nos comentários sobre meu artigo publicado no site Mídia News de 01/08/19.

E assim se sucede com outros leitores que não coadunam com minhas opiniões. Mas até aí, “a gente vai levando”. Todavia, um dos leitores passou dos limites; e o fez em meu Facebook, que é público, pois praticamente só compartilho ali meus artigos e chamadas para algum literomusical que apresento esporadicamente.

Por conta de uma “Carta Aberta” que escrevi recentemente ao governador de MT, um advogado do RS, sem me conhecer, escreve:

Quem é Roberto Boaventura? Ahh, professor de universidade pública? Entendi. Mais um vadio tentando segurar a boquinha”.

Possivelmente amparado nas acusações de que servidor público é privilegiado, que a balbúrdia é o que prevalece nas universidades, além dos ataques feitos ao exercício científico, de modo geral, a agressão desse leitor é feita sem exceção; ela atinge todos os professores das universidades públicas.

Por conta disso, como fui citado nominalmente, já estou judicializando a acusação por danos morais. Com raras exceções, nas universidades, sem balbúrdias, mas com senso crítico, não há espaço para vadios. Trabalhamos muito mais do que a ignorância e o preconceito de alguns possam supor. 

Quarta, 07 Agosto 2019 10:20

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Existe uma certa visão “glamourizada”, um tanto romântica em relação ao processo de envelhecimento, com a qual eu discordo totalmente e uma das “provas” desta visão distorcida e nada realista  é quando passamos a denominar esta última etapa da vida humana como “melhor idade” ou “idade da sabedoria”, quando na verdade, como consta do dicionário da língua portuguesa “envelhecer = tornar-se velho ou mais velho”, ou “dar ou tomar aspecto de velho, de idoso, ou de antigo” ou de algo imprestável, trapo.


A outra pergunta que podemos fazer é o que significa “velho ou velha” pode ser tanto sinônimo de pessoa idosa ou em sentido mais amplo alguma coisa antiga, inservível, cujo destino quase sempre é o lixo, o abandono, o descaso. Ninguém ou pouquíssimas pessoas gostam de coisas velhas e, por extensão, isto também se aplica `as pessoas que estão quase chegando ao final da existência.


De um lado, as pessoas idosas estão muito mais propensas a uma série de doenças crônicas e degenerativas que praticamente vão destruindo o vigor físico, incapacitando tais pessoas em termos de movimentos físicos, capacidade cognitiva, incluindo as diversas formas e manifestações da demência.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, demência é uma síndrome, usualmente de natureza crônica, progressiva, incurável, degenerativa , quando muito “administrável”, causada por uma variedade de doenças cerebrais que afetam a memória, o pensamento, o comportamento e a habilidade de realizar as tarefas ou atividades do dia-a-dia.


Existem diversos e diferentes tipos de demência, cabendo destaque para as seguintes: Doença de Alzheimer, a que tem maior incidência; demência vascular, decorrente tanto por AVC – acidente vascular cerebral (derrames) quanto da hipertensão arterial, que provoca como se fossem “pequenos ou micro derrames”, afetando algumas áreas do cérebro; demência frontotemporal, demência por corpúsculos de Lewy, demência mista e também demência em pacientes que sofrem do mal de Parkinson, além de outros tipos.


A demência, como as demais doenças crônicas e degenerativas estão presentes de forma mais frequente nas pessoas idosas e aumenta `a medida que o envelhecimento avança, contribuindo muito para o processo degenerativo nesta fase da vida.


Apesar do avanço científico e tecnológico nas pesquisas nas áreas médica e farmacêutica, até o momento não existe cura para a demência, isto causa uma grande angústia tanto nas pessoas que são diagnosticadas com a doença quanto seus familiares, pois é como se fosse um filme que já assistimos e sabemos como será o seu final. É muito mais um filme de terror do que romântico, onde todos os personagens acabam felizes para sempre!

Neste sentido e contexto, a demência é como  o ocaso da vida humana ou vazio existencial, onde paulatinamente esses pacientes perdem a memória, suas lembranças e registros do passado, afetando o presente como algo fugidio, pois a cada dia a progressão da doença vai afetando também o dia-a-dia e como não poderia deixar de ser, as pessoas que sofrem de demência não conseguem projetar seu futuro, perdem a capacidade de sonhar e de imaginar o futuro. Ou seja, para si mesma, uma pessoa com demência perde (se esquece) seu passado, não se lembra do que aconteceu ao longo da caminhada; permanece se perdendo no presente e seu futuro é como um grande vazio existencial, não consegue imaginar-se no future.


No Mundo existem mais de 60 milhões de pessoas diagnosticas com algum tipo de demência, sendo que a grande maioria nos países emergentes ou subdesenvolvidos, onde os diagnósticos, por falta de professionais habilitados, como neurologistas, psiquiatras e psicólogos especializados neste tipo de doença e também pela falta de equipamentos de imagem ou cujos custos desses exames, geralmente não oferecidos por sistemas de saúde pública, indicam que o numero de pessoas que sofrem ou virão a sofrer com algum tipo de demência seja muito maior. Estima-se que para cada caso de demência diagnosticado no mundo, principalmente nos países emergentes e subdesenvolvidos, existam mais 4 ou 5 que jamais serão “descobertos”, diagnosticados e oferecidas alternativas, paliativos, para “administrar’ esta terrível doença. Ou seja, por volta do ano 2050 o número real de pessoas com demência serão mais de 250 milhões e não “apenas” 150 milhões como projeta a OMS.


A OMS elaborou um plano mundial para enfrentar a questão da demência, cujas projeções indicam um crescimento exponencial, para as duas ou três próximas décadas, tornando um dos mais sérios problemas de saúde pública no mundo, por três razões: a) pelo progressivo e rápido envelhecimento da população no mundo todo; b) pelo descaso, negligência dos sistemas de saúde e governos que pouco ou nada investem em pesquisas nas áreas de diagnóstico, descoberta de novos medicamentos e formas de tratamento,  e c) falta de alerta quanto as causas que podem levar `a demência, as quais estão presentes muitos anos ou décadas antes das pessoas serem consideradas idosas ou velhas, ou seja, bem antes dos 60 ou 65 anos.


Essas principais causas, conforme inúmeros estudos e pesquisas em diversas áreas são: a) idade/envelhecimento; b) fatores genéticos; c) gênero, no caso,  o surgimento da demência afeta proporcionalmente muito mais as mulheres do que os homens, agravada pela maior expectativa de vida das mulheres; d) tabagismo , alcoolismo e o uso de outras drogas “mais pesadas” que afetam o cérebro de maneira irreversível; e) hipertensão arterial/pressão alta, que provoca micro derrames no cérebro; f)  arterosclerose, colesterol, principalmente nas carótidas; g) obesidade, que ajuda a desencadear outras doenças degenerativas, também incuráveis e com graves riscos à saúde; h) homocisteína elevada; i) deficiência nutricional, principalmente deficiência de vitamina B-12 e outras mais; j) estilo de vida que facilite o surgimento de estresse; depressão, drogadição e complicações ou interação medicamentosa ou efeito colateral de diversos tipos de medicação, principalmente remédios controlados ou psicotrópicos, alguns que acabam em adição, inclusive moderadores de apetite e medicamentos para combater insônia.


Enfim, é fundamental que bem antes da pessoa iniciar o processo de envelhecimento possa realizar “check-up” com alguma frequência, incluindo visita a médico neurologista e outros profissionais para cuidar melhor da saúde, ai sim, criando condições para que a fase final da vida, seja menos dolorosa e com mais saúde e vigor físico, mental e emocional.


Lembre-se, a demência rouba a alegria de viver e o significado da existência humana. Para que esta fase da vida possa, de fato, ser considerada  a “melhor idade”, o que está muito longe de ser, principalmente no Brasil, onde o descaso de nossos governantes em relação à saúde publica é mais do que evidente, quando comparada com fases anteriores em que as pessoas desfrutam de pleno vigor físico, capacidade de sonhar e realizar seus sonhos, precisamos devotar mais recursos, cuidados e dedicação à saúde pública, caso contrário, em um futuro bem próximo teremos legiões de idosos pobres, abandonados, doentes e dementes. Esta é a realidade que está bem clara diante de nossos olhos, só não enxergam nossos governantes incompetentes e corruptos, que roubam impunemente preciosos recursos que deveriam ser destinados à saúde.


Precisamos despertar para esta realidade hoje, amanhã será tarde demais e só quem vive ou convive com uma pessoa afetada pelas diferentes formas de demência sabe o quanto é difícil, doloroso, triste e frustrante esta realidade.


A vida só tem sentido e significado se e quando temos consciência plena de nossa existência, nossa  realidade passada, presente e nossas projeções/sonhos de futuro. Sem isso, acabamos apenas vegetando e aos poucos vamos nos perdendo em um grande vazio existencial, onde a morte é apenas uma ponte que nos liga à transcendência imaterial ou espiritual.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Blog www.professorjuacy.blogspot.com.br

 

Terça, 06 Agosto 2019 13:39

 

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Fernando Nogueira de Lima

Doutor em Engenharia Elétrica e foi reitor da UFMT

 

Num passado distante, quando os jovens despertavam desejos para a prática do sexo era comum ouvir de um dos membros da família o seguinte alerta: tenha juízo e não se envolva com mulheres casadas. Nem mesmo quando houver aquiescência do marido porque se a relação vier a lume, ele, guiado pela hipocrisia, terá lapsos seletivos de memória e encenando indignação irá para cima de você, disposto a lavar com sangue a honra colocada em suspeição.

 

Lembrei-me do aviso contra o triângulo amoroso consentido, por causa das atitudes e condutas de autoridades, de políticos e de formadores de opinião sempre que o malfeito caracterizado pelo uso indevido do erário público é denunciado. Diante de tanta corrupção, agem como se nunca tivessem desconfiado ou tido conhecimento da existência dessa roubalheira.

 

E haja lapsos seletivos de memória e encenações, revelando que a hipocrisia não se cinge tão-somente às relações amorosas. Basta olhar em volta para constatar que ela abunda espalhando no ar dos poderes constituídos, dos meios de comunicação tradicionais, das redes sociais e do cotidiano da sociedade em geral este, digamos assim, odor fétido, que somos forçados a sentir diariamente. E, entretanto, verdade seja dita: poucos são os que se incomodam com este fedor.

 

Em vez disso, uns se prestam a compartilhar gracejos e inverdades que não contribuem para minorar o mau cheiro. Movidos pelo interesse de perpetuar a fedentina, outros elaboram pautas que superabundam nas interpretações de personagens que invadem nossos lares com o propósito de nos distrair. Há também os donos da verdade e os desejosos de fama virtual - celebridades de ontem e anônimos de hoje, com manifestações que desprezam o bom senso ou até mesmo o senso de ridículo, e ainda assim creem que estão contribuindo para limpar esta sujeira.

 

Protestar em eventos musicais, decerto, não basta para mudar este estado de coisas. A realidade está a exigir um choque de sinceridade, tipo papo reto, que seja capaz de inibir a ação dos que se locupletam com o poder, relativizando até a honestidade como se fosse possível medi-la em escalas. Não sei vocês, mas estou farto de discussões estéreis, de desocupados teleguiados e dos que utilizam o mandato para enganar os incautos, para praticar encenações midiáticas ou para promoção pessoal - com postagens e pronunciamentos vazios de propósitos para o bem comum.

 

Este fazer política, com tanta hipocrisia e tamanha estupidez, a meu sentir, carece de respostas tipo aquela da linda e talentosa atriz que na novela, em horário nobre, mandava para deleite de todos, uns: vai te lascar. E mais, está a justificar atitudes que revelem destemor, dedo em riste e palavras ajustadas a cada situação. É que, fora da barbárie, tem de haver limites racionais para fazer valer esta ou aquela opinião, seja ela em prol da situação ou da oposição, esteja ela calcada em convicções ideológicas ou fincada na areia movediça da imbecilidade ou da conveniência.

 

É provável que os defensores do politicamente correto discordem da adoção dessas atitudes. Eu que não sou partidário de classificações inócuas fico aqui concebendo a hipocrisia que há em autoridades e em políticos que se comportam dentro da atitude dita politicamente correta. Não raro, nas suas falas adornadas por mímicas ou sem gesto algum - nem mesmo facial, explicam, justificam, prometem e tergiversam, mas, na prática, o que estão a dizer é: dane-se o povo.

 

Urge persistir, como anteparo ao espargir da hipocrisia e da alienação em massa, noutras formas de pensar e de agir na perspectiva da consciência desperta que permite distinguir entre o bem e o mal, entre a verdade e a mentira, entre a honestidade e a canalhice. Insistir em apontar na direção errada, depreciar as instituições, imputar o imputável ou negar o inegável só contribui para aumentar os excrementos já espalhados e os prejuízos para a população, decorrentes deles.

 

A continuar nessa toada vigente nos eventos musicais e nos meios de comunicação; nos poderes constituídos e nos desacreditados partidos políticos; nas eleições e no exercício do voto, resta-nos prender a respiração, se conseguirmos e o quanto pudermos, porque, certamente, a podridão continuará escorrendo por debaixo das mal cuidadas pontes da nossa jovem democracia e não haverá, daqui a um tempo, água suficiente para dar descargas e eliminar toda esta putrefação.

 

No mais, embora acredite no poder da mobilização do povo, tenho receio de que essa disputa para apontar se é a dita direita ou a dita esquerda que consegue levar mais gente às ruas esteja fadada a tornar-se, apenas e em vão, uma extensão das posições antagônicas e inconciliáveis estimuladas nas redes sociais. Que tenhamos, pois, a sensatez de não esquecer de que é a quantidade de votos nas urnas e não de pessoas nas ruas, que outorga mandatos populares.

 

 

Segunda, 05 Agosto 2019 10:34

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Roberto de Barros Freire*
 

Nosso presidente é falador, não perde uma oportunidade para emitir sua opinião. Mas, gosta de mentir, de falsear a realidade, de distorcer os fatos e de omitir qualquer verdade que negue sua versão distorcida de tudo e de todos. Além de mentir, ofende, despreza e maltrata a todos que não fazem parte dos seus próximos, que são a quadrilha da qual é o líder, principalmente a parentada que passeia de helicóptero ou ganha embaixada e mordomias, e seus apoiadores, tão ruins quanto o presidente, ou talvez piores, afinal, continuam avalizando um procedimento errático, desumano, ofensivo, agressivo e preconceituoso contra a maioria de nós, ao invés de ajuda-lo a tomar uma direção menos ruim.


Até o momento as únicas verdades que vi expressar, é que é a favor da tortura, da ditadura, que tem que matar as pessoas, que deve maltratar os inimigos políticos. No mais, mente sobre a ditadura, esconde as maldades cometidas pelos militares. Aliás, como na ditadura, não quer que se noticie notícias ruins, e se pudesse censuraria dos jornais aos organismos de pesquisas, deixando apenas que as notícias que lhe agradam sejam noticiadas.


O fato é que ele não sabe se portar como um estadista, não tem grandeza, ética, inteligência ou mesmo educação para ser um presidente. Um falastrão que diante do poder, sempre que pode, quer tripudiar de seus adversários, quer aniquilar inimigos. Um rústico que maltrata a todos, do presidente da OAB ao presidente do INPE, do representante do governo francês, aos repórteres que lhe entrevistam, ou governadores do nordeste, ofende sem necessidade, com o único intuito de ofender, pois que despreza a todos que não concordam com ele.


Não é que ele fala o que pensa, ele não pensa para falar. Ele não emite verdades, mas preconceitos, raivas, ódios, rancores, ressentimentos. Um presidente não pode emitir julgamentos sobre qualquer coisa, como ele faz, se intrometendo no cinema, no preço do diesel, na cartilha da escola, ou no trânsito: foi eleito para governar um Estado, não para dirigir nossas vidas. Não está no governo apenas para defender seus interesses e seus gostos, mas para desenvolver o interesse comum. Deve unir a população, não separá-la, estigmatiza-la, ou pouco ligar para ela, achando que sabe qual é a vontade geral.


Arrumando brigas com todos, ofendendo a maioria, desprezando os bons modos e a educação, vai destruindo tudo, os elos sociais, sem, no entanto, nada nos ofertar. O que está fazendo pela economia, pela segurança, pela saúde, pela educação, além de cortar verbas? Qual a sua proposta para melhorar nossos níveis educacionais, nossos parâmetros de saúde, nossa segurança particular?


Enfim, agora está empenhado em mudar os registros históricos, apagar pelo desprezo os documentos oficiais, ou seja, mentir sobre o passado ditatorial.

Nossa imagem é cada vez pior diante da comunidade internacional. Ao fim desse governo, retrocederemos ao século passado, e teremos que reconstruir nossas instituições, nossa economia, nossa história. O falante do presidente não para de jogar raiva e rancores contra tudo que foi feito antes dele, destruindo relações sociais, culturais e humanas. Prevalece os ataques diários a verdade de todos e os seus gritos ofensivos a dignidade dos demais.


Com certeza, a continuar assim, morrerá pela boca, pois que, mais cedo ou tarde, a maioria perceberá o mentiroso que realiza antigas e nefastas práticas políticas, com nepotismo, distribuição de cargos e regalias entre os seus. Dentre em breve, quando se perceber que andamos de lado e para trás, não irão mais querer os rompantes adolescente de Bolsonaro, mas atitudes dignas e maduras de um verdadeiro estadista.


Fosse um presidente mais humano e educado, com certeza não escreveria dessa forma, nem usaria muito dos termos aqui colocados. Ao faltar dignidade pelo ocupante do cargo, falta também educação nos seus comentadores e críticos, pois que se tem que falar só de coisa pequenas e miúdas, como as ideias do presidente.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Quinta, 01 Agosto 2019 08:58

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Sem saudosismos dos governos anteriores, a verdade é que, a cada dia que passa, fica mais difícil aos que ainda cultivam a inteligência e a elegância na convivência social “já ir” se acostumando com Jair Bolsonaro. Sua capacidade de descer aos porões da ignorância é impressionante. Aliás, em eventual competição de aberrações verbais com Trump, o brasileiro daria goleada no estadunidense; e olhem que vencer Trump, nesse quesito, não é pra qualquer um neste planeta, mesmo repleto de gente estúpida! Para se obter essa conquista, há de ser, no mínimo, mais desumano do que aquela figura do Hemisfério Norte.

Dito isso, começo lembrando o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, com o qual Bolsonaro chegou aonde chegou. Assim, como cidadão que sempre se preocupou com cada detalhe da história de seu país, a despeito de tantos comentários já expostos, eu também não vou perder a chance de opinar sobre as declarações de Bolsonaro a respeito da morte de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da OAB.

Como é sabido, Fernando, à época, com 26 anos, era funcionário público e estudante de Direito; ele também militava no Movimento Estudantil, que era uma das mais importantes resistências ao golpe de 64 e, consequentemente, ao regime militar.

Pois bem. Em viagem ao Rio, em 74, como atesta um documento da Aeronáutica, Fernando desapareceu; ou seja, ele foi morto pela ditadura.

Conforme depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), o ex-delegado Cláudio Guerra disse que o corpo do militante teria sido incinerado na Usina Cambahyba, em Campos, Rio. Portanto, essa é a versão oficial do caso. Detalhe: por conta dessa versão, a família de Fernando recebeu, há pouco, o atesto de seu óbito.

Diante de versões oficiais, ao presidente da República, até como chefe das Forças Armadas, não caberia pôr em dúvida tais documentos. Bolsonaro não só fez isso, como expôs seu lado cruel, dizendo, publicamente, que poderia falar quem de fato matara Fernando. O presidente, criando sua própria verdade, sugeriu que a morte de Fernando se dera não por militares, mas por companheiros da esquerda.  

Afinal, por que Bolsonaro “desenterrou” um dos assassinados pela ditadura?

Por conta do ocorrido em Juiz de Fora, quando teria levado uma facada de Bispo (ironia esse sobrenome) durante a campanha eleitoral 2018. Bolsonaro não entende que a OAB não pode, constitucionalmente, defender a quebra de sigilo telefônico entre o agressor/réu e seu advogado de defesa. Assim, como o presidente busca aparentar esse desejo, ele passou a atacar aquela entidade. Para tanto, personalizou sua ira ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, filho órfão, aos dois anos, de Fernando.

Não contente, no dia seguinte, ainda pôs em dúvida toda a seriedade do trabalho da CNV. Agora, é esperar pelos desdobramentos jurídicos e políticos que virão, pois a postura de Bolsonaro é inaceitável em todos os planos por onde se quiser pensar sobre isso. Deles, destaco o plano religioso, que parece ser o mote existencial por excelência da “excelência” em pauta.

Assim, não bastasse a sucessão dos escândalos de pedofilia na Igreja Católica, de aberrações de toda ordem por parte de líderes religiosos de outras vertentes cristãs, alguns cristãos socialmente importantes no Brasil – daqueles que já se veem sentados à direita de Deus Pai todo poderoso – estão, por conta de suas práticas diabólicas, colocando em xeque a própria filosofia cristã, por natureza, respeitável.