Terça, 12 Abril 2016 13:32

 

GABRIEL NOVIS NEVES*
 

Resolvi fazer um passeio pelas praças da minha cidade. Iniciei meu city-tur pela “pração”, chamada de Campo d’Ourique - centro geodésico da América do Sul. Era uma enorme área, onde no século XIX e início do XX, a nossa gente se divertia com as touradas e festas religiosas, sendo a do Divino a mais marcante. A criançada aproveitava o local para as peladas de futebol. No final da década de sessenta o governo escolheu este espaço para construir o prédio da Assembléia Legislativa. Ninguém disse nada, e perdemos um precioso espaço de lazer em uma cidade rica em espaços livres. Asfixiamos aquela importante região, que hoje abriga a Câmara de Vereadores.
 
Prossegui em direção ao Porto. Em frente à antiga cadeia pública, outro grande espaço que poderia ser um maravilhoso bosque, foi fechado para a construção do hoje inviável, por questões, principalmente, de logística, o estádio de futebol Presidente Dutra, carinhosamente chamado de Dutrinha. Próximo ao Arsenal de Guerra, imensas áreas livres faziam a alegria da meninada aos domingos, onde “apareciam” vários campos de futebol. Por incrível que pareça todos esses espaços foram cedidos para construções de prédios públicos. A Praça do Porto continua ainda aguardando a construção de um prédio oficial qualquer. No momento serve de dormitório para mendigos, menores abandonados e ponto de prostituição.
 
No centro da cidade, passei pela Praça Ipiranga, outrora parque de recreação dos estudantes da Escola Modelo Barão de Melgaço – escola onde minha geração estudou. A Praça Ipiranga está localizada numa área que era um dos pulmões da cidade. Hoje parece uma cozinha, com fumaça de frituras por todos os lados. Herdou o belíssimo coreto da Praça Alencastro. Nesta última, para substituir o antigo coreto, foi construída uma fonte luminosa, paixão de todos os prefeitos da época.
 
Ainda no centro passei pela Praça da República, com a Matriz na sua cabeceira. Não é mais um ponto de lazer dos cuiabanos. Durante o dia funciona como passagem de pessoas, e local para pequenos protestos políticos. À noite é um local deserto e perigoso para a integridade física dos cidadãos.
 
Continuando pelo centro vou para a Praça Alencastro - ex-praça principal de Cuiabá. O Palácio do Governo ficava ali, mas foi demolido e no seu lugar foi construído esse monstrengo que é hoje a sede do governo municipal. Sem o gasômetro, símbolo de uma época da nossa história, sem o coreto das retretas, e a presença da sociedade cuiabana, essa praça só não foi utilizada para a construção de um prédio de trinta andares, por ser área tombada pelo patrimônio histórico. A Praça Alencastro atual só serve para se contratar negócios macabros, com preços de ocasião.
 
As praças dos bairros, construídas nos últimos quarenta anos, hoje funcionam como lugar de comercialização de drogas e fazendas do mosquitinho da dengue. O nosso bosque, outrora centro terapêutico para tratamento da coqueluche, virou praça para a comercialização de mercadorias. Possuímos praças sem vida, apenas para homenagear personalidades. A pracinha da Avenida Lava-pés, em área nobre da cidade, foi aproveitada para a construção de um sufocante prédio, hoje cedido a Secretaria de Cultura. Nos bairros periféricos e não tão periféricos também, as pracinhas funcionam como sinal de “Cuidado” aos seus moradores.
 
Uma cidade que destrói o seu passado, que não respeita as suas praças, ora fazendo ocupações irracionais com prédios ou jogando-as ao abandono, não é uma cidade, mas sim um lugar onde as pessoas ficam sozinhas juntas.
 

Gabriel Novis Neves, reitor fundador da UFMT, é médico em Cuiabá
 

 

Segunda, 01 Fevereiro 2016 12:07

Navegando dia desses pela Internet abri um site que relacionava várias frases de para-choque de caminhão.
A maioria delas é puro humor, mas têm também as religiosas, as reflexivas e as românticas. Dizem que elas representam a filosofia e maneira de ser do brasileiro – que leva na brincadeira todas as suas desventuras.
Três delas me chamaram a atenção: “Dinheiro não traz felicidade: manda buscar”, “A felicidade não é um destino aonde chegamos, mas sim, uma maneira de viajar.” “Alguns causam felicidade em todo lugar que vão, outros em toda hora que partem”.
A palavra felicidade está no topo da cabeça de todo nós. A filosofia, desde sempre, investiga e se propõe a achar uma fórmula para o alcance da felicidade.
Tales de Mileto - que viveu entre 7 a.C. e 6 a.C. - nos traz a mais antiga referência sobre a felicidade. Para este filósofo “ser feliz é ter corpo forte e são, boa sorte e alma formada”.
No mundo contemporâneo a investigação sobre o que nos traz felicidade ainda permanece.
O filósofo paranaense Sérgio Cortella aborda em suas conferências, de forma simples e educativa, este tema.
Assisti a um curto vídeo do seu pensamento sobre felicidade partindo de conceitos antigos que demonstra que a felicidade não é uma simples fórmula onde a felicidade é igual realidade menos expectativa.
Há pessoas que acham que a felicidade é a posse contínua de bens materiais. A verdade é que ela vem do essencial, como a amizade, lealdade, amor, dedicação, carinho e tantos outros valores imateriais.
Procuramos, prossegue o mestre, achar a felicidade no secundário, quando precisamos de autenticidade. A posse de bens não é essencial para encontrá-la. Nunca confundir com dinheiro, que é fundamental, e não, essencial.
Precisamos de coisas simples para ser feliz, que é um ato transitório, momentâneo - não é um estado permanente.
Aquela felicidade artificial adquirida por meio de fármacos ou outras drogas é ilusória e só faz mal à saúde das pessoas.
Temos de ter esperanças e procurar a felicidade diariamente. Ela não cai em nosso colo.
Como é difícil explicar o que é a felicidade!
“Quem busca a felicidade fora de si é como um caracol que caminha em busca da sua casa”. Constâncio C. Vigil, escritor uruguaio.

Gabriel Novis Neves
04-01-2016

Terça, 19 Janeiro 2016 10:33

 

Esgotados os modelos familiares vigentes durante séculos e séculos, urge uma mudança nesse tipo de conglomerado, o que, aliás, já vem acontecendo paulatinamente.
Na minha prática médica ao longo de todos esses anos tenho constatado os inúmeros dramas oriundos dessa organização arcaica.
A velha companheira, apenas reprodutora, se transformou numa força de trabalho ativa e, portanto, fundamental para a economia do grupo.
Com as mudanças econômicas vieram as alterações comportamentais. Novos modelos se impõem para que os vários membros de um mesmo clã não adoeçam entre si, como vem acontecendo nos últimos anos.
Com o aparecimento de novas tecnologias facilitadoras dos trabalhos caseiros, a liberdade pessoal feminina tem se tornado uma meta. Mulheres não mais se conformam com ausência de tempo para si mesmas, impossível até poucos anos atrás.
Já percebemos esses profundos sinais de mudanças nos países mais desenvolvidos, em que os filhos são intimados a prover o seu próprio sustento a partir dos dezoito anos e, portanto, abandonar o teto familiar.
Nada mais saudável e promissor, ainda que para nós, subdesenvolvidos, nos pareça um ato de desamor.
As interdependências familiares são altamente adoecedoras para todos os seus membros, chegando, algumas vezes, a níveis insuportáveis, apenas disfarçados pelas hipocrisias que as circunstâncias exigem.
Pais subjugando filhos na sua juventude e sendo por eles subjugados na velhice, é o quadro mais frequente.
Sob a capa da proteção, em ambos os casos, se estabelece a mais cruel das relações, sempre baseada em mentiras e desamor.
É como se podada fosse qualquer iniciativa de autodirecionamento, e o ódio subliminar que daí advém, vai se acumulando através dos anos, tudo no mais profundo disfarce da compreensão.
Dessa forma, festas tradicionais que exacerbam os valores familiares, como o Natal e o Réveillon, com muita frequência redundam em espetáculos desastrosos, normalmente liberados graças à exclusão da censura promovida pela ingestão de bebidas alcoólicas.
Que as pessoas passem a entender e a respeitar a individualidade de cada um.
Que os idosos não se transformem em perspectivas de novos ganhos após o seu desaparecimento e que lhes seja permitido, e até mesmo, incentivado, a usufruir do justo fruto de seu trabalho na plena satisfação dos seus desejos. O que mata é infelicidade e tédio, e não, prazer.
Que a família passe a funcionar como seres que se amam e se protegem mutuamente, sem cobranças de qualquer espécie.
Que o respeito ao outro e às suas escolhas seja o moto propulsor para a felicidade de todos.
Que as pessoas se encontrem por puro prazer de estarem juntas, e não por regras comportamentais pré-estabelecidas, tais como almoços dominicais enfadonhos e obrigatórios, principalmente quando envolvem terceiros nesses compromissos.
Enfim, que cada um tenha presente que o ser humano foi feito para ser feliz do jeito que der e quer, mesmo que não corresponda às metas, ditas de sucesso, que são traçadas para ele.
Quem sabe assim não teremos um dia grupos familiares verdadeiramente felizes? 


Gabriel Novis Neves
08-01-2014 

Terça, 12 Janeiro 2016 09:01

 

Leio no G1 que, das cinco notícias mais lidas da semana, duas são referentes a assassinatos e uma da escravidão sexual durante a guerra entre a Coreia e Japão. 
As outras anunciam abertura de concurso público e exemplo de quem está superando a crise. 
Nem a tremenda dificuldade política e financeira que assola o país interessa mais ao leitor que, ao que parece, jogou a toalha no chão. 
Nada auspicioso para 2015, que já é chamado por muitos como um ano perdido e de retrocesso. 
Perdemos a nossa credibilidade externa como países bons pagadores e ganhamos o não honroso título de caloteiros. 
De fato não temos nada a comemorar do ano que passou. 
A inflação e desemprego voltaram, a nossa moeda foi desvalorizada, a educação não evoluiu, a saúde não funcionou e os hospitais estão fechando. 
A indústria sendo vendida a preço de banana, para festa dos países ricos e moedas fortes. 
Neste momento temos muita falação de aumento de impostos e nenhuma ação propositiva do governo para amenizar a dificuldade que nos sufoca. 
O corte de dezenove ministérios não iria resolver o gravíssimo problema de recursos financeiros, porém, transmitiria à população um bem estar psicológico. 
Impossível mexer nos ministérios, pois temos um Congresso Nacional totalmente voltado aos seus próprios interesses e não os da nação. 
Esse efeito cascata atinge as Assembleias Legislativas, Câmara dos Vereadores e órgãos fiscalizadores do governo. 
Por isso as notícias mais lidas são consequência dessa brutal desigualdade social, gerando a violência e impunidade dominando este país. 
Que surjam melhores notícias para serem lidas neste tenebroso ano de 2015.

Gabriel Novis Neves
29-12-2015

Segunda, 11 Janeiro 2016 12:21

 

Importantíssimo que todos os responsáveis pela educação infantil saibam diferenciar os valores apregoados pela sociedade, dos verdadeiros valores éticos. Estarão assim contribuindo para que a criança exerça a sua cidadania com atitudes íntegras e solidárias.
Como diz um velho adágio, “um indivíduo não nasce moral, torna-se moral”.
Os valores éticos, atualmente bastante desprezados, são os mais importantes para a formação de um adulto saudável, tanto na sua individualidade quanto na sociedade em que vive.
No mundo moderno, em que os pais cumprem tarefas rígidas de trabalho, o que tem se observado é a terceirização na educação dos filhos. Isso tem contribuído, e muito, para um total descompasso de ideias e comportamentos na fase adulta.
Pais e filhos se veem de repente como estranhos que coabitam num clima de total indiferença, movidos por valores absolutamente desencontrados.
Até os seis anos de idade, fase em que toda a personalidade é formada, todos os responsáveis pela orientação dos pequenos aprendizes, deveriam estar, tão somente, preocupados com o legado ético moral que querem deixar para eles.
No entanto, o que vemos são crianças assoberbadas por atividades como natação, cursos de inglês, de mandarim, de judô, de computação, tudo focado no seu sucesso financeiro futuro.
Dessa maneira, delas é roubado o melhor tempo da vida, o da infância, em que o ócio criativo é o grande responsável pelas nossas mais belas memórias.
O incentivo aos jogos eletrônicos é maciço e, inúmeros pais se vangloriam da facilidade com que seus filhos manuseiam precocemente máquinas digitais sofisticadas.
Ocorre que nessa fase deveriam estar sendo absorvidas, ou não, as noções de integridade, de solidariedade e de respeitabilidade com o próximo e consigo mesmo.
Inversamente, com o aumento da atividade produtiva da sociedade, pais, pouco ou nada presentes, procuram preencher os espaços de tempo de seus filhos cada vez mais, imaginando assim estarem contribuindo para uma boa educação.
Um papel que deveria ser cumprido pelas escolas, infelizmente não ocorre dado às más condições da educação em nosso país.
O resultado é o aumento de adolescentes desrespeitosos com os colegas, com os pais, com os professores, com os idosos, enfim, com a sociedade em que vivem.
Não há que se culpar os jovens por comportamentos com os quais não concordamos, mas, tão simplesmente, corrigir os erros de formação através de uma cultura educacional mais moderna e mais eficiente, dissociada do que nos impõem as diversas mídias que, logicamente, se mostram comprometidas com um sistema desumano que prioriza o ter e não o ser.
Com o distanciamento dos valores éticos pela família, e, posteriormente, pelas escolas, formam-se seres competitivos, totalmente dirigidos ao sucesso material e emocionalmente bastante anestesiados. 

Gabriel Novis Neves
01-12-2013

Segunda, 11 Janeiro 2016 12:17

 

Dia desses fui jantar na casa de um jovem casal. Além da novidade, uma grande expectativa tomava conta do ambiente-surpresa. Esta ficou por conta do chefe da cozinha, um profissional liberal. 

Ele revelou-se um grande cozinheiro. Especializado em comida portuguesa. O bacalhau que nos foi servido foi de dar inveja a muitos experts da arte de comer bem. 

Nada de excessos. O suficiente para saber como cultivar o hábito de uma boa mesa para manter uma perfeita saúde. 

A gastronomia é arte e cultura, aliada ao prazer de uma higiênica e saudável refeição. 

Para completar o cenário, um belo ambiente com música “digestiva”, quase imperceptível aos ouvidos, como manda o bom tom, e uma conversa quase em sussurros. 

Pequenas porções de guloseimas eram substituídas por novas iguarias, impossível controlar a gula, mesmo de um bem comportado e discreto apreciador de “quitutes saborosos”. 

Duas taças de vinho acompanhadas do mesmo número de copos de água completavam a mesa do “pecado”. 

Sorvete de chocolate feito em casa e o infalível cafezinho com as duas gotinhas do “regime” encerraram o jantar, menos a conversa que continuou num ritmo sem fim. 

Sendo a primeira visita de encontro de gerações tão distantes, segui o protocolo do século XIX de conhecer a pequena casa com detalhes, ouvindo explicações feitas com orgulho pela jovem dona da casa. 

Gostei do que vi e escutei. Bom gosto e discrição em todos os ambientes. Tudo foi planejado para o lazer após um dia de trabalho. 

Mas, o principal, foi ter constatado que aquele ambiente familiar é dos mais propícios para uma boa educação para os filhos, pois as crianças adquirem os primeiros valores da vida em casa. 

Lá, todos trabalham, podendo fazer o que gostam sem importunar ou depender de ninguém para usufruírem das alegrias que o fruto do trabalho oferece. 

Como é bom ser independente e, com bom nível educacional e cultural, viver a vida que escolheu! Muitos acham, erroneamente, que só a riqueza produz a felicidade. 

A sensação de independência financeira para compromissos domésticos, principalmente, faz bem à nossa saúde e a do ambiente em que estamos inseridos, desde que possuamos esses mínimos pré-requisitos para uma vida honrada. 

Sou um forte candidato habilitado a ser bisavô. Espero que a educação para o trabalho e para o lazer continue para sempre regando os meus descendentes. 

É o caminho mais ético e digno para se acompanhar o ciclo vital. O mundo é redondo e dá voltas. Por isso mesmo, nos nossos bons momentos, não podemos nunca nos esquecer do dia de amanhã. 

Nosso lema é viver uma vida com dignidade, sem humilhação. Entenda-se humilhação uma subsistência dependente de outrem, por não terem sabido ou querido aproveitar todas as oportunidades que a vida  oferece. 

O pior é pensar que as pessoas escolhidas para essa “ajuda” têm essa obrigação. 

Retornei do jantar satisfeito e com a  impressão de que nem tudo está perdido nos nossos jovens. 

Está provada que a alavanca da ascensão social é a educação recebida em casa e aprimorada pelas instruções adquiridas na escola. 

Nada acontece por acaso. O talento é essencial, mas sem o trabalho ele se anula. 

Sinto-me com forças renovadas para continuar a minha missão de valorizar a educação e o ambiente em que é criada uma criança. 

 

Gabriel Novis Neves

18-05-2014

Segunda, 11 Janeiro 2016 12:16

 

De todas as doenças que estudei a mais incomodativa, em minha opinião, é a do sofrimento antecipado. 
Sou vítima dessa patologia e sei o que isso significa para a saúde humana. 
Dia desses fiz um exame de prevenção dentária.  Procedimento simples: exame da arcada dentária e retirada de tártaros (depósitos de cálcio que se formam nos dentes), mais intensa em velhos. 
Poucos dias depois, a secretária da clínica me telefonou para confirmar o meu retorno e solicitou que eu chegasse um pouquinho mais cedo. Eu seria examinado por um odontólogo especialista em implante dentário.  
Pronto! Estava instalado em mim o sofrimento antecipado. 
Algo de muito grave fez com que a minha periodontista solicitasse um parecer especializado. 
Só me tranquilizei após o exame do cirurgião que me liberou dizendo que tudo estava normal para a minha idade. 
Que alívio! Interessante que nesta fase da vida sempre que procuro um profissional de saúde ouço essa sentença – “para a sua idade tudo está normal!”. 
Entendo que os desgastes naturais sofridos pelo nosso organismo no decorrer dos anos são considerados normais até o fechamento do nosso ciclo vital. 
Os que sofrem por antecipação passam horas, dias, semanas e meses sempre pensando na pior das hipóteses. 
No caso da revisão odontológica, o mínimo que imaginei foi um implante de dentes e, na pior das hipóteses, numa moderna dentadura. 
Isso vale para as outras surpresas que a vida nos aponta. 
No ambiente político nacional e internacional o sofrimento antecipado é uma realidade. 
Há séculos estão mexendo com fogo no Oriente Médio, tendo como pano de fundo a religião e as riquezas naturais. 
Recentemente, o resultado foi o maior ato terrorista contra a cidade mais charmosa do mundo, deixando centenas de inocentes vítimas. 
Aqui na terrinha de Pedro Álvares Cabral o desmando administrativo, símbolo da falta de governo, é o nosso maior sofrimento por antecipação. 
O mundo precisa passar por uma grande terapia analítica para encontrar a paz e se libertar do terrível sofrimento do que provavelmente virá, nem sempre confirmado. 
Quanto mais pavor, mais precisamos manter a racionalidade. Isso serve para tudo na vida. 
Precisamos muito da leveza do viver...

Gabriel Novis Neves
19-11-2015 

Sexta, 08 Janeiro 2016 11:21

 

“Precisamos de governos democráticos que não se aproximem do Estado enquanto poder, mas que se aproximem do Estado enquanto povo” - assim se pronunciou o Presidente do CFM ao analisar as políticas públicas e a saúde em nosso país. 
Nos países desenvolvidos que adotam as políticas como prioridade de Estado, a expectativa média de vida pode ultrapassar aos oitenta anos, e as principais causas de mortes são as doenças cardiovasculares, o câncer, o acidente vascular cerebral e a demência. 
Antigamente, nascia-se e morria-se em casa. Agora, a maioria das mortes foi transferida para os hospitais, com passagem obrigatória pelas UTIs (Unidades de Tratamento Intensivo) nos poucos municípios brasileiros que possuem esse recurso tecnológico. 
Assim, surgiu um novo padrão moral, com ênfase à dignidade humana como mais importante que o saber científico ou o lucro. 
Comenta o Presidente do CFM que se instituiu o dever do financiamento da assistência à saúde pública. 
De acordo com o relatório do Banco Mundial (2013) referente ao ano de 2012, os 10 maiores gastos per capita em saúde no mundo foram, em ordem decrescente, os da Noruega, Suíça, Estados Unidos, Luxemburgo, Mônaco, Dinamarca, Canadá, Holanda e Áustria. 
Enquanto a média mundial de gastos públicos em saúde era de 6.08 do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil investia nesse setor apenas 4.32, contrastando ainda mais com o dos países não situados nos 10 primeiros lugares do ranking dos de gasto per capita e com modelos assistenciais semelhantes ao SUS como a Inglaterra (7.78) e a Alemanha (8.61). 
A expectativa de vida dos brasileiros é de 73,62 anos quando comparada a dos ingleses (81.5) e dos alemães (80,89). 
Na Alemanha 76,28% de todo o gasto de saúde é bancada pelo Estado e na Inglaterra esse índice é de 82,51%, números bem mais significativos que do atual índice brasileiro de 46,42%. 
A dimensão desses paradoxos assume maior relevância se considerar que em nosso país 150 milhões de pessoas (75% da população) dependem totalmente dos gastos públicos para a promoção e prevenção das doenças e realização de diagnósticos e tratamentos. 
“Se levarmos em conta o índice de analfabetismo funcional, a corrupção, a falta de racionalidade no planejamento e operacionalização do SUS, aumenta a distância entre a saúde pública no Brasil daquela praticada na Inglaterra, Alemanha e nos 10 países que mais lhe dão prioridade para investimento” - lastima Carlos Vital Tavares Corrêa Lima. 
Pelos dados divulgados pelo IBGE no ano passado, mais da metade dos 5.570 municípios brasileiros precisou mandar pacientes do SUS para outros locais em busca de internação. 
Além disso, 52,1% dos municípios do país foram obrigados a encaminhar pacientes para realização de exames em outras cidades. 
Na Alta e Média Complexidade o quadro é calamitoso! Apenas em 6.5% das cidades brasileiras existem disponibilidade de UTI Neonatal em estabelecimentos públicos ou conveniados ao SUS. 
Os serviços de hemodiálise, indicados a pacientes com insuficiência renal, estão disponíveis em somente 8.7% dos municípios. Somente 49.6% dos municípios do Brasil têm estabelecimentos que realizam o parto. 
Segundo o Presidente do CFM, Corrêa Lima, em profunda reflexão, disse ser possível superar os desafios e construir o nosso destino. 
No momento em que vivemos gravíssima dificuldade financeira, com falta de credibilidade internacional, lesões da ética e da moral e profunda crise política, o primeiro passo é compreender as nossas dificuldades na saúde. 
Decidir politicamente que saúde pública é prioridade nacional, sem fronteiras entre a saúde dos ricos e dos pobres, aproximando o Estado do povo brasileiro.

 

Gabriel Novis Neves

04-11-2015

Quinta, 07 Janeiro 2016 08:09

 

Os escritores muitas vezes elaboram durante a noite todas as suas fantasias, traduzidas como sonhos, principalmente naquele pequeno lapso de tempo que separa o sono da vigília. 
Tal como os que costumam ingerir com frequência fármacos psicotrópicos, alguns de nós, mais que outros, elaboram no próprio organismo um excesso de componentes dessas substâncias que costumam ativar as percepções. 
Quem sabe a qualidade dos textos gerados tenha relação com essa química pessoal? 
Conta a história que o grande poeta francês Baudelaire convidou o filósofo Balzac a participar de uma dessas sessões regadas ao uso de substâncias químicas, tão comuns entre alguns intelectuais e artistas. 
Um dos nossos maiores neurocientistas, Sidharta, acredita que drogas psicotrópicas como, por exemplo, a maconha, podem ativar áreas cerebrais responsáveis por uma maior criatividade. 
Eu, por exemplo, avesso a qualquer substância que possa de alguma forma obnubilar o meu livre pensar e agir, tenho tido algumas experiências interessantes, justo nesse período entre o sono e a vigília. 
Algumas vezes chego a me levantar da cama para fazer anotações que, no dia seguinte, são transformadas em crônicas. 
Há algum tempo fui dormir dizendo a mim mesmo que queria fazer uma viagem ao exterior naquela noite.
Por incrível que pareça acordei na manhã seguinte lembrando-me do belo sonho que tive - em que revia em Paris um grande amigo já falecido. 
Contou-me coisas de sua vida artística. Suas últimas obras escultóricas estavam fazendo sucesso nas galerias da Cidade Luz. 
Em seguida falamos de nossas vidas amorosas. Ele me disse que estava no momento muito apaixonado pela Anita, simples assim.
Claro, na minha memória, Anita, era a bela Ekberg, a musa que tanto sucesso fez no filme “Dolce Vita” do mestre do cinema, Fellini. 
Ela foi uma das nossas mais fortes referências femininas dos anos sessenta, ao lado de Brigitte Bardot, Sofia Loren e Claudia Cardinale. 
Com certeza os mais jovens não sabem de quem estou falando. 
Convenhamos que nem sempre temos a oportunidade de fazer uma viagem gratuita a Paris, tendo como pano de fundo as fantasias juvenis que tanto nos embalaram nos famosos anos dourados. 
A nossa caixa cerebral ainda tem muito a ser conhecida, pois apenas nas últimas décadas tem havido progressos nos estudos neurocientíficos do cérebro. 
Muitos Sidhartas ainda virão até que o grande mistério da vida comece a ser desvendado. 
Mas, enquanto isso, vamos sonhar e deixar que os sonhos, apenas eles, sem psicotrópicos, nos levem a uma criatividade sem limites! 
E que as pessoas que conseguem transmitir para o papel toda a magia dos sonhos, que continuem a fazê-lo, para o deleite de todos.

Gabriel Novis Neves
06-12-2015

Quarta, 06 Janeiro 2016 14:42

 

Como se já não bastassem as crises política, econômica, ambiental, social, moral e racial pelas quais temos sido assolados nos últimos anos, terminamos 2015 com uma sombria crise sanitária. 
Todas estão interligadas e não podem ser separadas por ordem de importância. 
De dimensões imprevisíveis, por inédita como se apresenta, vem desafiando os meios científicos em busca de correlacioná-la com o mosquito aedes aegypti, já responsável pelo vírus da dengue e da febre chicungunha. 
Esse mosquito, catalogado como capaz de transmitir mais de cem tipos de vírus, agora nos alarma pela transmissão do vírus Zika, sendo este responsável pelas graves alterações morfológicas nos cérebros de recém-natos, conhecida como microcefalia. 
Só o tempo vai dizer a gravidade desse novo problema sanitário que, segundo as mídias, está tomando proporções alarmantes. 
O fato é que as nossas classes dirigentes nunca se preocuparam muito com o saneamento básico, primordial, nos países desenvolvidos. 
Um país tropical como o nosso mostra o mais profundo desprezo em cuidar dos seus mares poluídos, seus rios assoreados, suas colinas desmatadas, enfim, de nossos sistemas ambientais. 
Isso sem falar no desinteresse criminoso no controle de nossas barragens, todas passíveis de grandes desastres ecológicos com o ocorrido recentemente na barragem de Mariana.
Há algumas décadas fomos eficientes no combate à malária, à sífilis e à tuberculose, conseguindo praticamente erradicá-las em nosso país.
Graças, entretanto, à miséria sanitária que nos ronda, essas doenças, não só têm voltado com força, como também várias outras, como a dengue, a febre chicungunha e agora toda essa interrogação com o vírus Zika. 
Como profissional de saúde durante os últimos cinquenta anos venho batendo nessa tecla do desprezo das nossas classes dirigentes com relação ao saneamento básico, apenas focado durante as campanhas eleitorais. 
Mais uma vez, sem educação não há cobrança da sociedade civil por esse saneamento fundamental para a saúde de nossa população. 
O que fizemos para merecer esse potencial de crises que, diante do desprezo pelo seu acúmulo, vem tornando todo um país refém de desse lamaçal de incompetências? 
Nesse momento crítico de nossa história ou reunimos todas as nossas forças para reverter essa ordem de políticas menores, ou chafurdaremos todos nesse pântano de subdesenvolvimento não sei por quantos outros séculos. 
Onde andará o espírito democrático de “governar para o povo e pelo povo”? 
Por que pagamos tão caro por serviços tão omissos? 
Seria o momento ideal para que nossa classe dirigente passasse a agir em função de um interesse maior, o da nação, e não, em função de interesses mesquinhos, politiqueiros, que apenas conseguem levá-los ao câncer ou ao cárcere. 
Não precisamos de um salvador da pátria, até porque ele não existe, precisamos é de uma compreensão global da gravidade do momento que vivemos. 
Sem utopias, ainda é tempo de mudar os destinos desse belo país através de uma grande união nacional baseada no entendimento e na solidariedade, sem vínculos corporativistas nem vaidades pessoais, mas visando o bem estar desses duzentos e dez milhões de brasileiros desvalidos.

Gabriel Novis Neves
10-12-2015