Sexta, 25 Outubro 2019 18:18

 

Em vários países latino-americanos o povo está nas ruas demonstrando sua insatisfação. Na Bolívia, Equador, Haiti, Chile e Uruguai, manifestações tiveram como estopim motivos específicos, mas refletem a insatisfação de trabalhadores e da juventude com a situação geral de seus países.

Chile

Com um histórico de manifestações nos últimos anos em defesa da Educação e pela reestatização da Previdência Social, a população chilena voltou às ruas do país no último dia 18 de outubro contra o reajuste na tarifa do metrô de Santiago.

O presidente Sebastián Piñera recuou do aumento no dia 19. E decretou estado de emergência pela primeira vez desde o fim da ditadura militar de Augusto Pinochet, em 1990. O exército na rua, o toque de recolher e a violenta repressão não intimidaram a população. Os chilenos protestam contra os baixos salários, as tarifas elevadas, por melhorias no sistema de saúde e previdência e contra o alto custo de vida no país, que coloca hoje grande parcela da população em situação de miséria.

Mais de 1500 manifestantes já foram detidos e o governo confirmou a morte de 15 pessoas, sendo um dos mortos uma criança de 4 anos que foi atropelada. O Instituto Nacional de Direitos Humanos no Chile (INDH) confirmou relatos de casos de tortura de manifestantes por agentes do Estado.

Agressão física, moral e sexual, além da demora em encaminhar os detidos às delegacias, foram denunciados pelo INDH. A ONG também acredita que as 15 mortes confirmadas até o momento foram causadas pelas forças armadas chilenas.

Bolívia

O país começou a ter protestos durante a apuração das eleições presidenciais. Inicialmente, os resultados apontavam um segundo turno, e depois passaram a indicar mais uma reeleição de Evo Morales, a quarta em seguida. Os partidários do segundo colocado, Carlos Mesa, tomaram as ruas. Morales qualificou os atos como um golpe e decretou estado de emergência. A população que apoia Evo Morales também foi às ruas em defesa do presidente. Nessa quinta-feira (24), com 98,42% dos votos apurados, Morales anunciou sua vitória em primeiro turno.

Haiti

Desde o início do ano, os haitianos estão protestando contra as denúncias de corrupção que envolvem o presidente Jovenel Moïse. Além disso, a população vive uma situação de extrema pobreza, agravada em 2018, com elevada inflação somada à crise de eletricidade relacionada à escassez de gasolina.

Após uma pausa nos protestos, os manifestantes retornaram às ruas no mês passado e, desde então, milhares pedem a renúncia de Moise. Pelo menos 17 pessoas já morreram e 189 ficaram feridas nos confrontos, segundo a Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.

Equador

Nesse mês de outubro, o país enfrentou mais de 10 dias de protestos e estradas bloqueadas, depois que o presidente Lenín Moreno anunciou o fim do subsídio aos combustíveis, o qual existe há 40 anos. Com isso, houve uma alta de até 123% nos preços. A medida faz parte de um pacote de metas impostas pelo FMI.

O governo reprimiu com violência as manifestações, decretou "estado de exceção" e, depois, transferiu a sede do governo de Quito para a cidade de Guayaquil. A repressão deixou 7 mortos, 1.340 feridos e 1.152 presos, de acordo com a Defensoria Pública do Equador.

No dia 14, Moreno se reuniu com lideranças indígenas e anunciou que iria revogar a medida que cortava o subsídio.

Costa Rica

Na Costa Rica, um projeto de privatização e desmonte total das universidades públicas está sendo colocado em prática, o que motivou um levante dos estudantes que, com apoio de professores e reitorias, ocuparam os prédios das instituições. Atualmente, a universidade é pública, gerida pelo Estado, mas não é gratuita. Os estudantes pagam o que é denominado de taxa simbólica de manutenção e lutam pelo retorno da gratuidade.

O governo já sinalizou a intenção de cortar o Fundo Especial para Ensino Superior (FEES), utilizado para manutenção das instituições. O FEES tem aproximadamente 70 milhões de cólon costa-riquenhos (quase R$ 500 mil) e o ministério da Fazenda já determinou que o montante seja utilizado apenas com infraestrutura e vetou a destinação de recursos para ensino, pesquisa e extensão.

Segundo relato de docentes, o presidente tem feito reuniões com proprietários dos maiores grupos de ensino privado do país e não esconde a vontade de entregar as universidades públicas para a iniciativa privada.

Uruguai

No próximo domingo, além de eleger o presidente do Uruguai, a população irá se posicionar sobre uma proposta de reforma constitucional que visa endurecer a legislação criminal do país. Contra o plebiscito, milhares de uruguaios tomaram as ruas nessa terça (22).

A reforma prevê aumentar as penas de prisão para crimes graves, incluindo a adoção da "prisão perpétua" para os gravíssimos, a criação de uma guarda policial com efetivos militares, a permissão para batidas noturnas com autorização judicial e o cumprimento efetivo das condenações.

Insatisfação ecoa no continente

Além desses, outros países foram palcos de manifestações desde o início de 2019, como a Venezuela, o Peru, a Argentina e o Paraguai. No Brasil, a população foi às ruas em defesa da Educação Pública e contra os cortes promovidos pelo governo.

Após ameaçar o funcionamento das instituições federais de ensino, com a suspensão do repasse de recursos, o governo recuou após pressão das manifestações e greves estudantis, e garantiu a liberação de mais verbas. Porém, diversas instituições já anunciaram que não serão suficientes para o pleno funcionamento até o final do ano.

 

Fonte: ANDES-SN

Terça, 22 Outubro 2019 09:50

 

 

Ônibus em chamas no centro de Santiago na sexta-feira (19), após um protesto em massa contra as tarifas | Foto: AFP via Getty Images

 

O capitalismo considerado de relativa calma e estabilidade e o “estado estável e moderno do Chile” que tem como origem o regime ditatorial de Pinochet arde em chamas.

 

 

Praça de Santiago do Chile tomada por manifestantes | Foto AFP

 

Desde o dia 17 de outubro, protestos massivos tomaram conta da capital Santiago e de outras cidades do país. Em resposta aos protestos, o governo de Piñera decretou estado de emergência, com toque de recolher. Medida adotada anteriormente (em 2010), somente após o terremoto no país, e no período de regime ditatorial.

 

Até essa segunda-feira (21), foram confirmados 11 mortos em decorrência da repressão militar contra os protestos, milhares de feridos e mais de 1500 detenções de manifestantes.

 

A motivação inicial para as mobilizações foi o anúncio, em 6 de outubro, do aumento de 30 pesos nas passagens dos transportes em horário de pico, equivalente a 4 centavos de dólar. Apesar de o gasto com transporte público representar boa parte do salário mínimo do trabalhador no Chile, o motivo para tamanho descontentamento da população é ainda mais abrangente e urgente.

 

Em panfletos distribuídos pelas ruas, uma mensagem destaca que “os chilenos não aguentam mais pagar para viver e viver para pagar”.

 

Violência e resistência – Segundo informações divulgadas pelo Instituto Nacional de Direitos Humanos no país, os militares têm usado força desmedida nas detenções e têm ferido gravemente crianças e mulheres. São muitas, de acordo com a organização, as denúncias de tortura, espancamento e violações sexuais por parte das polícias e do exército.

 

O toque de recolher de Piñera, que inicialmente foi definido a partir das 22h, mudou para o período das 19h às 6h. A medida restringe liberdade de circulação, de reunião ou de protestos, e deixa a todos os civis em situação de grave vulnerabilidade sob a vigilância de mais de 9 mil militares espalhados pelas ruas.

 

Instituto de Direitos Humanos denuncia série de violações | Foto: Marcelo Hernandez/ Getty Images

 

Apesar disso, a população tem permanecido nas ruas, mesmo em período de circulação proibida. A estratégia tem sido realizar pequenos atos por todo o centro, obrigando a polícia a se deslocar sempre de um lugar para o outro.

 

Greve mineira – Os recentes protestos revelam que as reformas pró mercado que o governo de Piñera pretende implementar correm o risco de não se concretizarem. E os já existentes, como o modelo previdenciário da época de Pinochet, podem ruir diante da insatisfação popular.

 

Nesse marco de levante popular que toma o país, os trabalhadores mineiros da mina Escondida, cujo sindicato é o maior da mineração privada e responsável por produzir a maior mina do mundo por meio de uma poderosa transnacional do setor, decidiram paralisar as atividades e fazem um chamado para a realização de uma greve geral.

 

Mineiros convocam greve geral no país | Foto: Reprodução Rede Sociais

 

Em nota divulgada pelos trabalhadores mineiros, são listados os motivos que enfurecem o povo chileno, como a desigualdade gritante e a injustiça que sofrem os mais pobres no país, e destacam uma das maiores insatisfações da população: “Temos um sistema previdenciário que é um roubo; seu dinheiro é aproveitado pelos bancos e empresas para emprestá-los a você mesmo com altos juros, os lucros as AFPs (Administradora de Fundos de Pensão) e seus donos recebem, mas as perdas somos nós trabalhadores que assumimos, pois quando estivermos velhos, cansados e doentes receberemos misérias de pensões.”

 

Após ainda citar outros profundos problema no país, sob um governo que tem como prática a privatização de todos os serviços públicos como saúde e educação, por exemplo, os mineiros indicam que a saída para enfrentar e derrubar o atual sistema é organizar a mobilização dos trabalhadores e paralisar os meios de produção.

 

“Existe um único poder que ninguém pode nos tirar, que ninguém pode nos obrigar e que ninguém mais é capaz de se igualar, e este é o poder de produzir. Não se gera nenhum lucro, não se move uma única máquina e não se semeia ou colhe nenhum alimento se não for pelas mãos dos trabalhadores”, ressaltam.

 

Por fim, eles chamam a população “até que retirem as forças militares e opressoras das ruas e até que as autoridades do governo estejam disponíveis a sentar-se a dialogar de igual a igual com este povo que clama e luta por igualdade, justiça, oportunidades, trabalho e uma vida digna para o nosso povo”.

 

Os trabalhadores do Sindicato de Estivadores Portuários de Valparaíso também divulgaram comunicado expressando total repúdio às medidas decretadas por Piñera e apoio aos protestos. A categoria deve decidir em assembleia se os trabalhadores integrarão ao chamado pela greve geral nacional.

 

Apoio internacional – A CSP-Conlutas apoia o povo chileno que permanece nas ruas por direitos e contra o governo neoliberal de Sebastián Piñera. Ainda repudia a violência criminosa praticada pelo governo e seu exército militar e qualquer movimento saudosista ao regime ditatorial de Pinochet. Confira MOÇÃO AQUI.

 

Estamos lado a lado da população em luta e dos mineiros mobilizados que convocam greve geral no país.

 

Nesta quarta-feira (23), a CSP-Conlutas organiza ato em solidariedade aos trabalhadores, mapuches e lutadores chilenos em frente ao consulado do Chile em São Paulo [Av. Paulista, 1009], a partir das 17h.

 

Todo apoio ao povo chileno em luta!

 

Fonte: CSP-Conlutas