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Sexta, 10 Maio 2019 09:55

BOLSONARO E A CÓPIA DA DITADURA - Roberto de Barros Freire

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto de Barros Freire*
 

Nosso presidente, saudosista e nostálgico dos tempos da ditadura militar, quer impor aos tempos atuais, o que de pior se obteve naqueles tristes tempos. Imitando a ditadura de 64, ele retira filosofia e sociologia, mas não apenas no ensino médio como fizeram outrora os militares, causando atrasos terríveis na formação do brasileiro: quer acabar com os cursos formadores de filósofos e sociólogos nas universidades, coisa que nem os ditadores ousaram fazer. Ignorante, rude, rústico, grosso acha que as ciências humanas são só marxismo, sem saber da multiplicidade de teorias e concepções que se abriga pelas infinidades de áreas e subáreas que habitam as humanidades.


No clima da ditadura, achando que há uma “conspiração” comunista no mundo, o discurso de Bolsonaro sobre educação é marcado pela perseguição a uma suposta doutrinação de esquerda, que seria predominante nas universidades, sobretudo nas ciências humanas. A luta contra o chamado marxismo cultural é a espinha ideológica do seu governo, fazendo ainda menção de forma genérica à área de humanas, que agrupa outros conhecimentos, como educação e psicologia. Esqueçam os 13 milhões de desempregados, o péssimo desempenho no PISA dos nossos estudantes, apenas cacem os comunistas!


É um equívoco achar que as ciências sociais não têm um papel importante na pesquisa nacional. Que se “perde” dinheiro nessas áreas, como atesta nosso ignorante presidente: nenhum país desenvolvido atingiu esse nível sem antes dar uma boa formação humanística à sua população, com filosofia, sociologia, psicologia, antropologia e artes. Sem esses conhecimentos as pessoas se tornam menos humanas, mais ignorantes e suscetíveis a se deixar levar pelos mais astutos, além, é claro, de contribuir para bestializar a sociedade. Sem esses conhecimentos não se pode criar políticas públicas para sanar os problemas nacionais, não se sabe sequer quais são de fato nossos problemas, cujo problema ideológico é insignificante diante de tantos problemas estruturais que nos cercam: a desigualdade social, a má formação educacional da nação, a violência.


Bolsonaro ignora o roubo de merenda, escolas sem estrutura, universidades quebradas, salários de professores achatados, falta de investimento para formação e treinamento, falta de recursos pedagógicos, falta de transporte nas escolas e acredita que o grande mal da educação e único problema é a "doutrinação” político-partidária. Da educação corta recursos, mas aumenta enormemente os gastos com as forças armadas, aumentando inclusive os salários dos militares, alegando uma suposta defasagem salarial, quando é mais gritante, público e notório a defasagem salarial dos professores, fenômeno historicamente persistente em solo nacional, afastando os melhores quadros das salas de aula, que não querem se submeter a tão baixa remuneração.


Desde que assumiu o governo, faz visitas regulares aos militares, mas nunca visitou uma escola que não fosse a militar, nunca elogiou ou se solidarizou com os professores das escolas públicas. Escolheu para ministro da educação dois incapazes, sem a menor formação pedagógica, sem militância na área educacional. Buscou ideólogos, não educadores. O atual ministro é economista especializado em previdência, e nunca escreveu ou pensou na educação, além de acreditar numa irreal conspiração comunista cujos membros estão por trás de toda imprensa e até mesmo nos grandes bancos, que dirá nas universidades. Sua carreira acadêmica é medíocre (consultem o seu currículo Lattes), sem ter boa formação e sem formar bons acadêmicos, visto ter militado quase que exclusivamente em instituições financeiras. Sua única intenção é destruir as universidades, para ele, um antro de comunistas.


Até o momento esse governo não deu uma bola dentro com relação à educação. Não encara seus problemas reais (evasão escolar, o baixo nível educacional, as péssimas condições educacionais do país, o baixo salário dos professores etc.), não se dispôs a ajudar os professores a realizarem uma boa educação. Pelo contrário, antes, desconfiando dos pobres dos professores, quer impor sua ideologia, atrasada, perigosa, arcaica e retrógrada. Como na ditadura, quer proibir ideias e excluir pensamentos das escolas. Não se combate as más ideias proibindo-as, mas debatendo em praça pública suas falhas e erros; ao se recusar ao debate apenas atesta a sua incapacidade de debater democraticamente, ou seja, respeitando as especialidades, e não decretando que todos são ideólogos e só ele é detentor da verdade. Um presidente que nega competência aos cientistas e se considera acima de todos e de tudo, acima até mesmo de Deus, não está preparado para dirigir uma nação, apenas para combates estéreis pelas redes sociais, que é o que mais faz.

 
*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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