Quarta, 05 Abril 2023 14:07

 

 

 

A história da ditadura empresarial-militar brasileira não foi passada a limpo, como ocorreu com outros países latino-americanos. Isso permitiu que o entulho autoritário e a ideologia da tutela militar permanecessem latentes na sociedade até os dias de hoje. O que, de certa forma, contribui para a "naturalização" da violência de Estado, contra as populações pobres das periferias urbanas e em regiões rurais.

Essas foram algumas das questões abordadas durante o Seminário Nacional sobre a História do Movimento Docente ocorrido no Auditório da Associação de Docentes da Unicamp (ADunicamp - Seção Sindical), em Campinas (SP), nos dias 31 de março e 1° de abril, e que teve como tema "Ditadura: reparação, memória e justiça". O evento foi realizado pelo Grupo de Trabalho de História do Movimento Docente do ANDES-SN (GTHMD), em conjunto com Centro de Documentação (Cedoc) e com a Comissão da Verdade do Sindicato Nacional.

Participantes do primeiro painel do encontro, na noite de 31, avaliaram que há uma responsabilidade generalizada da sociedade sobre o silêncio que ainda paira em torno dos chamados "anos de chumbo" da ditadura. Isso envolve não só as correntes militares autoritárias e seus remanescentes políticos ancorados em partidos e movimentos de extrema-direita, mas também as universidades, institutos de pesquisa, governos progressistas e meios de comunicação em geral. A mesa foi coordenada pelo 2° vice-presidente da Regional Planalto do ANDES-SN, Luís Augusto Vieira, e contou com as explanações de Ana Maria Estevão (Unesp e Unifesp), do 1° vice-presidente do ANDES-SN, Milton Pinheiro, e Sebastião Neto, secretário-executivo do GT dos Trabalhadores/as na Comissão Nacional da Verdade.

"O fato é que temos uma história sem povo. Há milhares de documentos sobre a ditadura, guardados em centenas de caixas no Arquivo Nacional e no Arquivo de São Paulo, entre outros, que não foram sequer organizados até hoje. Pouquíssimos pesquisadores se dedicaram a eles e precisaríamos de centenas para desvendar todos os documentos. Então, a verdadeira história da ditadura militar está completamente desconhecida", afirmou Sebastião, que é também coordenador do Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas (IIEP), instituto que se dedica também ao resgate da memória da luta operária no Brasil.

Segundo Milton Pinheiro, há no Brasil, ao contrário da Argentina e Chile, uma dificuldade imensa de registro da história sobre esse conjunto de pessoas torturadas, presas, mortas, exiladas e cerceadas. Entre os mais de 30 mil nomes que têm sido cadastrados pelas Comissões da Verdade, há um grande número de docentes, estudantes, técnicos e técnicas de universidades brasileiras. "O ANDES-SN defende e trabalha para que essas pesquisas avancem nas nossas instituições", informou Milton. Segundo ele, há muitos casos de docentes que sofreram retaliação, demissão ou isolamento por causa de suas posições políticas, mas que não constam nas listas oficiais de vítimas da ditadura empresarial-militar.

Violência urbana

A professora Ana Maria, autora do livro Torre das Guerreiras, no qual ela relata os seus anos de prisão durante a ditadura ao lado da ex-presidenta Dilma Roussef no Presídio Tiradentes, em São Paulo, descreveu a repressão contra as populações das periferias urbanas, perpetrada com apoio dos chamados “Esquadrões da Morte”, braços armados e clandestinos da polícia.

Essa repressão que, na avaliação da docente, nunca foi devidamente contida e combatida pelo Estado brasileiro, é uma das fontes originárias da violência policial que reprime até hoje as populações pobres e negras das cidades do país.

"A violência da ditadura não foi só com operários, estudantes e militantes, mas foi principalmente com homens pretos e pobres da periferia. Essa violência corria solta nas periferias, mas a ditadura só começou a ser denunciada e combatida no mundo quando atingiu a classe média", disse Ana Maria. "Na verdade, a invenção de violência e tortura no Brasil, o uso por parte do Estado da violência, existe desde o Brasil colônia, permanece no império e se mantém até hoje. Era a forma como os senhores de escravos mantinham a submissão, através do terror e da violência. Inspirar a obediência através do medo se mantém dentro da estrutura da sociedade de classe. Nunca foi combatida a violência contra negros, indígenas e pobres”, afirmou.

Fim das homenagens a ditadores

A revisão histórica e a busca por verdade, memória e justiça passa necessariamente pelo desmonte das inúmeras homenagens aos ditadores e seus apoiadores, que ainda permanecem em praças, ruas e edificações por cidades de todo o Brasil. A professora Michele Schultz, 1ª secretária da Regional de São Paulo do ANDES-SN, defendeu o reforço de mobilizações para extinguir homenagens desse tipo que ainda existem em diversas universidades brasileiras.

Segundo ela, o ANDES-SN tem trabalhado nessa direção em todo o país e já existem ações em andamento em diversas universidades públicas. "Temos que reivindicar a retirada de todas as homenagens à ditadura militar", afirmou.

 

Resgate da memória sindical nas universidades

O segundo dia do Seminário foi dedicado à troca de informações e a debates sobre o aprimoramento das práticas de arquivamento de conteúdos e da história dos movimentos sindicais docentes nas universidades brasileiras. Além do lançamento da "Cartilha de Boas Práticas Arquivísticas do ANDES-SN", editada pelo Cedoc (Centro de Documentação) da entidade, foi feito um longo relato das técnicas de coleta e arquivamento de depoimentos orais que têm sido desenvolvidas pelo GTHMD.

O coordenador da mesa, Luiz Henrique Blume, 3° secretário do Sindicato Nacional e diretor do Cedoc, ressaltou a urgência do trabalho de documentação nas seções sindicais do ANDES-SN nas universidades. "Temos 42 anos de existência e seções sindicais com mais tempo. É preciso que a gente comece a cuidar, a tratar da nossa memória sindical. Muitos colegas já se aposentaram ou estão se aposentando. Precisamos ouvi-los, coletar relatos, pegar documentos", ressaltou.

Blume lembrou que o Cedoc e o GTHMD já haviam iniciado um trabalho nesse sentido, mas que foi paralisado durante a pandemia e retomado agora. "O que nós percebemos é que se trabalharmos só a partir da sede do ANDES-SN, por questões operacionais mesmo, acabaremos nos concentrando apenas em docentes da UNB", observou. Ele apontou, porém, a importância da participação das seções sindicais para coletar a variedade grande de experiências espalhadas pelo Brasil.

Além das questões práticas, de metodologia de coleta e armazenamento, o resgate da memória exige um olhar sociológico e político. "Quando falamos de memória, não estamos falando do passado, mas do presente. No presente é que decidimos qual fato vamos lembrar. E a memória nunca é pessoal, mas coletiva. Por isso, é essencial trazermos olhares e experiências diferentes. Como cada depoente viu o mesmo fato? Por isso, na história oral o significado passa a ser mais importante do que os próprios fatos", ponderou.

Encaminhamentos

Com base nas apresentações e debates realizados nos dois dias do Seminário, a Plenária realizada no final do encontro elaborou uma série de orientações, que serão repassadas ao ANDES-SN e às seções sindicais. Em breve, a secretaria do Sindicato Nacional divulgará o relatório completo do encontro.


Fonte: Adunicamp SSind. (com edição do ANDES-SN)

Segunda, 28 Março 2022 19:20

 

ANDES-SN também apresenta no mesmo local imagens de seus 40 anos

Recuperando histórias de perseguições no período da ditadura cicil-militar
Recuperando histórias de perseguições no período da ditadura cicil-militar

O Coletivo Memória e Luta está realizando, de 28 a 31 de março, a exposição “50 anos dos expurgos da UFRGS”. O evento retrata um dos períodos mais sombrios da ditadura civil-militar, nas décadas de 1960/70, que atingiu as universidades públicas, entre as quais a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Essa perseguição ocorreu na forma de expurgos de professores, servidores técnico-administrativos e estudantes.

A exposição é composta por meio de 18 aquarelas de José Carlos Freitas Lemos, acompanhadas de textos. Da Campanha da Legalidade em 1961 à pluralidade étnica e social conquistada pela sociedade já neste século, passando por episódios como a morte do jornalista Vladimir Herzog, as aquarelas do professor Freitas Lemos atravessam esse período histórico de 50 anos, relembrando as violências vividas, mas também as conquistas, a coragem e a resistência, especialmente no âmbito da universidade.

A exposição “50 anos dos expurgos na UFRGS” está aberta à visitação no horário de 8h30 às 20h no prédio branco, campus central da UFRGS, próximo ao Direito e a Engenharia nova.

40 anos do ANDES-SN

Na entrada do mesmo prédio em que se encontra a exposição do Coletivo Memória e Luta, local em que estão se reunindo os grupos de trabalho mistos do 40º Congresso do ANDES-SN, também estão expostos banners com fotos e textos ilustrativos sobre os 40 anos de história do Sindicato Nacional dos Docentes, conforme registros em fotos a seguir (abaixo e também em anexo).

 


Fonte: Sedufsm

 

 

Terça, 23 Novembro 2021 10:25

 

 

Na última sexta-feira (19), o ANDES-SN inaugurou o Espaço Memória no terceiro andar da sede do Sindicato Nacional, localizada em Brasília (DF). O local contém uma exposição permanente com memórias da história do ANDES-SN e registros de docentes, funcionárias e funcionários, estudantes, militantes de outras categorias do funcionalismo público nas lutas e construção do sindicato, entre outros trabalhos.

A iniciativa é uma decisão do 37º Congresso do ANDES-SN e faz parte do Projeto Memória do Centro de Documentação (Cedoc) do Sindicato Nacional para celebrar os 40 anos do ANDES-SN, completados em 19 de fevereiro de 2021.

O lançamento foi transmitido online e também contou com a presença de diretores e diretoras do ANDES-SN, além de convidados e convidadas. Para compor o Espaço Memória foram utilizados 357 itens entre fotos, quadros, bandeiras, documentos, panfletos, primeiros jornais, materiais de congressos e conads, além de camisetas, bonés e bolsas.

O espaço será aberto para consultas e pesquisas, tanto para docentes filiados e filiadas ao ANDES-SN, como para pesquisadores e pesquisadoras em geral, desde que os pedidos para visitação do espaço sejam agendados previamente com a secretaria da entidade, através do e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo..

Segundo Luiz Henrique Blume, 3º Secretário do ANDES-SN e coordenador do Cedoc, o espaço é fruto de uma construção coletiva que iniciou na gestão passada e se concretizou este ano. “Queremos que o Espaço Memória seja um local em que docentes sindicalizados e sindicalizadas, estudantes se reconheçam nessas lutas”, disse.

Além da exposição presencial permanente, já foram realizadas a exposição virtual “40 anos em 40 imagens” com fotografias selecionadas de diversos períodos do sindicato, desde sua criação em 1981 em congressos, conads, reuniões, encontros, seminários, atividades de greve, manifestações, entre outras imagens. E, também, um programa de entrevistas em vídeos com pessoas que marcaram as quatro décadas da entidade.

Erlando Rêses, ex-diretor do ANDES-SN (2018 a 2020), afirma que o espaço servirá também de referência para outras organizações, entidades sindicais, movimentos sociais e populares para que conheçam o Espaço Memória e o Cedoc. “Nós pesquisadores e pesquisadoras, das universidades, temos que primar por isso e desejar que outras pessoas utilizem o espaço como pesquisa da história de luta nesses 40 anos”.

Para aumentar o acervo do ANDES-SN, Blume explica que será realizada uma pesquisa baseada em relatos da história oral do sindicato com entrevistas com pessoas de referência do movimento docente. Além de continuar com a higienização, catalogação e organização do acervo do ANDES-SN.

 

Fonte: ANDES-SN
 

Terça, 29 Outubro 2019 08:31

 

Assassinado com um tiro na barriga, disparado pelo policial militar Herculano Leonel, em 30 de outubro de 1979, o trabalhador Santo Dias recebeu homenagem em memória aos 40 anos de sua morte no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo na tarde desta segunda-feira (28).

 

 

A iniciativa, unitária, contou com a presença de cerca de 200 pessoas.

 

 

Promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, em parceria com as Centrais Sindicais, Iiep (Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas), contou também com a presença da Pastoral Operária, da Plenária Paulista de Anistia e Reparação e outras organizações. O objetivo foi resgatar a memória de Santo Dias, mas também vincular a luta contra a ditadura à luta atual dos tralhadores.

 

 

 

 

 

Representante da CSP-Conlutas, Luiz Carlos Prates, o Mancha, afirmou que Santo Dias foi um herói da classe trabalhadora. “Ele morreu lutando em defesa dos trabalhadores. As lutas desde a época dele continuam, mas as condições de vida estão cada vez piores. A lição disso é que não basta nos limitarmos a luta sindical e pela defesa dos direitos, precisamos ir além, lutando contra a sociedade capitalista, que é o motivo de todo o nosso sofrimento, e oferecendo na luta uma alternativa de poder para a classe trabalhadora”, salientou o dirigente.

 

 

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de SP, Miguel Torres, que também preside a Força Sindical salientou o reconhecimento do significado da luta de Santo Dias para a categoria metalúrgica e para a entidade. “Tudo tem a sua hora”, disse ao anunciar a placa em homenagem ao metalúrgico que estva sendo inaugurada naquela data.

 

 

O crime contra Santo Dias ocorreu durante um piquete na fábrica Silvânia, em Santo Amaro, em São Paulo. Dias tinha 37 anos e deixou dois filhos e uma esposa.

 

Além de participar da Oposição Metalúrgica, Dias militou nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e foi membro da Pastoral Operária.

 

 

O trabalhador, após sua morte, se transformou em um símbolo da resistência contra a ditadura em São Paulo.

 

 

 

Fonte: CSP-Conlutas