Quarta, 13 Junho 2018 14:26

 

 

               Nos últimos dias viralizou pelas redes sociais a foto de um cartaz atribuído à ADUFMAT onde se lê “NÃO À IMPLEMENTAÇÃO DE DISCIPLINAS DE EMPREENDEDORISMO!”. As postagens são seguidas por comentários irônicos, jocosos e ácidos sobre a postura do sindicato e dos professores da UFMT, comentários de deixar qualquer um envergonhado e que não valem a pena ser reproduzidos aqui.

A frase do cartaz, embora pareça ter sido redigida na melhor das intenções, foi um tiro pela culatra dado pela ADUFMAT. A julgar pela repercussão negativa nas redes sociais, foi um prato cheio para os inimigos da universidade pública, do movimento sindical e do serviço público, que se aproveitaram do ocorrido para dizer dentre outras coisas, que a universidade desperdiça dinheiro público com “doutrinação ideológica” (aspas minhas) e deve ser privatizada, esse o maior pesadelo de pessoas ligadas ao movimento de defesa da universidade pública.

Dizer “não” a uma disciplina aprovada em órgão colegiado, seja ela qual for, não me parece ser coerente com a autonomia didática, diversidade e liberdade de pensamento que deve existir na universidade, salvo em casos de infração legal ou falta de bases teóricas, práticas ou científicas para a disciplina proposta. Enquanto colégios de criança possuem empreendedorismo em seu currículo complementar como uma forma de ensinar liderança, respeito, cooperação e fomentar a formação de pensamento crítico e independente, setores da universidade demonizam uma proposta de disciplina em nível superior e, ao que parece, preferem ficar presos em doutrinas já superadas. Tais setores normalmente alegam que ao oferecer uma disciplina de empreendedorismo, a universidade se rende a uma “lógica de mercado”, seja lá o que isso signifique.  Então, tenho a ousadia de perguntar como um exercício retórico: então me digam onde os alunos vão trabalhar depois de formados? A universidade e o setor público não podem ser um fim em si mesmos.

Disciplinas sobre empreendedorismo, quando bem conduzidas, podem ser uma oportunidade de se encontrar e treinar futuros líderes que ajudarão na inovação tecnológica e desenvolvimento do país. Empreendedorismo não se resume a montar um negócio “ganancioso” para ficar rico e explorar o trabalhador através da “mais-valia”. Uma visão mais ampla de empreendedorismo envolve reconhecer pessoas inovadoras, criativas, artesões, artistas, “start-ups” e assentados do MST, dentre outros exemplos, como empreendedores. E o que dizer sobre o tão falado empreendedorismo social, onde empresas buscam crescer, mas ao mesmo tempo buscam soluções para problemas sociais.

Inovação, melhora da condição de vida das pessoas e solução de problemas, incluindo problemas sociais, esse é o papel do empreendedorismo. Um dos papéis da universidade tão repetido até pelo pessoal que diz não à implementação de disciplinas de empreendedorismo, é o da inovação e busca de soluções para problemas sociais. E isso é empreendedorismo puro! A universidade é empreendedora por natureza, por que não ensinar isso aos alunos?

 

Prof. Dr. Ricardo Stefani

Professor Associado

Bacharel em Química Industrial pela Universidade de Franca e Doutor em Química pela Universidade de São Paulo

ICET/CUA/UFMT

 

Terça, 29 Maio 2018 10:31

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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      Na semana que passou o país se viu refém dos caminhoneiros e o governo se mostrou perplexo, fraco e, também refém do movimento.  Diante disso tudo, pode-se fazer um paralelo com o atual movimento estudantil que ocorre na UFMT.  Eu não vou me estender falando sobre contradições de ambos os movimentos, principalmente sobre as do movimento estudantil e suas imitações dos movimentos esquerdistas, já expostas brilhantemente pelo artigo de Roberto de Barros Freire – “Autoritários são os outros”– prova de que, para a nossa sorte, ainda há vida inteligente e sensatez dentro de áreas do conhecimento hoje dominadas por ideologias superadas.  O paralelo que quero fazer é entre a administração da UFMT e o governo TEMER. Ambos demoraram para dar uma resposta enérgica, no sentido de eficaz, aos movimentos e quando deram respostas foram respostas paliativas que não convenceram ninguém. Feito o paralelo, vamos ao nosso problema acadêmico.

       De forma diferente do que ocorre no governo central, houve uma clara sabotagem dentro da administração da UFMT. Explico. Gente oportunista com complexo de messias ou querendo colher futuros dividendos eleitorais para cargos dentro da estrutura administrativa da universidade, manipulou e protegeu descaradamente os excessos dos estudantes, deu uma aula magna sobre como manipular e proteger as massas de manobra. Como se não bastasse, agiu sabotando ou se voltando contra qualquer tentativa de conciliação dentro dos órgãos colegiados. Outros, os mesmos de sempre, viram uma chance de carona no movimento alheio e perderam feio em uma assembleia onde os sindicalizados deixaram claro que não irão aprovar qualquer tentativa de greve inútil, sem motivo ou que pegue carona em movimentos ou reivindicações de outras categorias, dando o recado evidente de que greve é um recurso muito precioso para ser desperdiçado fazendo média com outras categorias.

       A consequência de tudo isso não poderia ser mais desastrosa: uma interpretação torta, seja intencional ou não, das ditas “notas de apoio” de docentes, técnicos e órgãos colegiados como um passe livre para os estudantes fazerem o que quiser e  um comando de “greve” estudantil que não reconhece as ações do DCE – a única instância legítima de representação e defesa dos interesses estudantis – e nem as instâncias da administração superior, o que é mais grave.  Há gravações de cenas de desordem, desrespeito e provocações ao CONSUNI por parte dos “grevistas”, os mesmos que dizem querer democracia e respeito. O Brasil é uma democracia representativa e as universidades públicas tendem a replicar o modelo, e é o que tem funcionado por décadas. Os representantes dos conselhos superiores são eleitos por todos, inclusive com o voto dos alunos – a bravata “não me representa” não cabe aos membros dos conselhos –. Se querem se fazer ouvir nos conselhos, que articulem com seus respectivos representantes indiretos e diretos (discentes) e que façam ocupar os espaços reservados aos discentes que segundo informações dos próprios discentes, hoje estão vagos. Não é fazendo barulho e nem tumultuando reuniões do CONSUNI E CONSEPE que conseguirão alguma coisa, tais ações só provam a imaturidade dessa turma e causam constrangimentos.

      Os conselhos, como instâncias administrativas devem ser formados em sua maioria pelo pessoal que conhece a estrutura e o funcionamento da universidade e da administração pública, tal como preconiza a legislação. Vejam bem, tudo é regulado por uma legislação e se os estudantes querem paridade nos conselhos, que se organizem e marchem para Brasília a fim de pedir ao congresso que mude a lei. Por força dessas mesmas leis, as instâncias superiores não podem e não devem ser atropeladas em virtude de caprichos pueris de um grupo de pessoas que não reconhecem nada, apenas aquilo que gritam ser seu direito pétreo. De sorte, mesmo que de forma tardia, os últimos dias têm mostrado que a administração saiu do entorpecimento e letargia e está deixando claro que irá sim, dialogar, mas que as decisões finais serão tomadas nas instâncias competentes, como deve ser.

 

 

Prof. Dr. Ricardo Stefani

Professor do ICET/CUA/UFMT

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Nota de Rodapé

1- http://www.adufmat.org.br/2015/index.php/comunicacao/espaco-aberto/item/3084-autoritario-sao-os-outros-roberto-de-barros-freire