Quinta, 24 Novembro 2022 11:36

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP

 

          Dias atrás, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal foram assediados em Nova York, onde participavam de um evento. As abordagens foram feitas por brasileiros inconformados com a derrota de Bolsonaro para Lula. Um deles, enquanto filmava sua “entrevista”, questionou se Barroso iria “...responder às Forças Armadas”; se deixaria “...o código fonte (das urnas) ser exposto”. De chofre, Barroso voltou-se para o “repórter” e disse: "Perdeu, mané. Não amola".
          Depois disso, antes que o arrependimento de Barroso – embora desnecessário – se tornasse público, não demorou para que o enunciado ganhasse incontáveis memes, vindos da oposição ao golpismo de bolsanaristas, que não aceitam a derrota nas urnas, aliás, seguras, auditáveis, exemplares e tudo o que se quiser apontar de positivo sobre elas.
          Do lado dos derrotados, recebi o texto apócrifo “Nós, os manés”, onde é dito que foram acordados “de uma letargia”; por isso, não aceitam mais “mentiras e falsidades...”; que os “manés” descobriram “... os verdadeiros amigos” e tiraram “as máscaras dos inimigos”; que encontraram “um líder” que lhes “fez ver o perigo que corriam”.
          De minha parte, limito-me a dizer que, se neste momento pós-moderno, como cada um vê o que quer e da forma como quer, fazer o quê se essas pessoas pensam que não aceitam “mais mentiras e falsidades”? Alguém há de convencê-las se disser que todos os inconformados estão atolados em fakenews? Que não enxergam um palmo à frente do nariz? Que são nutridos por mentiras repassadas ininterruptamente pelas redes sociais?
          Não, até porque essas criaturas não querem ser convencidas de nada que lhes possa tirar do conforto das mentiras que se lhes abatem. E o mito, a quem chamam de líder, é mesmo um líder, mas em disseminar mentiras e desavenças entre nós, brasileiros.
          Mas sigamos. No final do texto em questão, depois de alguns palavrões contra os ministros do STF, o autor anônimo registra que “...com sorrisos debochados, nos jogam na cara (no caso, Barroso) a fala do ladrão quando nos rouba... “Perdeu, mané!”.
          O restante do texto é recheado de pragas. Bobagens. O que me interessa é a afirmação de que “perdeu, mané” refere-se à “fala do ladrão”, quando anuncia um roubo.
          Até pode ser mesmo, mas antes de ser uma expressão apropriada por ladrões, “mané” vem dos morros cariocas; vem, portanto, das camadas populares, que não podem ser confundidas com ladrões por conta de seu registro linguístico.
          Para ilustrar, resgato o samba “Linguagem do Morro”, composta em estrofe única de dezessete versos por Padeirinho, gravada por Jamelão em 1961.
          Logo após ser dito que “Tudo lá no morro é diferente”, e que “Daquela gente não se pode duvidar”, o eu-poético, no sétimo verso, passa a falar da “linguagem de lá (no caso, do morro)”. Eis uma parte do “dicionário” própria de várias comunidades cariocas:
          “Baile lá no morro é fandango/ Nome de carro é carango/ Discussão é bafafá/ Briga de uns e outros dizem que é burburinho/ Velório no morro é gurufim/ Erro lá no morro chamam de vacilação/ Grupo do cachorro em dinheiro é um cão/ Papagaio é rádio/ Grinfa é mulher/ Nome de otário é Zé Mané”.
          Mais recentemente, em 2000, a “malandragem artística” de Bezerra da Silva especifica o significado de “mané”, mas sem o “Zé” da música de Padeirinho/Jamelão. Isso ocorre na canção “Malandro é Malandro e Mané é Mané: o poeta falou”.
          Como estou a comentar sobre o “mané”, deixarei para a curiosidade de cada um o que o eu-poético de Bezerra diz sobre o “malandro”, e já recorto os versos que definem o “mané”:
          “...o mané, ele tem sua meta/ Não pode ver nada/ Que ele cagueta/ Mané é um homem/ Que moral não tem/ Vai pro samba, paquera/ E não ganha ninguém/ Está sempre duro/ É um cara azarado/ E também puxa o saco/ Pra sobreviver/ Mané é um homem
Desconsiderado/ E da vida ele tem/ Muito que aprender
…”
          Salve, Bezerra! Esse é o retrato do “Mané” enunciado por Barroso: de alguém que, no mínimo, precisa aprender muito da vida. O resto, sem contar o preconceito linguístico por trás de determinadas afirmações, é chororô de inconformados.
          Já o “não amola”, pedido de Barroso ao “mané” de Nova York, faz parte dos “Termos e expressões do coloquial do cotidiano da zona rural no Brasil central no século XX”, título da obra de Ismael David Nogueira, que, a quem quiser, pode ser assim encontrada na própria internet.
          Portanto, Barroso, ao dizer “Perdeu, mané. Não amola”, foi ao falar mais popular possível. Claro que, com isso, ele causou estranheza, posto transitar sempre na expressão erudita, nas sessões do STF, que, aliás, poucos são os brasileiros que conseguem acompanhar sua linha de raciocínio, principalmente quando se põe a tratar da importância de envidarmos todos os esforços para a manutenção do nosso estado de direito. Isso, sim, é o que deveria importar a todos, manés e malandros, deste país tão dividido.

 

Terça, 22 Novembro 2022 10:10

 

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Texto enviado pelo Prof. VICENTE MACHADO DE AVILA.




                       I.            FUTUROLOGIA

JANJALINDA: 2026 é agora? Quem será o(a) novo(a) presidente?
DEMOCRATINO: Se as eleições fossem hoje, considerando que LULA não será candidato, venceria uma das seguintes chapas:

a.       ALCKMIN – TEBET b. TEBET – ALCKMIN c. JANJALINDA – ALCKMIN d. ALCKMIN – JANJALINDA.

Por que? Primeiro, as três figuras tiveram papel fundamental na campanha de 2022; segundo, estão ocupando posições estratégicas na transição; terceiro, com certeza, desempenharão papel relevante no governo LULA. Quarto, a expectativa do sucesso do governo LULA está baseada no desempenho passado e pelo compromisso de melhorar a vida dos pobres e projetar o país social e economicamente no cenário internacional. Quinto, a sofrência trazida pelo BOLSONARO permite comparar governo popular e inclusivo com governo antidemocrático e negacionista. Sexto, o neoliberalismo bolsonariano é excludente e está em baixa no mundo. Sétimo, BOLSONARO está mais queimado que a floresta amazônica brasileira. Oitavo, os avanços na educação, na cultura, na ciência, etc, elevarão o nível de consciência política. Nono, expressivas lideranças do conservadorismo estão apoiando a governabilidade. Décimo, o Brasil está entrando numa onda de fé, esperança e otimismo.
 

                    II.            Como prosseguir em nossa missão/construção? “...caminhando, cantando e seguindo a canção...”

 


Cuiabá, 13/11/2022
DEMOCRATINO CONSCIENTE
JANJALINDA BRASUCA
LULAHUMANO DA SILVA

Segunda, 21 Novembro 2022 07:48

 

 
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Texto enviado pelo Prof. Vicente Machado Ávila.



               

I.            BOLSONARO FORA: JANJALINDA: Bolsonaro voltará?

                DEMOCRATINO: nananinanão. Por que?

               1º Ele é da direita, que está em queda no mundo (vide EUA).
               2º Ele faz um governo rico em malefícios e pobre ou nulo em benefícios.
               3º Ele defende as forças que o Lula combate (madeireiros incendiários, garimpeiros burraqueiros/venenosos e milicianos armados e donos de cemitérios clandestinos).
               4º A direita não vai bancar candidatos com esse perfil.
               5º O sonho de governar com uma ditadura militar foi descartado em 2022.
               6º Faz uso da MENTIRA como forma de fazer política e já ganhou do eleitorado o merecido troco.
               7º O capital político do Lula agigantou se nas últimas eleições é está só crescendo. Lula compõe com todas as forças vivas (inclusive com o LIRA). Bolsonaro contra                       Lula é a luta do mal contra o bem é isso a população já percebeu.
               8º Agora que o Bolsonaro foi mandado para os quintos, Lula é paz/harmonia e comida para os famintos.
               9º Ao invés de fofocas e intrigas, Lula está visitando e dialogando com os poderes Legislativos e Judiciários.
               10º A transição do mal para o bem está inteligente e acelerada. Do bolsonarismo vai restar nada.

 


Cuiabá, 10/11/2022

JANJALINDA BRASUCA
DEMOCRATINO CONSCIENTE
LULAHUMANO DA SILVA

Quinta, 17 Novembro 2022 11:21

 

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP
Professor de Literatura Brasileira


            Pelas múmias do Egito! Eu não acredito!
            A viagem de Lula ao Egito, onde se realiza a COP27,já mudou a rota, pelo menos da intenção inicial deste artigo, que era tratar de cenas brasileiras pós-eleição presidencial; e eu faria isso com base em “Camisa Amarela”, música de Ary Barroso, de 1956.
            Naquela canção, aliás, interpretada magistralmente por Gal Costa, falecida há poucos dias, a voz poética é cedida a um eu-lírico feminino, que relata ter encontrado seu “pedaço (seu homem) na avenida/ De camisa amarela/ Cantando a ‘Florisbela...”, que é uma marchinha carnavalesca de Nássara e Frazão, lançada por Silvio Caldas em 1939.
            Logo no início da “Camisa Amarela”, é registrada a embriaguez do “pedaço”: “...O meu pedaço na verdade/ Estava bem mamado/ Bem chumbado, atravessado/ Foi por aí cambaleando/ Se acabando num cordão/ Com o reco-reco na mão...”.
            Lembrei dessa música quando passei por um desses bloqueios de golpistas, que se instalaram em frente de áreas militares de algumas cidades, pedindo a volta da ditadura. Mesmo não identificando, ali, bêbados, pelo menos não no sentido literal do termo, eu reflexionaria sobre um tipo de inebrio coletivo que tem feito muita gente viver a realidade política paralela, vestir-se de amarelo e sair por aí, infelizmente, não de “reco-reco na mão”, mas muitos portando, sim, algo bem menos divertido, socialmente falando...
            Esses brasileiros de camisas amarelas que estão, há dias, praticando crimes contra a democracia, posto estarem embriagados de fake news até não ter mais como – chegam ao cúmulo de cantar, ajoelhados no asfalto e ao redor de um pneu de caminhão, p. ex., não as antigas e populares marchinhas carnavalescas, mas o pomposo Hino Nacional!
            Mas como eu disse no início, a viagem de Lula à COP27 mudou a rota deste texto; e mudou não tanto pela importância de Lula fazer o Brasil voltar a discutir as questões climáticas de maneira menos fictícia, mas pela forma como ele – cheio de convites honrosos para encontros bilaterais e, por consequência, cheio de si –voou para a terra sobre a qual, no passado bíblico, foram lançadas dez terríveis pragas. Mau presságio?
            Antes, porém, de pontuar os problemas de logística que envolvem a viagem de Lula, passo a transcrever um fragmento do artigo “Avisos e sinais de um tempo difícil”, publicado no Mídia News, de 21/10/22, onde justifico o meu voto crítico no 13:
            “...Por conta de uma montanha de aberrações da extrema direita, das quais destaco a constante ameaça de golpe, portanto, ao regime democrático, mesmo ciente de que Lula e Bolsonaro se igualam no compromisso de aprofundamento do neoliberalismo, votarei no 13, não sem registrar que a aposta desse agrupamento político, em disputar o atual pleito, de forma direta, com Bolsonaro, é de altíssimo risco e exposição do país a uma incerteza institucional que, desde 2018, poderia ter sido evitada...”.
            Como no mesmo artigo antecipei minha oposição ao lulopetismo, pois sou um dos que não comemoraram “a vitória do vencedor, mas, sim, a derrota do perdedor”, já lanço meu primeiro alerta; e o faço com muita preocupação com o futuro. Lula jamais poderá repetir as promiscuidades do passado. Se isso acontecer, as dez pragas do Egito serão café pequeno perto do que poderá o correr no país, talvez, mesmo antes de 26.
            Dito isso, declino de falar do conteúdo que Lula possa exporem diferentes momentos na COP27, como o discurso de hoje (16/11), até pela obviedade de sua importante presença por lá, e me junto aos que já estão questionando a carona que o presidente recém-eleito recebeu para chegar no Egito. Para isso, destaco quatro das várias manchetes da mídia sobre a questão:
            a) “Alckmin diz que Lula foi ao Egito de carona em jatinho de empresário” (Metrópoles);
            b) “Júnior da Qualicorp’ leva Lula de carona em jato privado” (Poder 360);
            c) “Deputado bolsonarista pede a Aras investigação da viagem de Lula em jato de empresário” (Lauro Jardim: O Globo);
            d) “Lula no Egito: Relatório do TSE vê ‘irregularidade grave’ em doação de dono de jato ao PT” (Malu Gaspar: O Globo).
            Ainda que não haja crime na viagem de Lula, Alckimin já teve de justificar politicamente o injustificável. Mau começo. No Egito, Lula já transita sobre o primeiro desconforto, ainda que a mídia televisiva lhe esteja sendo complacente. Até quando?
            Seja como for, mais cedo ou mais tarde, o fato é que alguém terá de pagar, ou o pato ou pelo jantar, posto que no capitalismo, é sabido queas graças não saem barato, muito menos de graça. Será que o velho Lula continua o mesmo velhaco, sempre grudado em amigos-empresários que o levaram e, alguns, até foram juntos à prisão?
            Pelo sim, pelo não, ainda regados por incontáveis fake news e, paradoxalmente, com muito ódio em seus corações “terrivelmente cristãos”, zumbis e “manés” de amarelo, em portões de quartéis, continuam tocando corneta se cantando, não a “Florisbela, mas o “Hino Nacional”. Vida que segue...

Quarta, 09 Novembro 2022 09:48

 

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Texto enviado pelo Prof. VICENTE MACHADO DE AVILA.

 

 

  1. I.               IDEOLOGIAS (2)

JANJALINDA: Ideologias – quero mais.

DEMOCRATINO: No Reino Unido (Inglaterra) o parlamento se divide em duas classes: câmara dos lordes e câmara dos comuns. Os lordes sentam-se do lado direito e os comuns do lado esquerdo da mesa diretora. Na pratica os direitistas (bolsonaristas) defendem os ricos e os esquerdistas defendem os pobres.

 

JANJALINDA: O que é alienação política?

DEMOCRATINO a pratica da alienação política ocorre quando eleitores de uma classe social votam nos candidatos da outra classe social. Exemplo: trabalhadores assalariados votam no candidato assumido da direita (Bolsonaro).

 

  1. II.                  GOLPE NAS ESTRADAS

Após dois dias de boca calada esperando a sua tropa ocupar as estradas, Bolsonaro liberou o ir e vir na pátria amada, e no STF ele declarou que as eleições já estavam acabadas.

JANJALINDA: E o Lula?

DEMOCRATINO: Lula ignorou as provocações dos golpistas vagabundos. Em silêncio profundo ela curtia os afagos que vieram da ONU e de todas as partes do mundo.

E os quartéis? Também foram chamados para golpear. Não deram ouvidos. Por isso recebem o grito Viva a nossa força militar!

 

 

Cuiabá, 08/11/2022

 

JANJALINDA BRASUCA

DEMOCRATINO CONSCIENTE

LULAHUMANO DA SILVA

Sexta, 04 Novembro 2022 10:00

 

 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Ciências da Comunicação/USP

 

Desde há muito tempo, diferentes povos e culturas têm correlacionado as cores com significados socialmente construídos. A nós, brasileiros, o vermelho, p. ex., sendo uma das cores quentes, está ligado ao amor, paixão, alegria, desejo, força, poder, calor, fogo, sangue...”; jamais ao silêncio, representado por cores frias.

Todavia, desde a chegada de um belicoso ex-capitão do Exército à presidência da República e, por consequência, da manifestação–igualmente belicosa – de um modo bolsonarista de ser de tantos brasileiros, modo até então escondido dessas próprias pessoas, a cor vermelha foi, aos poucos, subjetiva e objetivamente, sendo censurada no plano de nossas relações sociais.

Literalmente, o tiro da largada desse tipo de censura, na reflexão que faço, se deu no momento em que, “em nome de Deus, da Família e da Pátria”, um bolsanarista, no Paraná, invadiu e matou, a tiros, um aniversariante petista, que realizava uma festa tematizando sua opção política por Lula/PT; isso ocorreu em 10/07/22.

A partir daquele assassinato, muitos brasileiros de caráter “terrivelmente cristão”, ainda que apenas mentalmente, pensaram: “bem-feito! Ele provocou. Pra que fazer uma festa temática com a cor vermelha, e ainda com a cara de Lula estampada em um banner!?”. Como já ocorreu em diversas outras situações criminosas, aquela vítima também se tornou responsável/culpada pela tragédia que lhe interrompeu a vida.

Diante desse tipo de comportamento, considero corresponsável por aquele crime cada brasileiro que assim pensou. A partir daquele assassinato, o recado (literalmente, velado) foi passado: não se atrevam a usar vermelho; agora, essa cor está proibida em nosso país. Quem ousar vesti-la poderá ser o próximo a ser executado, seja aonde for.

E assim se sucedeu. Dali em diante, essa cor, principalmente se identificasse de forma explícita o lulo-petismo, foi desaparecendo de cena, acentuadamente em lugares de predomínio de violentos e imprevisíveis bolsonaristas, muitos armados até os dentes, como, p. ex., Roberto Jefferson e Carla Zambelli, dois bolsonaristas que exemplificam bem esse modo estúpido de resolver eventuais problemas.

Foi assim, pois, que o simples uso da cor vermelha – a partir daquele assassinado, principalmente nos trajes que elegemos para cada dia, sem falar das incontáveis incidências de assédios diversos, que não são coisas irrelevantes –passou a significar risco de morte; risco que se acentuava na proporção em que o verde e o amarelo ganhavam destaque nas ruas, asfixiando qualquer manifestação de oposição ao bolsonarismo, por excelência, autoritário e golpista.

A quem duvidar dessas considerações, tome o período eleitoral, em especial o período entre o primeiro e o segundo turnos, e faça a retrospectiva de quantos automóveis identificados com adesivos do 13 foram registrados por seus olhos; e quantos identificavam o 22. Faça o mesmo, tentando se lembrar de quantos foram vistos com camisetas do 13; e quantos exibiam o 22.

Junte a isso, a exposição da bandeira nacional em qualquer tipo de comércio ou propriedade em geral. Em quantos apartamentos e/ou residências a bandeira nacional, subtraída pela campanha bolsonarista para si, foi vista por você, leitor? Em contrapartida, quantas bandeiras petistas, mesmo aquelas que já disfarçam a forçado vermelho, seus olhos registraram?

Hoje, o líder que contaminou o caráter de tanta gente, ou simplesmente deu espaço à eclosão dos gravíssimos defeitos de personalidade, está derrotado nas urnas; e derrotado não somente pelos vermelhos de carteirinhas, que tiveram de se passar por mortos, como em cenas de filmes de guerra ou de serial killers, mas por brasileiros que, assim como eu, não suportavam mais ver nosso país no mais baixo patamar de sua política; não suportavam mais as ameaças de golpe a cada momento; não suportavam mais ver a demolição de inúmeras políticas públicas. Ninguém, por pior que seja, conseguirá nos dividir e nos rebaixar tanto; e tudo, paradoxalmente, “em nome de Deus!!!”

Com todos os defeitos que o lulo-petismo tem, e que não são poucos e tampouco suaves, o atual presidente (hoje derrotado) é imbatível. Motivo: falta-lhe a essência para alguém de sua espécie: humanidade. O escárnio com que tratou as mortes na pandemia foi “terrivelmente” desumano; foi diametralmente oposto a qualquer ensinamento bíblico. Ademais, o jeito bolsonarista de ser é socialmente impraticável e inaceitável a quem cultiva o exercício da reflexão crítica e conhece o mínimo de nossa história, com ênfase aos períodos em que ditaduras foram vigentes.

Mas se, hoje, o “mito” da extrema direita está derrotado, seu pensamento, construído a partir das mais dolorosas experiências da humanidade, não está. Logo, perguntar é necessário: aonde esse jeito bolsonarista de ser de tanta gente poderá nos levar como país?

Em nome de “Deus, acima de tudo e de todos, da pátria e da família”, com certeza, esse jeito reacionário de ser, que flerta, sem pejo, com o fascismo e o nazismo, nos levará ao lugar ou a um tempo em que a paz social jamais reinará entre nós. A um tempo ou a um lugar onde, “se dois ou três estiverem reunidos”, o risco de ocorrer algum crime será iminente, pois as imposições religiosas –que aprisionam mentes e apagam a condição laica de um estado, até para dele se apropriar e/ou locupletar ainda mais – poderão estar nos regendo. No limite, esse pensamento bolsonaista de ser dará continuidade ao processo de pavimentação já iniciado no Brasil de algo como uma futura “polícia da moralidade”, à lá a iraniana.

Se a sociedade brasileira não entender a gravidade e se desvencilhar desse modo antidemocrático de ser e estar no mundo, num futuro, poderemos ver, no Brasil, mulheres obrigadas a usar véus ou coisas semelhantes. As minorias terão dias bem mais difíceis dos que os que já têm.

A quem possa supor serem absurdas essas reflexões, sugiro não subestimar as forças reacionárias de quem se julgue “terrivelmente cristão”, pois muitos já deixaram o constrangimento de assim pensar nos subterrâneos e, agora, mostram suas caras, geralmente, pintadas de verde e amarelo.

Depois do último dia 30, com a explosão do vermelho nas urnas e nas ruas, praças e avenidas, muitos comemorando a vitória do 13, e outros – assim como eu – apenas a derrota do 22, o país ganha um tempo para respirar e repensar seu futuro pós-Lula/PT. Se isso não for feito desde já, o futuro poderá consolidar uma forma sombria e castradora da existência humana nessas terras macunaímicas. A chance de alterá-lo é pequena e o tempo é breve. Não podemos perder essa oportunidade de buscar nossa qualificação educacional e cultural, além de um amadurecimento político, sem fakesnews, que ludibriam tanta gente inocente, para termos uma existência menos tensa, mais pacífica e verdadeiramente humana em nosso país, desde o princípio, plural. E que assim seja, “pelos séculos e séculos...

 

Segunda, 31 Outubro 2022 09:13

 

 

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JUACY DA SILVA*

 

Esta presença constante da fome sempre fora a grande força modeladora do comportamento moral de todos os homens desta comunidade: dos seus sentimentos dominantes. Vê-los agir, falar, lutar, sofrer, viver e morrer era ver a própria fome modelando, com suas despóticas mãos de ferro, os heróis do maior drama da humanidade – o drama da fome. Denunciei a fome como flagelo fabricado pelos homens, contra outros homens." Josué de Castro, no Livro Geografia da Fome, publicado em 1946, há 76 anos.

Josué de Castro aprofundou suas ideias sobre as origens e impactos da fome tanto sobre as pessoas quanto enfatizou os liames geopolíticos e estruturais que a fome e a pobreza muitas vezes escondem dos olhares menos argutos. Isto é o que podemos observar no livro de sua autoria Geopolítica da Fome, escrito em 1951, poucos anos depois de sua primeiro obra sobre o tema (Geografia da fome).

Apesar de o Presidente da República e seu ministro da Economia (o posto Ipiranga) não reconhecerem as mazelas sociais que maculam a imagem do Brasil ao redor do mundo, a começar pela fome e, com certa frequência dizerem que “ a nossa economia esta bombando”, dados estatísticos oficiais apontam que deste Brasil “maravilhoso” para uma minoria, fazem parte também deste país que esta “bombando” nada menos do que 36 milhões de aposentados do INSS que ganham apenas o salário mínimo que mal é suficiente para sobreviverem; em torno de 57,7 milhões de família inscritas no programa Auxilio Brasil, que totalizam mais de 160 milhões de pessoas sobrevivendo, até dezembro com este socorro momentâneo; somam-se a esses mais 65,2 milhões de pessoas endividadas, que não conseguem pagar suas contas de água, energia, comunicações, despesas médicas e hospitalares, medicamento e o que ganham, incluindo essas migalhas oficiais que caem das entranhas do orçamento secreto, mal dá para comprar alguns alimentos para cada dia, sem perspectivas se terão comida no dia seguinte.

Não podemos esquecer também dos 9,5 milhões de desempregados, dos 13,5% trabalhando regularmente sem carteira assinada e sem qualquer garantia social e mais de 39,5% da força de trabalho ou 39,1 milhões de trabalhadores na informalidade ou seja, subocupados, que, para o atual governo, fazem parte do universo dos “empregados”, mas cujo rendimento também gira pouco mais do que um salário mínimo, `as vezes até menos, os quais não tem qualquer benefício social ou previdenciário.

Diante deste Quadro, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil recolocou a FOME como tema da Campanha da Fraternidade para o Ano de 2023, retomando a mesma preocupação que foi foco da referida Campanha em 1985. Ao anunciar o tema a CNBB, pela voz do coordenador de Campanhas da referida entidade religiosa, assim se pronunciou “Quase 40 anos depois contemplamos um triste e semelhante cenário. A cada dia fica mais evidente que a pandemia sanitária da Covid-19 agravou a situação de insegurança e vulnerabilidade social”.

Todavia a pandemia é apenas um fato conjuntural, passageiro. O que de fato explica este triste Quadro social em que estamos afundados é a dinâmica geopolítica e as estruturas injustas de nosso país, incluindo o racismo estrutural e a degradação de nossos biomas.

Por essas mesmas razões , mencionadas nesta reflexão, o Papa Francisco não tem cansado de criticar os modelos econômicos vigentes, como economias que geram a morte e não a vida e que precisamos colocar “alma”, solidariedade, justiça social e amor ao próximo em nossos sistemas econômicos e sociais e não apenas o lucro, a exploração dos trabalhadores e a degradação dos ecossistemas/ecologia integral.

Em lugar desta economia que gera pobreza, exclusão, fome, violência e morte; o Sumo Pontífice propõe um novo modelo, com diferentes paradigmas, o que já é bastante conhecido como “A Economia de Francisco e Clara”, onde estão incluídos os também já bem divulgados, os seus três “Ts”: TERRA, para ser cultivada para produzir alimentos saudáveis, sem o uso e abuso de agrotóxicos que degradam o solo, as águas, o ar e matam as pessoas; TETO, para que todos possam ter uma moradia em que possam viver com dignidade e não debaixo de pontes, viadutos, ruas e avenidas de nossas cidades; e TRABALHO, com salário digno, garantia social e previdenciária, para proteção dos trabalhadores ao atingirem uma idade em que não tem mais força e vigor físico para garantirem seus sustentos. Neste último “T” cabe esclarecer que há mais de um século, em 1891, na Encíclica “Rerum Novarum”, o Papa Leão XIII, já advogava a defesa dos trabalhadores das amarras desumanas a que eram submetidos pelo patronato da época.

Muitas pessoas, algumas desavisadas ou por desconhecimento dos fatos, outras por falta de capacidade para analisar a realidade socioeconômica e política de forma crítica e, outras ainda, por vinculação ideológica e até má fé, tentam imputar aos pobres, excluídos e famintos as verdadeiras causas de suas desgraças e não percebem que esses problemas decorrem da formação das sociedades em classes, castas, estamentos ou formas como são apropriados os meios de produção e se desenvolvem as relações de classe, principalmente as relações de trabalho, antes baseadas no trabalho escravo e depois, chegando até os dias atuais, com salários baixíssimos, que beiram ao trabalho semiescravo, não sendo suficiente sequer para alimentação saudável dos trabalhadores/trabalhadoras e suas famílias, além da questão do racismo estrutural que também continua sendo uma das causas da fome, da pobreza, da miséria e da exclusão socioeconômica e politica em nosso país e diversos outros.

Este quadro de miséria e exclusão completa-se com o chamado “exército de reserva de mão de obra”, representado pelos elevados contingentes de desempregados e subempregados, que contribuem para perpetuação da exploração da classe trabalhadora e o aviltamento das condições de trabalho e de salários, aliados à falta de garantia quanto ao futuro (falta de cobertura previdenciária e aposentadorias).

A fome e suas irmãs gêmeas siamesas que são a pobreza, a desigualdade e a exclusão socioeconômica e política, em suas diferentes formas e graus, representam alguns dos mais sérios e vergonhosos problemas mundo afora, inclusive no Brasil que, após ter sido retirado do MAPA DA FOME MUNDIAL, graças a um grande esforço e programa do Governo Federal, durante a gestão de Lula, em parceria com governos estaduais, municipais e inúmeras entidades representativas da sociedade civil organizada, novamente esta nódoa que tanto sofrimento  traz ao nosso país, está de volta e atingindo mais de 33 milhões de famílias, além de mais de 60 milhões que vivem em situação de insegurança alimentar.

Conforme dados do Relatório “A fome e a insegurança alimentar avançam em todo o Brasil”, da Rede PENSSAN, em 2021/2022 (II VIGISAN), 125,2 milhões de brasileiras não tinham certeza se teriam o que comer no futuro próximo, limitando a qualidade ou quantidade de alimentos para as refeições diárias – um aumento de 7,2% em relação a 2020. Se compararmos os dados de 2018, última estimativa nacional antes da pandemia de Covid-19, quando a insegurança alimentar atingia 36,7% dos lares brasileiras, o aumento chega a 60%.

De acordo com o mesmo relatório os dados revelam que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com a insegurança alimentar em algum grau leve, moderado ou grave. A pesquisa aponta que apenas 4 entre 10 famílias conseguem acesso pleno à alimentação. Trata-se de uma regressão de 32 anos, equivalente à década de 1990 ou em certos aspectos `a mesma situação denunciada por Josué de Castro há quase um século.

Nas últimas quatro décadas, de 1980 até o corrente ano de 2022, o crescimento do PIB brasileiro foi fantástico, com raras exceções em alguns anos, passou de US$571 bilhões para US$3,7 trilhões de dólares, ou seja, o PIB cresceu 6,5 vezes. Enquanto isso a população cresceu bem menos, de 120,7 milhões de habitantes para 215,4 milhões de pessoas, apenas 1,8 vezes.

O raciocínio é que se o PIB (bens, serviços, alimentos etc.) cresceu nesta proporção, os frutos desse crescimento, se o Brasil fosse um país justo e com distribuição equitativa dos frutos do crescimento econômico, o nível de renda, de bem estar da população teria que ter melhorado. Não era para tanta gente estar passando fome, vivendo na miséria e excluída social e economicamente.

Ai é que surge o que muita gente chama de “pulo do gato’, ou seja, as camadas que estão no ápice da pirâmide social, econômica e politica, os 1%, 5% ou no máximo 10% da população, que detém os meios de produção e ocupam os vários postos na estrutura do poder, abocanham uma parcela muito maior dos frutos do crescimento econômico, aumentando a distância social entre essas camadas privilegiadas e a grande massa dos trabalhadores e excluídos que são os 50% da população que estão na parte mais de baixo da pirâmide social.

Esta realidade da concentração de renda, riqueza e oportunidades que gera fome, miséria, violência, sofrimento e exclusão social, econômica e politica é mensurada, por exemplo, pelo coeficiente ou índice de Gini, que mede a concentração de renda. Em 1960 este índice era de 0,560; em 1964 passou para 0,571; depois subiu para 0,582 em 1980, quase no final dos governos militares; baixou para 0,510 no final do Governo Lula; subiu para 0,539 em 2018 e atualmente em 2022, quase no final do Governo Bolsonaro tornou a subir para 0,580, ou seja, praticamente o mesmo patamar de 1980.

O prognóstico é que se não forem efetuadas mudanças que alterem o padrão de distribuição de renda, riqueza, propriedade e oportunidades no Brasil nos próximos quatro anos, ou no máximo em uma década, a tendência é que a desigualdade social e econômica seja ampliada e com isso, com certeza também os problemas como fome, miséria, desemprego, subemprego, violência, sofrimento e morte.

Por isso, politicas meramente assistencialistas ou a chamada caridade emergencial, apenas minoram esta situação, este sofrimento a curtíssimo prazo. Somente políticas que representam reformas mais profundas, que verdadeiramente sejam sociotransformadoras podem e conseguem combater as causas da fome e da miséria. Isto é o que propõe a Caritas Brasileiras quando fala em “caridade libertadora”.

Para tanto, precisamos agir e lutar para colocar esses temas na agenda das discussões públicas e na agenda politica nacional, estadual e municipal, buscando a integração de esforços entre todas as organizações públicas e não governamentais, inclusive as Igrejas, como no caso da Igreja Católica, através da CNBB e da Campanha da Fraternidade para 2023.

Combater a fome em suas causas estruturais e consequências é um dever ou mandamento cristão e uma bandeira da cidadania plena! Isto é o que significa quando a Igreja faz a “opção preferencial pelos pobres” e sendo uma Igreja Sinodal, Samaritana e profética.

 

*JUACY DA SILVA, professor titular e aposentado UFMT, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral em Mato Grosso. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Quinta, 27 Outubro 2022 13:43

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.

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Por José Domingues de Godoi Filho

UFMT/Faculdade de Geociências

 

“Os camaradas não disseram que havia uma guerra
e era necessário trazer fogo e alimento...”

(Sentimento do mundo, Carlos Drummond de Andrade)

 

Dia 30 de outubro será um dia decisivo para que a população brasileira decida se quer manter o repugnante, abominável, abjeto e autoritário governo atual, que as alianças políticas e partidárias geraram depois do golpe de 2016; ou, se prefere continuar construindo e fortalecendo o regime democrático, dando uma chance para um ano novo. “É certo que o atual presidente é um mal em si mesmo, mas ele é sobretudo a expressão brasileira de um processo social e histórico que tem âmbito mundial, suscitado por uma revolução científico-tecnológica que tem subvertido em profundidade – e numa velocidade vertiginosa – todas as dimensões da vida social, envolvendo a economia, a política, a cultura”. (1). Fazendo com que “tudo que é sólido se desmanche no ar”(2).

Para dar uma chance a um ano novo, as possibilidades e acontecimentos, que o futuro nos reserva, é fundamental ter como referência o conhecimento do passado. Os acontecimentos e lutas futuras guardam alguma relação com o passado; há necessidade de se considerar os elementos importantes do passado para fazer previsões. A história é crucial para melhor entender o que acontece no mundo e possui “não leis, pois isto lembra demais o positivismo tradicional, mas uma estrutura e um padrão, os quais constituem a narrativa da evolução da sociedade humana através de um longo período de tempo”. (3)

Um ano novo será possível, afinal, a sociedade humana é capaz de mudança e, portanto, “o presente não é seu destino final” (3).

A sociedade humana onde as pessoas vivem num nível de subsistência, sem garantia dos elementos básicos para sua sobrevivência como espécie – alimento, vestuário e habitação – é fundamental que saiam dessa situação. Quando se vive acima da linha da pobreza, a situação é bem diferente. Não é o que está acontecendo com milhões de brasileiros, como a história e o momento do atual governo não deixam dúvidas.

O acesso a educação, com o incremento dos padrões educacionais, da alfabetização até os cursos secundários e superiores, tem se mostrado como uma das principais alavancas para o desenvolvimento. Frente a possibilidade de, no século XXI, se eliminar o analfabetismo, propiciando à população brasileira ler e escrever, bem como assegurando que um percentual crescente de jovens tenha a formação universitária, o Ministério da Educação do atual governo foi destruído e “tocado” por ministrosmal-intencionados e adeptos dos métodos de adestramento das denominadas escolas cívico-militar.

Não há dúvidas que as principais e reais fontes de riqueza de um país – “e consequentemente, dos aumentos de produtividade e padrão de vida – são o conhecimento, o aprendizado e os avanços em ciência e tecnologia. São eles, mais que qualquer outra coisa, que explicam por que os padrões de vida hoje são mais altos do que eram há duzentos anos, não só em termos de bens materiais, mas também de expectativa de vida e saúde ao longo da vida (4).

A economia do conhecimento e inovação tem como ponto crucial a pesquisa básica, financiada pelo Estado, para produzir conhecimento como um bem público que, se disponível, beneficie a todos. Por outro lado, as empresas privadas quando produzem conhecimento, elas tentam mantê-los em segredo e blindados por patentes; limitando os benefícios que a sociedade pode obter, aumentando o risco do poder do mercado. Daí, a necessidade de investimentos públicos em pesquisa, especialmente a básica, no sistema educacional que pode apoiar o avanço do conhecimento e no fortalecimento de um sistema nacional de ciência e tecnologia. O governo Bolsonaro não reconhece isso, tem sido hostil e destruidor das instituições de pesquisa e, sua campanha à reeleição, indica a continuidade do desmanche do sistema nacional de ciência e tecnologia.

Esta postura do governo Bolsonaro aumentou a abissal concentração de riqueza e ampliou a escandalosa desigualdade social. Com isso, possibilitou que alguns tenham uma melhor qualidade de vida; além de permitir que influenciem demais na direção da sociedade e da política. “São os ricos e os poderosos que vencem quando se implementa a lei da selva” (4). Para evitar essa distopia, há a necessidade de “criar uma sociedade mais igualitária, sem perigosas concentrações de poder. Mas aqui, chegamos ao dilema fundamental da política democrática em sociedades com desigualdades extremas (4), como é o caso do Brasil. Para superar essa situação e ter um ano novo engajados em movimentos sociais de resistência e enfrentamento dos interesses do capital, há necessidade de dar um primeiro passo derrotando Bolsonaro no domingo 30 de outubro.

A “Receita de Ano Novo”, para estimular a disposição para a luta, é de autoria do poeta Carlos Drummond de Andrade, que, se estivesse vivo, faria 120 anos, no dia 31 de outubro:

“Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser

...............................................................

Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

...............................................................

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

...............................................................

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre”.

 

(1)      Reis, D.R. A reta final. Disponível em: https://aterraeredonda.com.br/a-reta-final/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=novas_publicacoes&utm_term=2022-10-26 – Acesso em 26/10/2022.

(2)      Berman, M. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Ed. Schwartz, 1986.

(3)      Hobsbawm, E. O novo século. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

(4)      Stiglitz, J.E. Povo, poder e lucro. Rio de Janeiro: Record, 2020.

Quarta, 26 Outubro 2022 09:06

 

 

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Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciências da Comunicação/USP.
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            Desde o princípio, explicar o povo das veras cruzes tropicais tem sido tarefa dificílima. O êxito de todos quem tentam dizer quem somos tem sido relativo. Das incursões intelectuais que conheço, destaco o trabalho já antigo “Brasil, terra de contrastes”, de Roger Bastides. Por si, o título desse trabalho explora a centralidade de como nos constituímos desde os primeiros contatos oficias dos portugueses com os indígenas.
            Vale marcar que o primeiro grande contraste forjou-se na desigualdade das tecnologias de ambos os povos, a partir de então, frente a frente para cruéis embates sem-fim. Enquanto os portugueses, financiados pela Coroa e “abençoados” pelo Deus do cristianismo, encarnado, sobretudo, em figuras de padres jesuítas, dispunham de embarcações para singrar “mares nunca dantes navegados”, além de pólvoras, que apavoravam qualquer inimigo, o indígena dispunha apenas de instrumentos rudimentares, como arcos, flechas e outros eventuais “artefatos” ofertados pela própria natureza.
            De lá para cá, os contrastes foram se acentuando até ganhar corpo de agressiva desigualdade, logo, de exclusão, quando não, de eliminação pura e simples do outro mais frágil. Nos dias atuais, aliado aos históricos contrastes e às desigualdades sociais, culturais, econômicas de nosso povo, surge um paradoxo grotesco, quase inexplicável, por conta de sua origem, como mais um item que dificulta a explicação de quem realmente somos como um povo.
            O paradoxo a que me refiro centra-se no comportamento explosivo e odioso de muitos brasileiros, de diferentes classes e níveis de formação educacional, que se intitulam cristãos. Acima de todos os brasileiros, neste momento, um deles transportou o mote de sua inexpressiva existência para o universo de sua campanha política, sob o seguinte lema: “Deus acima de tudo”. Parece, mas isso não é piada, caro leitor.
            Sob o guarda-chuva desse enunciado, que, em tese –mesmo lunática –, estaria no campo das boas ações promovidas e vivenciadas pelos humanos, uma legião de fanáticos – à lá digladiadores da Idade Média – tem agido de forma odiosa, como “nunca antes vista na história deste país”. Essa legião de criaturas, humanamente mal-acabadas, tem conseguido a proeza de me espantar mais do que normalmente eu poderia supor.
            Dito isso, passo a listar alguns dos episódios recentes que insiro no bojo dos absurdos ocorridos.
            Bem diferente do comportamento submisso a que os indígenas brasileiros foram expostos já na primeira missa aqui realizada, uma mulher – dessacralizando a missa – interrompeu o sacerdote após a citação do nome de Marielle Franco durante homilia em Jacareí-SP:
            "O senhor não vai falar de Marielle Franco dentro da casa de Deus... uma homossexual, envolvida com o tráfico de drogas... esquerdista do PSOL, que quer a ideologia de gênero dentro da escola das crianças", disse. (https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2022/10/18/mulher-interrompe-missa-e-discute-com-padre-apos-ele-citar-marielle-franco-durante-homilia-em-jacarei.ghtml).
            Depois dessa espuma bucal fedendo a ódio, em outra matéria jornalística também foram destacadas outras intolerâncias dentro das igrejas católicas, intensificadas após a ida de Jair Bolsonaro ao santuário de Nossa Senhora Aparecida no feriado do dia 12. (https://veja.abril.com.br/brasil/padres-sofrem-novos-ataques-de-apoiadores-de-bolsonaro/).
            A intolerância tem chegado ao cúmulo de apoiadores de Bolsonaro, no Twitter, se incomodarem “por conta da roupa vermelha na foto de perfil de Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, que teve de explicar que a cor, erroneamente associada ao PT, se trata de uma norma na Igreja Católica para cardeais, como ele”. Aliás, por medo e precaução, ultimamente, o vermelho tem sido evitado até por petistas roxos. Inadmissível.
            Na mesma matéria acima citada, é relatado que “Padre Zezinho, conhecido na música religiosa, também foi vítima de ataques bolsonaristas, na sexta-feira, 14. Ele anunciou que vai se ausentar das redes sociais até 31 de outubro. O motivo seriam ofensas contra ele, o Papa Francisco e bispos, além de calúnias, palavras de baixo calão e xingamentos. Ele conta que foi chamado de ‘comunista’ e ‘traidor de Cristo e da pátria’ por bolsonaristas”.
            Também se registrou nessa mesma matéria que “um outro padre foi hostilizado durante missa em Fazenda Rio Grande (PR), no dia 12. Durante a homilia, o padre citou que ‘o Deus da vida nunca vai pactuar com as forças da violência, nunca vai estar do lado daquele que prega o armamentismo, porque Deus é amor, solidariedade’. O pároco foi interrompido aos gritos por uma mulher que o questionou. ‘O Deus da vida é a favor do aborto, padre? Ele é a favor da ideologia de gênero? O senhor está pedindo voto para o Lula’, afirmou a mulher. O padre negou e as pessoas aplaudiram”.
            Mas nada mais paradoxal e inadmissível, superando, pois, a dessacralização de ritos sagrados, posto vir também de outro “agente de Deus”, do que o que se lê em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2022/10/21/mpf-investiga-deputado-bolsonarista-que-defendeu-estudantes-queimados-vivos.htm. Aqui, é relatado que o deputado bolsonarista Bibo Nunes defendeu que estudantes das universidades federais de Santa Maria e Pelotas, ambas no RS, fossem queimados vivos, como em uma das cenas do filme Tropa de Elite.
            A crueldade do desejo criminoso desse cristão bolsonarista, consoante a mesma matéria jornalística, será apurada pela Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no RS e pela Procuradoria da República do município onde ocorreu a tragédia da Boate Kiss (Santa Maria), que deixou 242 mortos (asfixiados e/ou queimados vivos) em 2013.
            Enfim, em nome de (um estranho) Deus, de um modelo questionável de família bíblica, de uma Pátria (que nos pariu e nos tem deixado ao léu), irracionalidades sem limites e sem pudor são exibidas a cada momento, com apoio de milhões de brasileiros igualmente despossuídos de humanidade, liderados e conduzidos pela estupidez e pelo ódio.
            Por isso, aproprio-me da indignação e indagação inseridas no início do poema “Vozes d’África”, de Castro Alves. Espantado com os horrores cometidos contra os negros, trazidos à força para o Brasil, o poeta questionava a inércia divina. O poeta não compreendia a ausência de ação por parte de Deus diante da descomunal barbárie à vista de todos.
            Agora, com a devida licença de Castro Alves a um descrente das coisas lá do céu, para o contexto histórico que estamos vivendo, encerro este artigo fazendo a mesma pergunta, mas movida pelas barbáries cometidas no campo de nossa política, que parece ter descido à camada mais profunda e imunda do inferno, se ele existisse: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?/ Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes/ Embuçado nos céus?...”

Sexta, 21 Outubro 2022 16:28

 

A Adufmat-Ssind e a Regional Pantanal do Andes-SN vêm a público rechaçar as tentativas de intimidação feitas por um pequeno grupo de extrema-direita que visa ameaçar a liberdade de expressão, a democracia interna e o salutar debate político no interior da Universidade.

Não é de hoje que a UFMT tem sido alvo preferencial de um setor mais violento e radicalizado do bolsonarismo. Foi assim com os ataques e as ameaças que datam ainda da gestão de Weintraub à frente do Ministério da Educação, e continua sendo assim nesse período de acirramento da violência de extrema-direita que é promovida e autorizada pelo agitador fascista que governa esse país.

No último dia 19, chegou ao conhecimento do DCE um novo episódio de violência explícita da extrema-direita na UFMT, dessa vez na forma de ameaça contra os/as estudantes, docentes e técnicos/as. Em um grupo de bolsonaristas no Whatsapp, um dos participantes sugeriu a realização de um ato político armado para intimidar a comunidade acadêmica. Na mesma conversa, outras postagens faziam chacota dos trabalhadores de Mato Grosso, expressando fielmente o caráter de ódio de classe que alimenta a fascistização do debate político promovida por Bolsonaro. No convite à “manifestação”, conclama-se uma ação armada, supostamente “cristã”, inclusive insinuando apoio da polícia e de um ex-vereador policial, cassado por homicídio (crime, inclusive, capturado por câmeras de segurança). Isso demonstra bem que o intuito da ação é, sim, provocar caos e intimidação à nossa comunidade.

Importa ressaltar também que esse chamado foi precedido por uma “visita” do ex-vereador bolsonarista cassado Abílio Jr., que esteve no dia 14 de outubro nas proximidades do DCE retirando adesivos das paredes e abordando estudantes que estavam no local. Sua tentativa de atemorizar incentivou outro defensor do atual presidente, que tentou tumultuar a concentração do Grande Ato em Defesa da Educação e Contra os Cortes, realizado com muito êxito no dia 18 de outubro no campus Cuiabá. Esta tentativa de intimidação também foi capturada em vídeo pelos estudantes presentes.

Para completar o conjunto de ofensivas à nossa comunidade, circulou nas redes mensagens de um outro grupo, nas quais uma mulher, comentando sobre esse chamado à ação, defende o fuzilamento de estudantes “petistas” da UFMT.

Esses casos não são aleatórios, mas fazem parte de um esforço coordenado de intimidação e de criminalização da universidade pública e de sua comunidade. A Adufmat-Ssind e o Andes-SN repudiam essas agressões e ameaças, e se colocam em solidariedade com nossa comunidade e com aqueles e aquelas que defendem a educação pública e a democracia. Junto com outras entidades representativas, estamos em alerta constante, principalmente com a proximidade do segundo turno das eleições e das campanhas de desinformação promovidas pela extrema-direita. Além disso, não podemos esquecer do silêncio absoluto da Administração Superior da UFMT diante de tamanha ameaça. Uma Reitoria comprometida com a democracia e com a segurança de sua comunidade não pode se omitir em um momento como este.

A resposta a essas tentativas de ameaças se darão na organização de docentes, técnicos e estudantes, por meio de suas entidades representativas, ocupando a universidade e defendendo, como sempre fizemos, a nossa autonomia e democracia interna.

Em defesa da democracia, contra o governo da morte e seus asseclas e em defesa da educação pública e da UFMT, seguimos na luta e não aceitaremos intimidações!

 

 

Cuiabá, Mato Grosso, 21 de outubro de 2022

ADUFMAT – Gestão Colegiada Dom Pedro Casaldáliga (2021-2023)

ANDES-SN – Regional Pantanal