Quarta, 17 Abril 2019 08:45

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Paulo Wescley M. Pinheiro

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Manifesto

 

Não há canto

Para tanto 

Desencanto

 

Nem conto

Para esses

Desencontros...

 

E ponto.

 

5.1. Entre a reação, a resistência e a criação do novo: como sobreviver dentro da máquina?

 

         Nas seções anteriores deste ensaio refletimos sobre os fatores que orbitam as relações na acadêmica, influenciam o processo de produção e socialização do conhecimento e atingem nossa saúde mental. Por tudo que debatemos é certo que não há como não nos afetarmos com aquilo que vivenciamos, seja por nossas questões ou seja por experiências com outras pessoas oriundas das relações vividas no espaço de trabalho e que não há uma maneira de nos afastarmos desse tema mesmo que achemos que ele não nos cabe diretamente.

Sabemos também que há diversas formas de lidarmos com o sofrimento do outro e com o nosso próprio sofrimento e precisamos exercer diversas estratégias de não cairmos nos alçapões presentes nos pólos dessa questão, pois não podemos desconsiderar o sofrimento, assim como não podemos patologizar todo tipo sofrimento. É preciso não desconsiderar  a patologia, mas também não tratá-la de forma concentrada na esfera da medicalização e da estereotipização. É necessário buscar outras formas de tratamento sem cair numa perspectiva irracionalista e espontaneísta. 

Por fim, é inexorável que possamos exercer a sensibilidade com o tema sem cairmos numa absorção individualizada de responsabilidades, combatendo a potencialização da lógica adoecedora, buscando meios de enfrentamento das formas de sofrimento e dos modos como temos lidado com ele, sob pena de sucumbirmos em novos abismos de ultrarresponsabilizacão dos sujeitos ou de desresponsabilizamos completa deles, em perspectivas que passeiam entre os formalismos, o teor caritativo, ou mesmo militantista.

Por motivos óbvios, essa série de textos que aqui se encerra, não tem a pretensão de esgotar a temática e nem sequer consegue superar apenas uma visão panorâmica da saúde mental no ambiente universitário. A iniciativa de encararmos a profundidade do problema em seu sentido essencial, buscando a crítica que chegue à raiz, sem nos isentarmos de elaborar estratégias e táticas no âmbito particular é espinhosa e, para isso, é  fundamental que encaremos nossas contradições, inclusive, nos espaços que deveriam ser de  desconstrução dessa lógica.

É fundamental percebermos os problemas dos círculos de resistência, onde temos edificado majoritariamente lugares de potencialização de sofrimento. Os instrumentos fundamentais à luta reivindicatória diante da precarização da universidade  também tem se constituído pela concentração da pequena política, das meias palavras e instrumentalizações inteiras. Os espaços onde deveríamos conseguir nos reconhecer, multiplicar leituras de realidade para construir ações sobre ela, com o fortalecimento individual e coletivo para outros modos de educação, tem perpetuado bastidores de incoerências e acusações, além de palcos de insalubres performances. Fortalecer os sujeitos da contracorrente nesses lugares e somar esforços com os mesmos é o principal desafio imediato. 

O lócus do cotidiano denota suas características de ultrageneralização, heterogeneidade e imediaticidade,  fomentando grandes possibilidades de mergulharmos nele tomando sentimentos, sensações e experiências singulares como fins em si mesmas, quando são, na verdade, fruto de múltiplas determinações. O processo de sofrimento mental intenso e adoecimento crescente pulsa em nossas experiências diárias, catalisando em todos nós respostas muitos particulares e impactos distintos a depender de nossa relação com o espaço de trabalho e estudo, da estrutura de enfrentamento dessa questão e das alternativas individuais e coletivas para o suporte e o repertório adequado para lidar com  os elementos que estão para além do ambiente universitário.

Nesse sentido, frente aos problemas vivenciados nas universidades públicas e de sua histórica perpetuação de exclusão da maior parcela da população uma pergunta se fez pertinente: por que defendê-la? Se este espaço tem servido tão pouco para os sujeitos que a compõem como encontrar alternativas dentro dele? Seria a universidade um espaço ainda importante para a construção de uma alternativa emancipatória?

Por tudo que foi colocado até aqui é evidente que não é o caráter público que torna a universidade um espaço inóspito, mas o ataque a ele. A lógica privatizante ou mesmo a estrutura pública assumindo seu direcionamento via mercado tem, cada vez mais, distanciado a instituição de um cotidiano efetivamente orgânico aos sujeitos que produzem a riqueza social que financia tudo, inclusive esse complexo social de produção, socialização e formação no âmbito de conhecimento científico.

Se o espaço que sonhamos trabalhar, produzindo, pesquisando e criando formulações em nossos projetos individuais e coletivos, realizando didaticamente a socialização do conhecimento, planejando e executando ações interventivas, tem se manifestado num lugar onde somos engolidos por trabalhos administrativos, disputas, melindres, frustrações e competitividade temos que repensar esse lugar. Se o local onde sonhamos estudar, buscar uma formação para uma profissão que almejamos e viver novas experiências, tem sido palco de experiências tóxicas, de terror, sofrimento e falta de motivação é urgente que passemos a refletir sobre o nosso lugar nele, reconsiderar tudo aquilo que o circula.

Não é possível que continuemos apenas tomando remédios para dormir, para acordar, para permanecermos acordados, para conseguirmos ter concentração em nosso trabalho, para continuar suportando nosso sofrimento diário. Não é possível que continuemos buscando no ecletismo, no conservadorismo, nos discursos instrumentalizados, nos ineditismos superficiais ou no pensamento mágico os escapes para garantirmos fôlego diante da água que bate em nosso pescoço. Não é possível que continuemos a produzir formas de conhecimento que continuem a referendar essa lógica de vida.

Pelo projeto de sociedade em curso e a forma como tem se constituído, a universidade pública não sobreviverá e muito menos nós sobreviveremos a ela. As relações construídas por um viés estruturado no individualismo, no fatalismo e no empirismo tem nos aprofundado relações adoecedoras, a reprodução do conhecimento conservador e o fortalecimento de uma imagem caricata do espaço universitário como uma instituição encastelada e em-si-mesmada.

É necessário que apreendamos toda a forma de conhecimento científico para além das barreiras impostas na formalização da estrutura que transforma conhecimento em mercadoria. Galgar espaços no cotidiano de onde vivem as pessoas que ainda não conseguem acessar a universidade, espalhar possibilidades para além do território institucional, aprender com as práticas populares, com outras formas de saberes e impulsionar experiências democráticas é uma tarefa daqueles que pensam uma formação intelectual diferente.

Esse processo implica que cultivemos em nossos espaços o exercício da coerência, o apartamento constante de práticas que instrumentalizam pautas, bandeiras e questões fundamentais para fortalecer indivíduos e grupos em detrimento da palpável forma de agir coletivamente para a efetivação de respostas emancipatórias.

É preciso que exercitemos a capacidade de discutir e conviver com divergências, aprofundando a liberdade de cátedra, sem assimilar o relativismo e a banalização de discursos que reproduzam opressões, travestidos do teor científico, mas também sem perder a possibilidade de fazer esse descortinamento com o necessário rigor teórico e a capacidade pedagógica possível.

Diante do crescimento dos ataques às universidades, do processo de acirramento interno entre os sujeitos da comunidade acadêmica e da falta de forte organização coletiva é preciso reavivar o debate profundo de projeto de universidade e compreender as expressões cotidianas dos diversos problemas que nos acometem como algo que precisa ser questionado de modo amplo.

O que aparece como onda inexorável de diferentes manifestações da barbárie se consolidada na dualidade das tarefas funcionais ao estágio atual do capitalismo e se fortalece no recuo dos debates críticos, inclusive nos espaços científicos. Nesse sentido, analisarmos como tem se processado a disputa de hegemonia na batalha das ideias para a disputa da consciência da classe trabalhadora é um elemento fundamental.

Se temos consciência que não é no campo das ideias que modificaremos o atual estado de coisas é também fundamental perceber que, sendo a prática o critério da verdade, esta precisa vir direcionada por uma profunda leitura de realidade. O apelo ao pragmatismo é também um alçapão dos nossos tempos. Dito isto, é fundamental voltarmos para a célebre frase do pensador italiano Antônio Gramsci, silenciado em vida, deturpado pós-morte: é preciso unir o pessimismo da razão com o otimismo da vontade. Não se trata de um ode ao pragmatismo, de reduzir a construção racional a um processo menor, nem de fazer coro com determinados setores que qualificam todo tipo de estudo de academicismo.

A relação entre razão e vontade se revela como princípio dialético de unidade de contrários. Trata-se de perceber que qualquer prática coletiva que busca a efetiva transformação da realidade precisa vir alimentada por uma reflexão rigorosa sobre as determinações do real. É preciso, pois, que dentro da universidade pública possamos construir espaços de solidariedade e resistência, elementos que só serão garantidos com a articulação com os setores organizados da sociedade civil que desenvolvam uma perspectiva popular e estejam dispostos à construção de um outro projeto de sociedade.

No processo de proletarização das camadas médias assalariadas, no crescimento do caráter do precariado dos sujeitos que vivem do trabalho, na ampliação de todas as formas de agudização daquilo que transforma o cotidiano de nossos pares em um conjunto de relações hostis ou a universidade se enxerga dentro da sociedade, como um organismo ativo e propositivo, se posicionando, ampliando seu raio de ação para além dos formalismos e da reprodução sacerdotal voluntarista, ou caminharemos para o esfarelamento desse espaço, transformando os sujeitos em formuladores de tarefas meramente afeitas aos ditames do mercado.

O espaços universitário precisa ser o lugar onde possamos pensar o mundo em sua essência, compreender que somos sujeitos da história e desnaturalizar nossa condição atual. Esse deve ser um espaço fundamental diante da barbárie. Lutar por outra forma de conhecimento, construir isso cotidianamente, produzir uma vida com sentido, fortalecer laços, desatar nós, eliminar de nós as disputas vazias.

Nesse sentido, é preciso engrossar o coro daqueles que acreditam na construção de uma universidade popular, socialmente referenciada na classe trabalhadora e pedagogicamente séria, para que possamos perceber que o trabalho - ainda que dentro de um processo tão precarizado – pode gerar um ambiente de aprendizado e de edificação de uma parceria fraterna e respeitosa.

Que diante da barbárie possamos endurecer sem perder a ternura. Que diante do apelo pelo autoritarismo, pela assistencialização, pela patologização e pela militarização da educação sejamos a contracorrente real, coerente, para além das palavras, para além das salas de aula e dos corredores, para além! Assim, nosso sofrimento ainda estará aqui, mas o enfrentaremos muito mais fortes.

 

*As primeiras partes dessa reflexão estão no Espaço Aberto n.41/2019, no n.43/2019, no n.45/2019 e no n.47/2019​

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http://www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3805-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-4-paulo-wescley

 
Terça, 16 Abril 2019 09:08

 

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Por Roberto de Barros Freire*


Estamos em tempos que as pessoas se sentem autorizadas a negligenciar as evidências empíricas, assim como as verdades científicas, afirmando contra tudo e todos, contra até a razoabilidade, a sua veracidade como se fosse a verdade real. A ciência é tão somente uma forma discursiva que se adota ou rejeita conforme as circunstâncias, ou a usa para referendar suas verdades, porém distante de qualquer cientificidade ou manipulando informações falsas.


Desenvolve-se uma desconfiança instintiva da razão e da racionalidade, entendendo ambas como meras construções ocidentais, opressivas, ao serviço da classe dominante ou dos comunistas. O que importa não é a realidade, mas as crenças sobre ela. Com a “instabilidade” e a “indeterminação” das palavras autorizam tudo e o seu contrário. Muda os sentidos dos termos, dos conceitos, e tudo fica vago, ambíguo, metafórico, sem sentido denotado, mas repleto de conotações. Ditadura não é ditadura, nazismo não é de direita, aliás, o que afinal é hoje esquerda ou direita? Um pensamento autoritário, rude, grotesco, fluiu suavemente, prescindindo de rudes declarações ministeriais, governamentais, maquiada como releitura acadêmica do passado, como se tivessem competência para tanto.


Atacam-se os adversários, finge-se uma constante guerra contra inimigos inexistentes, ideológicos, vendo conspiração para todo lado, e assim aparenta estar em constante atuação, quando na verdade o governo pouco faz, apenas bravatas e ofensas contra ideologias sem ideólogos. No entanto, se a verdade não passa de uma quimera, o que resta são as múltiplas verdades que as diversas subjetividades produzem. Cada um com sua crença lutando contra as demais, sem construir algo coletivo, usando os dados e os números em que acreditam como “fatos alternativos” aos fatos dos “esquerdistas”.
A realidade é desprezível, o que interessa é como pensam essa realidade. A única certeza vem das crenças arraigadas, de uma religião rasteira, mais ideologia rasa do que conhecimento ou mesmo fé. Enfim, sem entenderem de cristianismo, sem entenderem a ciência, sem conhecimento fundamentado em alguma cientificidade, sem cultura para perceberem os fenômenos humanos como exercício de liberdade, querem impor uma pauta de costumes atrasados para um país retardatário.


Não se quer mais debater as ideias, nem se está disposto a mudar de posição diante de fatos robustos que contradizem as crenças; todos se contentam em impor sua visão como se fosse a única visão possível. Não se quer convencer ou seduzir os demais, mas antes obrigar o entendimento próprio, tornando os demais impróprios. Ou se concorda ou se submete, nada de conviver ou mudar o entendimento. A destruição de ideias e posições é uma perda para o desenvolvimento cultural, pois é no confronto dos pensamentos e ideias que a humanidade foi abandonando sua vida primitiva e bárbara, e se tornando mais civilizada e branda.


Ensinar a pensar tem sido uma tarefa difícil e quase inglória. Não querem a paciência do estudo e as dificuldades da pesquisa, mas o resultado imediato de algo que venha sem esforço, e que não coloquem em xeque as crenças adotadas. A busca científica sempre fez a humanidade ir abandonando velhas crenças e desenvolvendo novas, pois que é característico da racionalidade aprender com os erros e transformar nosso entendimento.
 

*Roberto de Barros Freire
Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
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Segunda, 15 Abril 2019 14:34

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Estamos em meio à realização da 16a. Conferência Nacional da Saúde, cujo tema é DEMOCRACIA E SAÚDE, tendo como um dos subtemas ou eixo, dos mais importantes, a questão da consolidação e do financiamento do SUS.


É mais do que sabido que a saúde pública no Brasil, há anos vem enfrentando uma crise permanente e que a mesma está em um estado de caos muito grave, impossibilitando que a população, principalmente as camadas mais pobres, em torno de 70% da população brasileira, que tem no SUS a única alternativa para seus cuidados com saúde, possa ver e ter cumprido o dispositivo constitucional, constante do artigo 196 de Constituição Federal de 1988, que estabelece claramente que “saúde publica é um direito de todos e DEVER DO ESTADO”.


Diante do descalabro e situações degradantes que a população que depende do SUS passa todos os dias, nem precisa dizer que este princípio constitucional é, em boa dose, mera letra morta, mesmo para muitas pessoas que recorrem à Justiça para garantirem seus direitos `a uma saúde pública moderna, de qualidade, humana e universal.


Ao longo dos últimos anos a participação do Governo Federal, que fica com mais de 63% de tudo o que é arrecadado no Brasil, na forma de impostos, taxas e contribuições, vem sendo reduzida de forma clara. No ano de 2000 os recursos para a saúde pública tinham como origem: Governo Federal 50,8%; Governos Estaduais 18,6%  e municípios 21,6%.


Em 2010 esta participação foi de: Governo Federal 45,1%; governos estaduais 26,4% e municípios 28,5%. Já em 2017 a origem dos recursos para a saúde diminuiu ainda mais tanto para os governos federal 43,4%, quanto Estados 24,8%, impondo aos municípios , que já estão praticamente falidos, um aumento significativo,  passando para 31,8%.


Tento em vista a aprovação da Emenda Constitucional que estabeleceu o congelamento do teto dos gastos públicos, sancionada pelo então Presidente Temer, do MDB, durante 20 anos os gastos públicos deverão ficar congelados em termos reais, até 2036. O aumento será apenas a correção inflacionária do ano anterior.


Esta emenda conforme estudos do IPEA, da FGV e de outras instituições e estudiosos deste tema significará uma perda de recursos para o financiamento do SUS na ordem de R$600,0 bilhões de reais; chegando alguns estudos a indicar que essas perdas para a saúde pública poderão ser superiores a R$900,0 bilhões de reais, afetando drasticamente a qualidade, já ruim, dos serviços de saúde pública no país.


Não bastasse o caos atual e o subfinanciamento do SUS, ainda temos outros aspectos que agravarão, em muito, a falta de recursos orçamentários e financeiros para a saúde publica, incluindo: a) crescimento da população em geral na ordem de 10% a 12%; crescimento da população idosa, acima de 60 anos, quando a demanda por serviços de saúde aumenta significativamente, na ordem de 114%; aumento da pobreza, tanto decorrente de um longo período de crise econômica, com elevados índices de desemprego e subemprego, situação que será mais grave ainda em função da mudança da legislação trabalhista e da reforma da previdência social, proposta pelo governo Bolsonaro.


Enquanto isto, os gastos com juros, amortização, rolagem da divida publica, que cresce assustadoramente, tanto em termos de valor quanto sua relação com o PIB, representa quase, e em alguns anos mais do que a metade dos gastos do governo federal, conforme podem ser vistos pelo OGU – Orçamento Geral da União. Entre 2010 e 2019 esses gastos do Governo Federal foram ou terão sido, ao final de 2019, nada menos do que R$8.857,0 trilhões de reais ou 32,4% do total dos orçamentos públicos da União neste período.


Ao final de 2019 a divida publica bruta será de R$6,7 trilhões de reais ou 87,7% do PIB e em 2020 deverá chegar a R$7,1 trilhões de reais ou 94,6% do PIB, um crescimento nominal de R$ 400 bilhões em apenas um ano apesar do governo federal gastar, conforme dados do OGU R$1,4 trilhões só neste ano de 2018. Este é, com certeza o grande elo, o grande buraco responsável pelo desequilíbrio das contas públicas  e não o tão propalado déficit da previdência social, como tentam demonstrar o governo federal e seus apoiadores, os quais continuam mentindo e enganando a população, através de gastos enormes com propaganda oficial ou camuflada, difundida pelos grandes veículos de comunicação, os quais, sempre estão mamando nas tetas do governo e a serviço dos interesses dos donos do poder.


Existem outros buracos, por onde escoam preciosos recursos pagos pelos contribuintes ou que deixam de entrar nos cofres do governo federal, neste caso, fruto das renúncias fiscais, da sonegação consentida, das subvenções, subsídios e incentivos fiscais e também pela corrupção, quando comparados com os minguados recursos para a saúde pública, demonstrando de forma clara e cabal que tanto o governo federal quanto os governos estaduais e municipais estão muito mais a serviço dos grandes grupos econômicos e da camada dos 10% mais rica da população, melhor “aquinhoados” com as benesses do tesouro, enquanto a população pobre serve apenas para eleger “representantes” que, após serem eleitos, voltam as costas para o povo e se locupletam juntamente com as elites e demais donos do poder.


A renúncia fiscal no mesmo período de 2010 a 2019 representa a importância de R$3,7 trilhões de reais ou 13,6% do total do OGU; a sonegação consentida foi de R$4,7 trilhões; as subvenções, subsídios e incentivos fiscais atingiram a mais de R$5,2 trilhões, conforme o Banco Mundial os mesmos representa nem torno de 4,5% do PIB a cada ano, a corrupção é um ralo por onde escoam mais de R$1,1 trilhão e, pasmem, a remuneração que o Banco Central oferece para as sobras de caixa dos bancos foi na ordem de R$1,2 trilhões de reais.


Ai vem a pergunta, e para a saúde publica quanto “sobrou”. Apenas R$1,04 trilhões ou 3,8% dos recursos do orçamento geral da união ou, em media, 1,7% do PIB, enquanto países ricos e mesmo emergentes gastam com saúde pública na ordem de 7,9% de seus PIB ou mais, em alguns casos.


Diante disso, não é novidades que mais de 41 mil leitos hospitalares do SUS foram fechados nos últimos 10 anos; a gritaria geral e isto pode ser visto e ouvido não apenas nos corredores e portas de hospitais e outras unidades de saúde, na imprensa e nas discussões públicas é a falta de médicos e outros profissionais da saúde, a falta de medicamentos, prédios e instalações caindo aos pedaços, profissionais da saúde mal pagos ou com salários atrasados, hospitais, como a Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá que tem suas portas fechadas, gente morrendo por falta de atendimento, enfim, um descaso e negligência por parte de nossas autoridades, muitas das quais já foram ou continuam sendo presas, por roubarem preciosos e minguados recursos que deveriam estar a disposição da população.


Aí aparece mais uma pergunta, o que fazer para que o SUS deixe de ser subfinanciado e tenha recursos à altura de uma saúde pública moderna, de qualidade e que os pacientes do SUS sejam tratados com a dignidade que todas as pessoas merecem, para que os dispositivos legais e constitucionais relacionados com a saúde pública não sejam apenas letra morta?


Sim, a solução existe, basta nossos governantes, dos poderes Executivo, Legislativo e judiciário, nos três níveis: União, Estados e Municípios, reduzam um pouco esses ralos, antes mencionados, que sugam os recursos que o povo paga na forma de impostos, taxas e contribuições e que tais recursos sejam destinados a saúde pública.


Basta, por exemplo, ser estabelecido um teto, digamos no máximo 20% do OGU para os gastos do governo com a dívida pública, que o governo federal deixe de gastar com remuneração das sobras de caixa dos bancos, que a renúncia fiscal seja reduzida tanto nos governos federal quanto estaduais e municipais em 20% ou 30%; que sejam implementados maiores controles para reduzir os atuais níveis de corrupção; que sejam reduzidos em 50% o volume de subsídios, subvenções e incentivos fiscais, que ao longo dos tempos tem ajudando não apenas à acumulação de capital nas mãos de uns poucos e uma fonte de corrupção, como tem sido constatado em diversos setores ultimamente, que o fisco trate com mais rigor e a transparência necessária para que a sonegação, principalmente dos grandes contribuintes, dos grandes grupos econômicos seja reduzida drasticamente.


Outra medida que poderia aumentar as receitas do governo federal e ampliar o financiamento do SUS deveria ser a taxação de renda oriunda de lucros e dividendos, favorecendo a implantação da justiça fiscal e a equidade em nosso país.


Tem muita coisa a discutir e, mais importante do que discutir, muita coisa a ser implementada para que o Brasil seja um país justo, social, econômica e ambientalmente sustentável e politicamente comprometido com a redução da pobreza, da miséria e que os frutos do desenvolvimento sejam repartidos equitativamente com a população e não acumulados em poucas mãos, como atualmente acontece.


Sem isso, estaremos condenados a continuar com os mesmos problemas que nos acompanham e nos envergonham há décadas, para não falar em séculos.


Sem recursos orçamentários e financeiros à altura da demanda do povo, o SUS vai continuar no CAOS  atual e vai piorar muito mais ainda. Saúde pública não pode ser apenas objeto de inflamados discursos e belas mentiras por parte dos governantes.


Não podemos continuar calados e passivos ante o descaso e a insensibilidade de nossos governantes em relação à saúde pública, que “é DEVER DO ESTADO/GOVERNO E DIREITO DE TODOS”, conforme “reza” a Constituição Federal de 1988, já bastante emendada, remendada e desfigurada em vários aspectos.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de alguns veículos de comunicação. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

Sábado, 13 Abril 2019 15:54

 

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Paulo Wescley M. Pinheiro

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Recorrência

 

Toda segunda

A saudade do domingo

Todo segundo

O desespero da chegada do minuto perdido

Toda minuta

Tudo aquilo que é permitido e não mais se escuta

 

Todo primeiro

Dia do mês sendo miragem e esperança

Toda primeira

Vez no dia que minha alma reluta e cansa

 

4.1. Saúde mental na universidade: entre a luta por uma política social, a responsabilidade institucional e a construção de uma nova cultura

 

Nas reflexões que fizemos nos textos anteriores fica evidente que o processo de adoecimento mental extrapola as questões individuais e também ultrapassa a própria universidade. Por isso, defender uma política de saúde mental que supere o moralismo, o fisiologismo, a percepção normalizadora, disciplinadora, centrada no diagnóstico, na medicalização e na perspectiva manicomial é passo fundamental para o enfrentamento efetivo desse fenômeno amplo e complexo.

Dentro dessa perspectiva, pensando a política de saúde mental, é preciso que a universidade abarque a compreensão de todo o arcabouço social que produz o sofrimento mental das diferentes parcelas de indivíduos que estão inseridos na classe trabalhadora, não reproduzindo questões isoladas, individualizantes e subjetivistas. O desenvolvimento do conhecimento científico consolidado nas vias hegemônicas e a reprodução da formação de profissionais, não somente na área da saúde, mas em todos os âmbitos, não tem conseguido aprofundar no campo majoritário uma percepção mais complexa e rigorosa dos fatores díspares das entranhadas dessa questão.

Na atual crise, a classe hegemônica constrói sua (contra)reforma social e moral não mais amparada pela convenção fordista-keynesiana, mas norteada pelo aprofundamento do viés neoliberal, direcionando os mais diversos segmentos sociais à esfera mercadológica e referendando apenas às políticas reativas e insipientes. A decadência ideológica dos últimos anos mergulha ainda mais nessa perspectiva, num eclipse ideológico entre práticas protofascistizantes de um Estado Penal com um viés ultraliberal na economia. Isso influencia diretamente a forma de produzir ciência, seu financiamento e a atuação profissional, bem como a lógica, a direção, a qualidade e as possibilidades dentro das políticas públicas e sociais como nas áreas da educação e da saúde.

A construção de relações subjetivas numa sociedade repleta de cisões é elemento-chave para a compreensão do adoecimento mental, suas formas de tratamento e o que esta mesma sociedade compreende sobre saúde. As diversas expressões da questão social atravessam os sujeitos, demarcam seus limites e possibilidades, apresentam alternativas a partir de sua classe, raça/etnia, gênero/sexo, orientação sexual, origem e geração. Mais que questões somente físico-químicas, elementos genéticos e neurológicos o aprofundamento de relações coisificadas e de uma lógica desumanizada mergulha a formação subjetiva nas intempéries do seu tempo histórico.   

Numa sociedade da padronização e normalização do ethos hegemônico, a intolerância diante da diversidade, a reafirmação do combate a diferença e a invisibilização das divergências estimulam a dimensão socialmente construída diante do sofrimento mental intenso e daquilo que é representado como loucura. A ideia centrada na periculosidade, no fisiologismo e no tratamento voluntarista se reverberam no mesmo momento histórico onde se exaltam o poder bélico, as práticas de tortura e a comiseração moral.

Dentro da universidade somos imbuídos por um cotidiano de crises, surtos, urgências e tantas expressões agudas de sofrimento mental, adoecimentos, casos de violências e tantas outras questões que se apresentam, alargando dilemas éticos,, confusões de papéis, dúvidas sobre o que fazer e aumento da cobrança entre a responsabilização individual, o voluntarismo, a condescendência, a banalização, a insensibilidade e a inabilidade diante de um aparente caos.

É preciso lembrar que o fortalecimento de uma política efetivamente pública, universal, de qualidade e, mais que humanizada, humanizadora, além de ser direito constitucional, fruto de uma luta histórica, se fosse um processo realmente materializado, muito do peso das experiências adoecedoras na academia, que hoje estão nas costas dos/das discentes, dos/das professores, dos/das demais trabalhadores/as e também da instituição, estariam sendo tratadas de outro modo, por outros âmbitos institucionais e com outros processos.

Se a responsabilidade por uma política de saúde mental perpassa as esferas municipais e estaduais, com uma Rede de Atendimento Psicossocial ainda distante de concretizar práticas efetivamente constituída em valores emancipatórios, cabe a todos nós, dentro e fora da universidade, a capacidade de produzir conhecimento, formar profissionais, pressionar o poder público e desenvolver parcerias que apontem para o sentido emancipatório. Nós que construímos a universidade temos a responsabilidade de fazer ciência, de pensar práticas, desenvolver formas que superem os modelos arcaicos e reducionistas que se perpetuaram nessa questão.

No entanto, se não é de responsabilidade da Universidade a política de saúde mental, esta tem sim parcela de dever no cuidado dos sujeitos que estão dentro dela. Os casos de adoecimento de discentes, docentes e técnicos/as não são fatos isolados e estão atingindo diretamente a qualidade da produção e os resultados pedagógicos cotidianos.

É fundamental que exista uma política institucional forte nessa área, que não fique somente em promoções de campanhas, eventos ou em medidas reativas diante de crises. É fundamental que não se naturalize o sofrimento mental e nem se reproduza uma lógica voluntarista, que joga para os colegas de sala ou professores/as a responsabilidade de lidar com questões que se multiplicam.

A política de assistência estudantil precisa ter uma concepção ampla e constituir ações profissionais estruturadas, longe do espontaneísmo e rigorosa no campo de atuação diante de questões psicossociais importantes. Não pode caber ao professor/a em sala de aula ou aos coordenadores de curso e chefias de departamento o trato de coisas que precisam de acompanhamento profissional especializado, com encargos diretamente imbuídos para isso e com uma estrutura planejada para o acolhimento, acompanhamento e encaminhamento necessário.

Aos/às professores/as e técnicos-administrativos é preciso a mesma atenção. O cuidado com a saúde dos/das trabalhadores/as perpassa por uma estrutura adequada diante de sofrimento intenso, mas também pelo combate ao assédio e pela necessidade do fortalecimento de condições de trabalho adequadas. Assim, lutar contra a terceirização e retomar as condições de contratação via concurso público para todas as atividades, inclusive aquelas que já se encontram nessa lógica, é também algo fundamental.

Superar aquilo que nos adoece é ultrapassar os alicerces do estranhamento humano. Não é aceitável que nós mesmos sejamos o combustível da máquina que vai nos moer. Uma outra universidade precisar ser possível para além de formar pessoas que não terão emprego, produzir conhecimento que a sociedade não terá acesso, elaborar formas de ministrar aulas para quem não ver sentido. Buscar uma formação diante de perspectivas tão sombrias de futuro parece ser a tônica de um tempo histórico desumanizado e contra isso precisamos construir um outro horizonte acadêmico.

Na era exacerbação da violência a partir do moralismo e da falsificação da realidade, o fortalecimento do conhecimento científico crítico nunca foi tão necessário. Se todo esse emaranhado de questões são potencializadas num tempo histórico marcado pela intolerância e pelo conservadorismo é precisamos criarmos um pacto de resistência coletiva, desenvolvendo ações de solidariedade, autocuidado e fortalecimento dos sujeitos que lutam por outra universidade, por outro tipo de formação, de produção de conhecimento e de sociedade. Para isso, repensar nossas relações e construirmos mutuamente o exercício de coerência é mais que urgente, é questão de salubridade e de sobrevivência.

 

As primeiras partes dessa reflexão estão no Espaço Aberto n.41/2019, no Espaço Aberto n.43/2019 e no Espaço Aberto n.45/2019:

 

http//www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3767-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-1-paulo-wescley

 

http://www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3777-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-2-paulo-wescley 

 

http://www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3795-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-3-paulo-wescley

 
Quinta, 11 Abril 2019 11:27

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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O título deste artigo não se refere ao filme Ghost Hunters, que conta a história de caçadores de fantasmas que buscam capturar espíritos de uma família assassinada, intencionando com isso o encontro da paz eterna.

Todavia, de qualquer forma, o título estabelece alguma relação de sentido com o conteúdo deste texto, pois tratarei, aqui, da incessante e insensata caça que Bolsonaro e seus próximos empreendem aos comunistas, principalmente àqueles escondidos (e bota escondidos nisso!) dentro das universidades.

De minha parte, como pouco ou nada posso fazer para dizer o quanto isso é ridículo, bem ao estilo desse governo de usar as redes sociais para a comunicação, lá vai minha kkk. A quem preferir, rsrsr...

Aliás, ouso dizer que os últimos comunistas devem ter sido assassinados pela ditadura. No limite, o que sobrou foram créditos ao pensamento racional de Marx. Fora disso, só fantasmas.

Pois bem. No começo da semana, um dos aloprados caçadores de comunistas, nascido nas Cordilheiras dos Andes, foi abatido. Depois de um rosário de sandices à frente do MEC, segunda-feira (08), Bolsonaro anunciou a aguardada exoneração do colombiano de nascimento que ocupava o MEC.

Sobre isso, nas palavras do vice-presidente da República, era o fim da “Crônica de uma Morte Anunciada”. A pilhéria nasceu com o título de um livro de García Marques, também da região andina, mas de outro nível.

Naquele livro, em formato de reconstrução jornalística, é relatado o último dia de vida de Santiago Nasar, assassinado, sem chance de defesa, pelos irmãos Vicario. Detalhe: quase todos os habitantes do lugarejo ficam sabendo do homicídio premeditado horas antes, mas ninguém impede o processo em curso.

E assim se sucedeu com Veléz. Sua exoneração era questão de tempo; e pouco!, vez que já durara demais como ministro, pois tivera tempo suficiente para realizar a maior quantidade de tolices que um ser humano poderia fazer numa pasta tão importante. Aliás, sua figura fazia-nos sentir aquela vergonha alheia a cada nova estupidez anunciada.

Agora, estamos livres do caçador colombiano; todavia, ao que tudo indica, saímos do espeto, mas caímos na brasa. O novo ministro da Educação é um senhor de nome dificílimo (Abraham Weintraub, que pode ser chamado de Abraão), originário do tronco linguístico do universo anglo-saxônico.

Mal se conhecia o novo chefe da Educação brasileira e as primeiras (e péssimas) informações a seu respeito já surgiam.

De início, foi “vendido” como sendo um doutor. Não era. Mas não ter o doutorado, eu relevo. Não ter aproximação anterior com a pasta que dirigirá, eu relevo. Ser uma pessoa completamente desconhecida, eu também relevo. Ser indicado por Ônyx Lorenzoni, mesmo com dificuldades, eu ainda relevo. Ser admirador de Olavo de Carvalho, por respeitar o pensamento adverso ao meio, eu continuo relevando. Agora, se declarar outro caçador de comunista!, aí já fica difícil.

Motivo: como o anterior, Weintraub perderá tempo.

Como há pouco eu disse, praticamente não existem mais comunistas. Os que ainda resistem ao tempo, estão bem velhinhos... Logo, não estão nas universidades. Estas, aliás, desde os tempos horríveis do PT no governo, tentam eliminar até o pensamento crítico de Marx. Dentre nós, com exceções, infelizmente, só o fato de mencionar a crítica marxista, ou usá-la como ferramenta para análises atuais, já é visto como algo anacrônico.

Portanto, o governo poderia parar de caçar o que já não mais há e tocar o barco; afinal, problemas, na educação, não faltam.

 

Quarta, 10 Abril 2019 10:50

 

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Paulo Wescley M. Pinheiro

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Qualis A

 

Meu relatório tem papers

Onde canta o Qualis A

O cão que aqui me lattes

Vê caravana passar

 

Preparo com precisão

A coisa pra publicar

Tô cansado de ouvir não

Eu tenho que já ser tão

Eu venho da revisão

E posso lhe agradar

 

Vou-me embora pra Pesquisa

Lá vou babar a Rainha

Com a coleta da pós

Ranqueada e bem sozinha

 

Seu dotô me dê licença

Pra minha história contar

Sou bolsista de programa

Meu prazo vai estourar

Ê laiá

Êêstudar

Êêêê Capestrela

Vou artigar

 

3.1. Trabalho docente, desvalorização e adoecimento: o/a professor/a entre a reprodução de uma lógica e o afogamento nela

 

A construção de uma cultura que joga nas mãos dos/das docentes todos os problemas da universidade absorve uma tradição de instituições que sempre foram voltadas para a esfera do ensino, deixando frágeis os outros pilares da universidade, além de compreender essa esfera como apenas a sala de aula, sem desenvolver um conjunto de atividades e intervenções inter e multidisciplinares que envolvem diversos profissionais.

A ultrarresponsabilização docente se aprofunda dentro da lógica gerencial a partir do neoliberalismo. Na esteira do modelo produtivo flexível e de “qualidade total”, vamos assumindo o caráter de colaboradores, com a ideologia da proatividade assimilando a concepção histórica da docência como sacerdócio. O/a professor/a não tem horário de trabalho, os trabalhos administrativos são feitos em seu computador particular, direto de sua casa, o horário para estudo fica para a madrugada, intercalado como o momento que responde  dúvidas dos/das alunos/as em seu celular, via redes sociais e tenta, em vão, viver seu tempo livre.

Por compromisso com a educação, docentes vão tapando buracos, assumindo disciplinas a mais, realizando tarefas que não lhes cabe, costurando saídas reativas e imediatistas. Na falta de concurso para um quadro de técnico-administrativos especializados, os/as docentes bacharéis das áreas são cobrados para emendarem a instituição nas diversas questões que se impõem no cotidiano.

Não é uma parceria, mas um processo contínuo e antipedagógico de relações tóxicas que, ora joga com um viés individualista, ora deturpa o trabalho docente para assumir todas as demandas existentes no espaço. Com a bravata de suposto comprometimento ético com a formação as performances vão se multiplicando em práticas que desresponsabilizam o Estado de assumir uma estrutura adequada de trabalho e estudo para a comunidade acadêmica.

Não é de surpreender que temos nos conformado em lutar por formas de registrar nosso sobre-trabalho no Sistema de Gerenciamento de Encargos, ao invés de reivindicarmos o direito de exercer nossas tarefas dentro da carga horária estabelecida e termos um corpo docente quantitativamente capaz de suprir todas as demandas sem ultrapassar o tempo de trabalho. Não é surpreendente também que tenhamos aprendido a achar normal que, para pontuarmos e subirmos de nível em nossa carteira, tenhamos que participar de uma série de atividades acadêmicas e vivenciar experiências importantes, mas sem que a universidade ofereça orçamento e estrutura suficiente para efetivar tais processos.

Aliás, não nos é jocoso refletir que, para termos o aumento salarial que nos é de direito, tenhamos que investir nosso salário e nosso tempo livre para cumprir questões profissionais. Nem nos parece esquisito que, para  que possamos ter direito de adoecer, tenhamos que pensar como repor o conteúdo após a licença médica. Por fim, não é de estranhar que nem mencionemos o fato de que professoras que exercem seu direito de licença maternidade precisem sobrepor sua produção nos outros semestres para garantir pontuação adequada no interstício da carreira. Temos nos acostumado a normalizar nossa precarização.

Diante de tantas questões e responsabilização individual, num tempo histórico onde enfiam o trabalho docente no olho do furacão, sendo cotidianamente execrado por autoridades, por parte da mídia e da opinião pública, em meio aos problemas que se aprofundam, chegamos a questionar nossa função. Afinal, o que é ser professor universitário? O viés ultraliberal tem nos deixado com muita dificuldade de responder essa indagação.

A difícil conjuntura que vivemos faz com que caiamos em diversas armadilhas  para lidarmos com os desafios de nossa vida cotidiana. O profundo desrespeito dos governos brasileiros com a categoria docente nos coloca em impasses que acabamos por enfrentar de modos bastante distintos. Diante do descaso  há quem busque saídas individuais, alguns clamam resiliência, outros, resignação. Pensando aquilo que nos adoece é preciso suspeitar de que precisamos ir mais além.

Há alguns anos um famoso texto circula pelas redes sociais demonstrando como o trabalho docente é desvirtuado no Brasil. Buscando aprofundar sobre o que de fato é/seria/deveria ser nossa função, o texto do professor Marco de Melo, da UFMG, intitulado  “O que é um professor universitário?” é um bom ponto de partida e demonstra uma série de elementos do quanto o trabalho docente e a universidade sofrem com a desvalorização e desconhecimento de sua importância em nossa sociedade.

Em seu artigo de opinião o autor derrama uma gama de informações e argumentos da especificidade da docência nas universidades internacionais, trazendo aspectos relevantes sobre a importância da pesquisa, o respeito ao esforço intelectual inerente a essa atividade e o vácuo cada vez maior do nosso país referente ao tema.

É inegável como atualmente há uma construção de linchamento cultural contra os/as professores/as universitários/as no Brasil. Há ainda um cotidiano de pressões, prazos e práticas de desrespeito nos espaços de trabalho. Todo esse aparato vai causando formas de adoecimento na categoria docente, mas também potencializa práticas adoecedoras .

O trato do/da docente como mero instrumento da mercadoria educação, o aulismo como modus operandi, a pesquisa sob os ditames das “parcerias” com o mercado, a precarização da carreira e das condições de trabalho e a multiplicação de uma concepção de formação profissional distante da formação humana fazem parte da retroalimentação desse triste e desgastante jogo de desvalorização.

Nesse sentido, é preciso ainda considerar outros elementos para além do texto em questão. Pois do lado cá há também muito o que avançar em concepções e práticas mais profundas. Ainda que concorde com os problemas colocados sobre como o professor universitário é visto na sociedade brasileira, dentro dessa cultura que desvaloriza a atividade docente, o outro lado da mesma moeda revela uma histórica reprodução do elitismo, do pedantismo e dos jogos de poder que o saber universitário permite em seus espaços.

É inegável a dificuldade que temos de nos reconhecermos dentro da gama de seres humanos que vendem sua força de trabalho, daqueles que sofrem com a precarização e a exploração e que, por isso, tanto nossa atividade profissional, como a urgente e necessária organização política devem ser fortalecida para desvendar os limites de onde trabalhamos e as possibilidades que devemos construir. Envoltos nos contos que as camadas médias da sociabilidade de classes nos permitem nos acolhemos no mito da temperança, da imparcialidade e do individualismo.

Nesses espaços e processos há também boa vontade, focos de resistência, coletivos organizados, iniciativas importantes e gente que compreende esses desafios. Mas tem havido como muito mais força a contradição e a incoerência no cotidiano de nossas batalhas, dificultando, desde a aglutinação de aliados, até mesmo a necessária referência que as/os discentes procuram nas brechas de um belo discurso do/da professor/a que, eventualmente, pode permanecer absolutamente descolado de suas atitudes dentro e fora da sala de aula.

O vácuo entre a mera abstração de um projeto profissional ou de elucubrações teóricas aliadas às ações que reivindicam o autoritarismo, a reprodução do poder pelos títulos acadêmicos, as pesquisas, ora deslocadas dos interesses concretos dos sujeitos, ora simplesmente apresentando e representando a superficialidade tecnicista hegemônica da avaliação da aparência, tudo isso reflete mais do que elementos isolados dos nossos dramas cotidianos.

Obviamente, nesse emaranhado de questões, os elementos subjetivos também se fazem presentes. As balizas que nos saltam aos olhos fazem com que muitos se peguem no pragmatismo, no preconceito intelectual e na frustração com sua prática profissional. Isso permite a multiplicação de sensações e análises que individualizam causas e consequências, seja na própria culpabilização, seja no dedo em riste para seus pares e/ou para as/os discentes.

As cisões encontradas em sala de aula diante dessa lógica historicamente reproduzida e consubstanciada com o desmantelamento da educação básica (parte desse mesmo processo), por vezes, são “enfrentadas” ou com voluntarismo condescendente, com o rebaixamento da qualidade, ou com o suposto outro polo de personalismo e culpabilização dos indivíduos por suas limitações. É aí teremos a reprodução das caricaturas e o jogo imediatista descrito pelos discentes: os/as “docentes bonzinhos” e os/as “docentes tiranos” como partes aparentes de uma diferença que só se estabelece na lamentável lógica de unidade.

Enquanto dilapidam nossa profissão nós corremos atrás do próprio rabo. Disputa de espaço, verbas de pesquisa, jogatinas políticas ou negação da política se estabelecem como únicas saídas: produtivismo ou desinteresse, pedantismo ou superficialidade, tecnicismo ou abstrações, irresponsabilidade ou sacerdócio. Falsas polêmicas, falsas alternativas que se materializam em nossos espaços e escondem as verdadeiras disputas de projetos de universidade.

Na perversidade da contradição, quando menos percebemos somos caricaturas: o professor-pesquisador-empreendedor que detesta a sala de aula e encontra seu escape nas parcerias com as empresas privadas; ou o professor “aulista” que tem a pesquisa e a extensão como obstáculos de seu trabalho; ou professor-autoridade que quer, como pressuposto, ser adorado pelos seus títulos e produções; o bem intencionado professor-tecnicista que acha que a universidade é ensino-pesquisa-extensão, mas que esquece o quarto pilar, a organização política e a reprodução de uma determinada lógica; ou, por último, o professor frustrado com a reprodução dessa cultura, que está insatisfeito (e com justiça) por suas limitadas condições de trabalho, mas que não consegue se organizar coletivamente e desconta seus dramas nos sujeitos que estão em seu cotidiano. Essas personas aparecem em todos nós, ora reproduzimos, ora são atribuídas por outros e, muitas vezes, um mesmo indivíduo manifesta vários papéis.

Não somos essas caricaturas. Não podemos ser. Somos trabalhadores/as assalariados de uma mesma categoria. A reprodução da concorrência e os estereótipos são a cortina de fumaça diante de nossa própria desumanização, de nossas práticas desumanizadoras e da falência da universidade. Na disputa de personagens vamos permanecendo estéreis do exercício pedagógico de demonstrar capacidade de reação e proposição diante do desmantelamento da educação superior.

Há desafios enormes dentro e fora dos muros da academia. Há batalhas do plano cotidiano que estão estreitamente ligadas à nossa concepção e para onde queremos ir. É urgente o fortalecimento da organização política por outro modelo de universidade. Nesse sentido, a luta por melhores condições de trabalho e pela nossa valorização na sociedade perpassa um mesmo caminho.

Dessa forma, reivindicar o respeito ao título “professor universitário” é tão importante e necessário quanto reivindicar esse mesmo respeito ao estudante, ao técnico-administrativo, assim como o respeito para os seres humanos independentemente de sua ocupação. Para além de nos embrenharmos na lama das regras da meritocracia e do produtivismo, a fim de termos a excelência que nos exigem aqueles que ditam os modelos de universidade, é necessário que tenhamos força para exigirmos condições para muito mais.

É preciso construir conhecimento e materializar ações que determinem em sua essência que o/a trabalhador/a, que todo/a trabalhador/a, seja plenamente respeitado/a, que isso se construa quebrando os muros da universidade, com todas/os podendo entrar e sair dela, que nós docentes façamos também esses caminhos para as ruasl e que quebremos também os nossos muros individuais.

Essa batalha é contra o espectro da distância teoria-prática, o abismo entre forma e conteúdo e as vendas nos olhos que escondem os interesses de classe em nossas atitudes e nesse projeto de precarização e privatização das universidades brasileiras que todos nós sentimos na pele, mas que muitos ousam esconder, seja por estarem assoberbados pela lógica produtivista, seja por pura consciência de assumir um projeto de poder que referenda o fim dos direitos dos/das trabalhadores/as.

A dilapidação desses direitos, inclusive da possibilidade de produzir conhecimento com sentido, é o que amplia nosso adoecimento, que empobrece nossos espaços de trabalho e tensiona nossas relações.

 

As primeiras partes dessa reflexão estão no Espaço Aberto n.41/2019 e no Espaço Aberto n.43/2019:

 

http//www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3767-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-1-paulo-wescley

 

http://www.adufmat.org.br/portal/index.php/component/k2/item/3777-ensaio-sobre-a-magnifica-maquina-de-moer-gente-parte-2-paulo-wescley

Terça, 09 Abril 2019 10:10

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

O Brasil vive um período de profunda crise institucional, politica, econômica e social e nada indica que vamos sair da mesma com medidas que vão favorecer os grandes grupos econômicos, sacrificar ainda mais o povo, aumentando a pobreza, a miséria e a exclusão social.


Na verdade, a prioridade do Governo Bolsonaro, através de seu guru da economia é “fortalecer” cada vez mais o “Deus Mercado”, uma verdadeira obstinação, facilitar a vida dos donos do capital e retirar direitos dos mais pobres, dos trabalhadores e dos servidores públicos, principalmente os do chamado “andar de baixo”. Exemplo disso é o que está sendo proposto para a “nova previdência” para trabalhadores rurais, principalmente as mulheres; retirando metade do misero salário mínimo que idosos entre 65 e 70 anos recebem como BPC – Benefício de Prestação continuada e as propostas draconianas para quem está prestes a se aposentar, faltando, digamos entre um, dois ou dez anos, acabando com a vinculação dos benefícios previdenciários em relação ao salário mínimo ou com a inflação. Em poucos anos a população idosa, cuja maioria atualmente já é pobre, passará a condição de miseráveis e pedintes públicos.


Pior, esta proposta maquiavélica e cruel é apenas uma etapa transitória, para o chamado Sistema de capitalização, que deixará apenas a cargo do trabalhador, tanto do setor público quanto privado, arcar com a sua aposentadoria. Isto significa de um lado eliminar a responsabilidade do empregador, vale dizer do capital, no custeio da previdência social e, de outro, acabar com o pacto social representado pela Constituição Federal de 1988, através do qual cabe ao Estado/Governo, aos empresários e aos trabalhadores dos setores público e privado custearem a Seguridade Social, constituída pela Previdência Social, pela Saúde e pela Assistência social.


Nada é dito sobre o que vai acontecer com trabalhadores informais, subempregados, com os desempregados, que as vezes, ao longo da vida ficam anos sem trabalho formal e, portanto, sem condições de recolherem contribuições previdenciárias neste “novo modelo”, como o que vigora no Chile e que está quebrado ao chegar o momento de pagar o que os trabalhadores pouparam.  Nada também e dito sobre qual a capacidade de poupança de mais de 75% dos trabalhadores brasileiros que ganham apenas um ou no máximo dois salários mínimos, atualmente R$998,00 reais, que é insuficiente sequer para a sobrevivência de uma família no dia-a-dia.


Além desses e de outros aspectos que estão sendo “ignorados” e apresentados como meias verdades, nada é dito sobre os reais buracos que levaram e estão levando ao constante e progressivo desequilíbrio das contas públicas. Ou seja, a previdência social não é a única e muito menos a maior responsável pela balburdia dos constantes déficits e desequilíbrios nas contas públicas.


Os Grandes buracos nas contas públicas, que são omitidos na proposta cruel de reforma previdenciária do governo Bolsonaro são, dentre outros os seguintes:


a)Gastos com a dívida pública, que consomem quase 48% do orçamento Geral da União (OGU) a cada ano;  entre os anos de 2000 e 2020, o Governo Federal terá gasto nada menos do que R$17,3 trilhões de reais com o pagamento de juros, amortização e rolagem da divida pública e a mesma aumentou de aproximadamente R$650 bilhões de reais em 2000 para R$ 6,7 trilhões de reais em 2019, podendo chegar a R$ 7,2 trilhões de reais em 2020, apesar do enorme gasto como já mencionado no período. No orçamento da União de 2019 o Governo Federal concede a “bagatela” de R$1,4 trilhões de reais para a divida publica.


b) renúncia fiscal, só a União abre mão, a cada ano de, em media, R$350 bilhões de reais, a favor de grandes grupos econômicos; afora a renúncia fiscal por parte dos Estados e Municípios, que totalizam mais de R$500 bilhões a cada ano. Conforme consta do OGU de 2019 o Governo Federal está abrindo mão de arrecadar nada menos do que R$376,4 bilhões de reais.


c) sonegação consentida; que entre 2010 e 2019 representa nada menos do que R$4,7 trilhões de reais em dividas acumuladas; e mais de R$2,2 trilhões em sonegação consentida nos Estados e Municípios  e parcelamento generoso dessas dividas. Só o total dos tributos federais inscritos na divida ativa da União entre 1995 e 20119 chega a R$2,5 trilhões de reais;


d) corrupção que desvia mais de R$250 bilhões a cada ano dos cofres públicos nos três níveis de governo, onde o que é demonstrado pela LAVA JATO e diversas operações pelo Brasil afora é  apenas uma pontinha do "iceberg" do que de fato é a corrupção em nosso pais;


e) sonegação das contribuições do Sistema de seguridade e do INSS em particular, em mais de R$450 bilhões de reais por ano, conforme relatório da CPI da Previdência do Senado em 23 outubro de 2017, incluindo sonegação e apropriação indébita por parte das grandes empresas, sem falar nas Estatais e no que também é sonegado por Estados e Municípios e deixam de entrar para os cofres da previdência. Estima-se que só a sonegação e apropriação indébita das contribuições destinadas a previdência, sejam superiores a R$130 bilhões por ano;

f) Remuneração ilegal da sobra de Caixa dos Bancos, que nos últimos quatro anos (2015/2018) representou um gasto, por parte do Banco central, na ordem de R$449 bilhões de reais. Atualmente a sobra de caixa dos bancos é de R$1,2 trilhões de reais.


g) gastos com subsídios, incentivos fiscais e subvenções que totalizam R$202 bilhões de reais por ano, geralmente destinados a grupos econômicos e diversos setores, sem avaliação criteriosa das contrapartidas e abertos a muita corrupção como demonstrado em vários estados e também recursos federais, conforme relatórios do TCU e diversos TCEs.


f) finalmente, nada se fala sobre o efeito do desemprego e subemprego nas contas da previdência, que, ao reduzirem a massa salarial reduzem também em mais de R$160 bilhões de receita por ano para a previdência social e em mais de R$90 bilhões para o FGTS.


Em suma, como demonstrado no relatório de 259 páginas da referida CPI da Previdência, concluída no Senado Federal em 2017, não existe de fato déficit na Previdência Social, conforme sucessivos orçamentos da União a cada ano e onde consta recursos orçamentários destinados aos três setores da Seguridade Social, pelo contrário, existe superavit, basta que o governo faça uma gestão eficiente e transparente para reduzir esses buracos que sugam preciosos recursos do Sistema previdenciário e da seguridade social, como um todo.


Da mesma forma que o Congresso Nacional aprovou e o Governo Temer sancionou a Lei do Teto dos gastos públicos por 20 anos; os gastos com a divida pública também poderiam ser incluídos neste teto de gastos, digamos, no máximo 20% do OGU, e, em complemento, tapando os buracos mencionados , o Brasil poderia fazer um grande ajuste de suas contas públicas sem penalizar o povo, principalmente as camadas mais pobres.

De forma semelhante, se os governos federal, estaduais e municipais, reduzissem em, digamos 20%, o valor das respectivas renúncias fiscais e destinassem este valor, que seria arrecadado para a ampliação do financiamento do SUS, diversos dos atuais problemas que afetam a saúde publica no Brasil também seria resolvidos satisfatoriamente.


Afinal, o Brasil é a 9a. economia do mundo e a carga tributária em nosso país está entre as maiores do mundo, em torno de 36,8% do PIB e também o OGU – Orçamento Geral da União é muito grande, em 2019, na ordem de R$3,38 trilhões de reais, além dos orçamentos estaduais e municipais, que totalizam mais de R$4,5 trilhões de reais, destinados a implementação de politicas públicas voltadas às necessidades, aspirações e objetivos da população e não apenas, como tem acontecido ao longo de décadas/séculos, em ajudar a acumulação de capital por parte de apenas 5% ou 10% das camadas privilegiadas, dos donos do poder ou de seus senhores, poderíamos dar um grande  salto qualitativo rumo a um futuro mais próspero, com mais dignidade para todos, como acontece com diversos países que oferecem serviços públicos universalizados, gratuitos e de qualidade, muito diferente do que acontece em nosso país, onde uns poucos são privilegiados e a grande/imensa maioria vive na miséria e excluídos dos frutos do progresso coletivo.


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação social. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

 

Sexta, 05 Abril 2019 16:52

 

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Paulo Wescley M. Pinheiro

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TCC

 

Um mês

Sem versos

E alegria

 

Sentia o peso

Do medo

Monotonia

Enquanto ela

Sozinha

Se repetia:

 

Mono

Mono

Mono

Grafia

 

2.1. O ser estudante na Cátedra de areia

 

Se é verdade que o processo de adoecimento mental na universidade é democrático quanto ao seu arrebatamento em todos os setores da comunidade acadêmica, é também evidente que seu processo ganha contornos expressivos para os/as estudantes. No campo da imediaticidade um vínculo ardiloso se produz na condição discente, posto que há uma relação de autoridade entre ele/a e o/a professor/a. É incontestável que quando essa relação acontece de forma abusiva o processo de sofrimento recai de forma agressiva sobre os/as estudantes.

A particularidade discente - os usuários da política de educação - razão fundamental da esfera do ensino, se constitui desde o fato que esta é uma categoria constituída por um conjunto diverso, hegemonicamente formada por jovens e que tem diferenças importantes quanto aos professores e técnicos-administrativos.

Embora muitos discentes sejam da classe trabalhadora, eles não estão no seu espaço de trabalho quando estão na Academia. A maioria acessa a instituição com uma perspectiva para o futuro profissional e tem na universidade experiências muito distintas daquelas que vivenciaram em outros planos de sua vida como a família ou a escola. Nesse sentido, a universidade é um espaço de descobertas, expectativas e frustrações.

Além disso, a pluralidade dessa categoria tem recortes de classe, gênero/sexo, raça/etnia, orientação sexual e origem regional que demarcam particularidades e sua ampliação ou redução entre as alternativas, limites e possibilidades no acesso e manutenção dentro do ensino superior.

O atravessamento dessas questões impõem determinações durante toda a vida desses sujeitos, expressam abismos sociais, desigualdades e discriminações naturalizadas e demarcam o não-lugar que é a universidade para alguns setores. A falta de identidade teórica, a ausência de uma estrutura para permanência e os processos estruturais da instituição são os elementos mais graves desse processo que se apresentam imediatamente.

Os processos de frustrações se multiplicam e a universidade idealizada fica distante a cada nova experiência. O conjunto de dificuldades dentro e fora da instituição, o processo de crise de sociabilidade afirmando as relações de estranhamento, o fortalecimento do autoritarismo no cotidiano e a crise de perspectiva com as dificuldades do mercado de trabalho se expressam como questões importantes. A proletarização do trabalho no ensino superior e o desenvolvimento de um exército intelectual de reserva vai impulsionando relações hostis entre alunos/as e professores/as, constituindo o desmanche do castelo de areia dos sonhos construídos ao longo da infância e da adolescência diante do acesso à universidade.

A experiência discente na universidade é transitória, portanto, até certa medida, fluida. Quando não há um movimento coletivo forte as questões circunstanciais não são analisadas como um processo historicamente construído. As perdas e os ganhos materializados no cotidiano não são percebidos como uma construção de lutas, disputas e resistências dos sujeitos que passaram pela universidades e daqueles que permanecem trabalhando nela. Isso tanto abstrai os problemas e contradições existentes, quanto os colocam dentro de um patamar singularizado.

As dificuldades institucionais são muitas e reverberam na vida do discente. De estudantes trabalhadores/as que não tem tempo para estudar, diante da carga horária de trabalho, e nem cultura de leitura, diante de um processo formativo precarizado, passando, por exemplo, pela particularidade das mulheres, imbuídas das jornadas contínuas de trabalho, inclusive, o doméstico, da responsabilização do cuidado da família e da falta de segurança frente aos frequentes casos de assédios e outras formas de violência.

Com a parcela de discentes oriundos das camadas médias e das elites as questões problemáticas também aparecem. Majoritariamente educados numa estrutura acrítica, de naturalização de privilégios, formados num processo de decadência ideológica, com suas camadas sociais hegemonicamente cultivando o desdém com os processos democráticos, os jovens chegam demonstrando incapacidade de lidar com pressão e frustrações.

Nesse fenômeno vamos consubstanciando um conjunto diverso de discentes que expressam contradições, divergências e antagonismos sociais muito mais amplos que a própria universidade. Se existe uma real proliferação do adoecimento mental ela vem acompanhada também pela banalização do diagnóstico, pela romantização do sofrimento e pela espetacularização da condição dos sujeitos. O espraiamento de uma visão epidêmica do uso de remédios perpassa as diferentes classes sociais na tentativa de disciplinamento diante de uma lógica de sociabilidade cada vez mais perversa.

Vários são os exemplos desse processo, o uso abusivo de ritalina e avalanche de diagnósticos de deficit de atenção é emblemático. Das campanhas de sensibilização diante das taxas de depressão e suicídio ao processo de rebaixamento do adoecimento a qualquer forma de sofrimento, além da medicalização como método principal para lidar com condições da realidade, o esfacelamento do rigor e da ética diante do tema saúde mental é reafirmado. O afrouxamento do debate encobre determinações importantes do aprofundamento do fenômeno. Afinal, quando tudo é adoecimento, nada é.

A potencialização de uma sociabilidade marcada pelo consumismo, individualismo, fatalismo histórico e hedonismo constitui formações subjetivas cindidas, relações superficiais e perda de referência coletivas. O processo educacional bancário, tecnicista e voltado para uma lógica do mercado vai formando sujeitos que passam pela infância e juventude construindo um desprezo pela discussão teórica, tratando o conhecimento científico como algo trivial e sem desenvolver maturidade e capacidade emocional para o rigor acadêmico e as intempéries da produção do conhecimento em nível de excelência.

Neste sentido, é tão verdade que temos desenvolvido uma geração que não consegue se inserir em processos fundamentais para a vida adulta, que tem aprofundado diversas formas de adoecimento e sofrimento mental, como também é perceptível que a universidade tem sido um lugar que potencializa esse sofrimento. O/a professor/a, assalariado/a, também adoecido/a, mas inegavelmente responsável pelo processo pedagógico tem seu trabalho questionado diante desse processo.

A hostilidade diante do trabalho docente surge quase como padrão numa era onde a velocidade das redes cibernéticas se efetivam, quando a forma se sobrepõe ao conteúdo, onde a ideologia ultraliberal e pós-moderna desenvolve sujeitos que acreditam na imposição do sucesso a qualquer preço e com menor esforço, além da arrogância diante do outro. A insatisfação diante de qualquer aula, método de avaliação, conteúdos e espaços não é algo raro. Na sociedade do espetáculo nada é suficientemente bom para chamar atenção.

Se entre professores/as temos uma parcela importante reproduzindo posturas problemáticas em sala de aula, entre o corpo estudantil tem crescido também o conservadorismo, o imediatismo, o pragmatismo e uma concepção de espectador passivo, com a necessidade de ser impressionado, com profunda impaciência diante da celeridade que questões complexas necessitam.

Ao mesmo tempo que há justas críticas aos formatos punitivistas e ultrapassados que ainda se sustentam na universidade, existe também um apagamento da subjetividade do professor. Visto como parte da engrenagem da máquina, ele é um sujeito sem história particular. Ao docente é negado horário de descanso, espaço para viver seus problemas pessoais, particularidades e possibilidade de estudo e aprendizado.

A reclamação do autoritarismo dos professores é tão certeira quanto a pressão diante dos mesmos, a burocratização, o desrespeito e a banalização de sua prática e esforço. Relações adoecedoras se estabelecem de ambos os lados. Na lógica da alienação, estudantes tendem a apagar a característica do/da docente como um/a trabalhador/a e o transformam numa ferramenta. Para parte considerável da categoria docente, afeita à quimera pseudo-elitista de sua condição, isso fermenta uma deturpação da relação, metamorfoseando o/a professor/a como um obstáculo a ser ultrapassado em busca do objetivo fundamental: o diploma.

Professores/as conservadores/as ou outros/as tantos/as, apenas desacreditados/as e descrentes com o processo educativo, vão reproduzindo uma lógica que se distancia de uma educação com inspiração emancipatória e, ao invés disso, continuam a reproduzir os abismos diante de seus/suas alunas.

Num processo mútuo de ataques onde não há culpados todos são cúmplices. Com a Torre de Babel estabelecida nas cátedras, docentes e discentes reproduzem a falsa consciência de sujeitos antagônicos, como se fossem alegorias das classes sociais fundamentais do nosso sistema social. A questão é que não são. Embora estejam em posições diferentes, ainda que haja uma relação inerente de poder e autoridade, numa constituição de um processo educativo emancipatório essa característica não seria central.

Pensar o adoecimento mental na universidade é mais que refletir sobre as manifestações imediatas, as constituições fisiológicas, a descrição daquilo que os sujeitos tomam como hábito no dia-dia. Sublinhar os formatos de sofrimento mental das diferentes categorias pode nos ajudar a, ao invés de procurar culpados, colocarmos o dedo na ferida e quebrarmos a lógica que nos adoece, buscando medidas particulares, como a responsabilidade institucional da universidade, mas refletindo para chegar na necessária e urgente crítica que vá a raiz desse processo.

A imposição de uma forma de produzir e socializar conhecimento, além de reproduzir um modo de administrar e gerenciar a instituição com determinações da conservação da hegemonia de uma sociedade centrada na exploração e na opressão sucumbe sujeitos dentro da instituição à impossibilidades de uma vivência com qualidade e experiências humanizadas.

Ser estudante negro/a numa universidade onde - como em toda a sociedade - o racismo estrutural impera, é adoecedor. Onde manifestações racistas são naturalizadas desde traslado de ida e a volta da faculdade todos os dias até nos exemplos utilizados em sala de aula, suportar espaço é um desafio constante. É adoecedor ser estudante e mulher numa universidade onde ainda se reproduz práticas de subjugação feminina, assédio moral e sexual, onde o processo de maternagem é desconsiderado e tantas outras formas de expressão do machismo persistem no campo científico. O/a jovem que precisa sair de sua cidade, morar em outro lugar, trabalhar o dia todo, ir para aula, estudar no “tempo livre” e lidar com todo esse processo de forma solitária também vive uma universidade adoecedora.

É adoecedor, ainda, ter que lidar com a necessária perspectiva de excelência da universidade, com as exigências de compromisso, qualidade e carga de leitura para uma geração que não foi acostumada a ler, interpretar, produzir, realizar, construir argumentos para além do senso comum. Se sabemos que rebaixar a qualidade não deve ser a opção, qual alternativa podemos pensar?

São esses/as estudantes que estão na universidade, são muitos deles/as que não conseguem permanecer, são tantos/as outros/as que não conseguem acessá-la. Encarar a realidade ou continuar a negá-la  é uma escolha institucional e de projeto profissional que revela como nos posicionamos para além dos discursos. Não se trata de isentar os diferentes sujeitos de suas responsabilidades individuais e do reforço de muitos diante desse fenômeno. Recair em explicações individualizantes não somente não resolve a questão como reafirma a lógica conservadora e as práticas focalizadas.

Não há como delimitar uma causa única para a potencialização do sofrimento mental dos/das discentes. Questões estruturais, relações familiares, vida escolar, desterritorialização, mudanças geracionais, ritmo de vida, questões sócio-econômicas, todos os elementos se intercruzam no processo de construção de limites e possibilidades, no fortalecimento ou fragilização emocional e no processo de sofrimento mental intenso. Se as questões são multiformes é necessário que diferentes sujeitos estejam implicados nisso, a universidade como instituição e nós docentes na esfera que nos cabe: o âmbito didático e pedagógico.

Se professores/as também são desumanizados é preciso não fechar os olhos para a lógica que reproduzimos e pensarmos o que podemos fazer diante de um cotidiano de trabalho tão desafiador. O moralismo e o conservadorismo não são saídas. Frente a nossa desvalorização, o que temos feito? Para que serve o conhecimento que produzimos? Como estamos lidando com o adoecimento dos nossos/as alunos/as? Como estamos lidando como o nosso próprio adoecimento? Que tipo de relações estamos construindo, inclusive, com os nossos/as colegas de trabalho?

Diante de tantas questões precisamos também pensar sobre nossa responsabilidade e como temos tratado os elementos que nos chegam com a desconstrução do nosso espaço de trabalho e das nossas relações prosaicas. 

 

*A primeira parte dessa reflexão se encontra no Espaço Aberto n.41/2019

 

 
 
 
 
Quinta, 04 Abril 2019 11:05

 

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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Em nossa política, quase tudo serve de chiste. Um dos mais famosos, e mais lamentáveis, nascido nos tempos sombrios da ditadura no Brasil, refere-se ao enunciado pelo qual se dizia que as esquerdas só se uniam na cadeia.

Gostando ou não, infelizmente, havia naquilo um fundo de verdade; aliás, vindo de mentes conservadoras, ele deveria ter sido levado a sério pelas esquerdas, ou, melhor, por aqueles que se consideram progressistas.

Mas por que me lembrei disso agora?

Por conta de uma guerra de narrativas produzidas em torno do último 31 de março. Aliás, não me lembro de tanta repercussão dessa data anteriormente. Em geral, as mentes progressistas – em débito com os assassinados, os torturados, os exilados, os perseguidos, os censurados durante o período da ditadura militar – deixavam passar a data sem maiores tributos às vítimas daquele regime recheado de crueldades.  

Mas Bolsonaro nos tirou do conforto. Como todos sabem, na semana anterior ao 31 de março, ele pediu às Forças Armadas que comemorassem o golpe, ao qual ele e seus iguais chamam de revolução.

Pronto. Aquele pedido do presidente foi como um tapa em nossa cara. Foi como dizer: “Progressistas, uni-vos!”.

E nos unimos, independentemente se próximos de partidos e tendências políticas, ou fora disso tudo. O que nos moveu foi a honestidade em torno da verdade de nossa história. Foi nossa inconformidade com o ataque feito ao estado de direito. 

Assim, Bolsonaro, um ícone da direita brasileira, que já começa a derreter este país, conforme preconiza a Revista Veja, no alto de sua capa desta semana, fará um grande trabalho à memória de nosso país. Na realidade, já está fazendo: unir os progressistas em torno de bandeiras que lhes são gerais e caras, com ênfase a tudo que se refere ao golpe de 64.

De pronto, nas redes sociais, surgiu uma interessante proposta, aderida espontaneamente por muita gente: vestir algo preto no dia 31 de março para demonstrar o luto e o tributo à memória das vítimas da ditadura.

A partir dessa mensagem, a guerra ideológica das narrativas da história que fazemos foi se avolumando. De última hora, muitos atos foram convocados nos mais diversos lugares do país. Quase todos se colocaram sob o mesmo lema: “Ditadura Nunca Mais”, em evidente alusão ao título do livro “Anos de Chumbo: Brasil Nunca Mais”, de Paulo Evaristo Arns, publicado em julho de 1985, ou seja, logo após o lançamento de “Vai Passar”, música ícone que marca o final da ditadura, lançada por Chico Buarque em 1984.

No plano local, a UFMT, mais especificamente no Saguão do Instituto de Linguagens e da Faculdade Comunicação e Artes, foi realizado um ato com o mesmo objetivo. Dele, participaram professores, estudantes, artistas, comunidade... para cantar e contar direito a história que a direita brasileira quer entortar, escondendo das novas gerações sua dimensão maligna, repleta de mortes, de exílios, de torturas...

Dessa forma, acredito que, a cada novo ano, quando as águas de março já estiverem fechando o verão, esses atos voltarão a ocorrer. E é necessário, pois nossa juventude pouco sabe sobre o tema; e sem compreendê-lo, corre-se o risco dos farsantes tentarem fazer fixar nas mentes das novas gerações inverdades sobre essas páginas infelizes de nossa sangrenta história.

Pior: se ignorarmos a realidade de nossa história, ventos estranhos e contrários à liberdade podem encontrar facilidade para entrar por nossas janelas e portas.

Esse retrocesso não pode ser permitido.

Ditatura nunca mais!

 

Terça, 02 Abril 2019 17:33

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Paulo Wescley M. Pinheiro

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Universidade

 

Na fábrica de trabalhadores

Não mais apaga dores

Não mais quadros e cores

Só moedores de humanos

 

Tem espremedor de anos

Tem um ralador de sonhos

Tem fermento de intempéries

Tem forno, lenha e esteira

Para produzir em série

 

Tem tempero de arrogância

Tem corantes de ganância

No discurso do produto

E na ferramenta do mestre

Tem doença e tem cobrança

Tem tremores e tributos

Carne fresca de doutores

Tem de tudo e tem de nada

Tem de pasto e tem de peste

Na sala dos roedores

 

Entra semestre e sai semestre

A fábrica trabalha dores

 

1.1. Prolegômenos sobre a Máquina: (não) leia o manual

 

    A forma como temos lidado com a produção e socialização de conhecimento tem nos colocado em esparrelas capciosas para nossos espaços de trabalho e estudo. Entramelados numa robusta engrenagem vamos seguindo o curso das catracas intelectuais, lubrificando o sistema com nosso suor, queimando o combustível dos nossos neurônios até não sabermos mais quem somos nós e quem é a máquina institucional que vivemos boa parte de nossos dias.

    No dia 29 de março de 2019, em uma mesa do Pré-Encontro Nacional de Educação, no auditório da ADUFMAT, dialogamos sobre uma interrogação tão pertinente quanto espinhosa: conhecimento para que e para quem? Em tempos de desconstrução da universidades nunca foi tão necessário se perguntar sobre isso.

    As gavetas das especialidades da ciência burguesa tem apresentado sua forma mais grave de decadência ideológica nesses tempos de crise. Isso hipertrofia o caráter mercadológico da ciência e o conhecimento como mercadoria. Cada vez mais distante de uma perspectiva de práxis que aproxime ação e reflexão partindo das necessidades coletivas, vamos naturalizando uma formação procedimental e cultivando relações de estranhamento entre os sujeitos da comunidade acadêmica.

    Da sacralização da razão instrumental abstrata ao processo de demonização de todo conhecimento racional temos nos percebido longe da superação da falsa dualidade entre o conservadorismo e a crítica pós-moderna. Um apelo ao pragmatismo tem se ampliado nos espaços da academia. A universidade tem se transformado em um espaço cada vez menos possível de disputas contraditórias e cada vez mais afirmado, explicitamente ou de forma tênue, o caráter desumanizador, privilegiando o ser tecnificado, o irracionalismo e a mistificação da realidade.

    O prólogo para entender uma série de problemas que vivenciamos enquanto docentes, discentes e demais trabalhadores da universidade perpassa por compreender como temos constituído nossas relações, qual a essência dessa instituição e como ela tem aprofundado os preceitos de uma determinada sociabilidade. Tentaremos apresentar esse debate em cinco seções de textos (incluindo esse) que compõem aquilo que eu intitulei de “Ensaio sobre a magnífica máquina de moer gente”.

    Nessa primeira primeira parte, procuramos introduzir a questão e apresentar a ênfase que daremos ao longo das formulações: o processo de expressões de sofrimento e adoecimento mental na universidade. A lógica de formulação e socialização de conhecimentos sem sentido é expressão de uma sociedade sem sentido e, assim, temos manifestado características similares de ampliação da exploração, das opressões e de sofrimento tal e qual outros espaços de trabalho presentes em nosso tempo histórico.

   

1.2. Reflexões sobre o sofrimento mental na Universidade

 

O processo de adoecimento no âmbito acadêmico não é propriamente uma novidade. Tem sido frequente o crescimento dos debates sobre o assunto, embora os eventos e proposições estejam longe de encontrar respostas efetivas diante da complexidade do problema.

O Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (FONAPRACE), no ano 2018, desenvolveu um levantamento que demonstra a agudização dos processos de adoecimento mental entre os/as alunos/as. No ano anterior, ganhou as redes sociais uma campanha que explicitava uma série de formas do sofrimento discente dentro das universidades brasileiras.

Com o mote #NãoÉNormal, as imagens e textos circulavam denunciando a naturalização do modelo arcaico e hierárquico da academia, expressando a  perpetuação do autoritarismo, de diversas formas de preconceito e do silenciamento discente que, junto com diversos outros fatores, culminava em exposições de depoimentos sobre crises de ansiedade, processos depressivos, somatizações físicas, entre outras questões graves. Em matéria no dia 18 de setembro de 2017, o site Olhar Direto apresentou um dado expressivo que apontava que 10% das/dos estudantes da UFMT já pensaram em suicídio.

Não é preciso ser especialista em saúde mental para perceber que o cotidiano da universidade tem sido cada vez mais difícil. É perceptível a dificuldade progressiva em realizar processos efetivos em sala de aula. O que vemos são discentes cansadas/os, em sua maioria, aparentemente, desinteressadas/os ou desencantadas/os com o processo de formação. O sofrimento latente salta aos olhos de maneira multiforme, ora na apatia, ora de modo agressivo, outras vezes, desesperado. O difícil é tirar o véu da naturalização disso tudo e não cair em análises rasas, maniqueístas e imediatas da questão.

Não é raro a perpetuação de formas insistentemente equivocadas do trato sobre saúde mental e a concepção do que é ser saudável e doente nessa sociedade. Ora tratada como algo menor, do campo dos valores pessoais, da vida privada e de um plano afeito à “força de vontade”, também se chega ao processo de fetichização dos modismos de tratamento e, por fim, ao tradicional e limitado trato centrado em questões fisiológicas, genéticas, neurológicas e, em larga medida, protagonizando a centralidade do diagnóstico, da descrição de sintomas, do modelo biomédico como exclusividade e do uso de farmacos como principal elemento.

Na esteira do recrudescimento do conservadorismo, cresce ainda a imposição da moralização, da repressão e do disciplinamento como pilares importantes para fortalecer a desresponsabilização do Estado em detrimento do mercado e da refilantropização da saúde, além do enclausuramento, do proibicionismo, da desconstrução da laicidade e da focalização em ações individualizantes.

No tempo histórico da internação compulsória, das comunidades terapéuticas, da venda desmedida de remédios tarja preta, da política de “guerra às drogas” em detrimento da política de redução de danos, do senso comum dos livros de auto-ajuda e coach’s, além da assombrosa revitalização do manicômio, debater sobre saúde mental de forma rigorosa é mais que salutar, faz parte de uma reflexão sobre o caminho da barbárie que temos construído.

O que surge em nosso cotidiano é resultado de um vácuo nas políticas sociais, de uma forma reacionária do trato das expressões da questão social e da concentração de uma política de saúde mental que fortalece sua contrarreforma e privatização. A forma como temos atuado no “fazer ciência” não está alheia a tudo isso.

Entre tantas discussões e exposições de diversos olhares, quase sempre, se perde algo crucial: se está todo mundo mal deve haver algo de errado com esse lugar. Entra dia e sai dia, pessoas diferentes, com vivências particulares e distintas formas de acessá-las tem reclamado do cotidiano universitário e isso acontece entre alunos/as, professores/as e técnicos-administrativos/as. A conclusão óbvia é que numa sociedade profundamente adoecedora a universidade não é uma bolha.

Formar profissionais que não terão emprego para pessoas que não terão acesso aos serviços, produzindo pesquisas que não tem financiamento e socializando em periódicos que não são lidos tem sido a tônica da máquina de moer gente, dilapidando o espírito de quem sonha construir um outro processo educativo,diminuindo a resistência aos ataques às possibilidades de atividades emancipatórias dentro desse lugar.

Quando não nos concentramos em debater um projeto de universidade articulado ao desenvolvimento de um projeto de sociedade tendemos à articulação imediata das questões fenomênicas como elemento essencial. Assim, passamos a não refletir sobre quais as determinações de um cotidiano tão pesado e vamos apenas reagindo sobre ele.

Se não passarmos a pensar a universidade como um instrumento que precisa ser disputado para uma lógica efetivamente pública, garantindo um tipo de produção e formação que realize os sujeitos que a constroem e a classe que a alimenta estaremos aprofundando o caráter adoecedor desta instituição.

 

1.2. O estranhamento no espaço do conhecimento: universidade, relações sociais e coisificação

 

Nesse sentido, embora reveladora e importante, a campanha #Nãoénormal só expressa a ponta de um complexo fenômeno e, se percebida de modo isolado, tende a concentrar no/a professor/a o problema. Nas reflexões da maioria das pessoas que compartilhavam as peças da campanha a dimensão mais reproduzida era apenas uma crítica à forma de avaliação, à eventual tirania, ao ritmo exigido na formação acadêmica.

Embora saibamos o quão problemática é a forma de avaliação, mesmo que não seja ficção os inúmeros casos de abuso de autoridade e, por fim, reconhecendo as intempéries do aligeiramento da formação, há muito mais a ser colocado em relação às questões que envolvem a temática central para que o protagonismo do problema não caia sobre os ombros dos sujeitos que também são atingidos: os/as trabalhadores/as da universidade, inclusive, os/as professores/as

O coquetel de uma instituição historicamente determinada pelas elites, aprofundada no tecnicismo, no conservadorismo e na lógica formal-abstrata é um pontapé para entender que a idealização da academia encobre que ela é fruto e reprodutora da sociedade e de seus valores hegemônicos. O aspecto contraditório e contra-hegemônico sempre enfrentou a violência maquiada nos legalismos, formalismos, burocracias e afins.

Sendo assim, o racismo estrutural, a naturalização machista, lgbtfóbica e misógina, a falta de acessibilidade para deficientes, a desigualdade regional das instituições, o acesso não universal e tantas outras formas de reprodução das opressões aparecem em práticas e em componentes de todos os sujeitos que compõem a comunidade acadêmica.

Esses elementos se expressam desde os trotes estudantis à insensibilidade nas aulas por parte de professores, aparecem na falta de políticas efetivas de assistência estudantil, na hegemonia de um conhecimento eurocêntrico da ciência burguesa, na reprodução da desigualdade de financiamento e estamento de profissões do ensino superior, na burocracia e no burocratismo dos processos internos, etc.   

A lógica do capital se capilariza por todos os espaços e a universidade, ao invés de ser a idealizada e romantizada “fábrica intelectual dos trabalhadores” é, apenas, uma fábrica de trabalhadores, produzindo sujeitos podados para a esfera do mercado e assumindo o individualismo e todas as suas formas de expressão ideológica, desde a culpabilização de sujeitos até a miragem do oasis meritocrático e empreendedor diante do desértico cotidiano desumanizador.

Na agudização da crise da sociabilidade hegemônica o esfacelamento estrutural do espaço universitário degrada condições de trabalho e estudo, fortalece perspectivas conservadoras no campo teórico, potencializa críticas meramente espontaneístas e voluntaristas, numa perspectiva irracionalista e infantilizada.

Tudo isso reverbera em atitudes e práticas dos sujeitos que materializam posturas coisificadas, autoritárias e violentas, sejam na reprodução do status quo, seja na suposta tentativa de bradar suas intempéries para a superação. As disputas pelos quinhões produtivistas diante do corte de verbas são expressões disso.

Ao invés de uma leitura profunda da lógica imposta há, costumeiramente, apenas um senso comum esclarecido, que percebe expressões cotidianas de reprodução da mesma e impõe à elas a essência enquanto imediaticidade. A partir disso se esgota a crítica estrutural e se constitui à “caça às bruxas”, nos supostos jogos do micro-poder, sem perceber que há algo mais amplo que promulga a vigência dessas relações estranhadas nos diversos sujeitos e grupos particulares que vivem da venda de sua força de trabalho.

Não podemos fechar os olhos para as manifestações de violência, preconceito e discriminação no espaço universitário. Isso implica perceber suas expressões e o que representam essas posturas, responsabilizar legalmente quem pratica e pressionar politicamente por respostas institucionais para além do punitivismo.  

É necessário pensar os processo de contradições inerentes dessa sociedade que pulsam em diferentes formas de desenvolvimento de atos desumanizadores. Seja na lógica elitista dessa estrutura, que possibilita a reprodução do autoritarismo em muitos docentes, passando pelo processo de redução da importância dos trabalho dos técnicos-administrativos e a diminuição de seus postos de trabalho, chegando ainda no espraiamento de uma concepção desvirtuada, reproduzida por  grande parcela de discentes, oriundos da educação bancária, que tratam a formação como uma mercadoria e o professor como um instrumento de trabalho.

Quando permanecemos apenas descrevendo as manifestações imediatas passamos a desresponsabilizar a estrutura, amortecemos o impacto da lógica institucional e jogamos novamente para os indivíduos a responsabilidade de lidar com coisas muito mais complexas do que o que surge no campo da aparência. Uma manifestação de coisificação da práxis educativa se solidifica.

Semelhante à alienação no processo produtivo, um não-reconhecimento diante daquilo que realizamos se constitui em nosso cotidiano. O/a professor/a não se realiza naquilo que produz, envolto nos prazos, formalismos do sistema de avaliação da graduação e da pós-graduação e baixo rendimento com os alunos em sala de aula, cresce uma frustração constante. O/a profissional não tem identidade com os seus pares, diante da concorrência e do fomento da competitividade como tática de resistência individual na busca por espaço físico, notoriedade acadêmica ou financiamento de pesquisa e nem se enxerga nos/nas estudantes, diante da precariedade do exercício profissional.

Os técnicos-administrativos também vivem semelhante sentimento. Numa condição de trabalho distinta dentro do espaço de saber, vivenciam a desvalorização do seu trabalho, diante de uma imagem historicamente constituída de sobreposição do trabalho intelectual, presenciam o processo paulatino de substituição de sua função, imbuída cada vez mais aos docentes, por via da tecnologia, imposta aos estudantes empobrecidos pela tática de pseudo-estágios, de uma pseudo-assistência estudantil, que coloca a condição de recebimento de bolsa diante de horas de trabalho administrativo. Para os assalariados da universidade, docentes e técnicos, o assédio moral vira uma prática tão recorrente quanto naturalizada.

Aos discentes essa condição também se reverbera e com muito mais força. Sem identidade com os/as professores/as, concorrendo com os/as colegas, sem encontrar sentido no que estudam e nas perspectivas profissionais, a formação vira um peso sem sentido, uma via crucis a ser ultrapassada sem saber porquê. O/a professor/a adoecido/a, assoberbado de encargos, realizando trabalhos fora do horário de expediente e expressando os processos de ataques a sua carreira é um anti-clímax para o alunado que espera uma imagem do profissional idealizado como modelo da sua profissão.  

Com os trabalhos, provas, seminários, listas de presença e tantos outros medidores o foco permanece na nota que será registrada. O espaço de aprendizado se torna um momento do dia a ser superado e não aproveitado. Estudantes disputam, comparam, cobram, fiscalizam dentro da competição naturalizada no espaço do saber. Dentro da própria categoria haverá a seletividade constante. Desde o sistema de entrada da universidade, passando pela disputa das bolsas de iniciação científica, extensão e monitoria, o fomento de uma cultura egoísta é sempre potencializada.

Na política de assistência estudantil, o viés focalista reproduz a disputa para provar quem é mais pobre. Cada vez mais o caráter universal vai perdendo força para uma percepção residual.  Isso contamina, inclusive, os coletivos políticos que afirmam lutar contra essa lógica

Nessa equação, existe ainda o conjunto de trabalhadores/as terceirizados/as, invisíveis, silenciados e cada dia mais precarizados em seus processos de trabalho, temperando o pesado ar da academia, que busca atalhos cruéis diante de seu processo de desmantelamento.

Assim, a “alienação intelectual” torna a experiência universitária um processo autofágico. Todos praguejam a falta de condições como algo universal, mas buscam saídas particulares. O individualismo é a primeira expressão, porém, além dele, o corporativismo também se fortalece. Cada setor, grupo, curso, departamento, instituto, categoria luta pelo seu pirão primeiro diante da pouca farinha que é garantida.

Na parte que nos cabe nesse latifúndio vamos cultivando um processo educativo anti-emancipatório. Partindo da questão discente é impossível não lembrar daquele conhecido conto de Rubem Alves onde Pinóquio entra humano na escola e vai virando um boneco de madeira ao longo da formação. A paródia que demonstra o avesso do processo de humanização é pertinente.

Diante de tudo isso, já podemos notar que não há como generalizar uma categoria e culpabilizar apenas um sujeito diante de questões tão complexas. Pensar a lógica da universidade e porque ela tem se perpetuado num cotidiano de disputas, lamentações e sofrimento mental é descortinar o cabo de guerra entre diferentes sujeitos que, tendo papéis distintos, sofrem de modo peculiar as expressões de uma estrutura problemática.

Isso significa pensar a totalidade, realizar uma crítica estrutural, cobrar responsabilidade institucional, mas também pensarmos criticamente como catalisamos esse processo, como contraditoriamente todos os sujeitos acabam por reproduzir essa lógica.