Terça, 26 Setembro 2023 14:57

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

 

Semana passada, no que até então os registros das temperaturas máximas já registradas em várias partes do Brasil, inclusive em nossa famosa Cuiabrasa (Cuiabá + brasa), que em mais de 80% dos dias do ano é a capital mais “calorenta” de nosso país, uma pessoa amiga enviou-me esta foto de um termômetro que fica na Praça da República, onde estava registrada  a marca de 48 graus centígrados, mas há quem afirme que a sensação térmica seria de pelo menos 55 graus centigrados, igual ao que costuma fazer nos vários desertos mundo afora.

Novamente nesses últimos dias o serviço de meteorologia está alertando a população de 13 estados, principalmente do Centro Oeste e alguns de outras regiões que uma onda de calor extremo vai acontecer no Brasil.

Também as autoridades de saúde de todos os níveis: federais, estaduais e municipais estão alertando e recomendando que a população tenha o máximo cuidado em relação `as consequências para a saúde humana e animal que esta onde de calor pode acarretar.

Quando as pessoas se reúnem ou mantém contato com parentes e amigos que estão em outras regiões ou até no exterior, a conversa é sempre a mesma, a onda de calor que a cada dia mais esquenta, obrigando as pessoas, individual ou coletivamente, a buscarem formas de mitigação para atenuar os impactos de temperaturas que ano após ano vem aumentando e batendo recorde em cima de recorde, como se costuma dizer e já tem sido comum, não apenas no Brasil, como também em diversos outros países, os termômetros indicarem temperatura de 45; 48 ou até mais de 50 ou 55 graus centígrados, na sombra, além de baixíssimos índices de humidade relativa do ar e muita fumaça oriunda das queimadas que, mesmo proibidas continuam impunemente, afetando a saúde humana, aumentando os problemas e as doenças respiratórias, principalmente em crianças e pessoas idosas, a grande maioria das quais pobres e excluídos que buscam desesperadamente por atendimento médico hospitalar, esperando em longas filas, exatamente embaixo de sol escaldante, em frente a unidades de saúde de um sistema sucateado, falido e por isso moroso e precário.

Enquanto isso, os marajás da República, os donos do poder e os barões da economia, em gabinetes refrigerados ou em mansões com muito conforto, luxo e climatização dia e noite, bem alimentados, em ambientes requintados, inclusive, boa parte desses, graças `as mordomias e privilégios, “discutem” formas de equacionar esses problemas socioambientais que , em princípio, afetam a população inteira, mas de uma maneira mais drástica os pobres e excluídos, sempre dizendo que as preocupações com a ecologia não podem atrapalhar o desenvolvimento do país, os lucros empresariais e a vida política nacional.

Sempre nessas discussões a ênfase é que o discurso dos  ambientalista é coisa de comunista, esquerdista, vendilhões da pátria, jogo de interesses internacionais, enfim, o velho discurso de que primeiro é preciso destruir a natureza para garantir o lucro e, depois, bem mais tarde busca-se a “solução” mitigada, que nunca chega, para evitarmos essas catástrofes que há décadas vem sendo muito bem anunciadas e documentadas por cientistas, pesquisadores e estudiosos da ecologia integral no mundo inteiro.

Diante disso, fico refletindo sobre a estupidez humana. Destroem as florestas, poluem os rios, os córregos, os lagos, os mares e os oceanos, degradam impiedosamente os biomas e ecossistemas, destroem o solo e subsolo e a natureza em geral, acabam com a biodiversidade, provocam erosões e desertificação, queimam combustíveis fósseis, enchem todos os espaços urbanos com concreto, cimento, ferro, vidro, asfalto e depois ficamos reclamando do clima, culpando os deuses ou demônios, como os povos e civilizações primitivas há milênios e implorando, rezando, as vezes de forma histérica, para que Deus, São Pedro ou São José ou qualquer outro santo, os orixás ou outras divindades venham em nosso Socorro.

Enquanto isso, os barões da indústria, do comércio, do agronegócio/agrobusiness, os desmatadores, contrabandistas da natureza, os mineradores, os donos do poder, os marajás da república e seus apoiadores continuam vivendo nababescamente, orgulhando-se de suas polpudas contas bancárias, ávidos por lucros futuros que advêm, exatamente, da destruição da natureza, da burla aos direitos dos consumidores e dos trabalhadores.

Em meio a tudo isso, uma massa esquálida de pobres, miseráveis, famintos e excluídos, que vivem em locais e casas/residências subhumanas, nas periferias geográficas e existenciais, que não oferecem as minimas condições de dignidade, que tem que se locomover a pé ou em transportes urbanos piores do caminhões boiadeiros, esses sim, sofrem dia e noite, 24 h por dia as "agruras" do tempo e são os mais atingidos pelo aquecimento global e pelas altas temperaturas insuportáveis.

Essas mesmas camadas populacionais volta e meia são consideradas responsáveis por todas as desgraças socioambientais que recaem sobre um planeta doente, que está na UTI, clamando "aos céus": pelo amor de Deus, parem de me destruir, por que comigo destruído vocês também serão destruídos.

Por que, nós cristãos, que temermos o inferno, onde dizem, o calor é infernal e eterno (pleonasmo), se já estamos vivendo em nosso inferno climático? Socorro, este planeta vai explodir, pulem desta nave especial sem rumo, enquanto é tempo. Mas para onde vamos? Será que existe outro planeta habitável, em melhores condições ecológicas para que a vida seja possível e que ainda não foi destruido pela ganância humana, para onde podemos transferir nossa morada?

Assim, mesmo aqui de longe nos EUA. a milhares de km de distância de nosso Brasil, passando alguns meses com minhas filhas, netos e neta, cujas previsões são exatamente opostas `as do Brasil e de outros países do hemisfério sul, estamos `a espera de um inverno rigoroso, com consequências também desastrosas e devastadoras.

“Winter 2023/2024 is starting to trend colder in the latest forecast, with large-scale El Nino influence across the United States, Canada and Europe” By AuthorAndrej Flis Posted onPublished: 24/09/2023, fonte: Site severe-weather.eu

Traduzindo “o inverno está comecando com tendência de ser mais frio, conforme a última previsão, com uma influência do El Nino atraves dos EUA, Canadá e Europa” (notícia deste último domingo,24 de setembro de 2023).

Apesar da gravidade das mudanças climáticas em curso tanto aí no Brasil quanto aqui nos EUA, vejo esses alertas com um grande ceticismo, tendo em vista que os mesmos servem muito mais para apavorar e aumentar ainda mais a ansiedade, o estresse e a angústia da população, sonegando `as grandes massas as informações que possibilitem `as mesmas uma reflexão mais crítica sobre as verdadeiras causas desta loucura em está se transformando o clima mundial, como bem enfatiza o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, escrita em Maio de 2015, de que “na raiz da degradação ecológica/Ambiental (incluindo as mudanças climáticas) estão, na verdade, as ações humanas” e, imagino eu, aí também residem as soluções para esta grave, complexa e controvertida “crise socioambiental” que estamos vivendo em todos os países, em alguns bem piores do que em outros, como acontece no Brasil, fruto da falta de politicas públicas de longo prazo voltadas para o meio ambiente.

As previsões de aumento da temperatura media mundial prevista pelo Painel do Clima da ONU para 2040, Segundo os últimos informes do mesmo, deverá ocorrer em 2028. Estamos Diante de uma bomba relógio prestes a explodir.

O imediatismo das ações governamentais, a omissão por parte significativa dos empresários em todos os países, as improvisações, a omissão e conivência por parte da população bastante alienada em relação `as causas, consequências e onde estão as saídas para esta crise que se abate sobre o planeta, não permitem termos grandes esperanças, a menos que mudemos, rápida e estruturalmente os paradigmas de nossos sistemas de produção, de relações de trabalho e de consumo/consumismo.

Só com o despertar da consciência ecológica por parte da população, dos governantes, dos empresários, das Igrejas e religiões, das organizações da sociedade civil, através de um amplo processo de educação ecológica libertadora e com ações concretas, racionais, integradas, permanentes, planejadas e de longo prazo poderemos vislumbrar essas saídas.

Isto exige mudanças de hábitos de consumo e de estilo de vida, de costumes perdulários e a substuição dos velhos paradigmas que nos trouxeram até aqui e que são os grandes responsáveis por esta crise climática e socioambiental, por novos paradigmas que possibilitem transformações profundas das estruturas políticas, sociais e econômicas das sociedades e das nações.

É o que consta de dois dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, integrantes com os demais da AGENDA 2030 de número 12 “produção e consumo responsáveis/sustentáveis” e 13 “ação contra a mudança global do clima”.

Fora disso, a choradeira vai continuar!

 

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Segunda, 25 Setembro 2023 08:41

 

 

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Juacy da Silva*

Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”. Bill Gates. “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”. Mário Quintana. “O maior atentado contra a leitura e o conhecimento é a censura”. Autor desconhecido
 
Amigas e amigos, o conhecimento é a chave para compreendermos a realidade que nos cerca e na qual estamos vivendo e convivendo, não apenas a nossa realidade imediata, com se diz, “o nosso próprio umbigo”, mas a realidade mais ampla, que pode chegar `a dimensão planetária.
Um dos ou talvez o maior desafio que a humanidade enfrenta na atualidade e que a cada dia se torna mais grave, gravíssima, é o DESAFIO ECOLÓGICO/AMBIENTAL, cujas consequências são e serão cada vez mais desastrosas.

Não é por acaso que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si e em seus constantes pronunciamentos e exortações apostólicas tem destacado algumas premissas desta crise ecológica, quando diz que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, que “ não existem duas crises separadas, de um lado a crise ecológica/ambiental e de outro a crise econômica, financeira, politica e social; mas apenas uma única e complexa crise socioambiental”; que as gerações se sucedem e precisamos refletir sobre que planeta, qual a herança que vamos deixar para as próximas gerações (justiça intergeracional) e, mais ainda, que “na base da crise ecológica/ambiental estão as ações humanas (irracionais e criminosas)” , e, imagino eu, que mesmo não falando, quer dizer, a crise ecológica/ambiental não é castigo de Deus ou dos “deuses ou demônios”, que povoam a mente humana, cabendo a nós e não `as divindades encontrar as soluções para a mesma.

Por isso, com o objetivo de realizarmos ações de sustentabilidade e podermos promover a mobilização profética, estimulando o despertar da consciência ecológica, reconhecermos os crimes ambientais/pecados ecológicos e criarmos condições para o que na Encíclica Laudato Si é denominado de Conversão ecológica, único caminho que nos leva a plenitude da Cidadania ecológica, que significa a mudança de paradigmas de como  nós, seres humanos “homo sapiens”, e também “homo politicus, homo economicus”, precisamos de muitas leituras para estimularem a nossa reflexão sobre esta realidade, este desafio que está diante de nós de maneira mais profunda.

Para tanto, precisamos aprofundar e ampliar nosso conhecimento desta teia de relações humanas, nas dimensões dos sistemas produtivos, das relações de trabalho e de consumo, que, principalmente as relações de produção e consumo de bens e serviços, sejam, como deseja e recomenda a ONU em um dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, que sejam “sustentáveis e responsáveis” e também da proposta contida na “Economia de Francisco e Clara”, do Papa Francisco, como forma de “realmar” a economia, tornando-a mais equitativa, solidária, mais justa e mais sustentável.

As pessoas, enfim, a mente humana precisa, necessita ser livre, sem peias e barreiras para empreender esta caminhada, sem medos e preconceitos ideológicos, religiosos, políticos ou culturais, não podemos ter medo das ideias, mesmo que de algumas ou de muitas discordemos, pois só existe um caminho que nos leva `a verdade e `a liberdade, este caminho é o conhecimento e a leitura é parte essencial deste processo.

Diante de tudo isso, compartilho com vocês uma informação preciosa, de uma publicação bem atual, deste ano de 2023, da Fundação Perseu Abramo. É o “E-Book”, gratuito, intitulado  “Ecossocialismo brasileiro: avanços e desafios”, uma coletânea de artigos, de diferentes autores, incluindo Gilney Viana, ex-deputado estadual (MT) e federal e professor aposentado de nossa Universidade Federal de Mato Grosso, com 192 página, cujos organizadores são Arlindo Rodrigues e Suelma Ribeiro Silva.

Quem desejar basta acessar o link https://fpabramo.org.br Ecossocialismo brasileiro - avanços e desafios colocando-o no google ou outro site de busca e vai aparecer o caminho para ter acesso e fazer a copia gratuitamente.

Fazendo isso, vai aparecer o link que permite “baixar” a publicação, gratuitamente,  em PDF.

Abraços, ótimo final de semana e boa leitura. Costuma-se dizer que a leitura é a chave que abre a porta do conhecimento, quem não lê ou não gosta de ler, acha que um texto com mais de duas páginas ninguém lê, mal sabem essas pessoas que a escrita e a leitura ajudam na prevenção de todos os tipos de demência, inclusive do Alzheimer, estimulam a reflexão crítica e criadora e são os únicos caminhos que nos levam a novos patamares de conhecimento, estimulando a criatividade, possibilitando as invenções e as inovações e, também, nos enobrece grandemente.

Um país, cuja população é majoritariamente constituída de analfabetos ou analfabetos funcionais e também analfabetos tecnológicos, está fadado a “perder o bonde da história” e a continuar atrasado e subdesenvolvido.



*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Quarta, 20 Setembro 2023 09:58

 

 

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Juacy da Silva*

 

“Todo ato educativo é também um ato político e revolucionário” Paulo Freire.

Se estivesse vivo, hoje, 19 de Setembro de 2023 , Paulo Freire estaria comemorando 102 anos. Mas o seu desaparecimento físico e até mesmo as perseguições que sofreu em vida e `as formas pejorativas e difamatórias que sua memória ainda sofre por parte de pessoas, grupos e instituições conservadoras, retrógradas, que se alinham no espectro ideológico da direita e extrema direita, bem próximas do nazi-facismo, não tem conseguido apagar o brilho de sua trajetória e sua grande contribuição ao pensamento educacional brasileiro e mundial.

“O I Encontro Nacional de Alfabetização e Cultura Popular foi culminância do grande processo de mobilização da sociedade civil brasileira. Reuniu 200 delegados representantes de mais de 70 instituições e movimentos de alfabetização, cultura e educação popular criados, entre 1960 e 1963, em todos os estados do país. Este encontro não só colaborou para a definição e implantação da Comissão Nacional de Cultura Popular, oficializada por meio de uma portaria do Ministro da Educação e Cultura em 1964, como influenciou as diretrizes do Plano Nacional de Alfabetização, elaborado no final de 1963 e lançado no início de 1964. Tendo em vista a alfabetização de cinco milhões de alunos em dois anos, este plano comprometia-se com a promoção da cultura popular e propunha utilizar o sistema de alfabetização criado pelo educador Paulo Freire, experimentado com sucesso em Angicos, no Rio Grande do Norte”. Publicação Unesco, 2009 - Organização: Leôncio Soares Osmar Fávero”

Não sei precisar bem os dias, mas foi em Setembro de 1963, meu primeiro ano como estudante de Sociologia e Política, com apenas 21 anos de idade, na Escola de Sociologia e Política de São Paulo que, como integrante da Equipe que iria fazer o primeiro “experimento” de Alfabetização de Adultos, utilizando o chamado “Método Paulo Freire”, tive a honra e o privilégio de participar daquele que foi um dos eventos mais importantes de minha vida e que visava, para a nossa equipe colher subsídios para o nosso experimento em Helena Maria, Osasco e que também serviu para a elaboração do primeiro Plano Nacional de Alfabetização de Adultos, fora dos parâmetros de outros métodos, como, por exemplo, a famosa campanha “De pé no chão” também se aprender a ler, um programa da Prefeitura de Natal, quando era Prefeito Jarbas Maranhão e Aluízio Alves Governador do Rio Grande do Norte.

Todavia, a “grande vedete” daquele I Encontro Nacional era a proposta já comprovada em Angicos, em Pernambuco, desenvolvida por um ainda jovem educador, com apenas 42 anos naquele ano, que, posteriormente foi denominado de MÉTODO PAULO FREIRE DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS.

Necessário se torna mencionar que hoje seria o 102 aniversário de Paulo Freire, se este grande educador que revolucionou o pensamento educacional  brasileiro, nascido em 19 de setembro de 1921, em Recife e falecido em São Paulo, em 02 de Maio de 1997; com apenas 75 anos, ainda estivesse vivo.

A proposta de Paulo Freire, era considerada bastante revolucionária tanto para a época quanto ainda hoje, não apenas como um método rápido de alfabetização de adultos, em apenas 40 horas; mas sim, porque construía todo o processo a partir da realidade do educando e seu universo vocabular, sempre integrado `a sua realidade, estimulando a reflexão crítica e criadora e, em consequência, o despertar da consciência social e política do educando, razão pela qual, era e ainda é considerado um método educacional subversivo pelos donos do poder e seus apoiadores.

Assim, nascia também nos estertores do Governo João Goulat, deposto por um golpe militar, poucos meses após a realização deste I Encontro Nacional de Alfabetização de Adultos  e Cultura Popular, em 01 de Abril de 1964, que condenou diversos políticos, professores, professoras e militantes de esquerda e até da Igreja `a perda da liberdade, dos direitos políticos, o emprego, o encarceramento, `a tortura e exílio.

Paulo Freire também sofreu várias perseguições, foi preso e exilado, só retornando ao Brasil em 1979, após a aprovação da Anistia, durante o governo do último general Presidente João Figueiredo.

Como mencionado anteriormente, fruto daquele I Encontro Nacional, a proposta de Paulo Freire acabou sendo o embrião e núcleo básico para a Elaboração do  primeiro Plano Nacional de Alfabetização, sendo Paulo Freire designado para ser o seu coordenador.

O sucesso dessa experiência, alfabetizando 300 pessoas em 40 horas, e a vitalidade dos movimentos sociais no período, especialmente estudantil, provocou a escalada do sistema em todo o país. Em fins de 1963 foi elaborado o Plano Nacional de Alfabetização, visando alfabetizar cinco milhões de jovens e adultos em dois anos.

Como estudante pobre que, além de estudar eu precisava trabalhar para se manter na cidade grande e ainda “descolar” tempo para a militância estudantil, política partidária e comunitária, integrei-me a um grupo de estudantes universitários de várias faculdades/universidades principalmente da USP, de diferentes cursos.

Nosso propósito foi a utilização do Método Paulo Freire de Alfabetização e podermos realizar o primeiro “experimento” com aquele método no Bairro Helena Maria, em Osasco, um bairro periférico, cujos residentes, em sua quase totalidade eram trabalhadores, a maioria nordestinos, principalmente na área da Construção civil.

Para estarmos devidamente habilitados precisaríamos, pensávamos nós, conhecer pessoalmente o autor do Método e nada melhor do que participarmos daquele I Encontro.

Só que nós, estudantes, andávamos sempre “duros”, ou seja, sem recursos para pagar passagem, hospedagem e alimentação e podermos participar daquele evento super importante.

Conseguimos carona em avião da FAB e, esta foi a grande surpresa, ao invés de ficarmos hospedados em pensões ou hotéis, fomos convidados para nos hospedar na casa de Paulo Freire, no Bairro de Casa Amarela, em Recife.

Assim, com meus 21 anos, jovem também cheio de sonhos, inclusive sonhos revolucionários, para nós estar com Paulo Freire, dialogarmos com o mesmo sobre diretrizes e outras orientações sobre o Experimento a ser realizado com seu método, primeira vez fora do Nordeste, era algo maravilhoso, muito encantador e estimulava nossos sonhos de um Brasil sem analfabetos, sem oprimidos, caminho para a plena emancipação da população, principalmente da classe trabalhadora, tanto rural quanto urbana, pois aquele era exatamente o momento em que o Brasil estava deixando de ser majoritariamente rural, para ser um país urbano, com uma crescente população excluída e morando nas periferias das cidades, origem de tantas mazelas que ainda hoje, 60 anos depois, ainda permanecem em nosso país e nos envergonham tanto.

Interessante é que durante a década de 1960 as migrações rurais em direção `as periferias urbanas traziam consigo, principalmente os nordestinos que vinham para a Região Sudeste, principalmente para os bairros, depois cidades, da periferia da Grande São Paulo e do Rio de Janeiro e traziam toda a cultura originária, inclusive o analfabetismo, alienação política, o misticismo religioso que , imaginávamos nós, deveriam ser superados/superadas por uma alfabetização revolucionária e transformadora, a partir da consciência política dos alfabetizandos.

Aos poucos Paulo Freire, inclusive durante os anos de exílio foi dando corpo `as suas ideias e práticas educacionais, consideradas avanças e revolucionárias, que iriam moldar diversas gerações de educadores, desde então, transformadas em vários de seus livros, tais como: Pedagogia do Oprimido; Educação como prática da Liberdade; Pedagogia da Autonomia; Educação e mudanças e outras mais.

Neste contexto, ao comemorarmos mais um aniversário de Paulo Freire, sempre é bom refletirmos sobre a origem de seu método de alfabetização e, posteriormente, o desenvolvimento de seu pensamento pedagógico, social e político e a  atualidade do mesmo, tendo em vista que o analfabetismo, a alienação política, a miséria, a exclusão e a violência contra os pobres e oprimidos ainda persistem na sociedade brasileira.

O "Método Paulo Freire" é uma estratégia humanista de alfabetização de adultos que proporciona autonomia, consciência crítica e capacidade de decisãoO método consiste em escolher "palavras geradoras" comuns no vocabulário local para alfabetizar as pessoas em 40 horasPaulo Freire se volta aos oprimidos e demonstra que eles possuem letramento, o da leitura do mundo, o da leitura da sua realidade e que este é um reforço para um letramento escrito que ultrapasse e transforme as práticas de dominação em uma “práxis revolucionária” em “co-laboração” em dialogoO método surgiu da preocupação de Paulo Freire com os excluídos, principalmente os analfabetos das zonas ruraisO método não é fechado, com padrões pré-definidos, e deve ser reformulado de acordo com cada turma” (Lucila Conceição Pereira e outros).

Oxalá, a nossa juventude, principalmente a parcela que continua privilegiada ao atingir níveis educacionais cada vez mais elevados, chegando, inclusive na universidade, graças `as políticas de inclusão, também despertem a consciência tanto para a atualidade do pensamento de Paulo Freire quanto para a necessidade de mudanças mais profundas e estruturais em nosso país, para atingirmos os patamares de participação e empoderamento da classe trabalhadora no processo político, social, cultura, ambiental e econômico nacional.

É neste contexto que a alfabetização de adultos e uma educação pública de qualidade, laica, transformadora tem o seu papel e seu espaço no presente e no futuro de nosso país.

Reverenciar a memória, o pensamento pedagógico e a luta de Paulo Freire é um legado que tem passado por diversas gerações, contribuindo para manter viva a esperança e o sonho de um Brasil melhor para todas as pessoas, sem exclusões e miséria.

*Juacy da Silva, professor titular, aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Segunda, 18 Setembro 2023 10:38

 

 

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Juacy da Silva*
 

Ao longo do ano , tanto a nível mundial ou internacional quanto nacional, mensalmente existem alguns dias que estimulam e recomendam celebrações especiais, como forma de despertar a consciência das pessoas em geral e das autoridades em particular, visando refletir sobre a importância desses aspectos e também estimular a realização de eventos e ações individuais e coletivas.


Além desses aspectos, cabe também renovar o despertar da consciência ambiental/ecológica, no período já consagrado pela Igreja Católica, tanto Romana quanto Ortodoxa e várias outras Igrejas Evangélicas, para o período de 34 dias, que vai de 01 de Setembro até 04 de Outubro, que é considerado o TEMPO DA CRIAÇÃO, com ênfase no que já está consagrado como um conceito denominado de Espiritualidade Ecológica, objeto de estudo por parte da Ecoteologia.


Assim, estou compartilhando as informações relativas a essas datas que vão de 16 de Setembro – próximo Sábado – até 31 de Outubro, de eventos relacionados direta ou indiretamente com a ECOLOGIA INTEGRAL ou Meio Ambiente como `as  vezes essas questões são tratadas.


Neste contexto da ECOLOGIA INTEGRAL, como mencionada e objeto de análise na Encíclica Lautado Si,  Papa Francisco em 24 de Maio de 2015; há pouco mais de 08 anos; existem algumas referências importantes e que servem de base para a ênfase que precisamos destacar, tais como: a) “Tudo está interligado, nesta Casa Comum” (Planeta Terra); b) na origem de toda a destruição, degradação dos biomas e ecossistemas que estão ocorrendo no mundo todo, está a ação irresponsável e irracional dos seres humanos; c) Apesar desta marcha destruidora insana, ainda podemos ter esperança, se considerarmos que a solução deve ser integrada e compartilhada entre instituições públicas nacionais, internacionais, governos nacionais e também organizações não governamentais e a população em geral; d) A defesa real da Ecologia Integral só pode ocorrer se mudarmos os modelos de economia da morte, economia esta que destrói a natureza, não respeita os direitos dos trabalhadores, nem dos consumidores e muito menos das próximas gerações; por uma nova economia, realmada, baseadas em novos paradigmas, a chamada economia da vida, que, por sugestão do Papa Francisco, deve ser uma economia solidária, denominada de Economia de Francisco e Clara; e) Este processo de defesa da ecologia integral e defesa do planeta terra passa pela Conversão ecológica até atingirmos a Cidadania Ecológica; f) que este processo só pode ocorrer de forma efetiva se tiver como base uma EDUCAÇÃO ECOLÓGICA LIBERTADORA, ancorada a Ecoteologia, na conversão ecológica e na espiritualidade ecológica.


Diante disso, comemorar ou celebrar essas datas especiais, que já constam do calendário nacional e ou internacional, também faz parte deste processo e ajuda a despertar a consciência ecológica, principalmente, junto `as crianças, adolescentes e jovens, os quais e as quais estarão vivendo em um planeta mais doente, mais poluído, mais destruído e mais degradado, se nada ou pouco for feito para combater, de fato, os crimes ambientais e ou os pecados ecológicos, origem de todos os males que tantas consequências ambientais tem recaído sobre as atuais gerações e muito mais sobre as próximas gerações.


A seguir, apresento uma lista dos principais eventos ou dimensões da ecologia integral que fazem parte dos calendários a partir deste próximo sábado, dia 16 de Setembro até 31 de Outubro de 2023.


Restante do mês de Setembro:


16 – Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio e Dia Mundial da Limpeza (do Planeta);
19 – Dia Mundial pela limpeza da Água
21 – Dia da Árvore
Este pode ser um dia importante para discutir-se a questão da arborização urbana, das florestas urbanas, dos corredores ecológicos e do clima.
22 – Dia Mundial sem carros
Momento para refletirmos sobre a poluição oriunda dos veículos, sobre o uso de combustíveis fósseis, sobre o aquecimento global, sobre as mudanças climáticas etc.
24 – Dia Mundial dos Rios
Oportunidade para refletirmos sobre como estão os nossos rios, as suas nascentes, os córregos, ribeirões, a maioria dos quais tem se transformado em grandes lixeiras e verdadeiros esgotos a céu aberto; e também sobre a poluição dos rios por agrotóxicos e outros fatores de contaminação;  as erosões, destruição das matas ciliares; sobre os Rios voadores que são alimentados pelas chuvas que caem na Amazônia e que devido ao desmatamento estão desaparecendo, afetando o clima e o regime de chuvas nas regiões sul, sudeste e centro Oeste do Brasil.
29 – Dia Internacional de conscientização sobre perda e desperdício de alimentos
Uma ótima oportunidade para refletirmos mais profundamente sobre quais os impactos disso sobre a fome que afeta quase um bilhão de pessoas no mundo e ainda dezenas de milhões no Brasil e também qual o impacto das perdas e do desperdício de alimentos sobre o meio ambiente, sobre a natureza, afinal, para que alimentos sejam produzidos vários fatores entram em cena como água, solo, fertilizantes, energia, trabalho humano, e as perdas e o desperdícios de alimentam impactam negativamente o meio ambiente.
Mês de Outubro
01 – Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional das pessoas idosas
Creio que precisamos também refletir sobre os impactos que a degradação ambiental, principalmente a poluição do ar, do solo e das águas e o envenenamento dos alimentos por agrotóxico representam para a saúde e o bem-estar da população idosa, segmento demográfico que mais cresce no mundo e, inclusive, no Brasil.
04 – Dia de São Francisco de Assis – Santo Padroeiro da Ecologia e dos animais. Dia também da Ecologia, Dia da Natureza e Dia dos animais , Fim do TEMPO DA CRIAÇÃO. Momento máximo de celebração.
10 – Dia Mundial da Saúde Mental
Este é, com certeza um dos desafios e problemas mais sérios da atualidade. Momento também de refletirmos sobre os impactos que a falta de áreas verdes, de arborização urbana e de cidades sustentáveis, saudáveis e seguras tem sobre a saúde mental da população.
10 – Dia Nacional de luta contra a violência `as mulheres.
Esta é uma luta constante, continua e permanente de todas as sociedades, principalmente no Brasil, onde os índices de todas as formas de violência contra as mulheres tem aumentado, incluindo a violência física e sexual como estupros, agressões físicas e o feminicídio. Com certeza uma das consequências dessa violência é a fragilização psicológica/mental das vítimas e de seus familiares, principalmente crianças, adolescentes e jovens. Cabe ressaltar que a mulher tem uma ligação muito profunda com as questões ambientais e não podemos refletir sobre ecologia sem levar em conta a questão de gênero.
15 – Dia Mundial de Consumo Consciente, responsável e sustentável.
Este pode ser um momento para despertar a população quanto ao consumismo desenfreado que aumenta exageradamente o desperdício em geral, a geração de lixo, resíduos sólios e o impacto disso em relação à degradação ambiental, aumento da produção de gases de efeito estufa na atmosfera, destruição da camada de ozônio e as mudanças e crise climática, cujas consquências para as pessoas e a saúde do planeta são irreversíveis.
Dia 17 – Dia Mundial da Erradicação da Pobreza

 

Creio que este é um momento propício para refletirmos criticamente em relação `as estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais e as diversas formas de ações humanas que geram a pobreza, via desemprego, subemprego, trabalho escravo ou condição análoga `a escravidão; economia informal, assistencialismo, manipulação política e eleitoral da pobreza, políticas públicas que contribuem para gerar acumulação de capital, renda, riqueza e oportunidades que favorecem desproporcionalmente uma minoria da sociedade (os famosos 1% ou no máximo 5% ou 10% da população de quase todos os países), gerando extremas desigualdades sociais, políticas e econômicas, base do surgimento e perpetuação da pobreza e suas consequências que são a desnutrição, subnutrição, a fome, a mortalidade infantil e a maioria das doenças de massa, e também refletir sobre a degradação ambiental, a destruição da biodiversidade, o uso e ocupação do solo, as migrações e a expulsão de populações do campo, como mecanismos que também geram e aumentam a pobreza.


Outro aspecto que pode ser destacado nessas reflexões é que a ONU ao estabelecer os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis em 2015, com visão temporal para 2030, a chamada Agenda 2030, colocou como os dois primeiros objetivos  a Erradicação da pobreza e em segundo lugar Fome Zero e agricultura sustentável.
 
Vale a pena mencionar quais são as metas que a ONU indica para que o objetivo – Erradicação da pobreza – que significa acabar com a mesma, em todas as formas e em todos os lugares, seja alcançado até 2030:a) Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por diab) Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais; c) Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulnerável; d) Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças; e) Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais; f) Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as todas as suas dimensõesg) Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza.
 
31 – Dia Mundial das Cidades
Momento para discutirmos os vários tipos de assentamentos urbanos, aos quais denominamos de cidades. Cabe aqui também o destaque de que um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, constante da Agenda 20230, é exatamente Cidades e Comunidades Sustentáveis, seguras e inclusivas isto é, sem exclusão, que significa  acesso à moradia segura, adequada e acessível; acesso aos serviços básicos e urbanização inclusiva e sustentável; acesso ao transporte seguro, acessível, sustentável e eficiente; redução do número de pessoas afetadas por catástrofes naturais; redução do impacto ambiental negativo e proporcionar o acesso universal a espaços públicos, inclusivos, verde, entre outros.
 
Posteriormente, em outra oportunidade, vou elaborar uma nova lista e alguns comentários sobre outras datas importantes, relacionadas com a Ecologia/Meio Ambiente, a serem celebradas no decorrer dos meses de novembro e dezembro de 2023.
 
Oxalá, as escolas em todos os níveis, as Igrejas Cristãs em geral e também as religiões não cristãs, os movimentos comunitário, sindical e estudantil, as instituições públicas das três esferas de governo: Executivo, Legislativo e Judiciário, nos âmbito Federal, estadual e municipal, o empresariado, os clubes de serviços, a ONGs ambientalistas e todos os meios de comunicação participem desta cruzada que visa despertar a consciência ambiental/ecológica na população.
 
Isto, com certeza seria um grande esforço na direção de uma educação ambiental/educação ecológica libertadora continuada e permanente por décadas a fio, só assim, poderíamos atingir este grande objetivo que é impedir a degradação e a destruição, de nossa Casa Comum, da Mãe Natureza, Gaia ou seja, o nosso Planeta Terra! Único que temos e onde vivemos!


 
*Juacy da Silva,  professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Sexta, 15 Setembro 2023 09:00

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Por Vicente Machado de Avila

Professor aposentado da UFMT
 

 


I – UM POLITICO GENIAL E PROFUNDO.
Além do Brasil e do MERCOSUL o Lula preside também o G20(Países mais ricos do mundo). É certo dizer: o pior cego é o que não quer ver.
Na UFMT existe um professor aposentado (nove dedos/petroço) que põe gosto ruim em tudo que o Lula faz ou deixa de fazer, não contesto o colega, mais sim a sua ideologia Negacionista – Bolsonaro perdeu as eleições com o seu receituário derrotista.

II – O FIM DO NEOLIBERALISMO 
O neoliberalismo não tem um projeto para a sociedade e pratica a política como se fosse uma guerra; não respeita as urnas, nem a democracia e nem a verdade. Após perder a eleição em 2022, Bolsonaro saiu ligeiro arquitetando o GG - Golpe Gorado de 08 de janeiro de 2023.

III – BESTEIROL
1. O choque da teoria com a prática – Apesar de já estar em condições de se aposentar, a medicina não consegue fazer “mingau” ficar em pé.
2. Não mudam de nome: O Porto não será Porto triste, e o Rio Grande não será rio pequeno.
3. Parceiros na mortandade, o Marrocos e a Líbia chegam juntos na mortandade. O Rio Grande está padecendo apenas no campo e nas cidades. Os porquinhos e a vaca amarela estão no telhado esperando o próximo CICLONE já anunciado.
4. O Pinto e a Pinta foram ao cinema. Quem pagou a entrada? Foi a Pinta. Por quê? Porque o Pinto estava (----?----).
5. Numa rodada um cara soltou um PUM colossal. De sua cadeira gritou o Joãozinho: Levanta-te “Zé Gotinha” (----?----). Apanha teu capacete na casa desse cara (----?----) “tem festa – está soltando foguete”.      

Aquele abraço,

 

Cuiabá-MT., 14 de setembro de 2023.

Professor Vicente Machado Ávila

Quarta, 13 Setembro 2023 16:44

 

 

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Juacy da Silva*

“Na atualidade, o termo demagogo passou a contemplar apenas um sentido pejorativo, uma severa crítica em relação `a oratória de determinados políticos. Chamar um político de demagogo significa acusa-lo de manipulador e populista. O demagogo é aquele que engana, ilude e falseia a realidade”. Adelino Francisco de Oliveira, in (artigo) Os demagogos e a política contemporânea, 27/09/2021 – A Tribuna Piracicabana.

“Populismo é uma prática política cujo líder toma para si o cargo de salvar o país e o povo…O populismo se reveste de promessas dirigidas a setores vulneráveis da população...o populismo faz parte da demagogia, na medida em que estabelece um vínculo emocional com o “povo”, tratado como categoria abstrata…O resultado é sempre o autoritarismo consentido e uma dominação imperceptível por quem é dominado.”  Juliana Bezerra, professora de História, artigo Populismo.

Existe um certo distanciamento entre o discurso de campanha de Lula sobre questões ambientais e a definição de suas politicas econômica, de comércio exterior e de meio ambiente, contradição esta que se agrava tanto pelos acordos feitos ainda antes das eleições, em que atraiu parte do agronegócio e acabou nomeando para seu Ministro da Agricultura um representante de uma parte deste grupo econômico, filiado ao PSD, onde estão também inúmeros bolsonaristas de carteirinha, além dos espaços cedidos para o União Brasil, Partido que também se alinha bem `a direita , sucedâneo do PFL/Democratas e Arena (origem no período dos governos militares), no conjunto esses partidos representam um poderoso bloco politico, ideológico, parlamentar e que faz muita pressão contra as políticas ambientais, contra a reforma agrária, contra a demarcação de terras indígenas, contra os direitos humanos, contra pautas de gênero, enfim, contra as pautas capitaneadas pelo PT e pelos partidos de esquerda como PSOL, PCdoB; PSB, PDT, Cidadania, Rede Sustentabilidade e PV, base ideológica do Governo Lula.

Não bastasse esta guinada em direção ao Centro e `a direita feita antes das eleições de 2022 e que deram origem ao terceiro mandato de Lula, agora, para garantir a famosa “governabilidade”, o Governo acaba de sacramentar a cooptação do Centrão (PP e Republicanos), ninho de bolsonaristas e adeptos da direita e até da extrema direita.

Parece que o balcão de negócios, o toma lá, da cá , a liberação de emendas, a distribuição de cargos, de ministros a outros escalões, em Brasília e nos Estados, voltaram a todo o vapor e moldam a pauta ou agenda em Brasília e no Brasil afora.

Ao ceder espaços na estrutura governamental a um enorme grupo de parlamentares (Senadores e Deputados Federais) e dirigentes partidários que são bem conhecidos por suas posturas fisiológicas, oportunistas, conservadoras, retrógradas em relação `as pautas da esquerda, em torno das quais Lula sempre se elegeu e mantém seu discurso, tanto é verdade que continua sendo visto e ora acusado como amigo de “ditadores” comunistas ou socialistas.

Com tais manobras e guinadas `ao centrão e `a direita, Lula pode conseguir a tal governabilidade e evitar que o Presidente da Câmara, líder inconteste do Centrão e da Direita coloque em pauta algum processo de pedido de impeachment de Lula, evitando o que aconteceu com Dilma, que ao romper o diálogo com o então Presidente da Câmara Eduardo Cunha, aquele colocou um pedido de impeachment em pauta e todos sabemos o que aconteceu.

Basta observar que diversos parlamentares que votaram favoravelmente ao impeachment e afastamento definitiva de Dilma da Presidência, que lá chegou ungida por Lula em sua eleição e reeleição, estão atualmente felizes da vida fazendo o “L” e integrando a base do Governo Lula no Congresso Nacional.

Ministérios como do Meio Ambiente, dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial, dos Povos Indígenas, da Reforma Agrária e das Mulheres, que foram criados, recriados ou com promessas de serem “returbinados’, aos poucos percebemos que estão sendo castrados, em termos de “poder de fogo”, principalmente quando tomamos os recursos orçamentários que os mesmos terão `a sua disposição, quando comparados com outros ministérios e organismos que os partidos de direita e o Centrão tem abocanhado.

Quando Lula defende a Petrobrás e se volta contra o IBAMA, subordinado `a Ministra Marina Silva, já, novamente bastante desgastada no Governo, acionando a AGU, cujo ministro é um pretenso candidato `a próxima vaga no STF, para contradizer o parecer do IMABA, por ter negado licença Ambiental para a perfuração de poços de petróleo (um combustível fóssil, altamente poluidor do meio ambiente, condenado mundialmente e já com os dias contados conforme informe técnico da Agência Internacional de Energia nesta semana), ou quando o nosso Presidente da República critica e entra em conflito com a União Europeia, que no exercício de sua soberania, ter aprovado Leis que restringem importações de “commodities” de áreas desmatadas, legal ou ilegalmente, em países que não cumprem integralmente os compromissos assumidos no Acordo de Paris, como é o caso do Brasil; ou quando partidos (de direita) que participam do Governo Lula criticam e tentam criminalizar os movimentos sociais, como temos visto, por exemplo da CPI do MST, ou quando Lula propõe censura `a forma como Ministros do STF devem votar ou tornar seus votos e as sessões da Suprema Corte públicas, para o conhecimento pleno das pessoas, cidadãos e cidadãs que pagam impostos e tem o direito de saber como funcionam os órgãos públicos; ou quando insinua desconhecimento sobre a Corte Internacional de Haia, instância internacional que tem o direito de julgar criminosos de Guerra e ditadores como Putin e outros ditadores de esquerda ou de direita; o nosso Presidente passa uma imagem de um personagem que tem discursos contraditórios.

Resta-nos saber se esta “guinada” de Lula para receber o apoio politico parlamentar da Centrão e da Direita no Congresso Nacional facilitará o avanço de uma agenda meramente reformista, perfunctória ou lhe dará uma verdadeira base para promover políticas públicas de caráter mais profundo que representem a possibilidade de transformação significativa de fato, dessas estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais viciadas e corruptas, que geram pobreza, miséria, fome, exclusão e muita violência em nosso país.

Se assim não acontecer, os rumos do governo Lula será de mais uma frustração para dezenas de milhões de eleitores que nele votaram na esperança de que as políticas públicas possam transformar o Brasil em um país realmente justo, equitativo, sustentável, sem as desigualdades e a violência que tem empurrado mais de 60% da população brasileira para a exclusão e marginalização social, econômica e política.

Cabe ressaltar que essas contradições e até certo ponto equívocos do Governo Lula deverão se aprofundar nas próximas eleições municipais, as quais servirão de base para as eleições gerais de 2026, quando o atual governo será julgado nas urnas (eletrônicas e confiáveis).

Há quem diga que o um novo e futuro “ovo da serpente”, que pode significar o retorno da direita e extrema direita ao poder, partidos e personagens que estiveram com o bolsonarismo e no momento estão sendo, estrategicamente “acomodados” nas estruturas do poder durante o Governo Lula, a partir de onde fortalecerão suas bases políticas e eleitorais em todos os Estados.

A pergunta que não quer calar “quem está enganando quem”?

Quem viver verá!

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 12 Setembro 2023 09:23

 

 

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JUACY DA SILVA*
 

Muita gente não gosta nem de ouvir a palavra política, quanto mais discuti-la. Essas pessoas, na concepção de Brecht são os analfabetos políticos, que acabam, por tal atitude contribuindo para o desvirtuamento de uma das mais nobres atividades humanas ou que deveria ser.

Outras pessoas são mais radicais e abominam que Igrejas e Religiões discutam política, quando o que não se deve é transformarmos as Igrejas em partidos políticos e os púlpitos em palanques eleitorais, ou seja, não podemos confundir política em sentido amplo, que é a arte ou ciência que tem como foco o bem comum, com política partidária que tem como objetivo precípuo a organização de setores da população, com vistas `as eleições e a conquista de mandatos populares. Isto é função exclusiva dos partidos políticos e não de quaisquer outras organizações, incluindo igrejas, sindicatos, ONGs, etc.

Para Sócrates, que viveu entre 470 e 399 antes de Cristo, a política era uma ferramenta necessária para organizar o Estado, como um todo e, neste sentido, a Democracia (governo do povo) era o instrumento essencial para garantir a participação do cidadão na escolha de seus representantes políticos e, em consequência, o pensamento crítico ou racional era essencial para a discussão sobre a política e a existência do Estado.

Para Aristóteles, outro filósofo Grego, que viveu entre 384 e 322 antes de Cristo, a política está diretamente ligada ao conceito do bem comum, bem de todos os habitantes de uma comunidade, cidade ou Estado.

Sobre esta mesma questão é bem interessante a Nota da Congregação para a Doutrina da Fé,  sobre algumas questões relativas ao compromisso e a conduta dos católicos na vida política, assinada pelo então Prefeito daquele Congregação, o então Cardeal Joseph Ratzinger (posteriormente Papa Bento XVI), em 24 de novembro de 2002, Nota aprovada pelo então Papa João Paulo II. Una enseñanza constanteEl compromiso del cristiano en el mundo, en dos mil años de historia, se ha expresado en diferentes modos. Uno de ellos ha sido el de la participación en la acción política: Los cristianos, afirmaba un escritor eclesiástico de los primeros siglos, «cumplen todos sus deberes de ciudadanos». La Iglesia venera entre sus Santos a numerosos hombres y mujeres que han servido a Dios a través de su generoso compromiso en las actividades políticas y de gobierno”.

E qual seria a posição atual da Igreja em relação a esta questão? “Atualmente muitos possuem uma má noção da política, e não se pode ignorar que frequentemente, por trás deste fato, estão os erros, a corrupção e a ineficiência de alguns políticos. A isto vêm juntar-se as estratégias que visam enfraquecê-la, substituí-la pela economia ou dominá-la por alguma ideologia. E contudo poderá o mundo funcionar sem política? Poderá encontrar um caminho eficaz para a fraternidade universal e a paz social sem uma boa política? Gostaria de insistir que a política não deve submeter-se à economia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Embora se deva rejeitar o mau uso do poder, a corrupção, a falta de respeito das leis e a ineficiência, não se pode justificar uma economia sem política, porque seria incapaz de promover outra lógica para governar os vários aspetos da crise atual. Pelo contrário, precisamos duma política que pense com visão ampla e leve por diante uma reformulação integral, abrangendo num diálogo interdisciplinar os vários aspetos da crise. Penso numa política salutar, capaz de reformar as instituições, coordená-las e dotá-las de bons procedimentos, que permitam superar pressões e inércias viciosas. Não se pode pedir isto à economia, nem aceitar que ela assuma o poder real do Estado”. Papa Francisco. Encíclica Fratelli Tutti, 176 e 177.

Há poucos dias deparei-me com uma mensagem, compartilhada por um amigo virtual, de caminhada ecológica, Toninho Ribeiro,  no Grupo de whats app Laudato Si 2021/2 em que dizia:  “Nós família franciscana e da pastoral social entendemos a necessidade de um trabalho de base para despertar a consciência adormecida da nossa população em vista da próxima eleição. É urgente eleger pessoas comprometidas com a causa socioambiental. O atual. Congresso Nacional não representa os interesses da classe trabalhadora. Paz e bem! Paróquia Santo Antônio de Alenquer / PA”.

Em resposta ao referido amigo e demais daquele grupo virtual, enviei a seguinte mensagem, que acabo de ampliar e transformar em uma reflexão/artigo, como se segue: Olá Toninho Ribeiro, meu amigo de caminhada ecológica e socioambiental. Bem oportuna e importante esta reflexão/discussão quanto `a necessidade de um despertar da consciência política por parte do eleitorado brasileiro, principalmente, dos católicos, evangélicos e cristãos em geral e também dos não cristãos, comprometidos com mudanças que possam ir mais a fundo e transformarem as estruturas e debelar as causas dos vários problemas e desafios brasileiros, como as questões da fome, mudanças climáticas, desigualdades sociais, setoriais e regionais, degradação do meio ambiente, racismo estrutural e as várias formas de violência, inclusive a violência contra as mulheres e o feminicídio, dentre outros e outras.

O atual Congresso Nacional, tanto a Câmara Federal quanto o Senado, conforme alguns estudos tem demonstrado, é o mais conservador e retrógrado dos últimos 20 ou 30 anos. As emendas constitucionais que foram e tem sido feitas ao longo das últimas décadas, tem desfigurado a Constituição de 1988, tem sido no sentido de reduzir os espaços da cidadania e restringir os direitos da classe trabalhadora e das camadas excluídas.

Assim, precisamos de um trabalho de base bem mais profundo, como tem sido feito, de uma forma bem tênue ainda, por parte de alguns grupos e  a pastoral Fé e Politica, Fé e Cidadania etc.

Tenho insistido que precisamos dar ênfase a este trabalho em todas as Arquidioceses, Dioceses, Paroquias e comunidades visando uma formação política, não política partidária,  mas política no sentido amplo, sociológico, com enfatiza o Papa Francisco tanto na Encíclica Fratelli Tutti, e também em suas constantes Exortações Apostólicas.

Neste sentido precisamos criar e fortalecer Grupos , pastorais e as Escolas de Fé e Politica ou Fé politica e cidadania, isto já  deveria ter sido feito de uma forma bem mais intensa e de maneira permanente e não apenas episódicas, `as vésperas das eleições, como tem acontecido quase que rotineiramente, com alcance bem limitado.

Creio que caberia `a própria CNBB, tanto a nível nacional quanto os Regionais da CNBB em todos os Estados e Regiões, dar um passo mais ousado e mais efetivo nesta direção.

Creio que cabe também um destaque, no sentido de que isto não deveria aguardar a proximidade das futuras eleições gerais em 2026, quando elegeremos o  Presidente da República, Governadores, dois terços do senado, a Câmara Federal e as Assembleias Legislativas; mas começarmos o mais urgente possível, com vistas `as eleições municipais do ano que vem (2024).

Já fiz algumas reflexões sobre isto, no sentido de que deveríamos mobilizar as pastorais, os movimentos e os organismos que atuam e estão na linha sociotransformadora, incluindo organismos como a CARITAS Brasileira, Arquidiocesanas, Diocesanas e Paroquiais e movimentos como CEBs, Franciscanos (Jufra), CPT etc. para abrirmos diálogo dentro da Igreja com vistas a essas eleições, ou seja, prepararmos uma agenda mínima, com propostas claras e objetivas, que deveríamos apresentar aos partidos políticos e candidatos a prefeito, vice prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros.

Existem aspectos gerais que podem ser refletidos e elaborada uma agenda comum, a nível nacional e estadual e também aspectos particulares, próprios de cada realidade municipal.

Isto seria a base para a definição de políticas públicas municipais, seja no âmbito estritamente local/municipal e também atendendo aspectos que transcendem a administração municipal, no contexto metropolitano, intermunicipal - aglomerados urbanos, cidades gêmeas etc.

Por exemplo, qual seria uma agenda que a Pastoral da Criança e a pastoral da juventude poderiam ajudar a construir para definir uma politica de atenção às crianças, adolescentes e juventude a nível municipal?

Outro exemplo, como a Pastoral da Ecologia Integral ou do Meio Ambiente poderia ajudar a construir uma proposta de política municipal de meio ambiente, de maneira bem global: saneamento básico (água e esgoto), resíduos sólidos, reciclagem, estímulo ao uso de energia renovável, agroecologia, agricultura urbana e periurbana, arborização urbana, florestas urbanas etc.?

Qual a contribuição que as Pastorais da Saúde e da Terceira Idade ou dos Idosos poderiam ajudar para  construir uma politica municipal de saúde, mais humana, eficiente, eficaz e efetiva em todas as suas dimensões, incluindo a participação popular na gestão nesta área?

Como transformar os três “Ts” do Papa Francisco Terra, Teto e Trabalho em propostas para políticas municipais de geração de emprego e renda e de moradias populares?

Como a Pastoral da Educação poderia participar para a elaboração de propostas que contribuam para a definição de uma política educacional de âmbito municipal que fortaleça uma educação pública de qualidade, integral, laica e universal, incluindo os desafios dos novos paradigmas aportados pelo avanço da ciência, da tecnológica e da inovação?

Como as Pastoral Afro-brasileira, da Mulher e ou da Mulher Marginalizada poderiam contribuir para ajudar a definir uma política de igualdade de gênero e igualdade racial e promoção dos direitos humanos em sua plenitude, de âmbito municipal?

Enfim, temos um longo caminho a percorrer, não apenas por parte das Igrejas/Religiões, mas através de parcerias com movimentos e organizações representativas da sociedade civil organizada, dos movimento sindical e comunitário, dos clubes de serviços; dos meios de comunicação dentre outros e de organismos de defesa de direitos como a OAB e outros mais.

Tendo em vista a representatividade e capilaridade tanto da Igreja Católica, quanto das evangélicas, principalmente as que estão articuladas através do CONIC, em uma dimensão ecumênica, precisamos iniciar a formação de agentes, de quadros e grupos de reflexões o mais urgente possível. Esta é a minha opinião e neste sentido tenho insistido com varias pessoas de diferentes Igrejas e outras organizações, inclusive de alguns partidos políticos.

Precisamos de muita Oração em favor de nosso país e de nossas autoridades, mas igualmente precisamos também de muito mais AÇÃO e MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA.  

Esta é uma forma de combatermos o analfabetismo político e a manipulação política e eleitoral por parte das velhas raposas da política brasileira, afinal a nossa Constituição é bem clara quando diz “TODO O PODER EMANA DO POVO, QUE O EXERCE POR MEIO DE REPRESENTANTES ELEITOS OU DIRETAMENTE NOS TERMOS DESTA CONSTITUIÇÃO” Parágrafo único do artigo primeiro da Constituição Federal de 1988.

Além disso sempre é bom lembrar que o povo é quem paga a conta das benesses, dos privilégios, das regalias, das mordomias e mutretas que alimentam a chamada classe política, dos donos do poder e dos marajás da República, através de uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo.

Assim sendo, o povo tem o direito de participar na formulação das políticas públicas, de saber e acompanhar os gastos governamentais que devem ocorrer com transparência, ética e voltados para o bem comum e de receber dos poderes públicos bens e serviços de qualidade, que representam as condições básicas para desfrutar de uma melhor qualidade de vida, com mais dignidade e respeito e menos desigualdades.

Se assim é, que o povo desperte desta letargia que possibilita que políticos demagogos, corruptos, incompetentes e oportunistas cheguem e se perpetuem por gerações nas diversas estruturas do poder e usem seus cargos, funções e mandatos a serviço de seus próprios interesses ou de quem eles representam. Isto tem um nome: DEMOCRACIA PARTICIPATIVA!,

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Segunda, 11 Setembro 2023 09:38

 

 

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                           Prof. Dra. Alair Silveira –
Professora e Pesquisadora do SOCIP) e do PPGPS.
Membro do MERQO e do GTPFS

 

            Nos dias 02 e 03 de setembro/2023 foi realizada a Reunião Nacional do GTPFS, em Brasília/DF, com a seguinte pauta: 1)Painel 1Sindicato Nacional, Centrais Sindicais e espaços de unidade na luta2)Painel 2Reforma Sindical em debate3) Informes; 4) Retomada dos Cursos de Formação Sindical; 5) Síntese e desdobramentos do Seminário Nacional sobre Reorganização da Classe Trabalhadora.
            Antes de abrir os trabalhos, foi apresentada a nova Coordenação do GTPFS Nacional: Raquel Dias (UECE); Mário Mariano (UFVJM); Renata Gama (UERJ); Luís Acosta (UFRJ); Fernando Lacerda (UFG) e, ausente na Reunião, Josevaldo Cunha (UFCG).

PAINEL 1

            A professora EblinFarage (UFF), responsável pelo Painel 1, fez apanhado histórico da constituição do ANDES-SN e do perfil da categoria docente, ressaltando que a divergência entre aqueles que se reconheciam trabalhadores e aqueles que se consideravam intelectuais marca a constituição da própria Entidade. Destacou, assim, que essa divergência trouxe (e mantém) os fundamentos das dificuldades para a categoria reconhecer-se como parte da classe trabalhadora e, mais ainda, como integrante de uma Central.
            Na sequência, destacou as mudanças ocorridas no mundo do trabalho e chamou atenção para a necessidade de se compreender as dinâmicas e as relações objetivas que atravessam nosso tempo e trazem implicações sobre a organização da classe trabalhadora. Neste particular, sublinhou a necessidade de se observar a realidade material e o “professor real”, identificando qual o nível de consciência dos trabalhadores. Do contrário, na sua opinião, “vamos pensar a reorganização da classe sem a participação da classe”
            De forma sintética, pontuou as diferenças entre as experiências sindicais brasileiras, assim como concentrou energias em apontar os desafios que estão colocados para o movimento sindical em geral e para o ANDES-SN em particular. Especialmente quando consideradas as diferenças que marcam a carreira docente, cuja data de ingresso remetem a condições e garantias diferenciadas (e precarizadas).
Neste aspecto, sublinhou que boa parte da categoria é constituída de jovens doutores, sem cultura sindical e coletiva, consumido pela lógica produtivista do Lattes.
            Quanto ao sindicalismo de Estado, sublinhou a contradição entre o combate do ANDES-SN à estrutura/legislação sindical estatal e, ao mesmo tempo, o recurso à esta legislação para combater o PROIFES. Da mesma forma, um sindicato que (a la Gramsci) tem um projeto societário, mas não tem uma base robusta para sustentar este projeto.
            Ao finalizar a exposição, ressaltou que optou por se concentrar em apontar os desafios e reforçar a necessidade de construção de espaços de mediação e de diálogo, de maneira a superar os enormes desafios para a categoria e o conjunto da classe trabalhadora.Inclusive quanto à sua fragmentação, atualmente dividida em 14 as centrais sindicais. O que, segundo ela, demonstra o grau de fragmentação e de divisionismo que, na base, remete às divergências político-partidárias.
            Como parte dos desafios do ANDES-SN, pontuou a unificação da comunidade acadêmica, considerando que técnicos-administrativos e terceirizados constituem categorias distintas, assim como a necessidade de avançar no diálogo com as Centrais e na autonomia frente aos partidos políticos. Do ponto de vista mais geral, destacou a derrota política ao não termos conquista a revogação do Novo Ensino Médio.

CONSIDERAÇÕES SOBRE PAINEL 1

            Primeiramente há que considerar o fato da responsável pelo Painel ser uma militante histórica (e ex-dirigente) conhecida pela sua atuação orgânica dentro do Coletivo de Luta pela Base (ALB), que dirige o ANDES-SN há alguns anos. Se essa condição, em si, não implica nenhuma restrição à contribuição da Professora, a ausência do contraditório na Mesa revela a indisposição da atual Direção em abrir espaços para o embate político. Aliás, registre-se que, em resposta a estas reclamações, a Coordenadora do GTPFS Nacional, Raquel Dias (que também é 1ª Vice-Presidente do ANDES-SN), decretou que a discussão sobre a CSP está encerrada e que as pessoas precisam deixar de chorar sobre o leite derramado. Afinal, em sua opinião, a Diretoria ganhou e, agora, conduz a discussão.
            Quanto ao conteúdo da intervenção de EblinFarage importa registrar que, apesar do Painel convidar para uma discussão sobre Sindicato Nacional, Centrais Sindicais e espaços de unidade na luta, a reflexão e os desafios envolvendo Centrais Sindicais foram tangenciados, assim como a problematização quanto à construção de espaços de unidade na luta.
Desta forma, se a exposição foi assertiva quanto aos problemas e aos desafios que constituem a história, o presente e o futuro do ANDES-SN, por outro lado, houve um apelo à consideração da realidade objetiva, material da classe trabalhadora. Para corroborar esse apelo, valeu-se de uma frase conhecida de Marx, para quem os homens não fazem a história nas circunstâncias que desejam. Estranhamente, a Professora esqueceu de apresentar a frase na sua integralidade, pois Marx afirma que “as circunstâncias fazem os homens, assim como os homens fazem as circunstâncias”, o que redimensiona não somente o papel ativo dos sujeitos históricos na dialética das relações sociais, mas, também, a responsabilidade das direções.
Merece anotar as caracterizações de Luís Acosta (da Coordenação do GTPFS e 2º Vice-Presidente do ANDES-SN) sobre o perfil do sindicalismo atual. Segundo ele, estamos experimentando, depois do Sindicalismo de Estado (getulista) e do Sindicalismo Classista (Novo Sindicalismo) um novo ciclo: o Sindicalismo de Mercado. O sindicalismo de mercado reflete o pragmatismo mercantil individualizado, destituído da perspectiva de classe.
Por fim, cabe registrar outros tangenciamentos no Painel 1: a) os desafios do ANDES-SN em relação ao Governo Lula; b) as relações do Sindicato com os partidos políticos; c) qual o sentido de autonomia para o ANDES-SN;d) ao apresentar vários desafios para o ANDES-SN (assentados especialmente sobre o novo perfil da categoria, a resistência em reconhecer-se como parte da classe trabalhadora, as condições materiais, o individualismo etc.), as alternativas reiteraram o caminho do diálogo e da atuação tática com outras entidades.
Nesse particular, cabem duas observações: 1) a história recente do ANDES-SN (inclusive com o protagonismo do Coletivo da própria palestrante) não tem se destacado pelo diálogo, mas pela interdição e pelo punitivismo; 2) a unidade tática (de atos e reuniões conjuntas) tem sido compreendida como caminho para demonstrar a “unidade na luta” e o não isolacionismo do ANDES-SN (após desfiliação da CSP). Sobre isso, inclusive, a 1ª Vice-Presidenta foi categórica: “Não estamos isolados. Fizemos vários atos juntos (e construímos outros) em conjunto com outras entidades”. Ao que parece, a nova Diretoria não somente considera que as discussões estão “esgotadas”, mas, também, que o não-isolamento é, tão-somente, articular atividades táticas e pontuais com outras entidades(!).

PAINEL 2

            O Painel 2, intitulado Reforma Sindical em debate foi dividido entre o advogado Cacau Pereira, do Instituto Brasileiro de Estudos Política e Sociais (IBEPS), e o advogado Rodrigo Torelli, da assessoria jurídica do ANDES-SN.
            Cacau Pereira foi bastante sucinto quanto ao histórico do sindicalismo no Brasil, destacando a forma como se apreendeu a formação das lutas sindicais brasileira, centrada na perspectiva europeia, especialmente quando ao papel dos imigrantes, em detrimento dos negros e homens livres brasileiros.
            Na sequência, registrou a complexidade que conforma a conquista da CLT como um avanço na consolidação de legislação trabalhista nacional, considerando a vigência de legislações estaduais diferentes, assim como a pactuação de classe envolvida no processo.
            Avançando para a análise da proposta de ‘Reforma Sindical’ que está em discussão, ainda que de forma pouco conhecida quanto ao conteúdo e alcance, observou que o “governo escolheu com quem negocia”, da mesma forma que o “imposto sindical” parece constituir a centralidade da negociação. Esse “imposto”, entretanto, não parece uma mera reinserção do antigo “imposto sindical”.
            Informou que conseguiu a minuta (com as centrais sindicais “escolhidas para negociar”) da proposta e, pela análise feita, é possível identificar que somente alguns aspectos da contrarreforma trabalhista serão alcançados para revogação. Na sequência, elogiou a inclusão dos direitos humanos, a existência de mediação e arbitragem, o respeito à Convenção 158 da OIT e o retorno daultratividade. Por fim, observou que o setor público está à margem dessa discussão, o que demanda envolvimento e ocupação nos espaços nas negociações.
            Rodrigo Torelli iniciou sua exposição com a apresentação do Correio Brasiliense (02/09/2023), cuja manchete é: STF dá aval à volta do imposto sindical. Tal destaque compõe a determinação em desqualificar/prejudicar a discussão sobre imposto sindical. Comparou a satanização do imposto sindical às contribuições desfrutadas pelo Sistema S (empresarial): enquanto o primeiro arrecadou R$53,6milhõesno 1º semestre 2022, o segundo assegurou R$ 27,3 bilhões (ano 2022) com arrecadações sobre folha de pagamento.
            Atentou para o Decreto n. 11.669, de 11/03/2023, sobre Negociação Coletiva no Serviço Público, assim como sobre a existência da Câmara Sindical de enquadramento e a regulamentação do direito de greve do servidor público. Todos em plena atividade/efeito.
            Rodrigo Torelli sugeriu que os trabalhadores (especialmente do Serviço Público) explore os possíveis “furos” na legislação, decretos etc., corroborando a análise sobre correlação de forças desfavorável aos trabalhadores. Acrescentou que é preciso considerar que as Centrais Sindicais são organizações da sociedade civil e, portanto, fazem parte do Direito Civil, diferentemente das Federações Sindicais.
            Questionado sobre a diferença entre “imposto sindical”, “contribuição assistencial” e “contribuição negocial”, as respostas foram genéricas. Por isso, a escolha por buscar a informação mais técnica. Conforme abaixo:
            Contribuição Sindical é uma contribuição compulsória, o que significa dizer que, todos aqueles que pertencerem a uma categoria deverão realizar o pagamento desta contribuição, ainda que não sindicalizados. Ela é obrigatória e independe da vontade dos empregados e empregadores, não estando, portanto, o seu pagamento, sujeito à anuência destes.(link: https://www.migalhas.com.br/depeso/105397/contribuicao-sindical--confederativa-e-assistencial)
Contribuição Assistencial, também conhecida como taxa assistencial, geralmente prevista em convenção, acordo ou sentença normativa de dissídio coletivo, somente poderá será devida por aqueles que participam na condição de sócios ou associados de entidade sindical. Ela visa custear as atividades assistenciais do sindicato, principalmente pelo fato de o mesmo ter participado das negociações para obtenção de novas condições de trabalho para a categoria.(link: https://www.migalhas.com.br/depeso/105397/contribuicao-sindical--confederativa-e-assistencial)
 A Contribuição Confederativa, muitas vezes confundida com a contribuição assistencial, a contribuição confederativaserve para custear o sistema confederativo da representação sindical patronal ou profissional, ou seja, para custear os sindicatos, federações e confederações da categoria profissional e econômica. Ela somente poderá ser exigida dos filiados do sindicato respectivo,não tendo, portanto, natureza tributária, vez que será instituída pela assembleia sindical e obrigará somente aos associados.(link: https://www.migalhas.com.br/depeso/105397/contribuicao-sindical--confederativa-e-assistencial)
            A Contribuição Negocialfaz parte da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), aprovada em Assembleia Geral, na qual a categoria autoriza a contribuição como forma de garantir recursos para negociações, a autorização para desconto, portanto, é de natureza coletiva, obedecendo ao princípio do negociado sobre o legislado, que passou a vigorar nas relações de trabalho.

CONSIDERAÇÕES SOBRE PAINEL 2

            O Painel demonstrou a validade da assertiva de Cacau Pereira, para quem o Governo já “escolheu com quem vai negociar”. E, neste sentido, a própria Minuta somente foi obtida através de alguns (poucos) contatos sindicais que receberam a proposta. Se CUT foi uma das “escolhidas”, CSP ainda não teve acesso.
            Além disso, a chamada Mesa de Negociação e o “reajuste de 1%” demonstram qual a disposição do Governo com relação ao funcionalismo público.
            De acordo com os painelistas, é necessário articular o conjunto das entidades sindicais e suas respectivas assessorias jurídicas para explorar os “furos” na legislação, além de apropriar-se do conteúdo da proposta de Reforma Sindical.Confrontados com o perfil do atual Congresso, assim como do Judiciário (que atua como “justiceiro moral”, e, ao mesmo tempo é reacionário com relação aos direitos trabalhistas), os painelistas concordaram que o momento para pressão sobre o Congresso não conta com boas perspectivas, já que a classe trabalhadora está bastante desmobilizada e fragmentada.    Consequentemente, o esforço maior parece concentrar-se na unidade e mobilização coletiva, e exploração criteriosa das possibilidades legislativas.
            Este Painel demonstrou o quanto a desfiliação do ANDES-SN da CSP foi precipitada, especialmente porque está evidenciada a disposição do Governo em cooptar o movimento sindical, tal qual os governos petistas anteriores. Consequentemente, evidenciado, também, o isolamento do ANDES-SN. Justamente o que era condenado com relação à CSP.
            Não propriamente respondida restou a consideração de Luís Acosta sobre a interpretação predominante dentro do Judiciário com relação ao ANDES-SN: o Sindicato tem sido compreendido como Federação e não como Sindicato Nacional. É por isso que tem prosperado, dentro do Judiciário, iniciativas de Seções Sindicais que se consideram autônomas para romper com o ANDES-SN e filiar-se a outras entidades sindicais. Exemplo foi a decisão sobre a Seção Sindical de SC.

INFORMES
 

  • ·     FONASEFE elaborou dois blocos de reposição salarial, tendo em consideração o montante das perdas no período: Bloco I: quase 50%; Bloco II: 39,93%.
  • ·     O ANDES-SN enquadra-se no Bloco II, considerando que há muitas disparidades dentro da categoria, em razão da desestruturação da carreira;
  • ·     Mesa de Negociação sem negociação: 1% apresentado corresponde à reserva que o Governo fez de 1,5 bilhão. Na realidade, não houve previsão orçamentária para reajuste no Plano encaminhado ao Congresso;
  • ·     DIEESE apurou que de 2010 a 2023, as perdas da categoria alcançam 114%;
  • ·     Conforme informe da Mário Mariano, na Reunião do FONASEFE foi relatada indignação generalizada e calendário de atividades;

Calendário FONASEFE:

  • ·     16/09/2023 – Plenária Nacional dos Servidores Federais
  • ·     03/10/2023 – Dia de Luta pela Soberania Nacional e Defesa do Serviço Público (Petrobrás como eixo da luta pela soberania nacional);
  • ·     Atos devem ser organizados em Brasília e nos estados;
  • ·     No dia 04/09/2023, às 16h, haverá Mesa de Negociação específica para o ANDES-SN, para negociar pauta relativa à Carreira Docente;
  • ·     Sugerida Reunião do GT-Carreira urgente;
  • ·     Fórum Sindical, Popular e de Juventudes por Direitos e Liberdades Democráticas (lançado em 19/02/19) reuniu em 05/08/2023, em SP, com a presença de nove pessoas, dentre as quais representantes do ANDES-SN. Agendada nova reunião, ampliada, em 23/09/2023, em SP;
  • ·     Criadas novas seções sindicais do ANDES-SN: SIND-UNIDF e Faculdade de Música Maurício de Oliveira (Estadual do ES);
  • ·     UFCE retornou ao ANDES-SN, após quase nove anos de desligamento;
  • ·     ANDES-SN irá compor GT Interministerial contra Assédio e Discriminação, para elaboração de Plano de enfrentamento, conforme Convenção 190 da OIT;
  • ·     Informes das seções sindicais presentes: ADUFPA; ADFPB-CG; ADUSB; ADUFSE; CEFET-MG; ADIFES; ADUFF; EURJ; APROFURG; ADUFOP; SINDFSM; ADUFPel; ADUFMAT;


CURSO DE FORMAÇÃO POLÍTICA E SINDICAL

  • ·     Retomada dos Cursos: Qual formato? Qual tema?

          v.        Proposta de retomada dos eixos aprovados no 39º Congresso (2020): Módulo Classe em Luta na América LatinaParte I - Lutas dos Trabalhadores da Educação Superior na América Latina (realizado entre 08 e 09 de dezembro/2022);

          v.        Sugestões temáticas: Trabalho docente (especificidades do ofício); produtivismo e empreendedorismo acadêmico; neoconservadorismo e impactos na educação na América Latina; Organização Sindical (história); Uberização e seus impactos na educação;Teletrabalho; Sucupira e adoecimento; Universidade para que(m)? (18 milhões de formados e 14 milhões de empregos gerados que demandam formação superior);

          v.        ANDES-SN compilar materiais já publicados, vídeos, aulas, cursos anteriores etc.disponibilizando-os no site, em link específico;

          v.        Garantir contraditório na composição das Mesas das atividades promovidas pelo GTPFS;

          v.        Sugestão de estreitar parceria com a Editora Expressão Popular para impulsionar obras;

 

  • ·     Síntese e desdobramentos do Seminário Reorganização da Classe Trabalhadora (Mossoró/RN, junho/2023):

          v.        Seminário apontou/recomendou:

a.       Construção de agenda de classe, diversas categorias;b.ANDES-SN articular espaços de discussão;c.Debate após saída CSP;d.Unidade na diversidade;e.Mobilização da categoria;f.Dificuldades (identitarismo e classe);g. Problemas/desafios ANDES-SN;h. Relações com Governo Lula;i. Desafio PROIFES;j. Direito à memória histórica;l.Necessidade de discutir Regionais e Seções Sindicais;m. Relações ANDES-SN e Centrais;n. Educação: Eixo na luta contra Novo Ensino Médio, Financiamento e Universidade Popular e Laica;o. Cursos GTPFS.

          v.        TR 42: II Seminário de Reorganização da Classe Trabalhadora, com a presença de entidades da Educação (FASUBRA, SINASEFE), movimentos sociais e luta pelo serviço público;

          v.        Retomar debate FONASEFE – 2º Encontro Nacional (2021 – 1º Encontro);

          v.        Seções Sindicais e Regionais devem discutir as indicações do I Seminário;

          v.        Identitarismo: Promover painéis. Articulação GTPFS e GTPFCEDS;

          v.        PROIFES: Regionais devem promover discussão onde Entidade tem base. Organizar oposição;

          v.        GTHMD responsável pela memória. Articular com GT

          v.        Educação: Articular com GTPE e CONEDEPdebate sobre Novo Ensino Médio.

 

 
Terça, 05 Setembro 2023 17:01

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*

 

Já estamos no TEMPO DA CRIAÇÃO, de 01 de Setembro a 04 de Outubro, 34 dias para refletirmos sobre o que está acontecendo com a NOSSA CASA COMUM, que está sendo IMPIEDOSA, INESCRUPULOSA e IRRACIONALMENTE destruída pela ganância humana, de uns poucos que não se importam com os danos, os crimes ambientais e PECADOS ECOLÓGICOS que estão sendo cometidos diuturnamente e com o FUTURO que vamos deixar para as próximas gerações.

Neste TEMPO DA CRIAÇÃO, precisamos muito mais do que APENAS nossas ORAÇÕES, nossas rezas, nossas súplicas `as DIVINDADES ou ao NOSSO CRIADOR, precisamos urgentemente também de AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE verdadeiras, cuidarmos de nosso clima, de combater o desmatamento e as queimadas, o uso abusivo de agrotóxicos que estão envenenando a terra, o ar, as águas e os nossos alimentos, a grilagem de terras públicas, as invasões dos territórios indígenas, a mineração e os garimpos ilegais que destroem a biodiversidade e as águas, matam os peixes e destorem as culturas milenares, como aconteceu com o povo Yanomami e tantos outros que já desapareceram neste Brasil imenso, vítimas de verdadeiro genocídio.

Nossos rios, nossos córregos, lagos e lagoas estão morrendo em meio `a poluição urbana, por falta de saneamento básico que os estão transformando em imensas lixeiras e grandes esgotos a céu aberto, como os Rios Tietê em SP e o Cuiabá, em Mato Grosso; nossas nascentes estão sendo destruídas afetando as águas que estão sendo privatizadas, para uso comercial e pela construção de grandes empreendimentos hidrelétricos ou as famigeradas PCHs – Pequenas Centrais Hidrelétricas que  acabam com os recursos pesqueiros e condenam ribeirinhos, povos indígenas  e pescadores artesanais `a pobreza, exclusão, miséria e dependência de programas assistencialistas e da caridade pública.

Precisamos substituir os paradigmas que alimentam a economia da morte por uma nova economia que promove e preserva a vida, a solidariedade, o bem comum, o bem viver dos povos, enfim, que possamos ajudar reconstruir a TERRA SEM MALES, sem violência, sem ganância, sem exclusões e sem preconceito.

Precisamos promover a MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, denunciando todas as práticas que atentam contra a natureza, contra a SAÚDE DO PLANETA, contra a nossa Casa Comum, que apontem para políticas econômicas, sociais, demográficas que incluam pessoas, grupos e instituições na busca de um país e uma sociedade economicamente forte e justa; politicamente integrada, transparente e participativa, socialmente solidária e igualitária e ambientalmente sustentável de verdade.

Neste contexto e nesta TEMPO DA CRIAÇÃO, temos algumas celebrações importantes que não podemos deixar passar em branco sem que façamos ou estimulemos ações de sustentabilidade concretas e PRINCIPALMENTE mobilizações proféticas, como o Grito dos Excluídos e Excluídas que neste ano está comemorando 29 anos, buscando despertar a consciência socioambiental, política e ecológica tanto entre cristãos (católicos e evangélicos) quanto também entre não cristãos. Afinal, independente de nossas convicções religiosas, de nossas ideologias ou filosofias, preferências políticas ou partidárias ou classe social, a destruição do meio ambiente em qualquer parte, em qualquer bioma afeta o presente e o futuro do planeta.

Neste 05 de DEZEMBRO de 2023, estaremos “comemorando” mais um DIA DA AMAZÔNIA, um dos biomas mais importantes para a saúde do planeta e para o clima mundial,  um dos ou talvez o ecossistema que mais tem sofrido agressões e degradação ambiental nas últimas cinco ou seis décadas.

Somos e seremos cobrados pelas nossas ações e omissões, que, pelo menos para os cristãos católicos é um PECADO, neste caso PECADO ECOLÓGICO e isto nos obriga a refletirmos de uma forma crítica e agirmos de uma forma sociotransformadora!

Compartilho com vocês quatro vídeos musicados que falam de uma maneira direta sobre esta realidade que representa 59% do território brasileiro, que é a AMAZÔNIA e que precisa estar no centro da agenda pública e também nas preocupações de todas as pessoas que sonham com um país e um mundo melhor!

Defender a Amazônia é lutar contra a sua destruição, é lutar contra o descaso como esta vasta região, este Bioma tem sido tratado por sucessivos governos em todos os países que compartilham a Pan Amazônia em seus territórios, inclusive o Brasil; defender a Amazônia é defender uma das mais sublimes OBRAS DA CRIAÇÃO, objeto das celebrações oficiais de inúmeras Igrejas e religiões, principalmente das cristãs.

Ouça e compartilhe esses vídeos eles ajudam no despertar da consciência ecológica e a respeitar as culturas e tradições ancestrais, que fazem parte do CUIDADO E RESPEITO COM A CRIAÇÃO, a partir de cada realidade concreta!

Vídeos musicais:

Pan-Amazônia Ancestral (Sínodo da Amazônia) 2019 Antonio Cardoso  https://youtu.be/Jb5u7G2t2k8
Alok on Global Citzen Live Amazon (Amazônia) 2021 https://youtu.be/3GlGj6j3SFU
Canção para a Amazônia #300 Música Nando Reis e Carlos Rennó e participação de vários cantores e cantores de expressão nacional bem conhecidos/conhecidas https://youtu.be/j6Vh7po0uVE
Alok com os indigenas Tikuna Apresentação 2023 https://youtu.be/EsEaSsaJ6Nk

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Quinta, 31 Agosto 2023 17:26

 

 
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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 

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Juacy da Silva*

 

“Além do desmatamento, 38% da floresta amazônica é afetada por outras formas de degradação ambiental” Título de reportagem da BBC Brasil, em 16 de Janeiro de 2023. Isto, no caso da Amazônia legal significa uma área de 2,104 milhões de km ou 201.400 milhões de ha, incluindo áreas usadas por atividades agrícolas, pecuária, florestal e, também, áreas já desmatadas e que estão degradadas.

Matéria veiculada no Jornal El País em 10 de setembro de 2020 destacava que “A Amazônia degradada já é maior que a desmatada A área de selva alterada por extração de madeira ou fogo superou a desmatada nas últimas décadas”.

Segundo estudo publicado na revista Science, entre 1992 e 2014 desapareceram 308.311 km². Os autores do estudo estimam que a porção da floresta amazônica degradada já superou os 337.000 km². Ou seja, a superfície empobrecida excede a afetada pelo desmatamento. E se este provoca o desaparecimento da floresta e de todas as funções associadas, o empobrecimento também tem suas consequências: liberação de gases do efeito estufa, alteração do equilíbrio da água e dos nutrientes, queda da biodiversidade e surgimento de doenças infecciosas.

 Se considerarmos que nos 7 anos dos governos Temer e Bolsonaro, tendo em vista o sucateamento da política ambiental, ocorreu um avanço na destruição e degradação ambientais no Brasil, principalmente na Amazônia Legal, a realidade deste processo  é muito maior e mais grave do que em 2014, cujos danos ecológicos são irreversíveis.

Celebrar o DIA DA AMAZÔNIA é fundamental para que compreendamos que destrui-la, degradá-la ou explorá-la de forma insensata e irracional como está acontecendo atualmente, afeta não apenas os países que fazem parte da Pan-Amazônia, mas o Planeta Terra por inteiro, afinal, sempre é bom relembrarmos o que nos diz a Laudato Si (Papa Francisco) “tudo está interligado, nesta Casa Comum” e também o que nos exortou Victor Hugo há séculos quando disse “É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”.

Tempo da Criação significa que, além de orarmos, rezarmos pelo cuidado e pela saúde do planeta que está extremamente doente, é também, tempo de escutarmos mais atentamente a voz da natureza que nos pede desesperadamente socorro!

Neste 05 de Setembro, vamos ouvir com a devida atenção e respeito o que a Amazônia está querendo nos dizer, antes que seja tarde demais!

Estamos iniciando o TEMPO DA CRIAÇÃO, que vai de 01 de Setembro ate 04 de Outubro próximo, que será o Dia de São Francisco de Assis, o Dia da Ecologia, o Dia da Natureza e o Dia dos animais.

O Tempo da Criação é, na verdade, um tempo de ORAÇÃO, mas não apenas de oração pelo Cuidado com as obras da Criação, mas, também , como enfatiza a Coordenação mundial do MOVIMENTO LAUDATO SI, um TEMPO para AÇÕES DE SUSTENTABILIDADE e mais do que nunca, um Tempo de MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA, tempo de denunciarmos as Injustiças socioambientais e climáticas, a degradação dos biomas e ecossistemas e todas as crises socioambientais geradas pela irracionalidade humana.

Este Tempo da Criação é, na verdade um momento de refletirmos sobre os paradigmas dos atuais modelos econômicos, políticos e sociais que estimulam a economia da morte, do consumismo desenfreado, do desperdício e do descarte.

Este é o tempo para refletirmos e lutarmos por uma economia solidária, uma economia verdade, por  uma economia realmente sustentável, é o tempo de buscarmos “realmar a economia”, darmos corpo e forma `a Economia de Francisco e Clara, como tem enfatizado o Papa Francisco em suas constantes exortações, inclusive na segunda parte da Laudato Si que está elaborando e, em breve, deverá ser publicada.

Tempo da criação é também TEMPO DE CONVERSÃO ECOLÓGICA, tempo de reconhecermos que além dos crimes ambientais praticados diuturnamente, esta destruição insensata da natureza é também PECADO ECOLÓGICO, cometido por muitas pessoas que se dizem cristãos e que diante das catástrofes, como secas, tempestades, furacões e outros desastres naturais, em cujas causas estão as ações humanas, imploram aos deuses e aos céus por milagres ambientais!

Exatamente neste TEMPO DE CRIAÇÃO, no Brasil temos algumas datas importantes que já constam do Calendário das celebrações ambientais ou da ECOLOGIA INTEGRAL, a exemplo de 05 de Setembro que é o DIA DA AMAZÔNIA e 11 de Setembro que é o DIA DO CERRADO, outro bioma tão ou mais em processo acelerado de degradação e destruição do que a própria Amazônia.

Como cristãos (católicos ou evangélicos) ou mesmo não  cristãos, precisamos ter a consciência de que somos “cidadãos e cidadãs” do mundo e, como nacionais, somos também contribuintes, consumidores, produtores de bens e serviços e eleitores.

Diante disso, não podemos apenas professar uma fé abstrata, desligada da realidade temporal e terrena em que vivemos, de forma alienada e alienadora, mas, sim, assumirmos nossos compromissos com o bem comum, com o bem viver dos povos, com a solidariedade, com a sustentabilidade, com a justiça, inclusive coma Justiça social, Justiça ambiental/climática e a Justiça intergeracional, e isso tudo nos obriga a zelarmos pela natureza e não destrui-la ignorando os limites do planeta em que vivemos e que a cada dia está mais ameaçado pelas nossas ações irracionais e imediatistas.

Assim, já neste início do TEMPO DA CRIAÇÃO, além de nossas orações pela SAÚDE DO PLANETA, precisamos refletir sobre o que está acontecendo na Amazônia Legal, da qual fazem parte os Estados de Mato Grosso, Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará,  parte do Maranhão e o Tocantins.

Existem inúmeros problemas e desafios que afetam o Bioma Amazônia, tanto no Brasil quanto nos demais países que têm parte da Amazônia em seus territórios, incluindo: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.

Mesmo que em termos geopolíticos cada país exerce sua soberania nacional sobre todo o seu território, cabe-nos entender que a PAN AMAZÔNIA, como um bioma ou ecossistema único, tem uma dinâmica ecológica e sociocultural e demográfica que extrapola as fronteiras nacionais.

As repercussões da destruição da biodiversidade, do desmatamento, da poluição decorrente das queimadas ou dos processos de uso e ocupação do solo de forma intensa, ouso e abuso de agrotóxicos, o aumento constante de áreas degradadas, a grilagem de terras, o contrabando de madeira, minério, principalmente ouro e outros minerais estratégicos, a contaminação dos rios pela mineração e pelos garimpos ilegais, a extinção de povos e culturas primitivas (povos indígenas), tradicionais/quilombolas e ribeirinhos, além da alteração do regime de chuvas e o equilíbrio do clima, tudo isso produz diversas consequências políticas, econômicas, sociais, culturais e demográficas, que extrapolam o conceito de soberania  nacional.

A área da Pan Amazônia, que abrange parte dos territórios do Brasil e de outros países e territórios sul americanos é de 7,8 milhões de ha, cabendo ao Brasil 67,8% deste imenso bioma, ou seja a Amazônia legal (brasileira) tem 5,3 milhões de ha, e representa 59% do território brasileiro,  demonstra a importância desta imensa região, tanto para o Brasil quanto para a América do Sul e para o mundo.

A Amazônia Legal foi criada pela Lei 1806/53, durante o Governo Getúlio Vargas, em 05 de Janeiro de 1953, há pouco mais de 70 anos, quando foram estabelecidos diversos parâmetros para o desenvolvimento e integração desta vasta região do território brasileiro.

Ao longo dessas sete décadas diversos programas e projetos foram criados e extintos, inúmeras obras públicas, principalmente rodovias foram implementadas facilitando tanto as migrações internas no Brasil, rumo `a Amazônia Legal quanto abrindo, também, oportunidades para aventureiros que ao longo deste tempo vem destruindo, degradando e malbaratando os recursos naturais da região.

A questão amazônica tem estado no centro dos debates tanto em fóruns nacionais quanto internacionais, gerado inúmeras polêmicas e conflitos quanto ao presente e, principalmente, ao futuro desta região.

Em relatório recente a ONG WWF-Brasil destaca uma lista de aspectos relevantes, problemas e desafios que estão presentes na Amazônia, principalmente na Amazônia Legal, entre os quais mencionamos: 1) manejo florestal e a valorização dos usos das florestas, ou seja, a floresta em pé tem mais valor do que quando destruída; 2) unidades de conservação que precisam ser melhor gerenciadas e protegidas; 3) geração de energia, impacto das grandes barragens e também os danos de centenas/milhares de PCHs que afetam os rios e a população ribeirinha da região; 4) grandes empreendimentos, tanto agropecuários quando obras publicas rodoviárias e ferroviárias, cujos impactos socioambientais nem sempre são considerados; 5) desmatamento (e, a meu ver também as queimadas) e a degradação florestal; 6) pagamento por serviços ambientais (PSA), vínculo disso com o mercado de carbono, em processo de regulação no Brasil; 7) mineração (e, também em meu entendimento, garimpos ilegais), cujos impactos ambientais também nem sempre são devidamente considerados; 9) pecuária extensiva e de baixa produtividade, tendo em vista que aproximadamente 70% das áreas desmatadas acabam sendo utilizadas para pecuária e também tem se transformadas em áreas improdutivas, degradadas.

Além desses desafios/problemas, em meu entendimento, podemos também acrescentar outros como: 1) grilagem impune de terras públicas; 2) invasões constantes de territórios indígenas, afetando tais comunidades, verdadeiros genocídios e violência como o ocorrido com o povo yanomami; 3) violência contra indígenas, posseiros, ribeirinhos e agricultores familiares, principalmente de suas lideranças;  4) extração ilegal de madeira, contrabando e descaminho; 5) presença do narcotráfico, que gera uma insegurança constante e permanente; 6) trabalho semiescravo e migrações internas; 7) favelização dos centros urbanos, com aumento da pobreza, da miséria e da exclusão socioeconômica e política.

Percebendo que os desafios presentes na Amazônia não se limitam aos territórios nacionais, “os oito países amazônicos assinaram o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), em 03 de julho de 1978, com o objetivo de promover o desenvolvimento harmônico dos territórios amazônicos, de maneira que as ações conjuntas gerem resultados equitativos e mutuamente benéficos para alcançar o desenvolvimento sustentável da Região Amazônica. Como parte do Tratado, os Países Membros assumiram o compromisso comum para a preservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais da Amazônia”.

Há poucas semanas representantes dos países que integram o Tratado de Cooperação Amazônica reuniram-se em Belém, para tentar resgatar aspectos relevantes que haviam sido discutidos na última reunião realizada há 14 anos , em 2009. Durante os 45 anos de vigência do TCA esta foi a quarta reunião formal entre chefes de Governo e de Estado.

Como sempre acontece nessas reuniões internacionais, muitos discursos, boa parte demagógicos e poucos compromissos efetivos acabam sendo concretizados, tendo em vista que cada país é soberano para definir suas políticas públicas, seus programas e projetos que afetam, positiva ou negativamente os aspectos socioambientais.

Enquanto isso, resta-nos seguir lutando para que esses tratados internacionais e os compromissos assumidos pelos governos nacionais sejam devidamente cumpridos, para que não passem de belas intenções e lindas palavras!

Esta luta é o que o movimento Laudato Si denomina de Ações de sustentabilidade e MOBILIZAÇÃO PROFÉTICA. Juntos, podemos avançar cada dia um pouco a mais, separados, omissos ou coniventes seremos também responsáveis pela destruição e pela degradação da Amazônia.

Reflita sobre tudo isso neste DIA DA AMAZÔNIA 2023!

 

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, Articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy