Quinta, 14 Dezembro 2023 14:23

 


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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

Finalmente a COP28, mais uma Conferência do Clima terminou, depois de quase duas semanas de muita “pompa e circunstâncias”, debates e articulações entre países, grupos empresariais, militantes ambientalistas, cientistas e, a cada COP em maior número, de “lobistas” de países e companhias que tem na produção de combustíveis fósseis, principalmente do petróleo (a principal fonte de emissão de gases de efeito estufa), além de mineradores, desmatadores, fabricantes de agrotóxicos e também do agronegócio, as grandes “tradings” que não abrem mão de poderem continuar destruindo o planeta em nome da segurança energética, da segurança alimentar, do desenvolvimento e da soberania nacional, parece que ignorando que vivemos de forma integrada, interligada em um mesmo planeta.

Muita gente imagina que os resultados dessas conferências, dos acordos do clima, dos tratados internacionais como de Kyoto e de Paris e tantos outros, como os que garantem a defesa da biodiversidade, que não devemos poluir e degradar os solos, as águas, o ar; ou que os países e os empresários irão parar com o desmatamento das últimas florestas que ainda restam no planeta, que iremos presenciar uma revolução rápida e imediata nas matrizes energética e elétrica no planeta a partir de uma transição energética que deverá abandonar os combustíveis fósseis, sujos , que apenas em 2022 recebeu como incentivos a bagatela de US$ 7 (SETE) TRILHÕES DE DÓLARES de subsídios no mundo inteiro e, nada menos do que R$80,9 bilhões de subsídios a esses combustíveis altamente poluente no Brasil. Mera ilusão.

Basta olharmos pelo retrovisor e tomarmos como ponto de referência o ano de 1972, quando aconteceu em Estocolmo, Suécia, a 1ª Conferência Mundial do Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, que pode ser considerado o primeiro e grande alerta mundial, sob os auspícios da ONU, quanto ao “nosso futuro comum”, publicação da Comissão Especial da ONU que examinou a questão ambiental e, indiretamente, as consequências que a falta de cuidado com a ecologia integral, principalmente com o aquecimento global, as mudanças climáticas, na verdade, a CRISE CLIMÁTICA  e o que agora tem enfatizado António Guterrez, Secretário Geral da ONU que tem afirmado com todas as letras e com uma clareza cristalina “estamos, na verdade, diante de uma grave urgência climática, de um desastre sem proporção anunciado”, diante da insensatez humana, tanto de governantes, quanto de empresário, consumidores, trabalhadores, enfim, da população em geral.

Além desses marcos nos discussões e reflexões sobre a grave crise ambiental que está afetando o presente e o futuro do planeta, podemos também mencionar a ECO92, a Rio Mais 20 e todas as 27 Conferências do Clima que antecederam a COP28, além das diversas décadas aprovadas pela ONU e os diversos tratados sobre diferentes aspectos visando maiores cuidados com a natureza e o planeta.

Cabe mencionar de forma bem sintética que nesta caminhada em 1968, um grupo de 30 cientistas e estudiosos, de dez países e de diferentes setores, sob os auspícios do Clube de Roma, durante como economia, geopolítica, indústria, educação, receberam o desafio de analisar a relação entre crescimento da população, crescimento econômico e a capacidade de a natureza prover insumos e matérias primas para manter e melhorar o nível de vida , ou seja, qual o futuro da humanidade.

A conclusão desses estudos gerou muita discussão, porquanto o título do Relatório “OS LIMITES DO CRESCIMENTO”, indicava que o planeta tem um limite além do qual entra em colapso, ou seja, se todos os países e a população mundial cada vez maior conseguir atingir o mesmo nível de consumo, de bem estar e nível de vida como o que vigorava na Europa e nos demais países desenvolvidos de então, o Planeta, a Natureza não teria condições de suprir tais demandas.

Passados 50 anos desses marcos de reflexão sobre o futuro do planeta e a questão socioambiental, nos deparamos com um aquecimento global acelerado, com mudanças climáticas que geram uma crise climática e urgência climática que podem colocar em risco a sobrevivência humana no planeta terra.

Em princípio, seria este o desafio que vem sendo enfrentado pelos países e pelo mundo há meio século, sem muitas perspectivas de mudança de rumo, como tem enfatizado o Papa Francisco quando advoga a mudança radical de paradigmas dos atuais modelos econômicos, fundados no lucro, na exploração irracional dos recursos naturais, no consumismo e no desperdício.

Diante disso, a proposta é por uma nova economia, denominada de Economia de Francisco e Clara que também é considerada como a Economia da Vida em substituição aos atuais modelos que representam a Economia da morte.

Para entendermos a gravidade e a urgência que a crise climática impõe `a humanidade como um todo, basta compararmos alguns aspectos da realidade entre 1972 e 2022, onde diversos fatores pressionam pelo uso cada vez mais intensivo e perdulário dos recursos naturais e a falta de vontade política e econômica em mudar os modelos de “desenvolvimento” ou de crescimento econômico e percebermos que existe um limite, uma capacidade máxima que o planeta pode suportar antes que entre em um grande colapso, cujos prenúncios já estamos sentido em, praticamente, todos os países, inclusive no Brasil.

São eventos gravíssimos que os temos denominado de “desastres naturais”, mas que na verdade são, a quase totalidade dos mesmos, provocados pelas ações humanas, consideradas nada racionais e totalmente insanas. Falta-nos a capacidade e enxergar além de nossos próprios umbigos, abandonarmos uma euforia enganosa, como a que alimenta a sanha destruidora das florestas tropicais , como a Amazônia, ou outros biomas como o Cerrado brasileiro ou os seus homônimos nos continentes africano e asiático, que no afã de “alimentar o mundo”, na verdade estamos destruindo e poluindo tudo: solos, água e o ar, sem refletirmos que após as atuais gerações outras tantos advirão e que deverão herdar um planeta totalmente sucateado. Esta euforia impede-nos de refletirmos sobre a justiça social, sobre a justiça climática e sobre a Justiça intergeracional.

Voltemos à reflexão sobre como o mundo tem mudado ao longo desses últimos 50 anos, ou na verdade, se tomarmos a COP28, nada menos do que 51 anos: de 1972 até 2022 ou já neste limiar de um novo ano (2023 – 2024).

Em 1972 o mundo contava com 3,8 bilhões de pessoas e em 2022 nada menos do que 8,1 bilhões, um aumento populacional de 113,2% no período; a população urbana em 1972 era de “apenas” 1,4 bilhões de habitantes ou 37% da população total, já em 2022 atingimos 4,8 bilhões de pessoas vivendo nas cidades, ou seja, 59% da população total. E essas duas tendências deverão estar presentes pelas próximas décadas, aumentando a gravidade desses desafios.

O PIB (produto interno bruto) nominal, mundial em 1972 era de US$3,9 trilhões de dólares e em 2022 foi de 101,8 trilhões, um crescimento de 242,9% no período e em 2023  a previsão é que o PIB mundial deverá atingir US$112,2 trilhões de dólares.

Quanto à renda per capita é preciso ter um certo cuidado ao ser utilizado, tendo em vista que este indicador mascara a realidade da concentração de renda tanto em termos mundiais, pois sabemos que os 10 ou mesmo os 20 países com as maiores economias do mundo concentram quase 80% da economia e da poluição/degradação do planeta e também a concentração de renda em termos sociais, onde a parcela de 1% ou 2% da população mundial, principalmente os chamados super ricos (bilionários) concentram em torno de até o dobro da renda total dos 50% mais pobres dos habitantes do globo terrestre.

Esses três aspectos ou parâmetros, ou seja: o crescimento total da população mundial, o crescimento ainda mais acelerado da população urbana e o aumento da renda per capita mundial, tem uma implicação muito profunda em relação `a pressão que isto representa para o meio ambiente tendo em vista as necessidades e aspirações da população, principalmente as camadas mais aquinhoadas com renda, quanto ao consumo de bens e serviços, incluindo, alimentação, habitação, transporte, logística, energia, matérias primas e insumos para o setor produtivo, principalmente a indústria.

Apenas um exemplo, em 1972 a produção mundial de veículos automotores era de “apenas” 15 milhões de unidades anualmente e ao longo do tempo foi aumentando tendo atingido 85 milhões de unidades em 2022. Neste perído, de meio século foram produzidos 2,8 bilhões de veículos automotores, o que dá uma boa idéia no nível de poluição do ar e emissões de bilhões de toneladas de gases de efeito estufa e suas consequências. O mesmo acontece com os voos aéreos, também altamente poluidores que tem aumentado mais de 400% no mesmo período.

Calcula-se que atualmente a frota de veículos automotores circulando no mundo seja na ordem de 1,48 bilhões de unidades, sendo que nos EUA, o segundo país que mais polui o planeta, só perdendo para China, existem 280 milhões de veículos, vindo em segundo lugar a Europa e em terceiro a Ásia, com destaque para a participação da China e do Japão que, somados, representam mais de 50% de toda a frota existente na Ásia.

Quando falamos em indústria automobilística não podemos ignorar que todos os demais setores, principalmente a produção de energia é, de longe o maior desafio que a COP28 deveria ter encarado, tendo como dimensão geopolítica a questão da transição energética, deixando para traz os combustíveis fósseis e avançando para o uso, cada vez de forma mais acelerada e para a produção de energia de fontes renováveis, principalmente a energia solar, biomassa e eólica.

Quando comparamos a composição da matriz energética mundial e a participação dos combustíveis fósseis na mesma, em 1972 era de 87,4% e “caiu” apenas 7,4% em meio século, sendo que em 2022 essa participação era ainda de 80%. Ou seja, a média de redução dos combustíveis fósseis na matriz energética anual foi de apenas 0,148% demonstrando que praticamente nada mudou em 50 anos.

Se imaginarmos que esta participação precisa chegar a no máximo 30% do total das fontes energéticas, no ritmo que aconteceu até agora e diante do que consta do documento final da COP 28, onde apenas constou a ideia vaga de que o mundo precisa abandonar os combustíveis fósseis, sem estabelecer metas e prazos concretos, repetindo, no ritmo atual e diante da pressão dos países produtores e grandes consumidores de combustíveis fósseis, seriam necessários 338 anos, para que o mundo fizesse uma real transição energética.

Até lá, com certeza a temperatura média do planeta deverá exceder em muito a meta estabelecida pelo Acordo de Paris e outros acordos posteriores, que seria de 1,5º acima da média do período do início da industrialização, superando também em muito o limite de segurança para vida na terra que seriam 2º ou 2,5º graus centígrados.

Outro aspecto em que a COP28 frustrou o mundo todo foi em relação ao financiamento para que a crise climática e o aquecimento global sejam combatidos, responsabilidade maior dos países que mais poluem, para contribuir com os países que menos ou praticamente pouco emitem em termos de gases de efeito estufa, mas que sofrem as consequências da crise climática tanto em termos econômicos, quanto demográficos, sociais e humanos.

Os países do G20 bem como outros da Europa que, mesmo não participando do G20,  historicamente, por terem experimentado a revolução industrial há mais tempo, também são responsáveis por trilhões de toneladas de gases de efeito estufa que estão “presos” na atmosfera terrestre e que, juntamente, com ainda bilhões de toneladas que são emitidas atualmente todos os anos, são os maiores responsáveis pela catástrofe anunciada, via crise climática e emergência climática. São esses os países que deverão “financiar” o chamado “Fundo Climático de perdas e danos” aprovado na COP 28 e que foi motivo de muita euforia por parte de alguns setores, mas que de fato não passa de uma mera esmola por parte dos maiores poluidores do planeta.

O valor informado deste fundo, destinado a compensar os países pobres pelas perdas e danos climáticos será de US$420 milhões de dólares, importância que não cobre sequer 0,2% das necessidades reais para este enfrentamento.

Ao mesmo tempo os subsídios concedidos aos combustíveis fósseis, tanto a produtores quanto consumidores, em 2022 foi na ordem de US$7 trilhões de dólares, sendo que os EUA, segundo maior poluidor do planeta o valor dos subsídios aos combustíveis fósseis também em 2022 foi de US$ UM TRILHÃO de dólares e o compromisso deste grande poluidor ao fundo será a importância de apenas US$17,5 milhões, o que equivale a 0,00002%, ou seja, praticamente NADA.

Mesmo o Brasil que figura entre os dez maiores poluidores do planeta e o que mais gases de efeito estufa emite oriundos do desmatamento, das queimadas em todos os biomas, da produção agropecuária, além de também ser um grande poluidor principalmente do setor de logística e transporte e também da indústria e que fica o tempo todo de pires na mão junto aos países considerados ricos, principalmente para “proteger” a Amazônia, em 2022 concedeu mais de RS$80,9 bilhões de reais como  subsídios aos combustíveis fósseis  e no período de 50 anos mais de RS$1,5 trilhões de reais para este setor.

No caso do Brasil, nosso país durante o Governo Bolsonaro ficou marcado como um país em que o cuidado com o meio ambiente e os compromissos assumidos, soberanamente nos Acordos de Kyoto e principalmente de Paris não eram honrados e sofremos muitas críticas e pressões internacionais por isso.

Mesmo no atual governo, em que pese um discurso ambientalista, em defesa do meio ambiente, da preservação da Amazônia e na redução da dependência dos combustíveis fósseis que tem sido feito por Lula, principalmente nos fóruns internacionais, parece que este discurso continua ainda bem distante da realidade.

Durante  a COP28, Lula e o Ministro de Minas e Energia anunciaram aos quatro cantos do mundo que o Brasil estaria aderindo ao cartel petroleiro da OPEP, como “observador”. Isto foi motivo de duras críticas não apenas por parte de ambientalistas internacionais mas também aqui em nosso pais.

Outra contradição é a pressão exercida pelo Governo Lula sobre o Ministério do Meio Ambiente e do Clima, no caso sobre o IBAMA em relação `a possibilidade de a Petrobrás fazer prospectivas e explorar petróleo na Foz do Rio Amazonas e no Delta do Parnaíba.

E no momento, ao final da COP 28, novamente o Brasil se posiciona na contra mão do abandono dos combustíveis fósseis, principalmente do petróleo ao extinguir ou reduzir drasticamente as tarifas preferenciais sobre importação de painéis solares, que eram e são um incentivo para o desenvolvimento da energia solar,  enquanto os subsídios tanto aos combustíveis fósseis quanto ao agro continuam mantidos e contribuem para a degradação ambiental, neste último exemplo via desmatamento, queimadas, erosão, destruição de nascentes e também poluição por agrotóxicos.

Enfim, mais uma COP – Conferência do Clima chega ao final, principalmente esta COP28 que teve como país anfitrião os Emirados Árabes, um grande produtor de Petróleo e seu presidente nada menos do que o CEO (dirigente máximo) da Companhia Petrolífera daquele país, o que explica o fato de que esta foi a COP com o maior número de lobista da indústria de petróleo e dos demais combustíveis fósseis, bem como do agronegócio e da indústria de proteína animal e da mineração jamais visto anteriormente, razão pela qual, mesmo em sendo um acordo muito tímido o documento final da COP, tudo leva a crer que não passará de uma miragem em um horizonte muito longínquo, enquanto a crise climática e a urgência climática “corre solta”, para a euforia e lucratividade dos grandes poluidores: países e setores econômicos.

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da PEI Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Segunda, 27 Novembro 2023 16:21

 

Venha participar conosco do Mutirão de Restauração do Cerrado no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães no dia 02/12. A ação vai ser realizada na Estrada do Tope de Fita, com entrada no Portão Tope de Fita, no km 51 da Rodovia Estadual MT 251 (Rodovia Emanuel Pinheiro). Junte-se a nós neste sábado 02/12.

O mutirão está sendo organizado pelo ICMBio (Parque Nacional da Chapada dos Guimarães em parceria com o MST e com apoio do Grupo Semente. A ação visa a mobilizar esforços para a restauração do Cerrado e promover o debate e a troca de saberes sobre as práticas de restauração que podem ser aplicadas nas unidades de conservação e em áreas rurais no Cerrado brasileiro.

A parceria para a realização do mutirão surgiu do compromisso do ICMBio em promover a proteção do patrimônio natural, a restauração de áreas degradadas nas unidades de conservação, a integração social e a promoção do desenvolvimento socioambiental e do compromisso do MST em produzir alimentos saudáveis, em promover a agroecologia e a proteção aos bens comuns, como a água, a terra e a biodiversidade, como está previsto no Plano Nacional Plantar Árvores: Produzir Alimentos Saudáveis.

Onde: Portão Tope de Fita. Ao entrar, há uma dstância de 1.500 metros em estrada de terra até o local do mutirão. https://maps.app.goo.gl/DrC13gxvXNyfMxDW8

O que levar: Garrafa para água, protetor solar, chapéu ou boné, roupas leves, calçado fechado, capa de chuva (se possuir) e muita disposição!

Para mais informações, entre em contato:

- Fernando Francisco Xavier , ICMBio: 65 3301 1133
- Devanir, MST: 65 9932-0803

 Juntos, podemos fazer a diferença! Contamos com a sua presença!

 

Fonte: Organização

Segunda, 27 Novembro 2023 15:30

 

 

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Juacy da Silva*

Bom dia, boa tarde, boa noite amigas, amigos, leitoras, leitores, votos de que estejam com saúde, paz, alegria e muitas esperanças de dias melhores a vocês e respectivas famílias.

A crise climática está afetando o mundo todo, independente de fenômenos como La Nina ou El Nino, o fato é que o mundo, o Planeta Terra está sendo degradado, poluído em índices absurdos, destruído em todos os países e também os oceanos , como já disse o Secretário Geral da ONU há algum tempo, que nos mares e oceanos “tem mais lixo, principalmente lixo plástico do que peixes”.

Há meses o Brasil enfrenta diversos desastres ecológicos como chuvas torrenciais, “tornados”, furacões, secas prolongas que afetaram inclusive diversos rios caudalosos da Amazônia, como o Solimões e seus afluentes, algo jamais imaginado há alguns anos; e, para completar esta onda de calor extremo, que bateu recorde em cima de recorde durante vários meses, com mais intensidade na região Centro Oeste, onde a vegetação do cerrado, o chamado “berço das águas” está sendo totalmente destruída, com sérias consequências para as principais bacias hidrográficas do Brasil.

No sentido oposto, as previsões quanto ao clima e temperaturas aqui no Hemisfério Norte, com a chegada do inverno também indicam que tanto na Europa quanto nos EUA e outros países deste hemisfério deverão enfrentar um dos invernos mais rigorosos das últimas décadas.

Aqui na Região Metropolitana de Washington, DC, capital dos EUA aos poucos o frio está chegando, mas por enquanto sem previsão de neve ou com pouca neve, como tem ocorrido há pelo menos cinco ou seis anos, mais uma indicação das mudanças climáticas, que muita gente continua não acreditando.

Nesta semana, na terça e na quarta feira a temperatura por aqui deverá girar entre 3 a 5 graus negativos a mínima e a máxima não deverá superar os 4 graus centigrados. Todavia em outras regiões e Estados como no Colorado, em Indiana, no Michigan há aproximadamente um mês a paisagem já está sempre coberta de neve e a tendência é para chegar a pelo menos 10 a 12 graus centígrados negativos e muita neve, `a medida que o inverno realmente chegue.

Enfim, parece que com essas variações bruscas na temperatura e no clima, aliadas ao agravamento dos fenômenos naturais, boa parte ou talvez a maior parte em decorrência da ação humana que não respeita a ecologia integral e muito menos os limites do planeta tende a deixar como herança para as próximas gerações um planeta em condições extremamente difíceis de vida, ameaçando, inclusive todos os tipos de vida nesta Casa Comum, inclusive a vida humana.

Dentro de poucos dias, na próxima quinta feira, 30 de Novembro até 12 de Dezembro deste ano (2023) estará sendo realizada mais uma Conferência do Clima, a COP28, sob os auspícios e articulação da ONU, com a participação de, praticamente, todos os 193 países e territórios, representados pelas suas Delegações Oficiais, além de milhares de ativistas ambientalistas, empresários, pesquisadores, representantes de Entidades da Sociedade Civil Organizada, líderes religiosos, inclusive o Papa Francisco.

As expectativas é que esta COP28 possa representar um avanço no estabelecimento de compromissos dos países e todos os setores econômicos, para que as soluções de enfrentamento da crise climática e outros desafios ecológicos não fiquem apenas em discursos vagos, demagógicos e estratégia de marketing dos países e grandes conglomerados econômicos e financeiros que, na verdade, são os vilões desses problemas, já que são os maiores poluidores do planeta.

Entre os principais países que mais emitem gases de efeito estufa, que mais poluem os oceanos com lixo plástico, que mais desmatam e promovem queimadas, que mais utilizam combustíveis sujos, oriundos de fontes fósseis (Petróleo, carvão e gás natural) estão: China, EUA, União Europeia, Índia, Rússia, BRASIL, Irã, Canadá e Indonésia. Juntos esses países são responsáveis por quase 80% dessas emissões e outros fatores de degradação do planeta.

Oportunamente, farei outra reflexão sobre a COP28, quais os principais temas em discussão, quais as perspectivas e o que podemos esperar de mais uma Conferência do Clima? Avanços concretos ou apenas protocolos de boas intenções que não passam de letra morta, tendo em vista que a maior parte dos países, como aconteceu com o Brasil durante o Governo Bolsonaro, simplesmente ignoram seus compromissos internacionais assumidos nessas conferências, Tratados e Acordos, como o de Paris em 2015 e fazem vistas grossas para a destruição dos biomas e ecossistemas, “deixando a boiada passar”, ou seja, sucateando os organismos de fiscalização e, direta ou indiretamente, sendo conivente com inúmeras práticas que são caracterizadas e tipificadas como crimes ambientais ou para a Igreja como Pecados Ecológicos.

Além dessas atitudes governamentais, precisamos também reconhecer que falta ainda um despertar verdadeiro por parte da população mundial e brasileira em particular, de uma consciência ambientalista, enfim, uma Conversão Ecológica, como nos exorta o Papa Francisco.
Ainda somos dominados pelo consumismo, pelo desperdício, pelo aumento acelerado da produção de lixo/resíduos sólidos, por aumento constante de emissão de gases de efeito estufa, tanto em termos globais quanto em termos “per capita”.

Isto representa um desafio a mais, além da necessidade dos entes governamentais, nas três esferas de Governo Federal, Estadual e Municipal, quanto no âmbito dos Três Poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e outros Órgãos como Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunais de Contras etc., a assumirem um compromisso mais efetivo no sentido definirem políticas públicas integradas e de longo prazo e que as mesmas sejam implementadas, a população precisa também acordar para a responsabilidade das pessoas individual ou coletivamente quanto `a necessidade de termos uma nova postura , novos paradigmas para reorientar nossas relações com a natureza, nossas relações de trabalho, de produção e de consumo ou como consta a proposta da Economia de Francisco e Clara, a solução para os problemas e desafios ecológicos/ambientais só vão surgir se conseguirmos mudar radicalmente esses paradigmas e também “realmar” a economia mundial e de cada país.

Esses são os desafios e algumas pistas, caminhos que precisamos trilhar com urgência, antes que o Planeta seja totalmente destruído pela insensatez humana!

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em Sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 07 Novembro 2023 10:59

 

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*                  
       

“A crise climática global 5. Por muito que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática impõem-se-nos de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenómenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, seca e outros gemidos da terra que são apenas algumas expressões palpáveis duma doença silenciosa que nos afeta a todos. É verdade que nem todas as catástrofes se podem atribuir à alteração climática global. Mas é possível verificar que certas mudanças climáticas, induzidas pelo homem, aumentam significativamente a probabilidade de fenómenos extremos mais frequentes e mais intensos. Pois, sempre que a temperatura global aumenta 0,5 grau centígrado, sabe-se que aumentam também a intensidade e a frequência de fortes chuvadas e inundações nalgumas áreas, graves secas noutras, de calor extremo nalgumas regiões e fortes nevadas ainda noutras. [4] Se até agora podíamos ter vagas de calor algumas vezes no ano, que aconteceria se a temperatura global aumentasse 1,5 graus centígrados, de que aliás estamos perto? Tais vagas de calor serão muito mais frequentes e mais intensas. Se se superarem os 2 graus, as calotes glaciares da Groenlândia e de grande parte da Antártida derreter-se-ão completamente, [5] com consequências enormes e muito graves para todos.” Papa Francisco, Laudate Deum, 04 Outubro 2023.

Dentro de três semanas, de 30 de Novembro em curso até 12 de Dezembro próximo deverá estar sendo realizada mais uma Conferência do Clima, a COP 28, desta vez em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos e, a expectativa que já está tomando conta em nosso país é para a realização da COP 30 que será no Brasil, em Belém, no Coração da Amazônia.

Precisamos correr contra o tempo para “fazermos” o nosso “dever de casa”, o Brasil a cada dia participa mais e mais como um dos países que mais poluem, geram lixo, principalmente lixo plástico, mais desmatas as florestas, principalmente a floresta amazônica e o Cerrado, o chamado berço das águas, enfim, estamos entre os países que mais contribuem para a destruição socioambiental mundial. Neste sentido, somos vítimas e também algozes desta atrocidade que é a destruição do planeta.

Todos sabemos a gravidade da crise climática, no contexto de um processo global de degradação socioambiental e o que isto representa em termos de ameaças em relação não apenas ao presente, mas principalmente quanto ao nosso futuro comum, ou seja, a destruição dos biomas, dos ecossistemas, mesmo que ocorra em determinados países, como tanto enfatiza o Papa Francisco, por estarmos interligados no mundo todo, humanidade e natureza, todos somos afetados.

Ou seja, se destruirmos a biodiversidade, se continuarmos utilizando combustíveis fósseis, se continuarmos desmatando, provocando/promovendo queimadas das florestas, do cerrado, se continuarmos poluindo o ar, as águas e o solo, se continuarmos com o nosso estilo de vida consumista e perdulário, promovendo o desperdício, que além de usarem recursos naturais não renováveis geram mais lixo/resíduos sólidos, se continuarmos contaminando nossos alimentos com agrotóxico, se continuarmos transformando nossos córregos, rios, lagoas, lagos, mares e oceanos em verdadeiras lixeiras e esgoto a céu aberto, com certeza que estaremos contribuindo para o aumento da produção dos gases de efeito estufa, promovendo mais aquecimento global e o círculo vicioso, na forma de uma espiral crescente, continua, mudanças climáticas, que na verdade ‘e uma GRANDE CRISE CLIMÁTICA e mais desastres naturais afetando bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Por tudo isso, precisamos aprofundar nosso entendimento, nossos conhecimentos e também termos atitudes mais radicais tanto no que concerne `as mudanças de estilo de vida quanto mobilização profética, como forma de pressionarmos nossos governos e governos do mundo todo, bem como os setores empresariais, educacionais, entidades não governamentais e a população em geral para que sejam promovidas mudanças profundas nos sistemas econômicos/produtivos, com também enfatiza o Papa Francisco, abandonarmos os paradigmas que estão na base de uma ECONOMIA DA MORTE e promovermos uma ECONOMIA DA VIDA, consubstanciada na proposta contida na ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA, na agroecologia, na economia solidária e no respeito profundo pela natureza e no uso cada vez mais de fontes renováveis de energia em substituição ao uso de combustíveis fósseis.

Só assim estaremos promovendo a TRANSIÇÃO ENERGÉTICA, a economia (indústria, logística, agricultura e pecuária de baixo carbono), estabelecendo um ponto final no uso de combustíveis fósseis, transformando a matriz energética mundial de forma radical e profunda, o mais rápido que pudermos.

Mas isso tem um preço, para muitos extremamente elevado e para outros razoável quando confrontado com os custos de mitigação dos desastres naturais e da degradação do meio ambiente, e, quanto a quem cabe esta “fatura”, certamente a resposta é que cabe uma parcela mais significativa aos países que historicamente vem poluindo e destruindo o planeta e também os grandes poluidores atuais , países e grandes grupos e setores empresariais dos vários países, que continuam poluindo, degradando o meio ambiente, destruindo a biodiversidade e promovendo, com seus modelos “eco-suicidas”, o aquecimento global, a crise climática e suas consequências.

Novamente, gostaria de transcrever uma exortação do Papa Francisco em relação ao que se espera desta próxima Conferência do Clima, destacando que Ele (o Papa) já anunciou que estará presente na COP 28, nos primeiros dias de Dezembro próximo. “Que se espera da COP28, no Dubai? 53. Os Emirados Árabes Unidos albergarão a próxima Conferência das Partes (COP28). É um país do Golfo Pérsico que se caracteriza como grande exportador de energia fóssil, embora tenha investido muito nas energias renováveis. Entretanto, as companhias petrolíferas e do gás têm a ambição de realizar novos projetos para expandir ainda mais a sua produção. Adotar uma atitude renunciante a respeito da COP28 seria auto lesivo, porque significaria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos da mudança climática. 54. Se temos confiança na capacidade do ser humano transcender os seus pequenos interesses e pensar em grande, não podemos renunciar ao sonho de que a COP28 leve a uma decidida aceleração da transição energética, com compromissos eficazes que possam ser monitorados de forma permanente. Esta Conferência pode ser um ponto de viragem, comprovando que era sério e útil tudo o que se realizou desde 1992; caso contrário, será uma grande desilusão e colocará em risco quanto se pôde alcançar de bom até aqui. As motivações espirituais 61. Aos fiéis católicos, não quero deixar de lhes recordar as motivações que brotam da sua fé. Encorajo os irmãos e irmãs doutras religiões a fazerem o mesmo, porque sabemos que a fé autêntica não só dá força ao coração humano, mas transforma a vida inteira, transfigura os objetivos pessoais, ilumina a relação com os outros e os laços com toda a criação” (Laudate Deum).

Voltarei ao tema objeto do título desta reflexão (Capitalismo Verde ou Ecossocialismo) ou o que alguns estudiosos denominam de ECOLOGIA LIBERTADORA, oportunamente.

Finalmente, gostaria de sugerir a leitura da Exortação Apostólica Laudate Deum, que está intimamente interligada com a Encíclica Laudato Si, publicada em 2015, e também a leitura de uma obra relativamente recente, na verdade uma coletânea de vários estudos,  de diferentes autores e autoras, com 397 páginas, que ajudará, com certeza para uma melhor compreensão deste assunto sempre atual, importante e urgente.
Esta publicação, em espanhol, pode ser “baixada” gratuitamente pelo “link” que ora compartilho com vocês.

Más allá del colonialismo verde
Libreria - CLACSO

https://libreria.clacso.org › publicaci...

 
Más allá del colonialismo verdeJusticia global y geopolítica de las transiciones ecosocialesMiriam Lang. Breno Bringel. Mary Ann Manahan. [Editores/as].

 
*Juacy da Silva, professor aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Terça, 24 Outubro 2023 10:05

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

Já passaram oito anos desde a publicação da carta encíclica Laudato si’, quando quis partilhar com todos vós, irmãs e irmãos do nosso maltratado planeta, a minha profunda preocupação pelo cuidado da nossa casa comum. Mas, com o passar do tempo, dou-me conta de que não estamos a reagir de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe, está-se esboroando e talvez aproximando dum ponto de rutura. Independentemente desta possibilidade, não há dúvida que o impacto da mudança climática prejudicará cada vez mais a vida de muitas pessoas e famílias. Sentiremos os seus efeitos em termos de saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e noutros âmbitos. Trata-se dum problema social global que está intimamente ligado à dignidade da vida humana” (Papa Francisco, Laudate Deum, Exortação Apostólica a todas as pessoas de boa vontade sobre a CRISE CLIMÁTICA , em 04/10/2023)

Mensagem endereçada à Ivete Bussiki Figueiredo sobre a onda de calor em Cuiabá, mas que poderia ser também enviada a inúmeras pessoas em outras cidades e países, principalmente as que se preocupam com os destinos da humanidade, ameaçadas seriamente pela crise climática que se abate sobre o planeta, mas que muita gente, milhões e bilhões de pessoas ao redor do mundo, simplesmente a ignoram.

Bom dia minha cunhada, mesmo aqui de longe nos EUA, com o inverno também se aproximando, com previsão de que este será um dos invernos mais rigorosos das últimas décadas no hemisfério norte, tenho acompanhado com apreensão, esta onda de calor que esta fazendo ai no Brasil, principalmente no Centro Oeste, com destaque para Cuiabá e o restante de Mato Grosso e outros países do hemisfério sul, também uma das temporadas mais quentes das últimas décadas.

O mais grave é que tudo isso já vem sendo anunciado há décadas e a humanidade, principalmente os grandes grupos econômicos, contando com o beneplácito de governos omissos em relação aos cuidados com o meio ambiente e coniventes com tantos crimes ambientais ou o que para a Igreja são “pecados ecológicos”, grupos esses que só enxergam os lucro$$$$ e pouco se importam com o que tudo isso pode acarretar ao planeta, continuam destruindo tudo, com a conivência e a participação de uma população alienada, consumista e perdulária.

O resultado está ai em nossa cara, ondas de calor intensas, ondas de frio e neve também intensas, secas (como esta que está afetando até rios caudalosos da Bacia Amazônica), chuvas torrenciais, secas prolongadas, desertificação, destruição da biodiversidade vegetal e animal e gente sendo afetada com doenças respiratórias e outras mais, decorrentes tanto por este calor infernal, quanto fumaça das queimadas, desmatamento e baixíssima umidade do ar.

Assim, minha cunhada, não basta a gente reclamar contra os termômetros, o pior ainda está por vir, este Verão que ainda nem chegou ai no Brasil e em diversos outros países do hemisfério Sul e o contrário, o inverno que também ainda não chegou no Hemisfério Norte, ainda serão piores nos próximos anos e décadas.

Esta e a herança maldita que as atuais gerações vão deixar para as futuras gerações, UM PLANETA DOENTE, destruído, onde todas as formas de vida, inclusive a vida humana serão afetadas profundamente!

Veja esta informação em matéria divulgada há poucos dias, que confirmam que esta onda de calor só tende a piorar profundamente! “Uma brutal onda de calor se instala no interior da América do Sul, com temperaturas que se aproximam de 47º C e será sentida no Brasil com possibilidade de marcas históricas no Centro-Oeste brasileiro, alerta a MetSul Meteorologia. Máximas de 43º C e 45º C vão ser registradas na Região Centro-Oeste nos próximos dias, com calor extraordinário em parte da região”. Site MetSul Meteorologia – Bolha de calor com quase 47º C na Bolívia avança para o Brasil. Por Estael Sias, 17/10/2023

Mas mesmo diante deste desastre iminente, dessa catástrofe anunciada por cientistas, pesquisadores e ambientalistas no mundo todo nas últimas décadas, ainda nos resta um fio de esperança, desde que governantes, setores empresariais, lideranças da sociedade civil organizada e a população em geral, possam despertar deste sono profundo e alienador e reflitam sobre a urgente necessidade de mudarmos a trajetória e os paradigmas que embasam uma economia que cultua a morte, a destruição da ecologia integral e parem de utilizar combustíveis fósseis, parem de destruir as florestas, parem de poluir os cursos d’água, os córregos, os rios, as nascentes e os oceanos; parem de promoverem a degradação dos solos, e conscientizem-se de que o consumismo e o desperdício são maléficos para o meio ambiente e sejam eliminados de nossos hábitos, que busquemos, realmente, a sustentabilidade ecológica, que lutemos para  que os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, propostos pela ONU há mais de oito anos, com horizonte na Agenda 2030, sirvam de bases, fundamentos para a implementação de políticas públicas, em todos os níveis de governo, que respeitem a ecologia integral/meio ambiente, os  trabalhadores e os consumidores,

Isto é o mínimo que podemos fazer, em lugar de apenas reclamarmos o tempo todo contra as altas ou baixas temperaturas que fazem parte desta terrível crise climática que estamos vivendo e sentindo seus efeitos de forma tão intensa e que tanto sofrimento tem causada `as populações do mundo inteiro e não apenas no Brasil.

Enfim, precisamos de forma urgente lutarmos pela “transição energética” , as quais requerem, exigem mudanças estruturais profundas na economia, na política e em nossas relações com a natureza, como propõe o Papa Francisco ao enfatizar a necessidade de “realmar” a economia, substituindo os atuais modelos de uma economia da morte por novos modelos e paradigmas de uma economia da vida, do bem viver, que é o conteúdo da “Economia de Francisco e Clara”.

O Caminho existe e já está apontado, basta termos a coragem de iniciar a jornada!

*Juacy da Silva, professor titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 
 

 

 

Sexta, 20 Outubro 2023 08:47

 

 

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Juacy da Silva*

 

Amigas e amigos, estamos em meio a mais um novo feriadão no Brasil, mesmo que isto seja um convite para descansarmos, “curtirmos” um pouco mais a família, o lazer; uma “esticada” `a praia ou algum recanto turistico, ou mesmo ficando em casa, precisamos estar atentos/atentas para a realidade da qual, em maior ou menor grau, estamos inseridos/inseridas.

Sei que as catástrofes ecológicas, as guerras e conflitos que sempre estão a gerar sofrimento, tristeza e morte, ajudando os fabricantes e mercadores de armas a terem mais lucros, a chamada economia da morte,  nos são transmitidas diuturnamente pelos mais variados meios de comunicação, precisamos também voltar nossas atenções para outros aspectos desta realidade complicada no mundo todo e em cada país, inclusive o nosso Brasil, de uma forma singular.

Afinal nem só de desgraças, de guerras, conflitos armados, desastres ecológicos, de corrupção e de tanta violência “vive” o mundo, existem outros problemas para voltarmos nossa atenção e refletirmos sobre as possíveis saídas, soluções para todos esses desafios, na tentativa de tornar o mundo mais humano e mais feliz para todos e todas.

Assim, gostaria de destacar alguns dias especiais que tem como objetivo despertar a consciência individual e também coletiva para refletirmos mais profundamente sobre o significado de cada um deles e também a certeza de que somente as nossas ações, tanto individuais quanto e, principalmente, coletivas, comunitárias podem contribuir para a superação desses problemas e desafios, cada qual mais angustiante e complexo do que o outro.

Neste domingo devemos refletir sobre a realidade educacional brasileira e qual a relação da educação com o futuro do trabalho, a valorização dos trabalhadores na educação e também como a educação pode contribuir para enfrentarmos os problemas ambientais, principalmente a crise climática e a degradação dos biomas e ecossistemas, enfim, a destruição do Planeta Terra. Esta é uma ótima oportunidade para esta reflexão, afinal, 15 de Outubro é o DIA DA PROFESSORA E DO PROFESSOR e, também, do EDUCADOR AMBIENTAL.

Já nesta próxima segunda feira, 16 de Outubro, é o DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO, que nos remete a outros temas como fome, insegurança alimentar, distúrbios alimentares, sistemas de produção e o desperdício de alimentos.

Na terça feira, 17 de Outubro, outro tema bem relacionado com a alimentação oferece mais uma oportunidade para aprofundarmos nossas reflexões, por ser O DIA INTERNACIONAL DE ERRADICAÇÃO DA POBREZA, tema, desafio e problema que há muitas décadas vem “chamando” a atenção tanto da ONU e suas agências especializadas como a FAO e a OIT, quanto de organismos nacionais governamentais e não governamentais ao redor do mundo e faz parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, da Agenda 2030.

Este ano (2023) o tema sobre o qual devem girar todas as “celebrações” e reflexões  neste Dia Internacional de Erradicação da Pobreza é “Trabalho decente e proteção social: colocando a dignidade em prática para todos/todas”, ou seja, nesta concepção só através do trabalho, com condições adequadas, proteção social (principalmente previdência social) e salário digno poderemos erradicar realmente a pobreza.

É bom insistir, como se diz, nunca é demais, que a  ERRADICAÇÃO DA POBREZA não será atingida por ações paternalistas, assistencialismo e nem pela caridade, seja dos organismos públicos, pelas diversas igrejas e religiões ou pela compaixão de algumas pessoas. Boa parte dessas ações nada mais são do que a exploração da pobreza e manipulação política e eleitoral dos pobres e excluídos.

Por isso a CARITAS/CNBB enfatiza a existência de três níveis de caridade: a Assistencial/emergencial, que apenas minora, momentaneamente, os efeitos da pobreza, como a fome etc.; o segundo nível é a CARIDADE PROMOCIONAL, que busca melhor qualificar as pessoas pobres e excluídas para que sejam inseridas produtivamente na sociedade, no mercado de trabalho etc. e, finalmente, a CARIDADE LIBERTADORA, que visa mobilizar a sociedade e os organismos públicos, inclusive os setores políticos e econômicos, e os não governamentais para ações realmente sociotransformadoras, que rompam com as estruturas e formas de ação que geram acumulação de renda, riqueza, propriedade em “poucas mãos”, uma minoria e gerando pobreza, miséria e fome para uma imensa maioria em, praticamente, todas as nações e sociedades. Vale recordar que o Brasil é um dos piores países em termos de concentração/distribuição de renda, riqueza, propriedade e oportunidades do mundo.

Sobre este assunto/tema/problema estou “rascunhando” uma reflexão/artigo com um maior detalhamento sobre o mesmo.

Na quinta feira, 19 de Outubro, é a coroação do OUTUBRO ROSA, mês dedicado ao despertar da  consciência coletiva e para as AÇÕES DE PREVENÇÃO DO CÂNCER DE MAMA e do Colo de Útero, tendo como lema “Prevenir é um ato de amor”. Neste sentido, o INCA – Instituto Nacional do Câncer, órgão do Ministério da Saúde, publicou uma Cartilha com o título “Câncer de Mama: Vamos falar sobre isso”.

Esses dois tipos de câncer, desde que identificados em sua fase inicial são perfeitamente tratáveis, curáveis e podem reduzir tanto o sofrimento de milhões de mulheres mundo afora e também no Brasil, inclusive reduzindo a mortalidade decorrente das mesmas. Para tanto a prevenção é FUNDAMENTAL e, neste sentido, precisamos romper com falta de atendimento `as mulheres pobres, principalmente as mulheres negras, as mais excluídas, dentre a população pobre e excluída.

Na sexta feira, 20 de Outubro é o DIA MUNDIAL DE COMBATE AO BULLYING, um problema sério que a cada dia vem aumentando, causando problemas e até sérias consequências, inclusive depressão e suicídios, principalmente em , adolescentes e jovens.

Por isso, é fundamental que este assunto/problema seja discutido, refletido tanto nas famílias, quanto outros setores da sociedade, principalmente nos estabelecimentos escolares. Bullying é coisa séria, um desrespeito `a dignidade das pessoas e não uma mera brincadeira, como alguns imaginam, e, por isso não pode ser tolerado jamais.

No Sábado, 21 de OUTUBRO é o DIA DO ECUMENISMO e do DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO. Ao longo da história a intolerância e o fanatismo religioso, que remontam a milênios e chegam até a atualidade tem gerado perseguições, conflitos, guerras, muito sofrimento e mortes.

Se desejamos a paz e todas as religiões assim o dizem, enfatizando que todos/todas pertencemos a uma única raça, que é a RAÇA HUMANA, para sermos realmente irmãos e irmãs, precisamos cultivar a fraternidade, a solidariedade, a tolerância e aprendermos a aceitar as diferenças em geral, inclusive as religiosas.

Com poucas exceções, a grande maioria dos países e o Brasil está incluído entre esses, as Constituições Nacionais e boa parte do ordenamento jurídico garantem a liberdade de culto, de religião, exigindo apenas que todos respeitem este dispositivo.

Conforme o “site” Significados, O termo ecumenismo teve origem no grego “oikoumene” que significava “o mundo civilizado”. Na Bíblia a palavra oikoumene é traduzida como “todo” e “universal”.

Neste sentido “Ecumenismo é a busca  da unidade das igrejas cristãsunidade entre todas as igrejas É um processo de entendimento que reconhece e respeita a diversidade entre as igrejas. A ideia de ecumenismo é exatamente reunir o mundo cristão. Na prática, porém, o movimento compreende diversas religiões inclusive aquelas não cristãs”. Ao incluir religiões não cristãos, a ideia do ecumenismo fica bem mais ampla e passa a ser “Diálogo inter-religioso”.

Existem muitas ações que fazem parte da “pauta” do ecumenismo e do Diálogo Inter-religiso, como as questões da Ecologia integral; da cultura e da busca da paz; da construção de sociedades e um mundo com justiça, equidade, tolerância e mais solidariedade. Não se trata, portanto, de um movimento que visa abolir ou destruir as bases doutrinárias ou teológicas das diversas religiões e igrejas, mas sim, identificar o que unem as mesmas e trabalharem em conjunto para um mundo melhor, respeitando as doutrinas e postulados teológicos das várias religiões.

Finalmente, no próximo domingo, 22 de Outubro estará sendo celebrado o 97º DIA MUNDIAL DAS MISSÕES, criado por Pio XI que, logo após ter sido eleito como Papa, fortaleceu as Pontifícias Obras Missionárias, tendo promovido no Vaticano uma Exposição Missionária Mundial em 1925 e no ano de 1926 publicou a Encíclica “Rerum Ecclesia” e criou o Dia Mundial das Missões, cuja primeira celebração aconteceu em 1927.

Em 06 de Janeiro deste ano (2023) o Papa Francisco, com bastante antecedência escreveu uma mensagem especial, destacando a importância não apenas em relação ao Dia Mundial das Missões, mas principalmente enfatizando que as comemorações deste ano coincidem com a realização do Sínodo dos Bispos (da Igreja) no Vaticano.

A mensagem de Francisco está baseada na passagem do Evangelho em que é narrada a caminhada dos discípulos na estrada de Emaus e a aparição de Jesus que também caminhou com eles.


Destacou que a Igreja, para ser sinodal, samaritana, profética, que faz opção preferencial pelos pobres e excluídos, precisa ser também uma Igreja em saída, isto é, missionária, ir as periferias sociais, econômicas, politicas e também existenciais.


Por isso o Papa Francisco destacou a essência desta Igreja, que não pode ser fechada em si mesma, tendo como alicerce um clericalismo ensimesmado, mas uma Igreja inserida em um mundo em transformação e que precisa  “de corações ardentes, olhos abertos e pés ao caminho”, que é a base do objetivo do percurso sinodal: comunhão, participação e missão”.


Enfim, tenhamos uma semana magnífica para refletirmos sobre tantos temas importantes em nossas caminhadas como cidadãos, cidadãs e, fundamentalmente, como cristãos e cristãs, na busca da civilização do amor e da sociedade do bem viver!
Só assim, podemos dizer que pertencemos `a esta grande família que é a Humanidade!

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Sexta, 29 Setembro 2023 14:03

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

 

“A grande diferença entre TER e SER não é a que existe entre o Oriente e o Ocidente, e sim, a que se estabelece entre uma sociedade centrada (baseada) sobre as pessoas e uma sociedade centrada sobre as coisas. Eric From, “Ter ou Ser?” , 1976.

No dia 29 de Setembro de 2019, portanto, bem recentemente, a Assembleia Geral da ONU em conjunto com a FAO (Agência especializada da ONU para a agricultura e alimentação) aprovaram uma resolução que instituiu o DIA INTERNACIONAL DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE AS PERDAS E DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS a ser comemorado anualmente a partir de então em todos os países.

As perdas e o desperdício de alimentos ocorrem em diferentes etapas do processo produtivo e do consumo, desde a produção, tanto nas propriedades rurais quanto na indústria, no comércio , da mesma forma que no transporte e na logística em geral e, o que é mais chocante, nas famílias ou seja, por parte dos consumidores finais, onde ocorrem mais de 50% do desperdício.

Tanto a perda quanto o desperdício tem diferentes causas e também inúmeras consequências e afetam diretamente as questões ambientais, além de outras na sociedade.

Para refletir de uma forma mais aprofundada sobre este problema ou desafio é fundamental que o mesmo esteja inserido em um “quadro de referência” mais amplo.

Um primeiro aspecto, o mundo, ao longo das últimas 5 ou 6 décadas tem produzido muito mais alimentos em índices bem superiores aos índices de crescimento demográfico, inclusive de crescimento da população, ou seja, a fome e a insegurança alimentar não são causadas pela “explosão populacional’ , como preconizava Malthus ou ainda os neomalthusianos modernos costumam usar para amedrontar as pessoas e continuarem com suas práticas criminosas contra o meio ambiente.

Combater o consumismo, o desperdício é, também, uma forma de termos um melhor cuidado com as obras da criação , de salvar o planeta ameaçado pela degradação e destruição que a ganância, a irracionalidade e a estupidez humana está provocando.

Existe um circulo vicioso em que os vários sistemas e modos de produção, pouco importa as suas bases ideológicas ou filosóficas estão gerando vários problemas ambientais e de outra natureza. Em nome de uma acumulação de renda, riquezas, propriedades e, claro, no sistema capitalista, o famigerado lucro, precisa-se ampliar, cada vez mais a produção e, como corolário, é preciso que alguém consuma os bens e serviços produzidos, para que esta maquina, denominada pelo Papa Francisco como “uma economia que gera a morte e atenta contra a ecologia integral” continue funcionando, a favor, claro, dos donos do poder e dos sistemas de produção.

Aí é que entra o famoso “marketing” ou como antigamente era chamado de “propaganda”, que, utilizando técnicas , as vezes nada subliminares, tenta convencer por todas as formas que o cliente, ou seja, os consumidores devem comprar sempre mais e mais, não importa se os produtos ou serviços adquiridos são necessários ou imprescindíveis. Eric From, há décadas (1976), em seu “best seller “  Ter ou Ser?, já alertava em relação a esta distorção social que prima muito mais o “Ter” do que o “Ser”, realidade esta que está claramente patente nesta lógica perversa do desperdício.

Como complemento deste “marketing” que estimula o Ter, em lugar do Ser, que mexe com os neurônios, as emoções e a vontade dos consumidores, surge mais um aliado desta roda maluca, que é o sistema creditício, o rentismo que convence até mesmo quem ganha pouco ou esteja desempregado que pode comprometer sua renda pelos próximos meses ou até anos, “esquecendo” de dizer que este saque contra salários e rendas futuras vai ter um acréscimo (ai o marketing diz...”que cabe no seu bolso”) e enfiam juros extorsivos de mais de 100%, 200% ou até 400% ao ano. Resultado este endividamento brutal que estamos assistindo no Brasil, paraíso da agiotagem institucional, onde até bancos oficiais, públicos praticam essas taxas de juros escorchantes atingiu, penalizou e trouxe muitos problemas para mais de 70 milhões de brasileiros em anos recentes.

Voltando ao círculo vicioso: o consumismo gera desperdício, este gera resíduos sólidos/lixo; que por sua vez não recebe o tratamento e destino correto e aí nos deparamos com esses lixões, lixinhos, córregos, rios, lagos, lagoas, mares e oceanos, totalmente cheios de tudo o que se possa imaginar e também esse lixo não tratado e não destino correto gera milhões e bilhões de toneladas de gases de efeito estufa que provocam o aquecimento global, rompe a camada de ozônio que cobre e proteja o planeta terra dos raios solares, principalmente, os ultra violetas e o resultado final é a crise climática ou seja, as famosas e temidas mudanças climáticas que trazem com elas o aumento da temperatura, a alteração do regime de chuvas e o aumento de “desastres naturais”, que na verdade são desastres produzidos pela ação humana.

Em todos os setores da economia e das sociedades existe este círculo vicioso, mas nesta reflexão eu vou abordar apenas o DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS e qual a relação deste desperdício com o MEIO AMBIENTE e, direta ou indiretamente, com outros aspectos da realidade social, econômica, política, cultural e internacional (geopolítica).

A ONG “Earth Org”, há poucos dias (16/09/2023) depois de ouvir milhares de pessoas, incluindo cientistas, pesquisadores e estudiosos das questões ambientais/ecológicas, elaborou uma lista, em ordem de prioridade, dos 15 maiores problemas/desafios ambientais que existem na atualidade e que precisam receber atenção dos governantes, entidades empresarias, ONGs e também por parte da população em geral.

Esses desafios/problemas são os seguintes: 1º - Aquecimento global provocado pelo uso de combustíveis fósseis; 2º  - Gestão medíocre dos governantes em definirem e implementarem políticas públicas relacionadas com as questões ambientais; 3º - DESPERDÍCIO DE ALIMNENTOS; 4º - Perda/destruição da biodiversidade; 5º - Poluição por plásticos; 6º - Desmatamento e queimadas; 7º - Poluição do ar; 8º - Derretimento das calotas polares e das geleiras/montanhas, que provocam a elevação do nível dos mares e oceanos; 9º - Acidificação das águas dos oceanos e elevação da temperatura das mesmas; 10º - Agricultura sem sustentabilidade; 11º - Insegurança alimentar e escassez de água; 12º - Aumento vertiginoso de lixo da indústria têxtil; 13º - Pesca predatória em Rios e oceanos; 14º - Mineração que provoca degradação ambiental e, 15º - Degradação do solo que provoca erosão e desertificação.

Como vemos o DESPERDÍCIO DE ALIMENTOS é um dos mais sérios e graves problemas ambientais e não apenas econômico, financeiro, social, cultural ou humano, quando constatamos que de todo o alimento que o mundo produz em torno de um terço, e em alguns países este desperdício chega a quase 50% tem como destino o lixo, o que não deixa de ser um contrassenso, quando existem mais de 828 milhões de pessoas passando fome e mais 1,3 bilhão em situação de insegurança alimentar, totalizando 2,128 bilhões de pessoas necessitando de alimentos enquanto o volume de perdas e desperdício aumenta ano após ano.

Segundo a FAO e a UNEP, agências da ONU para a Agricultura, a alimentação e o meio ambiente, o volume de alimentos desperdiçados seria suficiente para alimentar em torno de três bilhões de pessoas anualmente, ou seja, só esta quantidade seria suficiente para acabar com a fome no mundo.

As mesmas fontes também destacam que o mundo ocupava em 2022 em torno de 5,0 bilhões de ha (hectares) com agricultura, pecuária, base para a produção dos alimentos e ao mesmo tempo 2,6 bilhões de ha eram de solos/terras degradas. O Brasil, por exemplo, o tamanho das áreas degradas é maior do que a área total ocupada pela agricultura.

Considerando que as perdas e desperdícios são em torno de 30%, podemos raciocinar que houve um desperdício também de solos agricultáveis de aproximadamente 1,5 bilhão de ha, totalizando entre as áreas degradas e as áreas utilizadas para produzir alimentos que foram parar no lixo, teríamos algo como 4,1 bilhões de ha praticamente inúteis, o que demonstra que o mundo pode duplicar a produção de alimentos sem a necessidade de incorporar novas áreas (como está ocorrendo com a Amazônia e o Cerrado no Brasil), ou seja, sem desmatar e queimar nem um palmo de terra e, ao mesmo tempo podemos dobrar a oferta de alimentos, barateando seus custos, permitindo que bilhões de pessoas que passam fome ou são afetadas por insegurança alimentar pudessem ter um pouco de dignidade.

Além do solo/terra, área ocupada com agricultura e pecuária, o desperdício de alimentos representam também o desperdício de água, equivalente ao uso per capita ano de 200 litros por nove bilhões de pessoas, o desperdício de bilhões de toneladas de fertilizantes e de outros insumos, incluindo energia, armazenamento e logística em geral.

Os custos econômicos e financeiros do desperdício de alimentos no mundo foi de 2,6 trilhões de dólares em 2014, ou seja, 3,5% do PIB mundial naquele ano que era de 80,1 trilhões de dólares.

Considerando, hipoteticamente, que este mesmo índice seja aplicado para o PIB mundial de 2022 que foi de 101,8 trilhões de dólares, o valor do desperdício (na verdade um prejuízo global) foi de 3,3 trilhões de dólares. Isto representa, um valor maior do que o PIB do Reino Unido no último ano (2,76 trilhões de dólares) a quinta maior economia do planeta e pouco abaixo do PIB da Alemanha (3,85 trilhões de dólares), a quarta economia do mundo em 2022.

Para não alongar demais este artigo, deixo de refletir, nesta oportunidade (mas o farei proximamente), sobre a realidade brasileira de forma mais detalhada.

Destacando apenas que o Brasil, de que tanto nos orgulhamos, está entre os 5 maiores produtores e exportadores de alimentos do mundo e também (lamentavelmente) entre os dez países que mais desperdiçam alimentos, enquanto 33 milhões de pessoas estavam passando fome e mais de 100 milhões em situação de insegurança alimentar em nosso país no último ano.

O volume das perdas e do desperdício de alimentos no Brasil em 2022 foi de 46 milhões de toneladas e isto representou um prejuízo (valor agregado) de RS$ 61,3 bilhões de reais.

O mesmo raciocínio e as mesmas inferências utilizadas para o significado deste desperdício em relação á área, a quantidade de água, de energia, de trabalho, de fertilizantes e outros insumos, na logística que foram utilizadas para produzir este volume de alimentos que foi parar no lixo, dá uma ideia mais próxima dos impactos ambientais, além dos demais, em nosso sistema de produção agropecuária e também na indústria de alimentos, no varejo, no transporte/logística.

Como podemos perceber o desperdício é um problema/desafio complexo e que produz várias outras consequências, razão pela qual , cremos nós, deva ser objeto não apenas campanhas esporádicas, mas objeto de reflexões mais profundas pelas entidades governamentais, empresariais, entidades representativas da sociedade civil organizada, pelos meios de comunicação, Igrejas, clubes de serviço, enfim, por parte da população em geral.

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da pastoral da ecologia integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy 

Terça, 26 Setembro 2023 14:57

 

 

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JUACY DA SILVA*

 

Semana passada, no que até então os registros das temperaturas máximas já registradas em várias partes do Brasil, inclusive em nossa famosa Cuiabrasa (Cuiabá + brasa), que em mais de 80% dos dias do ano é a capital mais “calorenta” de nosso país, uma pessoa amiga enviou-me esta foto de um termômetro que fica na Praça da República, onde estava registrada  a marca de 48 graus centígrados, mas há quem afirme que a sensação térmica seria de pelo menos 55 graus centigrados, igual ao que costuma fazer nos vários desertos mundo afora.

Novamente nesses últimos dias o serviço de meteorologia está alertando a população de 13 estados, principalmente do Centro Oeste e alguns de outras regiões que uma onda de calor extremo vai acontecer no Brasil.

Também as autoridades de saúde de todos os níveis: federais, estaduais e municipais estão alertando e recomendando que a população tenha o máximo cuidado em relação `as consequências para a saúde humana e animal que esta onde de calor pode acarretar.

Quando as pessoas se reúnem ou mantém contato com parentes e amigos que estão em outras regiões ou até no exterior, a conversa é sempre a mesma, a onda de calor que a cada dia mais esquenta, obrigando as pessoas, individual ou coletivamente, a buscarem formas de mitigação para atenuar os impactos de temperaturas que ano após ano vem aumentando e batendo recorde em cima de recorde, como se costuma dizer e já tem sido comum, não apenas no Brasil, como também em diversos outros países, os termômetros indicarem temperatura de 45; 48 ou até mais de 50 ou 55 graus centígrados, na sombra, além de baixíssimos índices de humidade relativa do ar e muita fumaça oriunda das queimadas que, mesmo proibidas continuam impunemente, afetando a saúde humana, aumentando os problemas e as doenças respiratórias, principalmente em crianças e pessoas idosas, a grande maioria das quais pobres e excluídos que buscam desesperadamente por atendimento médico hospitalar, esperando em longas filas, exatamente embaixo de sol escaldante, em frente a unidades de saúde de um sistema sucateado, falido e por isso moroso e precário.

Enquanto isso, os marajás da República, os donos do poder e os barões da economia, em gabinetes refrigerados ou em mansões com muito conforto, luxo e climatização dia e noite, bem alimentados, em ambientes requintados, inclusive, boa parte desses, graças `as mordomias e privilégios, “discutem” formas de equacionar esses problemas socioambientais que , em princípio, afetam a população inteira, mas de uma maneira mais drástica os pobres e excluídos, sempre dizendo que as preocupações com a ecologia não podem atrapalhar o desenvolvimento do país, os lucros empresariais e a vida política nacional.

Sempre nessas discussões a ênfase é que o discurso dos  ambientalista é coisa de comunista, esquerdista, vendilhões da pátria, jogo de interesses internacionais, enfim, o velho discurso de que primeiro é preciso destruir a natureza para garantir o lucro e, depois, bem mais tarde busca-se a “solução” mitigada, que nunca chega, para evitarmos essas catástrofes que há décadas vem sendo muito bem anunciadas e documentadas por cientistas, pesquisadores e estudiosos da ecologia integral no mundo inteiro.

Diante disso, fico refletindo sobre a estupidez humana. Destroem as florestas, poluem os rios, os córregos, os lagos, os mares e os oceanos, degradam impiedosamente os biomas e ecossistemas, destroem o solo e subsolo e a natureza em geral, acabam com a biodiversidade, provocam erosões e desertificação, queimam combustíveis fósseis, enchem todos os espaços urbanos com concreto, cimento, ferro, vidro, asfalto e depois ficamos reclamando do clima, culpando os deuses ou demônios, como os povos e civilizações primitivas há milênios e implorando, rezando, as vezes de forma histérica, para que Deus, São Pedro ou São José ou qualquer outro santo, os orixás ou outras divindades venham em nosso Socorro.

Enquanto isso, os barões da indústria, do comércio, do agronegócio/agrobusiness, os desmatadores, contrabandistas da natureza, os mineradores, os donos do poder, os marajás da república e seus apoiadores continuam vivendo nababescamente, orgulhando-se de suas polpudas contas bancárias, ávidos por lucros futuros que advêm, exatamente, da destruição da natureza, da burla aos direitos dos consumidores e dos trabalhadores.

Em meio a tudo isso, uma massa esquálida de pobres, miseráveis, famintos e excluídos, que vivem em locais e casas/residências subhumanas, nas periferias geográficas e existenciais, que não oferecem as minimas condições de dignidade, que tem que se locomover a pé ou em transportes urbanos piores do caminhões boiadeiros, esses sim, sofrem dia e noite, 24 h por dia as "agruras" do tempo e são os mais atingidos pelo aquecimento global e pelas altas temperaturas insuportáveis.

Essas mesmas camadas populacionais volta e meia são consideradas responsáveis por todas as desgraças socioambientais que recaem sobre um planeta doente, que está na UTI, clamando "aos céus": pelo amor de Deus, parem de me destruir, por que comigo destruído vocês também serão destruídos.

Por que, nós cristãos, que temermos o inferno, onde dizem, o calor é infernal e eterno (pleonasmo), se já estamos vivendo em nosso inferno climático? Socorro, este planeta vai explodir, pulem desta nave especial sem rumo, enquanto é tempo. Mas para onde vamos? Será que existe outro planeta habitável, em melhores condições ecológicas para que a vida seja possível e que ainda não foi destruido pela ganância humana, para onde podemos transferir nossa morada?

Assim, mesmo aqui de longe nos EUA. a milhares de km de distância de nosso Brasil, passando alguns meses com minhas filhas, netos e neta, cujas previsões são exatamente opostas `as do Brasil e de outros países do hemisfério sul, estamos `a espera de um inverno rigoroso, com consequências também desastrosas e devastadoras.

“Winter 2023/2024 is starting to trend colder in the latest forecast, with large-scale El Nino influence across the United States, Canada and Europe” By AuthorAndrej Flis Posted onPublished: 24/09/2023, fonte: Site severe-weather.eu

Traduzindo “o inverno está comecando com tendência de ser mais frio, conforme a última previsão, com uma influência do El Nino atraves dos EUA, Canadá e Europa” (notícia deste último domingo,24 de setembro de 2023).

Apesar da gravidade das mudanças climáticas em curso tanto aí no Brasil quanto aqui nos EUA, vejo esses alertas com um grande ceticismo, tendo em vista que os mesmos servem muito mais para apavorar e aumentar ainda mais a ansiedade, o estresse e a angústia da população, sonegando `as grandes massas as informações que possibilitem `as mesmas uma reflexão mais crítica sobre as verdadeiras causas desta loucura em está se transformando o clima mundial, como bem enfatiza o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si, escrita em Maio de 2015, de que “na raiz da degradação ecológica/Ambiental (incluindo as mudanças climáticas) estão, na verdade, as ações humanas” e, imagino eu, aí também residem as soluções para esta grave, complexa e controvertida “crise socioambiental” que estamos vivendo em todos os países, em alguns bem piores do que em outros, como acontece no Brasil, fruto da falta de politicas públicas de longo prazo voltadas para o meio ambiente.

As previsões de aumento da temperatura media mundial prevista pelo Painel do Clima da ONU para 2040, Segundo os últimos informes do mesmo, deverá ocorrer em 2028. Estamos Diante de uma bomba relógio prestes a explodir.

O imediatismo das ações governamentais, a omissão por parte significativa dos empresários em todos os países, as improvisações, a omissão e conivência por parte da população bastante alienada em relação `as causas, consequências e onde estão as saídas para esta crise que se abate sobre o planeta, não permitem termos grandes esperanças, a menos que mudemos, rápida e estruturalmente os paradigmas de nossos sistemas de produção, de relações de trabalho e de consumo/consumismo.

Só com o despertar da consciência ecológica por parte da população, dos governantes, dos empresários, das Igrejas e religiões, das organizações da sociedade civil, através de um amplo processo de educação ecológica libertadora e com ações concretas, racionais, integradas, permanentes, planejadas e de longo prazo poderemos vislumbrar essas saídas.

Isto exige mudanças de hábitos de consumo e de estilo de vida, de costumes perdulários e a substuição dos velhos paradigmas que nos trouxeram até aqui e que são os grandes responsáveis por esta crise climática e socioambiental, por novos paradigmas que possibilitem transformações profundas das estruturas políticas, sociais e econômicas das sociedades e das nações.

É o que consta de dois dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, integrantes com os demais da AGENDA 2030 de número 12 “produção e consumo responsáveis/sustentáveis” e 13 “ação contra a mudança global do clima”.

Fora disso, a choradeira vai continuar!

 

*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.

Segunda, 25 Setembro 2023 08:41

 

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*

Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”. Bill Gates. “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”. Mário Quintana. “O maior atentado contra a leitura e o conhecimento é a censura”. Autor desconhecido
 
Amigas e amigos, o conhecimento é a chave para compreendermos a realidade que nos cerca e na qual estamos vivendo e convivendo, não apenas a nossa realidade imediata, com se diz, “o nosso próprio umbigo”, mas a realidade mais ampla, que pode chegar `a dimensão planetária.
Um dos ou talvez o maior desafio que a humanidade enfrenta na atualidade e que a cada dia se torna mais grave, gravíssima, é o DESAFIO ECOLÓGICO/AMBIENTAL, cujas consequências são e serão cada vez mais desastrosas.

Não é por acaso que o Papa Francisco, na Encíclica Laudato Si e em seus constantes pronunciamentos e exortações apostólicas tem destacado algumas premissas desta crise ecológica, quando diz que “tudo está interligado, nesta Casa Comum”, que “ não existem duas crises separadas, de um lado a crise ecológica/ambiental e de outro a crise econômica, financeira, politica e social; mas apenas uma única e complexa crise socioambiental”; que as gerações se sucedem e precisamos refletir sobre que planeta, qual a herança que vamos deixar para as próximas gerações (justiça intergeracional) e, mais ainda, que “na base da crise ecológica/ambiental estão as ações humanas (irracionais e criminosas)” , e, imagino eu, que mesmo não falando, quer dizer, a crise ecológica/ambiental não é castigo de Deus ou dos “deuses ou demônios”, que povoam a mente humana, cabendo a nós e não `as divindades encontrar as soluções para a mesma.

Por isso, com o objetivo de realizarmos ações de sustentabilidade e podermos promover a mobilização profética, estimulando o despertar da consciência ecológica, reconhecermos os crimes ambientais/pecados ecológicos e criarmos condições para o que na Encíclica Laudato Si é denominado de Conversão ecológica, único caminho que nos leva a plenitude da Cidadania ecológica, que significa a mudança de paradigmas de como  nós, seres humanos “homo sapiens”, e também “homo politicus, homo economicus”, precisamos de muitas leituras para estimularem a nossa reflexão sobre esta realidade, este desafio que está diante de nós de maneira mais profunda.

Para tanto, precisamos aprofundar e ampliar nosso conhecimento desta teia de relações humanas, nas dimensões dos sistemas produtivos, das relações de trabalho e de consumo, que, principalmente as relações de produção e consumo de bens e serviços, sejam, como deseja e recomenda a ONU em um dos 17 objetivos do desenvolvimento sustentável, que sejam “sustentáveis e responsáveis” e também da proposta contida na “Economia de Francisco e Clara”, do Papa Francisco, como forma de “realmar” a economia, tornando-a mais equitativa, solidária, mais justa e mais sustentável.

As pessoas, enfim, a mente humana precisa, necessita ser livre, sem peias e barreiras para empreender esta caminhada, sem medos e preconceitos ideológicos, religiosos, políticos ou culturais, não podemos ter medo das ideias, mesmo que de algumas ou de muitas discordemos, pois só existe um caminho que nos leva `a verdade e `a liberdade, este caminho é o conhecimento e a leitura é parte essencial deste processo.

Diante de tudo isso, compartilho com vocês uma informação preciosa, de uma publicação bem atual, deste ano de 2023, da Fundação Perseu Abramo. É o “E-Book”, gratuito, intitulado  “Ecossocialismo brasileiro: avanços e desafios”, uma coletânea de artigos, de diferentes autores, incluindo Gilney Viana, ex-deputado estadual (MT) e federal e professor aposentado de nossa Universidade Federal de Mato Grosso, com 192 página, cujos organizadores são Arlindo Rodrigues e Suelma Ribeiro Silva.

Quem desejar basta acessar o link https://fpabramo.org.br Ecossocialismo brasileiro - avanços e desafios colocando-o no google ou outro site de busca e vai aparecer o caminho para ter acesso e fazer a copia gratuitamente.

Fazendo isso, vai aparecer o link que permite “baixar” a publicação, gratuitamente,  em PDF.

Abraços, ótimo final de semana e boa leitura. Costuma-se dizer que a leitura é a chave que abre a porta do conhecimento, quem não lê ou não gosta de ler, acha que um texto com mais de duas páginas ninguém lê, mal sabem essas pessoas que a escrita e a leitura ajudam na prevenção de todos os tipos de demência, inclusive do Alzheimer, estimulam a reflexão crítica e criadora e são os únicos caminhos que nos levam a novos patamares de conhecimento, estimulando a criatividade, possibilitando as invenções e as inovações e, também, nos enobrece grandemente.

Um país, cuja população é majoritariamente constituída de analfabetos ou analfabetos funcionais e também analfabetos tecnológicos, está fadado a “perder o bonde da história” e a continuar atrasado e subdesenvolvido.



*Juacy da Silva, professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy

Segunda, 18 Setembro 2023 10:38

 

 

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Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Juacy da Silva*
 

Ao longo do ano , tanto a nível mundial ou internacional quanto nacional, mensalmente existem alguns dias que estimulam e recomendam celebrações especiais, como forma de despertar a consciência das pessoas em geral e das autoridades em particular, visando refletir sobre a importância desses aspectos e também estimular a realização de eventos e ações individuais e coletivas.


Além desses aspectos, cabe também renovar o despertar da consciência ambiental/ecológica, no período já consagrado pela Igreja Católica, tanto Romana quanto Ortodoxa e várias outras Igrejas Evangélicas, para o período de 34 dias, que vai de 01 de Setembro até 04 de Outubro, que é considerado o TEMPO DA CRIAÇÃO, com ênfase no que já está consagrado como um conceito denominado de Espiritualidade Ecológica, objeto de estudo por parte da Ecoteologia.


Assim, estou compartilhando as informações relativas a essas datas que vão de 16 de Setembro – próximo Sábado – até 31 de Outubro, de eventos relacionados direta ou indiretamente com a ECOLOGIA INTEGRAL ou Meio Ambiente como `as  vezes essas questões são tratadas.


Neste contexto da ECOLOGIA INTEGRAL, como mencionada e objeto de análise na Encíclica Lautado Si,  Papa Francisco em 24 de Maio de 2015; há pouco mais de 08 anos; existem algumas referências importantes e que servem de base para a ênfase que precisamos destacar, tais como: a) “Tudo está interligado, nesta Casa Comum” (Planeta Terra); b) na origem de toda a destruição, degradação dos biomas e ecossistemas que estão ocorrendo no mundo todo, está a ação irresponsável e irracional dos seres humanos; c) Apesar desta marcha destruidora insana, ainda podemos ter esperança, se considerarmos que a solução deve ser integrada e compartilhada entre instituições públicas nacionais, internacionais, governos nacionais e também organizações não governamentais e a população em geral; d) A defesa real da Ecologia Integral só pode ocorrer se mudarmos os modelos de economia da morte, economia esta que destrói a natureza, não respeita os direitos dos trabalhadores, nem dos consumidores e muito menos das próximas gerações; por uma nova economia, realmada, baseadas em novos paradigmas, a chamada economia da vida, que, por sugestão do Papa Francisco, deve ser uma economia solidária, denominada de Economia de Francisco e Clara; e) Este processo de defesa da ecologia integral e defesa do planeta terra passa pela Conversão ecológica até atingirmos a Cidadania Ecológica; f) que este processo só pode ocorrer de forma efetiva se tiver como base uma EDUCAÇÃO ECOLÓGICA LIBERTADORA, ancorada a Ecoteologia, na conversão ecológica e na espiritualidade ecológica.


Diante disso, comemorar ou celebrar essas datas especiais, que já constam do calendário nacional e ou internacional, também faz parte deste processo e ajuda a despertar a consciência ecológica, principalmente, junto `as crianças, adolescentes e jovens, os quais e as quais estarão vivendo em um planeta mais doente, mais poluído, mais destruído e mais degradado, se nada ou pouco for feito para combater, de fato, os crimes ambientais e ou os pecados ecológicos, origem de todos os males que tantas consequências ambientais tem recaído sobre as atuais gerações e muito mais sobre as próximas gerações.


A seguir, apresento uma lista dos principais eventos ou dimensões da ecologia integral que fazem parte dos calendários a partir deste próximo sábado, dia 16 de Setembro até 31 de Outubro de 2023.


Restante do mês de Setembro:


16 – Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio e Dia Mundial da Limpeza (do Planeta);
19 – Dia Mundial pela limpeza da Água
21 – Dia da Árvore
Este pode ser um dia importante para discutir-se a questão da arborização urbana, das florestas urbanas, dos corredores ecológicos e do clima.
22 – Dia Mundial sem carros
Momento para refletirmos sobre a poluição oriunda dos veículos, sobre o uso de combustíveis fósseis, sobre o aquecimento global, sobre as mudanças climáticas etc.
24 – Dia Mundial dos Rios
Oportunidade para refletirmos sobre como estão os nossos rios, as suas nascentes, os córregos, ribeirões, a maioria dos quais tem se transformado em grandes lixeiras e verdadeiros esgotos a céu aberto; e também sobre a poluição dos rios por agrotóxicos e outros fatores de contaminação;  as erosões, destruição das matas ciliares; sobre os Rios voadores que são alimentados pelas chuvas que caem na Amazônia e que devido ao desmatamento estão desaparecendo, afetando o clima e o regime de chuvas nas regiões sul, sudeste e centro Oeste do Brasil.
29 – Dia Internacional de conscientização sobre perda e desperdício de alimentos
Uma ótima oportunidade para refletirmos mais profundamente sobre quais os impactos disso sobre a fome que afeta quase um bilhão de pessoas no mundo e ainda dezenas de milhões no Brasil e também qual o impacto das perdas e do desperdício de alimentos sobre o meio ambiente, sobre a natureza, afinal, para que alimentos sejam produzidos vários fatores entram em cena como água, solo, fertilizantes, energia, trabalho humano, e as perdas e o desperdícios de alimentam impactam negativamente o meio ambiente.
Mês de Outubro
01 – Dia Nacional do Idoso e Dia Internacional das pessoas idosas
Creio que precisamos também refletir sobre os impactos que a degradação ambiental, principalmente a poluição do ar, do solo e das águas e o envenenamento dos alimentos por agrotóxico representam para a saúde e o bem-estar da população idosa, segmento demográfico que mais cresce no mundo e, inclusive, no Brasil.
04 – Dia de São Francisco de Assis – Santo Padroeiro da Ecologia e dos animais. Dia também da Ecologia, Dia da Natureza e Dia dos animais , Fim do TEMPO DA CRIAÇÃO. Momento máximo de celebração.
10 – Dia Mundial da Saúde Mental
Este é, com certeza um dos desafios e problemas mais sérios da atualidade. Momento também de refletirmos sobre os impactos que a falta de áreas verdes, de arborização urbana e de cidades sustentáveis, saudáveis e seguras tem sobre a saúde mental da população.
10 – Dia Nacional de luta contra a violência `as mulheres.
Esta é uma luta constante, continua e permanente de todas as sociedades, principalmente no Brasil, onde os índices de todas as formas de violência contra as mulheres tem aumentado, incluindo a violência física e sexual como estupros, agressões físicas e o feminicídio. Com certeza uma das consequências dessa violência é a fragilização psicológica/mental das vítimas e de seus familiares, principalmente crianças, adolescentes e jovens. Cabe ressaltar que a mulher tem uma ligação muito profunda com as questões ambientais e não podemos refletir sobre ecologia sem levar em conta a questão de gênero.
15 – Dia Mundial de Consumo Consciente, responsável e sustentável.
Este pode ser um momento para despertar a população quanto ao consumismo desenfreado que aumenta exageradamente o desperdício em geral, a geração de lixo, resíduos sólios e o impacto disso em relação à degradação ambiental, aumento da produção de gases de efeito estufa na atmosfera, destruição da camada de ozônio e as mudanças e crise climática, cujas consquências para as pessoas e a saúde do planeta são irreversíveis.
Dia 17 – Dia Mundial da Erradicação da Pobreza

 

Creio que este é um momento propício para refletirmos criticamente em relação `as estruturas políticas, econômicas, sociais e culturais e as diversas formas de ações humanas que geram a pobreza, via desemprego, subemprego, trabalho escravo ou condição análoga `a escravidão; economia informal, assistencialismo, manipulação política e eleitoral da pobreza, políticas públicas que contribuem para gerar acumulação de capital, renda, riqueza e oportunidades que favorecem desproporcionalmente uma minoria da sociedade (os famosos 1% ou no máximo 5% ou 10% da população de quase todos os países), gerando extremas desigualdades sociais, políticas e econômicas, base do surgimento e perpetuação da pobreza e suas consequências que são a desnutrição, subnutrição, a fome, a mortalidade infantil e a maioria das doenças de massa, e também refletir sobre a degradação ambiental, a destruição da biodiversidade, o uso e ocupação do solo, as migrações e a expulsão de populações do campo, como mecanismos que também geram e aumentam a pobreza.


Outro aspecto que pode ser destacado nessas reflexões é que a ONU ao estabelecer os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentáveis em 2015, com visão temporal para 2030, a chamada Agenda 2030, colocou como os dois primeiros objetivos  a Erradicação da pobreza e em segundo lugar Fome Zero e agricultura sustentável.
 
Vale a pena mencionar quais são as metas que a ONU indica para que o objetivo – Erradicação da pobreza – que significa acabar com a mesma, em todas as formas e em todos os lugares, seja alcançado até 2030:a) Até 2030, erradicar a pobreza extrema para todas as pessoas em todos os lugares, atualmente medida como pessoas vivendo com menos de US$ 1,90 por diab) Até 2030, reduzir pelo menos à metade a proporção de homens, mulheres e crianças, de todas as idades, que vivem na pobreza, em todas as suas dimensões, de acordo com as definições nacionais; c) Implementar, em nível nacional, medidas e sistemas de proteção social adequados, para todos, incluindo pisos, e até 2030 atingir a cobertura substancial dos pobres e vulnerável; d) Até 2030, garantir que todos os homens e mulheres, particularmente os pobres e vulneráveis, tenham direitos iguais aos recursos econômicos, bem como o acesso a serviços básicos, propriedade e controle sobre a terra e outras formas de propriedade, herança, recursos naturais, novas tecnologias apropriadas e serviços financeiros, incluindo microfinanças; e) Até 2030, construir a resiliência dos pobres e daqueles em situação de vulnerabilidade, e reduzir a exposição e vulnerabilidade destes a eventos extremos relacionados com o clima e outros choques e desastres econômicos, sociais e ambientais; f) Garantir uma mobilização significativa de recursos a partir de uma variedade de fontes, inclusive por meio do reforço da cooperação para o desenvolvimento, para proporcionar meios adequados e previsíveis para que os países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, implementem programas e políticas para acabar com a pobreza em todas as todas as suas dimensõesg) Criar marcos políticos sólidos em níveis nacional, regional e internacional, com base em estratégias de desenvolvimento a favor dos pobres e sensíveis a gênero, para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza.
 
31 – Dia Mundial das Cidades
Momento para discutirmos os vários tipos de assentamentos urbanos, aos quais denominamos de cidades. Cabe aqui também o destaque de que um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, constante da Agenda 20230, é exatamente Cidades e Comunidades Sustentáveis, seguras e inclusivas isto é, sem exclusão, que significa  acesso à moradia segura, adequada e acessível; acesso aos serviços básicos e urbanização inclusiva e sustentável; acesso ao transporte seguro, acessível, sustentável e eficiente; redução do número de pessoas afetadas por catástrofes naturais; redução do impacto ambiental negativo e proporcionar o acesso universal a espaços públicos, inclusivos, verde, entre outros.
 
Posteriormente, em outra oportunidade, vou elaborar uma nova lista e alguns comentários sobre outras datas importantes, relacionadas com a Ecologia/Meio Ambiente, a serem celebradas no decorrer dos meses de novembro e dezembro de 2023.
 
Oxalá, as escolas em todos os níveis, as Igrejas Cristãs em geral e também as religiões não cristãs, os movimentos comunitário, sindical e estudantil, as instituições públicas das três esferas de governo: Executivo, Legislativo e Judiciário, nos âmbito Federal, estadual e municipal, o empresariado, os clubes de serviços, a ONGs ambientalistas e todos os meios de comunicação participem desta cruzada que visa despertar a consciência ambiental/ecológica na população.
 
Isto, com certeza seria um grande esforço na direção de uma educação ambiental/educação ecológica libertadora continuada e permanente por décadas a fio, só assim, poderíamos atingir este grande objetivo que é impedir a degradação e a destruição, de nossa Casa Comum, da Mãe Natureza, Gaia ou seja, o nosso Planeta Terra! Único que temos e onde vivemos!


 
*Juacy da Silva,  professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista e articulador da Pastoral da Ecologia Integral. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Instagram @profjuacy