Quarta, 12 Setembro 2018 12:52

 

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Prof. de Literatura/UFMT; Dr. em Jornalismo/USP

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No último dia 07/09, nós, brasileiros, tivemos poucos motivos para festejar a Independência. Contudo, não nos faltam traumas.

Assim que setembro chegou, assistimos, perplexos, à extinção, por conta de um incêndio, de cerca de 20 milhões de peças raras do Museu Nacional.

Nós, que estamos a vivenciar um presente dificílimo da história, e um futuro incerto a ser legado às novas gerações, agora, temos, do passado, preciosos registros destruídos: muitas cinzas. O que não se perdeu em chamas, perdeu-se em lamas. Em incêndios tais, a água é tão danosa aos objetos quanto o fogo.

No dia 06, outra faceta de nossa lama: o país assistiu – também perplexo e em tempo real – ao atentado contra Jair Bolsonaro, candidato que, infelizmente, lidera as pesquisas à presidência da República; aliás, cada vez mais, menos res pública.

Em plena campanha eleitoral, um fato como esse é de lascar, até por conta dos imprevisíveis desdobramentos. A democracia – desconsiderada, deslegitimada e humilhada por Jair Bolsonaro, defensor do militarismo e desqualificador dos direitos das minorias, como quilombolas, índios, gays et alii – levou uma facada; e no sentido literal. Pior: a vítima foi o próprio Jair.

Sem dó nem piedade, o pedagogo Adélio Bispo enfiou a faca no abdómen do candidato do PSL, que, no dia anterior, em visita ao Acre, dissera que fuzilaria a “Petralhada”; que “botaria esses picaretas para correr do Acre”.

Mais: “Já que eles (petistas) gostam tanto da Venezuela (em crise e com um governo anticapitalista), essa turma tem que ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadela... Vão ter que comer é capim".

Nas hostis imagens que acompanham esse discurso, Bolsonaro simula um fuzilamento.

Como quase todos, os enunciados acima – proferidos por Bolsonaro – fazem parte do conjunto de discursos do ódio. A Adélio Bispo e a todos que jamais votariam em Jair, seus discursos são “nojentos”.

Todavia, pelo menos até o episódio da faca, mesmo diante de repugnâncias discursivas bolsonaristas, nada passava da parole. Até o tiro encenado por Bolsonaro era mise en scène. Ademais, o candidato Jair terá de explicar a agressão verbal e a encenação do fuzilamento. Por pior que fosse, ninguém tinha o direito de furar, de forma concreta, o plano simbólico deste tenso momento.

Em outras palavras, a facada de Adélio ultrapassou o figurativo; ela transpassou o abdómen de Jair, que defende o livre uso de armas à população. Aliás, especialistas falam da “sorte” de Bolsonaro não ter sido atingido por arma de fogo. Se Adélio portasse revólver, Jair poderia ter saído da vida em Juiz de Fora.

Com o ocorrido, Adélio, num exercício prático, demonstrou pedagogicamente ao candidato atingido e a seus séquitos – cegados politicamente – a maneira como muitas de nossas diferenças serão “resolvidas”, caso Jair Bolsonaro vença as eleições e implemente, p. ex., a liberação do porte de armas, inclusive aos niños. Neste momento, impossível não me lembrar de ditados, como o que diz que, “quem com ferro fere, com ferro será ferido”.

Diante desse quadro lamentável, para o qual deveremos encontrar saídas pelo diálogo entre patrícios, mesmo que divergentes no campo da política, a nação terá de voltar à noção perdida. Este triste time de nonsense terá de ser superado.

Lição do momento: não é bom ninguém “já ir se acostumando” com a violência. Ela não cabe nem mesmo àqueles que defendem pontos de vista e práticas inimagináveis em sociedades do século 21, como, p. ex., o porte de armas.

Diálogo: sempre. Armas: nunca.

Terça, 11 Setembro 2018 15:15

 

      Com um misto de indignação e tristeza assistimos na noite de domingo o Museu Nacional, que completou 200 anos, arder em chamas. A diretoria nacional do ANDES-SN imediatamente lançou uma nota pública e convocou a população carioca a ir para as ruas em defesa da Universidade Pública. Já naquele momento não tínhamos dúvida que se tratava de mais uma das consequências nefastas da política do capital, que se agravou com a EC 95/2016, reduzindo recursos das políticas públicas e sociais, entre elas a educação superior pública.

      A reação imediata, com a publicação da nota pública do ANDES-SN e de um conjunto de outras entidades e a convocação para o abraço simbólico ao Museu Nacional na manhã do dia 3 de setembro e para o ato, no mesmo dia, que reuniu milhares de pessoas na Cinelândia, demonstrou que alguns(algumas) estão de fato indignado(a)s e querem reagir aos ataques e ao massacre do capital sobre o(a)s trabalhadore(a)s.

      As sequências dos fatos, que gerou uma comoção internacional e mobilizou parcelas significativas da população, continuaram a nos impactar e indignar. Iniciou-se um conjunto de ataques caluniosos à UFRJ e ao reitor Roberto Leher. Sabemos que esses ataques têm por objetivo desmoralizar a Universidade Pública brasileira, a exemplo dos ataques à UFSC, à UFMG e a um conjunto de docentes em todos os cantos do Brasil.

      Repudiamos os sucessivos cortes de verbas na educação pública brasileira e lutamos pela revogação da EC 95/2016, que intensificou as medidas de austeridade e os ataques às políticas públicas, somos contrários ao repasse de verba pública para a iniciativa privada, e com a mesma intensidade REPUDIAMOS os ataques à UFRJ, à comunidade acadêmica e ao Reitor. Esses ataques têm como único e exclusivo objetivo intensificar e dar celeridade ao projeto dos organismos internacionais de privatização interna das Universidades Públicas e por isso as organizações sociais (OS) aparecem como a alternativa.

      Conhecemos, há muito tempo, a “receita podre” do neoliberalismo para as instituições públicas: transformar tudo em mercadoria para ser rentável ao capital. Cortar recursos e forçar a privatização por dentro, através da venda de serviços, das parcerias público-privadas, da terceirização e da inserção de organizações sociais para gerir o bem público. Com isso buscam destituir o sentido do que é de fato público no Brasil.

      Convocamos a todo(a)s o(a)s professore(a)s a se manifestarem contrários a mais essa ação do capital de ataque à universidade pública. O Museu Nacional, assim como todos os equipamentos das instituições públicas de ensino precisam de recursos e um dos principais investimentos deve ser feito em pessoal e infraestrutura, por isso repudiamos também o ataque da grande mídia e de parcela do empresariado à(o)s funcionário(a)s público(a)s, nos rotulando como “gasto”. Sem funcionário(a) público(a) não existe serviço público de qualidade! Pela valorização das instituições de ensino públicas e do(a)s servidore(a)s público(a)s!

      Nossa tarefa imediata é fortalecer os atos de 7 de setembro, o Grito dos Excluídos nos estados, construir a Marcha a Brasília do dia 13 de setembro e uma Greve Geral em Defesa dos Serviços Públicos de Qualidade!

 

Não à criminalização!

Não à privatização da Universidade!

Não às Organizações Sociais!

Todo apoio e solidariedade à comunidade acadêmica da UFRJ e ao Reitor Roberto Leher!

 

 

Brasília, 6 de setembro de 2018

Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional

Quinta, 06 Setembro 2018 12:43

 

Como muitas pessoas no Brasil, estive por horas hipnotizada diante da televisão vendo as imagens do fogo consumindo o Museu Nacional domingo à noite. À diferença da maioria das pessoas, entretanto, tentava identificar, em meio aos enquadramentos apresentados na tela, a janela da minha sala, com a esperança de não ver saírem dali as labaredas. Ao telefone, Rafael, com quem divido a sala, tirou-me do devaneio: está queimando, sim, Aparecida! Alguns livros, fitas K-7 originais (mas já copiadas!) das minhas gravações com os índios Wari’, com quem trabalho há 30 anos, computador, câmera, cadeiras, a mesa redonda para conversar com os alunos, as paredes amarelas que eu havia pintado e mesmo as pequenas esculturas de sapos instrumentistas, uma recordação de meu colega e amigo Gilberto Velho.

 

São, eu sei, perdas muito pequenas se comparadas àquelas de colegas que perderam toda a sua biblioteca pessoal e todo o seu material de pesquisa original. E infinitesimais ainda quando comparadas ao acervo de objetos, registros linguísticos e outros documentos que pesquisadores de todo o mundo haviam depositado ali, por séculos, confiantes de que estariam seguros para a posteridade. Não estavam. E não foi por falha dos nossos dirigentes, uma sequência de bravos diretores do nosso museu, que percorriam incessantemente as diferentes esferas dos governos estadual e federal, onde eram tratados como crianças pedindo um brinquedo novo e supérfluo. Eles sabiam, nós todos sabíamos, o que estava dentro daquelas paredes, e o estado em que se encontravam essas paredes: despencando, com cupins, rachaduras. Ninguém desistia, nem de trabalhar em meio à precariedade, nem de pedir ajuda.

Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2018/Um-museu-em-chamas-visto-por-uma-de-suas-antrop%C3%B3logas

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Fonte: Nexo Jornal

Terça, 04 Setembro 2018 12:49

 

Danos são incalculáveis no maior museu de história natural e antropológica da América Latina

 

200 anos de história e mais de 20 milhões de itens históricos e científicos viraram cinzas na manhã desta segunda-feira (3). Um incêndio de grandes proporções, iniciado no domingo (2), atingiu o Museu Nacional, localizado em São Cristóvão, Zona Norte do Rio de Janeiro. As causas ainda serão investigadas, não há feridos.

 

Fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte foram afetados. Pedaços de documentos queimados foram parar em vários bairros da capital carioca. Técnicos da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros realizaram uma inspeção no Museu Nacional, na manhã desta segunda. Eles vão calcular o tamanho dos estragos e descobrir se alguma peça ainda pode ser salva.

 

Segundo Elizabeth Barbosa, 2º vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do ANDES-SN, a perda é imensurável.  “Essa era uma tragédia que já vinha sendo anunciada, com denúncias sobre o pouco investimento feito não só no museu, mas na universidade como um todo. É uma parte da história que se acaba. É o descaso do poder público e um dos significados da EC 95/16, que não tem investimento nenhum para educação”, criticou. A diretoria do ANDES-SN publicou uma nota ressaltando a necessidade da luta organizada para denunciar a ausência de investimentos na Ciência e Tecnologia, Educação e Cultura.

 

Criado por Dom João VI, em 1818, o maior museu de história natural e antropológica da América Latina está subordinado desde 1946 à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A instituição deveria receber um repasse anual de R$ 550 mil da UFRJ, que passa por uma crise financeira, com cortes sucessivos em seu orçamento. Há três anos, o museu só tem recebido 60% deste valor, cortando recursos para pesquisa e para a manutenção das áreas de exposição.

 

Em nota, a reitoria da UFRJ informou que as universidades vêm denunciando o tratamento ao patrimônio das instituições e a falta de financiamento adequado. Em especial nos últimos quatro anos, quando as universidades federais sofreram drástica redução orçamentária.

 

“A matriz orçamentária existente no Ministério da Educação não aloca nenhum recurso para os prédios tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e para os museus universitários. O mesmo acontece com o Ministério da Cultura, que igualmente não prevê recursos para tais fins”, afirma a nota. “Este momento devastador deve ser um alerta para as forças democráticas do país, no sentido de preservação do patrimônio cultural da nação. O inadmissível acontecimento que afeta o Museu Nacional da UFRJ tem causas nitidamente identificáveis. Trata-se de um projeto de país que reduz às cinzas a nossa memória. Nós desejamos que a sociedade brasileira se mobilize junto à comunidade universitária e científica para ajudar a mudar o tratamento conferido à educação, à memória, à cultura e à ciência do Brasil”, completa.

 

O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, e o reitor da UFRJ, Roberto Leher, se reuniram com o governo nesta segunda (3). Em entrevista, eles afirmaram que o governo federal se comprometeu a liberar recursos e reservar parte do orçamento de 2019 para a reconstituição do museu.

 

Descaso

 

Nos últimos anos ocorreram alguns incêndios nos prédios da UFRJ. Ano passado, um deles destruiu uma parte da residência estudantil no campus do Fundão atingindo duas alas. Em outubro de 2016, uma parte do prédio da reitoria pegou fogo. No andar atingido funcionavam setores administrativos com muitos documentos. Em 2011, a capela do campus da Praia Vermelha, de 1850, também foi destruída por um incêndio.

 

Falta de investimentos

 

A falta de investimentos não é de hoje. Em 2015, o museu fechou as portas por falta de repasses do governo federal. Os serviços foram interrompidos por falta de pagamento aos trabalhadores terceirizados da segurança e da limpeza.

 

Além disso, a falta de investimento, fez com que há mais de 15 anos os visitantes não pudessem ver o esqueleto gigante de uma baleia Jubarte. Outro exemplo, é que uma infestação de cupins destruiu a base onde estava instalada a reconstrução do fóssil de um dinossauro descoberto em Minas Gerais. Uma “vaquinha” na internet foi feita para arrecadar recursos junto ao público e reabrir a ala para visitação. O museu arrecadou R$ 58,3 mil para fazer a obra.

 

Acervo

 

O Museu Nacional tem o maior acervo de história natural e antropológica da América Latina. Em exposição contavam coleções egípcias, greco-romanos, de Paleontologia que incluem o Maxakalisaurus topai, dinossauro proveniente de MG. O acervo contava também com o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizada de "Luzia". Além disso, o museu possuía coleções de Etnologia que mostravam a riqueza da cultura indígena, afro-brasileira e do Pacífico. Na Zoologia destacava-se a coleção conchas, corais, borboletas, entre outros.

 

“Se não fizermos algo para reverter essa Emenda Constitucional 95 será o inicio de uma destruição imensa nas universidades e não teremos mais história para contar”, ressaltou a diretora do ANDES-SN.

 

Leia mais:

 

Museu Nacional fecha por falta de pagamento a terceirizados

 

Nota da diretoria do ANDES-SN sobre o incêndio do Museu Nacional (RJ)

 

 

 Fonte: ANDES-SN

 

Segunda, 03 Setembro 2018 14:09

 

 

O ANDES-SN, convoca todo(a)s o(a)s professore(a)s para estarem presentes no ato em defesa da educação pública, dia 3 de setembro (segunda-feira), às 9h no Museu Nacional e às 16h na Cinelândia.

 

Uma tragédia anunciada acomete neste exato momento um dos principais redutos da Ciência, das Artes e da Tecnologia no Brasil. Um incêndio consome o Museu Nacional, que longe de ser um acidente, marca como as ações do poder público têm se desdobrado nos últimos anos para com o patrimônio simbolizado e edificado nesta unidade da UFRJ.

 

Assim, o ANDES-SN vem a público denunciar o descaso para com as diversas manifestações dos curadore(a)s, pesquisadore(a)s e demais interessado(a)s sobre a manutenção e conservação do Museu Nacional. Entidade interligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, suas denúncias referentes às negligências por parte do poder público federal revelam o descaso para com parte da história da ciência, das artes e da tecnologia no Brasil. Espaço que até então celebrava seus 200 anos em meio à ausência de investimento, resistia por conta do labor de professore(a)s, pesquisadore(a)s, aluno(a)s e amigo(a)s que viam no Museu Nacional um dos embriões da necessidade de compreender a ciência e a tecnologia no Brasil como vetores de desenvolvimento e justiça social. Incalculáveis elementos referenciais nas mais diversas áreas do saber estão sendo incinerados num momento em que estamos prestes a vivenciar o que há de mais nefasto na vida social brasileira: a Emenda Constitucional 95/2016. 

 

Em meio a um cenário de lamentos e de indignação, reiteramos a necessidade da luta organizada para denunciar a ausência de investimentos na área de Ciência e Tecnologia, bem como de Educação e Cultura. O Museu Nacional não foge a este chamado, sendo fundamental que sua comunidade científica, ainda que abalada pela lástima ocorrida, lidere o processo de denúncia do descaso para com este espaço fundamental de ciência, tecnologia, arte, cultura e educação, referência na América Latina. Somos solidário(a)s e estaremos ombro a ombro na luta pela defesa deste espaço, acreditando que a restauração de sua estrutura celebre a repactuação da Ciência, da Tecnologia, da Educação e das Artes como vetores de combate à dependência tecnológica, bem como ao combate à pobreza e à miséria que assolam nossa nação.

 

Somos Tod@s Museu Nacional!

 

Rio de Janeiro, 2 de setembro de 2018

Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional

 

 

 

Fonte: ANDES-SN