Terça, 02 Julho 2019 17:37

A CIVILIZAÇÃO DO AMOR - Juacy da Silva

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O Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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JUACY DA SILVA*
 

Ao escrever sobre alguns temas de natureza transcendental ou o que algumas pessoas denominam de espirituais, de vez em quando recebo mensagens, pelos diversos meios de comunicação virtual indagando-me do que se trata ou será que isto não fica apenas no plano íntimo de cada um ou cada uma e pouco efeito prático acaba provocando.


Em minhas respostas costumo dizer que tudo o que existe de concreto, as invenções, as obras de arte, as músicas, as cidades, os sistemas produtivos, tem suas origens no cérebro humano e no coração de pessoas, muitas das quais chamamos de gênios ou iluminadas, mas que, na verdade, todo mundo, com algumas exceções de quem tem certas doenças que limitam essas capacidades, enfim, todos nós temos uma capacidade inata, isto é, está presente desde a concepção, ao Nascimento e desenvolvimento pela herança genética e que será moldada ao longo da vida, ou o que chamamos de caminhada ou jornada terrena.


Em havendo igualdade de oportunidades e os estímulos necessários todas as pessoas podem desenvolver seus talentos e seus carismas, diferente de quando as oportunidades são definidas pelas estruturas politicas, sociais e seus agentes, que acabam excluindo a grande maioria da população em benefício das minorias que conquistam e exercem o poder em todas as sociedades. Esta é a gênese de todas as desigualdades: sociais, raciais, de gênero, culturais, econômicas, regionais, setoriais ou politicas, que acabam gerando exclusão, pobreza e miséria.


Em havendo justiça e igualdade de oportunidades, assim acontece com todos os pensamentos considerados nobres, que constroem, que edificam não apenas a própria pessoa quanto interfere e contribui para a vida coletiva. Assim, se temos em nosso interior pensamentos e sentimentos bons, nobres como o amor, a solidariedade, a fraternidade, a compreensão, a empatia, a gratidão, a caridade, a fé pura e verdadeira em Deus ou em alguma divindade que nutre nossa esperança de uma vida futura após a morte, com certeza deixaremos de lado pensamentos ruins e sentimentos negativos, como o ódio, o apego aos bens materiais, a  ganância, a inveja, as futilidades da vida, a discriminação, o racismo, a violência, a opressão, a mentira, a esperteza e a corrupção. Essas últimas, são coisas, pensamentos ou ações incompatíveis com a civilização do amor.


Por isso, todos os livros sagrados, de todas as religiões e filosofias que embasam a visão de mundo de cada pessoa, tanto enfatizam a importância do amor, da compreensão, da partilha, da caridade, fraternidade, solidariedade e nutrem também a busca continua por uma sociedade, um país, enfim, uma comunidade internacional onde a paz seja o valor maior, onde as guerras, os conflitos armados sejam abolidos, onde a segurança das pessoas não esteja em armar-se, ter mais armas, algumas de destruição em massa, que provocam massacres,  na maior parte das vezes destruição material e milhões de vidas humanas sacrificadas ou dilaceradas.


Em uma civilização do amor, os governantes, que supostamente devem representar e defender os interesses coletivos, não podem ser adeptos da violência, não devem fazer apologia das ações bélicas, não devem ser defensores da politica de quanto mais armas mais segurança, não devem ser defensores/lobistas da indústria das armas e dos interesses dos poderosos.


Em uma civilização do amor, o princípio de que todas as pessoas são iguais perante as leis deve ser algo de concreto e não belas palavras, belas mentiras; a justiça deve ser magnanima e realmente justa para todos; onde não há justiça social, onde não há justiça fiscal, com certeza o fosso que separa ricos de pobres, brancos e negros ou pessoas de qualquer outra cor da pele ou origem racial; entre homens e mulheres, entre pessoas de diferentes idades e características físicas; pois se as sociedades continuarem divididas tendo essas características, com certeza vamos conviver com a pobreza, com a miséria, com a injustiça, com a opressão, com a violência, com a epidemia das drogas, com o crime organizado, com a ganância e opulência de uns poucos em detrimento de uma vida decente e digna para todas as pessoas.


Muitos dos problemas que enfrentamos ao longo da vida, não apenas na dimensão individual, mas, fundamentalmente no plano coletivo, como o caos na saúde, a violência de toda ordem, a miséria, a fome, o desemprego, o subemprego, o trabalho escravo ou semiescravo, o tráfico humano, e talvez o maior subproduto desta civilização materialista, egoísta e opressora que é o problema das drogas, lícitas ou ilícitas, pouco importa, pois esta divisão é apenas uma invenção de governantes e legisladores que teimam em ver a realidade por uma ótica distorcida.


Com certeza, a adição ou o que antigamente era chamado de vícios, incluindo ai os jogadores e comedores compulsivos, o tabagismo, o alcoolismo, a prostituição e, claro, também o uso e abuso de drogas ilícitas, bem como a depressão, o pânico, a ansiedade, além dos aspectos fisiológicos e patológicos, para muitos estudiosos também são, na verdade, problemas de ordem transcendental ou espiritual e para a sua cura, exigem uma abordagem holística, ou multiprofissional.


Se conseguirmos levar a essas pessoas uma palavra de carinho, um pouco mais de atenção, consolação e compreensão, em lugar do abandono ou do encarceramento, bem como ações concretas que reduzam o sofrimento das mesmas, com certeza estaremos praticando alguns princípios da civilização do amor.


Em uma sociedade fundada no amor não existe lugar para a opressão, para as injustiças, nem para as prisões, a tortura, os campos de concentração, muito menos para as “limpezas étnicas”, onde as guerras poderão ser abolidas, afinal, as guerras e todas as formas de violência  são a essência da estupidez humana ou o que podemos denominar de a bestialisação da obra-prima da criação de Deus, que é o ser humano.


Há mais de dois mil anos um jovem, Homem/Deus, pregava aos seguidores, do que adianta dizer a quem tem fome, segue em frente, prossiga sua caminhada e se não lhe der um prato de comida ou um simples pedaço de pão? Ou dizer a outra pessoa que esta gemendo de dor, fique em paz, que o Senhor vai te ajudar e não lutar para que todos tenham uma saúde de qualidade e acessível para todos indistintamente e não como hoje acontece no Brasil e em tantos países, onde as pessoas sofrem e até morrem em corredores ou portas de unidade de saúde.


Se atualmente existem mais de 2,2 bilhões de cristãos espalhados pelo mundo todo e mais de 4,5 bilhões de adeptos de tantas crenças e religiões, não é compreensível que tantos males praticados pelo ser humano continuem degradando a existência das pessoas.


Um exemplo da civilização do amor pode ser encontrado na forma como na igreja primitiva, os apóstolos e discípulos de Cristo viviam logo após o pentecostes. Conforme relato do Livro dos Atos dos Apóstolos capítulo 2:44-45, podemos ler e imaginar como era a vida comunitária entre os primeiros cristãos. “Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum.  Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade.” Esta é a essência da civilização do amor ou como ainda hoje acontece com a vida comunitária da grande maioria dos povos primitivos (indígenas) em diversos países, inclusive no Brasil.
 
Será que nossos empresários e  governantes, a maioria dos quais se dizem cristãos, homens e mulheres de Deus, mas que ao fecharem os olhos para esta realidade que tanto massacra e explora impiedosamente a grande maioria da população, enquanto eles/elas, empresários e governantes, dos três poderes e nos diferentes estados da federação continuam com seus privilégios e vida nababesca `as custas dos impostos e contribuições dessa mesma população que sofre, na maior parte das vezes calada e sem qualquer esperança de uma vida digna? Será que convivem em paz com suas próprias consciências? E o que dizer de líderes religiosos que fazem coro com tais práticas injustas e degradadoras de seres humanos?


Alguns aspectos importantes tem sido mencionados ou enfatizados ao longo de décadas, principalmente ante as consequências dos horrores das guerras, dos conflitos armados ou de tantos atos terroristas, sempre, cada lado tentando demonstrar e convencer a opinião pública que tantos massacres foram e estão sendo perpetrados em nome de alguma “boa causa” ou ideologia, o que sabemos é que esses atos tresloucados produziram mais de 100 milhões de vitimas inocentes, principalmente crianças, idosos e idosas tem sido vitimas desta insanidade.


Com certeza, todos acreditam que a paz seja fruto da justiça, ou seja, onde a injustiça e a opressão vicejam jamais haverá paz verdadeira; todavia, tanto a justiça quanto a paz, são frutos do amor verdadeiro. Só assim vamos transformar a realidade que nos cerca e construirmos uma sociedade justa, sustentável e realmente humana!


*JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso/Cuiabá, sociólogo, mestre em sociologia, colaborador de diversos veículos de comunicação social. Email O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
 

 

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