Quinta, 18 Outubro 2018 10:00

CHANTAGEM POLÍTICA - Roberto Boaventura

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Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
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Roberto Boaventura da Silva Sá

Dr. em Jornalismo pela USP/Professor da UFMT

 

Nas relações sociais, muitas coisas são perversas; poucas são piores do que a chantagem.

De forma geral, a chantagem se caracteriza pelo ato de se prometer alguma coisa a alguém para obter determinado comportamento diante de uma dada situação. O fenômeno envolve os sentimentos/crenças/convicções de uma pessoa em troca de algo que não se baseia, necessariamente, em bens materiais, mas simbólicos.

A chantagem pode até se constituir em crime; todavia, como não é disso que pretendo tratar, ficarei com as anotações anteriores.

Mas por que estou falando de chantagem, e de “chantagem política”, como está predito no título do artigo?

Por conta da polarizada e indesejada conjuntura. Do resultado do primeiro turno, restaram-nos duas frentes de fanáticos que se digladiam por tudo. O segundo turno já bate às portas.

Por que a polarização se concretizou, embora fosse possível evitá-la?

Porque o PT, mesmo cometendo avalanche de erros gravíssimos, como o Mensalão e o Petrolão, não foi capaz – e tampouco democrático – de fazer autocrítica pra valer. Ao contrário. De forma irresponsável, faz-se passar por injustiçado e perseguido pelas elites.

Pior: há algumas semanas, quando a polarização já estava avançada, o PT não recuou. Ignorou as possibilidades de candidaturas atenuadoras da tensão. Esticou a corda o quanto pode, apostando, até o último instante, na candidatura de Lula, preso por corrupção. A arrogância do PT – mais do que qualquer outra força – está desafiando a nossa democracia.

Naufragada a candidatura Lula, o soberbo tupiniquim, a ele só lhe restava comandar, da cadeia, a candidatura Haddad, que fora seu ministro da Educação; aliás, um ministro antidemocrático. Desse recorte, destaco que o ENEN/Sisu (Sistema de Avaliação Integrada) serviu a Haddad como moeda de troca às universidades: ou elas aderiam àquilo ou não recebiam verbas.

Outra: quando Haddad se tornara ministro, herdara de Lula e Tarso Genro a construção do Proifes, ou seja, um “sindicato” de professores pelegos das universidades, criado para enfraquecer a representação do ANDES, o legítimo sindicato dos docentes das Instituições de Ensino Superior. Haddad, que já recebera a UNE e a CUT cooptadas por Lula, usou os pelegos do Proifes na greve das universidades em 2012. Nunca Haddad dialogou com os professores em greve. 

Haddad fez mais: ajudou a canalizar recursos públicos até para as piores faculdades particulares do país, via ProUni e Fies, que é o carro-chefe da política de enganação aos jovens pobres do país. A maioria deles, hoje, não tem emprego, mas tem uma dívida com o empréstimo bancário e um diploma vazio de conteúdo.

Mesmo diante de tudo isso, descobri que as forças progressistas do país, incluindo as das universidades, tentam me fazer crer que votar em Haddad é dar voto crítico para salvar o regime democrático, que, de fato, repito, por responsabilidade direta do PT, corre riscos, se Bolsonaro ganhar as eleições.

Sobre Bolsonaro, não preciso dizer nada. Ele fala por si e para seus semelhantes, e sem a menor cerimônia. Por isso, resumo: Bolsonaro me faz lembrar a prepotência de Collor; todavia, seus discursos são ainda mais devastadores. Ele é sinal nítido de atraso. Bolsonaro jamais terá o meu voto.

Então, votarei em Haddad? Cederei ao voto chantagem?

Não.

Anularei. Delegarei à “sabedoria popular” o pleno e democrático direito da escolha do nosso futuro imediato, irremediavelmente de perdas.

E depois?

Estarei na luta, tentando recuperar o que for possível, se for possível.

Sinto muito. 

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