Segunda, 17 Setembro 2018 10:58

MINHA ORELHA NÃO É PINICO! - Roberto de Barros Freire

Escrito por 
Avalie este item
(0 votos)

 

****

Espaço Aberto é um canal disponibilizado pelo sindicato
para que os docentes manifestem suas posições pessoais, por meio de artigos de opinião.
Os textos publicados nessa seção, portanto, não são análises da Adufmat-Ssind.
 
****

Roberto de Barros Freire*

 

Com duas semanas de campanha política, se percebe que os políticos não nos respeitam, nem se preocupam conosco, e mais ainda, nos consideram tolos e ignorantes, ou mesmo estúpidos, quando não ofendem nossa inteligência. Muitos apenas dizem seus nomes e seu número, como se isso fosse suficiente para escolher um candidato, quando de fato apenas ocupam o tempo a nos chatear. Muitos dizem apenas o lugar de onde são oriundos, para cooptar os votos da região, sem apresentar nenhuma qualidade política. Muitos enunciam sua árvore genealógica como se isso fosse suficiente para torná-lo elegível, o que pouco ou nada diz dos méritos do candidato, pois ainda que a família seja afamada ou boa, não significa que todos seus membros o sejam. Só o fato de enunciá-los, seja a família, seja o local de origem, significa que não tem méritos próprios e se apega aos seus familiares ou a região, que provavelmente privilegiará em detrimento de todos nós, de outras regiões ou famílias, caso eleito.


A maioria dos candidatos quando enuncia algo realizável, não diz como fará. Outros dizem que são a favor da educação, da saúde e da segurança, como se alguém fosse contrário, mas nada diz sobre o que fará para que essas atividades sociais melhorem. Vários dizem que vão defender interesses ou setores econômicos ou categorias profissionais, sem mencionar que para tanto terão que prejudicar todos os demais profissionais e setores econômicos diferentes. Muitos só tocam músicas ridículas e cantam refrãos tolos, sem dizerem o que farão ou porque se consideram aptos a se tornarem nossos representantes. Todos ou quase todos não tem preparo para falarem em público e querem ser parlamentares. Ninguém apresenta qualquer projeto político razoável, ninguém sabe identificar quais são de fato nossos problemas, nem falam da necessidade de remédios amargos para consertar a crise nacional; todos prometem o paraíso inexistente e nada mencionam do inferno que a política e os políticos fizeram e fazem com esse país.


Quando criticam, criticam seus adversários, mas são incapazes de realizarem qualquer autocrítica. Escondem os presidiários que têm em suas fileiras. Muitos são políticos há muito tempo e nada fizeram (ou fazem) para as coisas melhorarem, e culpam apenas o governante, quando o governante, assim como nós, em sua grande maioria, são vítimas de parlamentos nefastos, mais preocupados em salvaguardar suas regalias particulares do que em acabar com as mordomias legislativas, executivas e judiciárias.


Nada falam sobre a realidade elementar da política, que o executivo pouco pode fazer e que quem manda é os parlamentares; são eles que distribuem as verbas, privilegiam setores sociais e econômicos, impedem o executivo de agir. E os candidatos ao executivo mentem que farão isso ou aquilo, quando dependem do aval dos parlamentares, e os parlamentares mentem dizendo que o problema está no executivo, quando quem estabelece os limites do mesmo é o legislativo.


O fato é que a cada dia de propaganda eleitoral, mais envergonhado fico, pois que se a elite é assim fraca, tola e ignorante, o que se pode pensar do grosso do povo, que tem pelo menos a sabedoria de não pleitear um cargo para o qual não vejo nenhum candidato com capacidade de exercer.
 

 

*Roberto de Barros Freire

Professor do Departamento de Filosofia/UFMT
O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.
 

Ler 2250 vezes